segunda-feira, 31 de julho de 2006

Carlos Vaz

















Carlos Vaz tem já alguns livros editados, mas o seu primeiro livro foi de poesia e tem por título: "Laivo".


Nos últimos tempos Carlos Vaz tem escrito poesia através do seu blog, quer dará origem a um novo livro de poesia, de nome "Florigen ou o Prisma de Isaac".
Entretanto, lá para Novembro sairá o seu mais recente romance: "Capricho 43".

Como "Laivo" esgotou e já não o podemos encontrar nas livrarias, aqui ficam dois poemas desse livro, enquanto esperamos pelo seu próximo livro de poesia:


poema 20

os lobos mansos vivem em rebanho
para se protegerem

os lobos mansos não são lobos
são mansos
e vivem no silêncio prateado
vivem morosos, na preguiça de um pasto lascivo
sob o olhar atento dos seus predadores
os cordeiros


Rio Caldo / Gerês

as árvores de água nascem
no revés da cor que lhes falta

o negativo irresoluto arrasta
as imagens que crescem
para o seu fundo
_____________

porque não pousarão os peixes nos seus ramos?



O blog de Carlos Vaz (que recomendo) pode ser visitado
aqui.


domingo, 30 de julho de 2006

Hoje nasceu...



30 de Julho de 1818:
Emily Brontë
Poetisa inglesa

Esboços Pessoanos

















"Esboços Pessoanos"

de Joaquim Evónio

Bilingue

Desenhos de José Jorge Soares


Estes Esboços Pessoanos, segundo o autor, são o casamento entre traços fortes e palavras a condizer, buscando as sinergias do Poema.


O lançamento da 3ª edição está previsto para Setembro.

Nessa altura darei mais pormenores.

Entretanto, aqui fica um "cheirinho":


"1. Extractos de solidão"


Uma garrafa, um copo,

meu amigo:

Apenas o tinteiro.


De olhos mudos,

molho a minha pena

(as minhas penas,
tristezas de ocasião)

para poder trocar contigo

fragmentos de solidão!

Site de Joaquim Evónio, aqui.

Guita Jr.










“Os Aromas Essenciais”

De Guita Jr.


“Os Aromas Essenciais”
reúne os livros “Da Vontade e De Partir” (2000) e “Rescaldo” (2001), publicados em Moçambique.

Prefácio de Ana Mafalda Leite.


Editora: Caminho (Colecção «Outras Margens», n.º 48)

Francisco Xavier Guita Júnior (Guita Jr.) nasceu em Moçambique (Inhambane) em 1964.
É professor de Português e membro fundador e coordenador do XIPHEFO, caderno literário que surgiu em 1987 em Inhambane, onde foram publicados os seus primeiros poemas.

sábado, 29 de julho de 2006

Alexandre O'Neill

Alexandre Manuel Vahia de Castro O'Neill de Bulhões, nasceu em Lisboa em 1924.
Em 1948, juntamente com Mário Cesariny, António Pedro, Vespeiro e José-Augusto França, lançou-se na aventura do surrealismo. Este movimento, fruto da sua época, surgia como provocação ao regime político vigente, e à poesia neo-realista.
Em 1950 O'Neill abandonou o Movimento Surrealista, expressando desta forma o seu desagrado pelo rumo simulado e decadente em que o surrealismo mergulhara. O'Neill nunca foi de regimentos, e o surrealismo tinha algo de disciplina ideológica. Contudo, a sua poesia conservou traços surrealistas.
Colaborou ainda com "Os Dissidentes" numa exposição.
O'Neill, à semelhança de muitos artistas portugueses não pôde viver da sua arte. Afirmava "viver de versos e sobreviver da publicidade".
A publicidade foi então o meio que O'Neill encontrou para ganhar o sustento. Esta é uma área que requer destreza e à vontade com as palavras, e nesse campo O'Neill sentia-se como peixe na água. Criou algumas frases publcitárias que ficaram na memória, como "Boch é Bom" e esse outro slogan, que é já provérbio, "Há mar e mar, há ir e voltar".
A publicidade deu-lhe o conforto económico de que necessitava, mas sempre que se enfastiava mudava de agência publicitária.
Vasto foi o seu currículo, onde constam diversas colaborações para jornais, revistas e televisão.
Fez da pátria o seu tema mais constante, e do verso crítico o lápis com que escreveu paisagens, gestos e costumes quotidianos.
Transbordante de sonhos, sedento de realidades submersas, foi em vida, e é em morte, incompreendido e votado ao esquecimento.
Esse foi o preço que pagou por se ter negado a uma poesia de populismo fácil.
Faleceu em 1986.

Bibliografia:
"A Ampola Miraculosa", Cadernos Surrealistas, 1948
"Tempo de Fantasmas", Cadernos de Poesia, Lisboa, 1951
"No Reino da Dinamarca", Guimarães, Lisboa, 1958
"Abandono Vigiado", Guimarães, Lisboa,1960
"Poemas com Endereço", Morais, Lisboa, 1962
"Feira Cabisbaixa", Ulisseia, Lisboa, 1965
"Portogallo mio rimorso", Einaudi, Torino, 1966
"De Ombro na Ombreira", Dom Quixote, Lisboa, 1969
"As Andorinhas não têm Restaurante", Dom Quixote, Lisboa, 1970
"Jovens, Nova Fronteira", Futura, Lisboa, 1971
"Entre a Cortina e a Vidraça", Estúdios Cor, Lisboa, 1972
"A Saca de Orelhas", Sá da Costa, Lisboa, 1979
"As Horas já de Números Vestidas", 1981
"Dezanove Poemas", 1983
"Uma Coisa em Forma de Assim", Presença, Lisboa, 1985

Recordar O'Neill












"Fala"

Fala a sério e fala no gozo
Fá-la pela calada e fala claro
Fala deveras saboroso
Fala barato e fala caro
Fala ao ouvido fala ao coração
Falinhas mansas ou palavrão
Fala à miúda mas fá-la bem
Fala ao teu pai mas ouve a tua mãe
Fala francês fala béu-béu
Fala fininho e fala grosso
Desentulha a garganta levanta o pescoço

Fala como se falar fosse andar
Fala com elegância - muito e devagar.

