quarta-feira, 29 de novembro de 2006

Parabéns à Casa Fernando Pessoa






















A Casa Fernando Pessoa celebra amanhã, 30 de Novembro treze anos de existência. E convida-nos para o seu aniversário que terá o seguinte programa:
A partir das 14H30:
Exposição de manuscritos e objectos pessoais
Ofertas de aniversário (aos visitantes)
Distribuição de poemas
Música
Exposição “Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou”
[Kameraphoto]
A partir das 21H30:
Imagens
Filmes
Café literário & tertúlias
Visitas à Casa e ao Jardim
Autores lêem os seus textos:
Manuel António Pina, José Eduardo Agualusa, Pedro Mexia,
Luís Quintais, José Luís Peixoto, José Tolentino Mendonça

Traje informal. Será servida uma ceia.

terça-feira, 28 de novembro de 2006

Novidades Campo das Letras










"Discurso Amoroso"

Campo da Poesia
Maria Aurora Carvalho Homem
Desenhos de Francisco Simões











"A Palavra Passe"
Instantes de Leitura
António Ferra


E ainda...

"Das Sete Cidades"
Instantes de Leitura
António Mouginho

Palco aberto no Bar A Barraca




Mais logo, mais uma noite de Palco Aberto no bar A Barraca, a partir das 23 horas.
Todas as últimas terças-feiras de cada mês, o palco do bar A Barraca está aberto a quem quiser declamar, ler, dizer, urrar poemas, versos, obras épicas, recadinhos de amor, enfim... sem censura!
O Bar A Barraca fica no Largo de Santos, nº2, em Lisboa.

Na estante de