Alexandre O'Neill


Na voz de
Luís Gaspar...

Infiel

O teu sorriso chora no meu peito
Gelam os lábios mordidos em brasa
No hálito há presságio de murchar de folha!
O teu olhar sepulta em caixão
E
Arremessa ruidosamente palavras sobre a tampa,
Esquecidas
Vão-se esboroando as mãos!
Livre
A bainha do teu vestido coqueteia
Meneante
Passando-lhe ao de leve por cima!

August Stramm
(1914)
(tradução de João Barrento)



August Stramm, um dos vultos do expressionismo alemão, nasceu em 1874 em Münster, na Vestefália. Fez os estudos liceais em Eupen e Aachen. Foi trabalhar para os correios, por desejo do pai, apesar de isso contrariar as suas aspirações. Chegou a ser inspector dos correios, em Bremen e mais tarde em Berlim, onde terminou os estudos, licenciando-se em Filosofia.
Não conseguindo editar os eus primeiros poemas, em 1913 conheceu Herwarth Walden, com o qual manteve uma grande amizade até à morte. Morreu em combate, em Setembro de 1915, com 41 anos, perto de Horodec, na Rússia.
August Stramm produziu imenso trabalho literário desde os primeiros anos da sua juventude. Reescrevia dezenas de vezes os seus trabalhos, já que nunca ficava satisfeito com o resultado.
Tentava encontrar quem editasse os seus trabalhos (editores e jornais) mas estes devolviam-lhe tudo.
Sentiu-se muitas vezes desalentado e duvidou muitas vezes também, do seu talento.
Em 1913 apresentou uma obra sua à revista “Sturm”, antes de destruir toda a sua obra, no caso de recusa da "Sturm". A obra chamava-se “Sancta Susanna” e foi aceite.

Hoje nasceu...




29 de Julho de 1874:


August Stramm


Poeta alemão



Artigos relacionados:
Biografia e Poemas

sexta-feira, 28 de julho de 2006

Na estante de culto

















"Os passos da Poesia"


Deslizas pela delicadez
a
com teus pés magoados.

Por que caminhas agora sobre vidros,

por que exiges de ti essa aguda cautela?

Os céus teriam sido a morada, as areias finas
do nosso desencontro?

Soubera-o eu e ter-te-ia ajudado a não descalçar os sapatos.

As meias também.

Deixar-te ficar com elas, durante o amor,

tem sido (foi sempre) um motivo de deleite.
De carinho.

Uma inclinação natural

de proteger-te.

Se te pintara, numa imensa e clara tela, começaria
por essa mancha: estremecida.

Estremecida!
Ia jurar que nunca te apercebeste de como posso,
em discrição, exceder-lhe os pormenores

– convovar o fascínio,

a cor, a textura; pressagiar-lhe os passos de um suor doloroso.

Por que permiti, então, o caminhares por lugares
penosos?

Não mo perdoo.

Agora que os aperfeiçoas na fuga, espero bem poder acolhê-los
como pombas,

lavar-tos com a imaginação perfumada

das nuvens,

o olhar atento ao delicado equilíbrio, no quadro,

da moldura.

Anunciavam já, no tempo em que ao meu encontro

corriam, esse enredo de minuciosas

dores? – Quais? As de viver? O competente espaço

onde os acolho para a frescura da relva

por nascer?



Poema do livro
"Não me morras"

de Eduarda Chiote


Na capa, um desenho de Jorge Pinheiro

Edição & etc
(2004)

Que fazer este sábado?








Porque não dar um pulinho ao Jardim da Estrela e espreitar a exposição que se encontra patente na
Biblioteca Quiosque Jardim da Estrela?
A exposição chama-se: “Sabia que... a obra de um escritor é eterna?”

Trata-se da apresentação da Biografia e Bibliografia de David Mourão Ferreira (1927-1996) e Vergílio Ferreira (1916-1996), no âmbito dos 10 anos após a sua morte.

Esta exposição vai estar patente até 31 de Agosto e pode ser vista todos os dias até às 18 horas (excepto aos domingos e feriados).

Natália Correia

















"Natália Correia - A Defesa do Poeta"

Um CD da EMI-Valentim de Carvalho, com 31 poemas gravados entre 1969 e 1972.

Direcção de Edição: Helena Roseta com o apoio de David Ferreira.
Produção Executiva: Maria João Fortes, Helena Mata, Helena Evangelista, João Ruas e Aldina Duarte.
Masterização: Rui Dias (nos Estúdios Tcha Tcha Tcha)
Design da capa: Metropolis Design e Comunicação
Fotografias do espólio de Natália Correia, pertencente ao Governo Regional dos Açores (depositadas na Biblioteca Nacional)


Palavras de Maria Lúcia Lepecki no folheto incluso:
"(...) Natália Correia diz poesia como quem brinca, como quem ama, como quem escuta e como quem ecoa. (...) Declamar poesia é para muitos. Dizer poesia é para os poucos que nos fazem felizes: aquelas e aqueles em quem as deusas puseram, in illo tempore as suas complacências"



"A Defesa do Poeta"

Senhores jurados sou um poeta
um multipétalo uivo um defeito
e ando com uma camisa de vento
ao contrário do esqueleto.

Sou um vestíbulo do impossível um lápis
de armazenado espanto e por fim
com a paciência dos versos
espero viver dentro de mim.

Sou em código o azul de todos
(curtido couro de cicatrizes)
uma avaria cantante
na maquineta dos felizes.

Senhores banqueiros sois a cidade
o vosso enfarte serei
não há cidade sem o parque
do sono que vos roubei.

Senhores professores que pusestes
a prémio minha rara edição
de raptar-me em crianças que salvo
do incêndio da vossa lição.

Senhores tiranos que do baralho
de em pó volverdes sois os reis
sou um poeta jogo-me aos dados
ganho as paisagens que não vereis.

Senhores heróis até aos dentes
puro exercício de ninguém
minha cobardia é esperar-vos
umas estrofes mais além.

Senhores três quatro cinco e sete
que medo vos pôs por ordem?
que pavor fechou o leque
da vossa diferença enquanto homem?

Senhores juízes que não molhais
a pena na tinta da natureza
não apedrejeis meu pássaro
sem que ele cante minha defesa.

Sou um instantâneo das coisas
apanhadas em delito de perdão
a raiz quadrada da flor
que espalmais em apertos de mão.

Sou uma impudência a mesa posta
de um verso onde o possa escrever
Ó subalimentados do sonho!
a poesia é para comer.

Natália Correia


Na voz de Natália Correia:

quinta-feira, 27 de julho de 2006

Erotismo na cidade



















Prontos e mai nada!


Faltas-me
Como os euros na carteira
Como a água na torneira
Em dia de corte geral.
Apeteces-me
Como me apetece um gelado
Como me apetece uma Seven-Up
Ou um bom arroz de marisco.
Sei-te
De cor e salteado
De trás, de frente e dos lados
Sei-te de todas as maneiras.
Gosto-te
Porque sim
Porque me apeteces
Porque me sabes como ninguém
Porque sei o que me faz bem.
Gosto-te prontos.
E mai nada!


Encandescente


Editora: Polvo
(Maio de 2006)
A morte é azul como o solstício de inverno.
Dizes: não hei-de sobreviver ao incêndio
dos celeiros. Mas nunca soubeste o nome
dos lírios nem o rumor que precede o dilúvio
no interior do teu ventre.

José Rui Teixeira

In "Para Morrer"
(Nocturnos, Parte 1)






"Para Morrer"
, terceiro livro de José Rui Teixeira, está muito distante do seu primeiro livro, "Quando o Verão Acabar".

Neste livro, recursos, imagens e meios encontram-se.
É um livro entre o amor e a morte, os dois braços do homem — o amor que salva da morte, o amor que se constrói pela eterna proximidade da morte.
Uma reflexão sobre a precariedade da vida face à insuperável morte.

Editora: Quasi




José Rui Teixeira
nasceu no Porto, em 1974.
É licenciado em Teologia pela Universidade Católica Portuguesa e mestre em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

É professor no colégio Luso-Francês e teólogo do Centro Catecumenal da Igreja do Porto.

É autor de Vestígios (2000), Quando o Verão Acabar (2002), Para Morrer (2004), Melopeia (2004) O Fogo e outros utensílios da Luz (2005) e Assim na Terra (2005).
Participou ainda na antologia Poesia à Mesa.

Que fazer logo à noite?












Por exemplo, dar um pulinho ao Martinho da Arcada antes da hora de jantar.

Entre as 16 e as 18 horas, realizar-se-á o habitual convívio poético do Círculo Nacional d'Arte e Poesia.


Todas as quintas-feiras, até 28 de Dezembro.

Mais informações: 213 973 717


O Café Martinho da Arcada fica, como todos sabem, na Praça do Comércio, em Lisboa.


Na foto, Fernando Pessoa, Raul Leal, António Botto e Augusto Ferreira Gomes no Martinho da Arcada.

quarta-feira, 26 de julho de 2006

Às escuras, o amor





A Associação Artística Andante, que corre o país de lés a lés desde 1999 com espectáculos, recitais, ateliês, leituras em voz alta... procurando sempre novos públicos para a poesia e para a prosa e especialmente para o teatro, através dos princípios da curiosidade e do prazer, está neste momento a preparar um espectáculo que estreará em Setembro e que se chamará “Às escuras, o amor”.

Os espectáculos não são recitais no seu sentido mais convencional. Partem de um conjunto de formas possíveis (e às vezes impossíveis) de ler um texto.
As imagens são construídas dentro de cada pessoa a partir da sonoridade que as palavras têm (porque para além de um sentido, também possuem a sua sonoridade) e da sonoplastia que a Andante lhes impoe para lhes dar uma nova "versão".


Às escuras, o amor” (que é também o título de um poema de David Mourão Ferreira), terá textos de vários autores (maioritariamente portugueses).

Podem enviar o vosso poema de amor preferido para a Andante para o e-mail: andante@andante.com.pt.
Talvez o possam depois ver incluído neste "Às escuras, o amor".

Ficha técnica:
Textos: Vários
Encenação: Rui Paulo
Pesquisa: Cristina Paiva e Fernando Ladeira
Interpretação: Cristina Paiva
Sonoplastia: Fernando Ladeira
Cenário e Figurinos: Maria Luiz
Produção: Andante Associação Artística
Apoio: Câmara Municipal de Alcochete, Fórum Municipal de Alcochete


Ante-estreia: dia 21 de Setembro - Palavras Andarilhas - Beja
Estreia: 23 Setembro - Fórum Municipal de Alcochete – Alcochete

Em meados de Setembros, darei mais notícias sobre este espectáculo.
Entretanto, aqui fica um “cheirinho” do que são os espectáculos da Andante, numa gravação do primeiro espectáculo em 1999, com o poema de António Gedeão que dá o nome a este blog, junto com outro texto de Wenceslau de Moraes.

Interrogação

Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar,
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;
E apesar disso, crê! nunca pensei num lar
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.

Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.
E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.
Nem depois de acordar te procurei no leito
Como a esposa sensual do Cântico dos Cânticos.

Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo
A tua cor sadia, o teu sorriso terno...
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso
Que me penetra bem, como este sol de Inverno.

Passo contigo a tarde e sempre sem receio
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.
Eu não demoro o olhar na curva do teu seio
Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.

Eu não sei se é amor. Será talvez começo...
Eu não sei que mudança a minha alma pressente...
Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço,
Que adoecia talvez de te saber doente.

Camilo Pessanha


Interpretado pela Andante:


Voz: Cristina Paiva; Música: Stephan Micus; Sonoplastia: Fernando Ladeira

Poemas em voz alta

Tenho uma grande constipação,
E toda a gente sabe como as grandes constipações
Alteram todo o sistema do universo,
Zangam-nos contra a vida,
E fazem espirrar até à metafísica.
Tenho o dia perdido cheio de me assoar.
Dói-me a cabeça indistintamente.
Triste condição para um poeta menor!
Hoje sou verdadeiramente um poeta menor.
O que fui outrora foi um desejo; partiu-se.

Adeus para sempre, rainha das fadas!
As tuas asas eram de sol, e eu cá vou andando.
Não estarei bem se não me deitar na cama.
Nunca estive bem senão deitando-me no universo.

Excusez un peu... Que grande constipação física!
Preciso de verdade e da aspirina.

Álvaro de Campos
14-3-1931


E na voz de Luís Gaspar...

terça-feira, 25 de julho de 2006

Os vossos poemas

Podem aqui aceder aos desafios anteriores a que responderam enviando-me os vossos poemas:

Poemas Natalícios

Poemas de Amor

Poemas Eróticos

Poemas Felinos

Poemas sobre o Mar

Poemas de Esperança

De poeta para poeta

Poemas de escárnio e maldizer

Quadras Populares

Poemas Visuais

Poemas sobre o Vinho

Haiku

Poemas sobre a água

Poemas sobre a música

Poemas sobre labirinto

Poemas Eróticos II

Poemas sobre o Pai

Poemas sobre o Sul

Poemas sobre Memórias

Na estante de culto

“O vagabundo do Dharma”
25 poemas de Han-Shan
Tradutor: Ana Hatherly e Jacques Pimpaneau
Editora: Cavalo de Ferro




















O sinólogo Jacques Pimpaneau traduziu literalmente do chinês para o francês 25 poemas de Han-Shan e, a convite da editora Cavalo de Ferro, Ana Hatherly
traduziu-os para português, em versões poéticas.

Han-Shan nasceu na China, pensa-se que no século VII. O seu nome está associado ao budismo Chan (Zen em japonês), e são-lhe atribuídos 311 poemas.
Tornou-se numa personagem lendária, frequentemente representado andrajoso e folgazão, acompanhado pelo seu amigo Shi-De. De certo modo foi uma espécie
de hippy do seu tempo, tornando-se um dos estandartes de uma outra maneira de viver.

Han-Shan significa "Montanha Fria". É uma das montanhas da cordilheira de Tian-Tai, no sudoeste da China. E Han-Shan tomou o nome da montanha onde fez o seu retiro. Frequentava o mosteiro onde o seu amigo Shi-De trabalhava nas cozinhas e lhe guardava os restos. Durante as suas visitas deambulava pelos corredores gritando e rindo sozinho. Quando os bonzos troçavam dele, batia palmas e dava gargalhadas. Vestia-se de trapos, com um chapéu feito de casca de árvores e sandálias com sola de madeira. Conversava com os guardas dos búfalos nos campos. Um funcionário foi um dia visitar Han-Shan e o seu amigo Shi-De, mas estes fugiram. O tal funcionário teve a boa ideia de mandar reunir os poemas inscritos nas árvores, nas paredes e nas falésias e... publicá-los.

Han-Shan inventou um pensamento que escapa à lógica e às regras. A filosofia taoista e o zen apenas foram para ele uma ajuda, como a droga ou o álcool o foram para os hippys. Apaixonado pela liberdade, não aceitou ser bonzo ou ir viver para o mosteiro, entregando-se a um trabalho interior na solidão sem se deixar tentar pelas religiões ou filosofias estabelecidas. Quis desligar-se inteiramente do mundo, ou, utilizando a sua expressão budista, da “poeira vermelha”.
Segundo as palavras de Jacques Pimpaneau, a poesia de Han-Shan é, não um exercício estético, mas apenas linguagem, desligada da lógica o suficiente para dar um equivalente que a razão não pode atingir.


As traduções modernas dos poemas de Han-Shan, feitas a partir de antigas fontes chinesas e/ou japonesas, como as de Arthur Waley, Gary Snyder e outros, para inglês, as de Armand Gaudon e Jacques Pimpaneau para francês e as da Ana Hatherly para português, dada a sua complexa ancestralidade, talvez devam (segundo as próprias palavras de Ana Harherly) ser apenas consideradas como possíveis recriações poéticas, como possíveis re-invenções de textos remotos.
Mas as traduções em versão póetica feitas por Ana Hatherly, são umas das mais fiéis do espírito original da poesia de Han-Shan.

A completar este belíssimo livro de poesias estão as caligrafias dos poemas feitas por Li Kwok-Wing.


As montanhas acumuladas a água jorrando
A bruma núvens rosadas envolvendo o verde iris

O vapor de água acaricia e molha a minha touca de gaze
O orvalho humedece a minha capa de palha

As minhas sandálias de peregrino escorregam
Na mão seguro um velho ramo de junco

Contemplo ainda a poeira do mundo exterior:
Na esfera do sonho que faria eu de novo?


————————


Procuro um lugar tranquilo para repousar
E na montanha fria demorar

Uma brisa sopra nos pinheiros longe
De perto soa bem melhor

Lá em baixo está um velho
Por entre dentes lê Huang e Lao

Após dez anos não posso regressar
Esqueci o caminho por onde vim

segunda-feira, 24 de julho de 2006

Soneto

Encontrei-te. Era o mês... Que importa o mês? Agosto,
Setembro, Outubro, Maio, Abril, Janeiro ou Março,
Brilhasse o luar que importa? ou fosse o sol já posto,
No teu olhar todo o meu sonho andava esparso.

Que saudades de amor na aurora do teu rosto!
Que horizonte de fé, no olhar tranquilo e garço!
Nunca mais me lembrei se era no mês de Agosto,
Setembro, Outubro, Abril, Maio, Janeiro, ou Março.

Encontrei-te. Depois... depois tudo se some
Desfaz-se o teu olhar em nuvens de ouro e poeira.
Era o dia... Que importa o dia, um simples nome?

Ou sábado sem luz, domingo sem conforto,
Segunda, terça ou quarta, ou quinta ou sexta-feira,
Brilhasse o sol que importa? ou fosse o luar já morto?

Alphonsus de Guimaraens

Hoje nasceu...



24 de Julho de 1870:

Alphonsus de Guimaraens


Poeta brasileiro

Saber ler/dizer um poema




O que é dizer um texto? Como é dizer um poema?
A actriz Maria do Céu Guerra ensina-nos o método de aprofundar um texto e de o tornar perceptível e expressivo para uma audiência, na Oficina "Ler/Dizer Poesia".

São 3 sessões no Teatro A Barraca, das 19 às 21 horas.
Hoje, amanhã e depois de amanhã.
As inscrições para estas sessões podem ser feitas por telefone: 21 396 53 60 / 21 396 52 75
Ou por e-mail: barraca@mail.telepac.pt


Claro que toda a gente sabe que A Barraca fica no Largo de Santos, em Lisboa.

Palavras tangentes de José Luís Garcês





Eis o poeta das palavras do silêncio.
José Luís Garcês, fotógrafo e poeta.
Com muita coisa para publicar à espera de editora...
Uma poesia... sempre em Construção.





Não são estes braços

que me agitam,

nem estes espaços

que me limitam.


São de mar os meus braços

que nas areias

enleiam em ternos abraços

os corpos das sereias.


Os meus espaços

são os do pensamento:

são largos traços

ao sabor do vento.


No meu corpo

navegam navios,

sem forma nem rosto,

em busca de outros rios.


José Luís Garcês

domingo, 23 de julho de 2006

Natércia Freire



Esta edição da poesia completa de Natércia Freire,
reúne os livros que a autora publicou entre 1942 e 2000, bem como um pequeno acervo de inéditos. Estão excluídos desta edição, por já o terem sido nas edições anteriores pela própria Natércia Freire, os livros "Castelos de Sonho", "Meu Caminho de Luz", "Estátua", bem como parte dos poemas de "Horizonte Fechado" e "Rio Infindável", dos quais se publicam apenas aqueles que a autora já tinha escolhido nas edições anteriores, reunidos em "Poesias Escolhidas" (1959), onde Natércia Freire coligiu a selecção definitiva desses dois livros.

No prefácio, Maria Gabriela Llansol escreve: «Vou buscar um dos livros de Natércia Freire — e leio. [...] Enquanto, em simultâneo, leio e escrevo, num exercício de comunhão entre mim e Natércia, estou a focar uma vertente confessional da Poesia — e amplio o nosso sonho à vertente confessional do Universo

Editora Quasi
Edição, fixação de texto e edição de notas de Pedro Sena-Lino

José Agostinho Baptista recebeu o Grande Prémio APE/CTT 2004



José Agostinho Baptista recebeu, no passado dia 19 de Julho, o Grande Prémio de Poesia APE/CTT 2004, pelo livro "Esta voz é quase o vento".
O prémio, instituído em 1989, destina-se a distinguir anualmente um livro de um autor português publicado integralmente e em primeira edição no ano a que respeita o concurso, não sendo admitidas obras póstumas.

José Agostinho Baptista nasceu no Funchal em 1948.
O primeiro livro que publicou foi "
Deste lado onde", em 1976.
O seu mais recente livro é
"Quatro Luas", editado este ano.


Para quem quiser saber mais sobre o poeta, aqui fica o site: http://www.jabaptista.net

a.gil






Eis a Alexandra Gil. A que diz que junta palavras sem sentido. Mas que afinal fazem todo o sentido. Afinal, criatividade rima com sensibilidade. E quase sempre com grandeza de alma.





estás


nas manhãs remelosas. nas noites de insónia. nos discos em auto-repeat. nas imagens que invento. nas palavras que junto sem sentido. nos filmes de amor trágico. nos livros que falam de coisas sérias. nas manchetes sangrentas dos tabelóides. na chávena de leite achocolatado. no ronronar do gato que se deita a meu lado. no relato da partida de futebol no canal codificado. em mais um cigarro que sorvo. e ainda no fastio a que me obrigo. no chão da sala polvilhado de sapatos. nas folhas de papel riscadas. foda-se. estás em tudo. em todas as coisas. em todos os sentidos que confundo. em cada sonho. em cada pesadelo com a morte. nas fugas. nas corridas infundadas contra o tempo. em mim. apenas em mim insistes em estar. longe.


a.gil

Hoje nasceu...



23 de Julho de 1908:

Elio Vittorini

Poeta italiano

Na estante de culto




Um antologia de poesia azteca, traduzida por José Agostinho Baptista.

Poetas dos séculos XIV e XV da região azteca.
Um viagem pelo passado, pela beleza, pelas cores, pelos cheiros da terra. Lemos os poemas e ouvimo-los em cântigos. Poemas que encantam. Poemas que perturbam. Poemas que nos são dados como oferendas de flores. Para apreciadores de coisas boas.

Editora: Assírio & Alvim
(Colecção documenta poetica / 105)


"As flores e os cantos"

Do interior do céu vêm
as belas flores, os belos cantos.
Desfeia-os a nossa ansiedade,
a nossa invenção deita-os a perder,
a não ser os do príncipe chichimeca Tecayehuatzin.
Com os seus, alegrai-vos!

A amizade é chuva de flores preciosas.
Brancos tufos de plumas de garça,
entrelaçam-se com preciosas flores vermelhas:
nos ramos das árvores,
debaixo delas andam e libam
os senhores e os nobres.

Vosso belo canto:
um dourado pássaro cascavel,
muito formoso o elevais.
Estais numa cerca de flores.
Sobre os ramos floridos cantais.
Acaso serás tu uma ave preciosa do Dador da vida?
Acaso falaste com o deus?
Tão depressa como vistes a aurora,
os pusestes a cantar.

Que se esforce o meu coração, que queira,
as flores do escudo,
as flores do Dador da vida.
Que poderá fazer o meu coração?
Em vão chegámos,
brotámos sobre a terra.
Só assim hei-de ir-me
como as flores que morrerão?
Nada restará do meu nome?
Nada da minha fama aqui na terra?
Ao menos flores, ao menos cantos!
Em vão chegámos,
brotámos sobre a terra.

Gozemos, oh amigos,
que haja abraços aqui.
Agora andamos sobre a terra florida.
Ninguém aqui acabará
com as flores e os cantos,
eles perduram na casa do Dador da vida.

Aqui na terra é a região do momento fugaz.
Também é assim no lugar
onde de alguma maneira se vive?
Aí nos alegramos?
Aí existe amizade?
Ou apenas aqui na terra
viemos conhecer os nossos rostos?

Poema de
Ayocuan Cuetzpaltzin
(segunda metade do século XV - princípios do século XVI)

Na estante de Culto



O poema "Tombstone" vem no livro "De boas Erecções está o Inferno cheio".

Este livro é uma peça rara, que ainda pode ser encontrada em algumas livrarias. Trata-se de um livro de poesia satírica e erótica do Luís Graça (que assina com o pseudónimo Dick Hard) e que lemos, voltamos a ler, recitamos aos amigos... enfim, voltamos à estante para o ir buscar vezes sem conta. Isto porque este livro não é apenas de poesia satírica e erótica, é sobretudo um livro feito por alguém com um enorme sentido de humor (deve ser por isso que eu estou sempre a dizer que o Luís Graça é o Bocage do século XXI).
Tal como ele próprio diz, a sua bússola é o humor; mais do que fazer amor, importa fazer humor com as palavras, para que estas não se percam.


Editora: Polvo

Então aqui vai...

TOMBSTONE

Há sempre um primeiro verme para nos bicar
o caixão desceu à terra há pouco tempo
há sempre um verme feioso que é mais atrevido
cheira a verme, sabe a verme, é mesmo verme

Estamos quietos, ledos, calmos, dóceis, indefesos
deitados em silêncio, horizontais, a cal no focinho
tal como gostam os vermes atrevidos e feiosos
que avançam nas trevas para nos bicar

Afagam-nos os lábios, o nariz, as orelhinhas
lambem-nos os dedos, petiscam-nos as unhas
afiam os dentinhos e avançam decididos
p'ra mais um lauto banquete da sua vérmica existência

Pensam que tudo lhes será permitido
até saborear o nosso cérebro que gostava de praia
até mexer no nosso sexo que gostava de seios
até puxar os nossos pelos que cresciam viçosos

Só nos resta a dignidade de ser Homens
só nos resta a solução final
abrir a boca em fogo e vomitar:
"Some-te verme, aqui jaz um poeta!"

Luís Graça

sábado, 22 de julho de 2006

Sémen de Luís Graça




Eis o poeta.
Aquele que diz que o seu sémen sabe a arco íris.
Quanto ao sémen não sei, mas a poesia dele sabe a todas as cores do arco íris.
O meu poema preferido do Luís Graça (se quiserem, podem também ouvi-lo na voz do locutor Luís Gaspar):




Sémen de Poeta sabe a arco íris

Há quem derrame prosa como sémen
ignorando a tesão da Literatura
pois a criação é casta como a neve

A esses beijo apenas a inocência
de não saber mais do que o banal
e nunca ejacular mais do que sílabas

São milhões como um exército de larvas
e bebem cálices de orgulho e preconceito
no luar tenebroso das certezas

Sabei, senhores, e digo-vos de borla
escrever assim não é raiz do amanhã
é somente parir monstros sem cabeça

Vós padeceis de mal muito antigo
ignorais sem maldade e por desleixo
que Literatura é mais do que punheta

O sémen verdadeiro dos poetas
bebe-se às taças como manjar de semi deuses
e frutifica em arco íris de ternura.

Luís Graça





Mais poemas do Luís Graça (e também uma pequena biografia), aqui.

Na estante de culto







"POESIA"
Rabindranath Tagore
Editora: Assírio & Alvim
Selecção e tradução de José Agostinho Baptista
(Colecção Documenta poetica)


Este livro "Poesia" de Rabindranath Tagore, é
uma autêntica fuga ao mundo real. Um banho de beleza em forma de verso. Uma viagem por uma outra existência, mais deslumbrante. Contagiante.

Rabindranath Tagore nasceu em Calcutá em 1861.
Para além de poesia, Tagore escreveu canções, contos, novelas, teatro (em prosa e em verso), ensaios, críticas literárias, memórias, histórias infantis...

Ganhou o Pémio Nobel da Literatura em 1913.
Morreu em 1941, na casa onde nasceu, em Calcutá.

Podemos aqui ouvir uma peça de teatro radiofónico (com 52 minutos) que tem uma curiosidade: foi gravada há 50 anos!...
O actor principal dava pelo nome de... Luís Gaspar.
Segundo o Luís Gaspar, para além de ser um texto do Tagore é uma antiguidade que tem entusiasmado muitos coleccionadores de sons antigos.

"Inteiro Silêncio" de Cristina de Mello



Ecos de perda, nostalgia, abandono, desalento... tudo tocado pelo cheiro da terra e pelo rumor dos afectos.

Editora: Caminho
Colecção «Outras Margens»

Poesia Grega de Álcman a Teócrito



Uma amostra representativa dos diferentes géneros poéticos cultivados na Grécia antiga. Frederico Lourenço seleccionou as mais importantes composições poéticas de dez dos maiores poetas da Grécia Antiga. Cada um dos autores merece ainda uma introdução dedicada à sua vida e obra.

ÁLCMAN, autor do mais antigo exemplo que conhecemos de poesia lírica. Poeta do séc VII a.C., surge aos nossos olhos como curiosamente moderno, pelo extraordinário arrojo da sua linguagem e imagética.

SEMÓNIDES, que terá vivido no séc. VII a.C., autor do poema mais desconcertante de toda a literatura grega, a chamada “Sátira contra as Mulheres”, presente nesta antologia.

MIMNERMO, muito apreciado em Alexandria e em Roma, e um dos grandes mestres arcaicos da elegia.

SAFO, primeira autora da literatura europeia, e para muitos a representante da própria ideia da perfeição em verso.

ÍBICO, tido actualmente como o primeiro cultor da composição de odes triunfais dedicadas aos vencedores dos Jogos Helénicos.

ANACREONTE, nascido por volta de 570 a.C., e surpreendente na força irónica e na amargura erótica dos seus poemas.

TEÓGNIS, mestre do género elegíaco nascido no séc. VI a.C., e singular na literatura greco-latina pois é dele a primeira poesia política da literatura europeia.

BAQUÍLIDES, nascido por volta de 520 a.C., durante muitos anos um “poeta maldito”, mas conservado pela posteridade como o poeta dos coloridos, dos matizes e dos efeitos de luz.

PÍNDARO, nascido provavelmente em 518 a.C., está para a poesia lírica greco-latina como Homero está para a epopeia: são, cada um deles, a referência máxima em cada género. E é o primeiro génio da história da cultura europeia que tem plena consciência de ser genial.

TEÓCRITO, criador de um dos géneros poéticos que mais influenciará toda a poesia europeia: o bucolismo.

Organização, Tradução e notas de Frederico Lourenço.
Editora: Cotovia

Manuscritos de Pessoa com acesso universal



Para os que ainda não sabiam, a primeira fase do projecto "Manuscritos de Pessoa em linha", desenvolvido pela Biblioteca Nacional (BN), através do seu Arquivo da Cultura Portuguesa Contemporânea, está disponível desde Março passado, e num mesmo lugar, com toda a poesia de Alberto Caeiro, incluindo a que lhe é atribuída.

No endereço http/purl.pt/1000, que gradualmente acolherá todo o espólio literário pessoano, qualquer utilizador, seja ele investigador ou curioso da sua obra, poderá aceder às várias versões que o autor trabalhou, aos rascunhos que fez, às alterações que considerou necessárias - em papel de carta, em envelopes, em papel de sebenta, em fragmentos de papel; no fundo, em tudo o que tinha à mão, devolvendo-nos, a par do génio, também a dimensão do homem nas suas hesitações e na procura da palavra mais justa.

O acesso universal à versão digital destes materiais terá também importantes reflexos em matéria de conservação dos originais.

As próximas etapas do projecto "Manuscritos de Pessoa em linha" visarão a produção de Álvaro de Campos e de Ricardo Reis.

À guarda do Arquivo da Cultura Portuguesa Contemporânea, no seio do qual se está a desenvolver o trabalho de digitalização/inserção em linha do espólio pessoano, estão hoje 130 espólios, compreendendo mais de três milhões de documentos, o que faz dele um dos mais importantes arquivos literários a nível europeu e internacional.


http://purl.pt/1000/1/index.html

"Nada em 53 vezes" de Gonçalo Nuno Martins



Foi lançado no passado dia 16 de Julho, na FNAC do CascaiShopping, o primeiro livro de poesia de Gonçalo Nuno Martins: "Nada em 53 Vezes".


Edição: Papiro Editora

“Palinódias, Palimpsestos” de Albano Martins



O livro propõe a reflexão sobre a poesia enquanto arte que labora com o material mais esquivo, mas por isso mesmo desejável: a palavra que abre caminhos que se desmultiplicam (palinódias), sempre inquieta ora escondendo-se ora deixando-se transparecer, em proximidade com Palimpsestos.
Estas palinódias e palimpsestos (escrita sobre outro texto ou papel rasurado) primam pela musicalidade e pela extrema capacidade de síntese e sugestão.


Nem sempre as palavras

dizem o que diz

seu sentido. São

às vezes máscaras

perfeitas, outras

como sudários, rostos

esculpidos no mármore

das lágrimas. São

umas vezes

parábolas; outras,

palinódias,

Palimpsestos.


Edição
Campo das Letras (Colecção Campo da Poesia)

"T a Bernardim" de Teresa Tudela




Na escrita e no dizer da autora, «"T a Bernardim" invoca um Bernardim Ribeiro, ainda presente em diáspora e no exílio da tristeza».


Equilibrar com tento

a linha azul do horizonte entre os dedos
até que o traço recto dos braços se curve

em dois

prodígio de asas


Este livro é acompanhado de um CD de oferta.
Edição: Campo das Letras (Colecção Campo da Poesia)

O Novo Colosso

Não como o gigante bronzeado de grega fama,
Com pernas abertas e conquistadoras a abarcar a terra
Aqui nos nossos portões banhados pelo mar e dourados pelo sol, se erguerá
Uma mulher poderosa, com uma tocha cuja chama
É o relâmpago aprisionado e seu nome
Mãe dos Exílios. Do farol de sua mão
Brilha um acolhedor abraço universal; Os seus suaves olhos
Comandam o porto unido por pontes que enquadram cidades gémeas.
“Mantenham antigas terras sua pompa histórica!” grita ela
Com lábios silenciosos “Dai-me os seus fatigados, os seus pobres,
As suas massas encurraladas ansiosas por respirar liberdade
O miserável refugo das suas costas apinhadas.
Mandai-me os sem abrigo, os arremessados pelas tempestades,
Pois eu ergo o meu farol junto ao portal dourado.

Emma Lazarus

Hoje nasceu...



22 de Julho de 1849:
Emma Lazarus
Poetisa norte-americana

Artigos relacionados:
Poemas: O novo colosso

"aguasfurtadas" 9



Já saiu o número 9 da revista de literatura, música e artes visuais "aguasfurtadas".
No campo da escrita, para além da tradução, do conto, do teatro e do ensaio, há a poesia: poemas de Emílio Remelhe, Inês Lourenço, Tiago Gomes, Isabel Fernandes Pinto, Joaquim Cardoso Dias, António Pedro Ribeiro e Rui Lage.
E enquanto lemos os poemas podemos, por exemplo, ouvir obras de Alexandre Delgado e Dimitris Andrikopoulos e ensaios de Carlos Guedes e de Ana Cancela Pires no CD que vem com a revista.
Mais informações em: http://revista-aguasfurtadas.blogspot.com

Espólio de Al Berto doado à BN



A família de Al Berto doou o espólio do poeta à Biblioteca Nacional. São manuscritos poéticos, traduções de vários títulos do autor, correspondência e apontamentos pessoais e biográficos.
Al Berto, pseudónimo de Alberto Pidwell Tavares, nasceu em Coimbra em 1948. Poeta surrealista no início da sua obra literária (perto de Helberto Hélder), optando depois por fundir a poesia na prosa.
Foi distinguido com o Prémio Pen Club de Poesia, pela sua obra "O Medo", em 1988.
Obras a salientar – Poesia: "À Procura do Vento num Jardim d'Agosto", 1977; "Meu Fruto de Morder, Todas as Horas", 1980; "Trabalhos do Olhar, 1982;" O Último Habitante, 1983; "Salsugem", 1984; "A Seguir o Deserto", 1984; "Três Cartas da Memória das Índias", 1985; "Uma Existência de Papel", 1985; "O Medo", 1987; "O Livro dos Regressos", 1989; "A Secreta Vida das Imagens", 1991; "Canto do Amigo Morto", 1991; "Luminoso Afogado", 1995; "Horto de Incêndio", 1997; Prosa: "Lunário", 1988; "O Anjo Mudo", 1993.
Al Berto
tem obras suas traduzidas em castelhano, francês, inglês e italiano.
Faleceu em 1997.

sexta-feira, 21 de julho de 2006

Contraluz

as aves surgem,
acende-se uma chama
eis a mulher.

sem nomes nem laços, nem véu
errando de olhos fechados
a mulher sob a frescura do mar.

mas bruscamente voltam as aves
e alonga-se esta chama
mais do que entreapercebida
no fundo do quarto.

e é o mar.
o mar de braços adormecidos
transportando o sol,
nem oriente, nem norte, nem obstáculo nem barra,
o mar.

nada, a não ser o mar tenebroso e doce
caído das estrelas, testemunha das mutilações do céu,
solidão, pressentimento, sussurros.

nada a não ser o mar.
os olhos extintos
sem vaga, nem vento, nem vela.

bruscamente de novo as aves,
e eis a mulher
nem estrela nem sonho, nem géiser, nem roda, a mulher.

as aves voltam
e nada mais que o mar.

Mohamed Dib

Hoje nasceu...



21 de Julho de 1920:

Mohammed Dib

Poeta argelino



Mohammed Dib nasceu na Argélia em 1920, no seio de uma família burguesa arruinada. Fez os seus estudos primários e secundários na sua terra natal e depois, em Oujda, Marrocos. O seu pai faleceu quando ele tinha apenas 10 anos e a vida tornou se difícil para ele e para a sua mãe. Aos 15 anos, Mohammed Dib escrevia poesia e pintava. Depois, com 18 anos, dedicou se ao ensino. Aos 19 anos, foi contabilista em Oujda, no exército, e durante a II Guerra Mundial foi intérprete de inglês francês, junto dos exércitos aliados, retornando depois à sua terra natal em 1945, onde se dedicou a desenhar tapetes durante dois anos. Em 1950 e 1951, trabalhou no ?Jornal Republicano Argelino? e escreveu também no ?Liberdade?, jornal do partido Comunista Algeriano. Foi em 1952, quando se casou com uma francesa, que se juntou ao Partido Comunista Francês, e foi a França pela primeira vez. No mesmo ano publicou ?A Casa Grande? o seu primeiro romance, a que se seguiram ?O Incêndio? (1954) e ?O Ofício da Tecelagem? (1957), que completa a sua célebre trilogia. Mohammed Dib estreou se com romances e poemas surrealistas e foi o contexto em que a Argélia vivia naquela época que o ?empurrou? para o realismo, fazendo o escrever sobre a realidade da vida argelina neste três romances. O realismo destes romances e a sua ligação com o partido comunista, tornaram no impopular junto dos colonos franceses na Argélia. Em 1959, persuadiram a administração colonialista a expulsar Mohammed Dib da Argélia. Mohammed Dib foi então para França nesse ano, onde se instalou definitivamente, no exílio, e ainda em 1959 publicou “Um Verão Africano”. Em França, Mohammed Dib escreveu romances, contos, teatro, poesia e livros de ensaio que alcançaram uma importante repercussão em França, não só pelo seu talento, mas também porque era um escritor argelino que escrevia em francês.
Depois da independência, Mohammed Dib retornou ao surrealismo e à mitologia. Grande humanista, Mohammed Dib tocou a essência do ser humano para lá de todas as fronteiras e barreiras.
Mohammed Dib é assim o escritor mais representativo da Argélia, considerado o pai do romance algeriano contemporâneo e um intelectual comprometido com a história do seu país.
Mohammed Dib faleceu em Maio de 2003, em La Celle Saint Cloud, perto de Paris, com 82 anos.
Obras:
"La Grande Maison" romance 1952
"L’incendie" romance 1954
"Au Café" ensaio 1957
"Le metier à tisser? romance 1957
"Baba Fekran" contos 1959
"Ombre Gardiénne" poesia 1961
"Qui se souvient de la mèr" romance 1962
"Cours sur la rive sauvage" romance 1964
"Le talisman" ensaio 1966
"La danse du roi" romance 1968
"Formulaires" poesia 1970
"Le maitre de chasse" romance 1973
"Dieu en barbarie" romance 1970
"L'histoire du chat qui boude" contos 1974
"Omneros" poesia 1975
"Habel" romance 1977
"Feu beau feu" poesia 1979
"Mille hourras pour une guerre" teatro 1980
"Les terrasses d'orsol" romance 1985
"O vive" poesia 1987
"Le sommeil d'Eve" romance 1989
"Neiges de marbre" romance 1990
"L'infante Maure" romance 1994
"L'arbre à dires" romance 1998


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Poemas: Contraluz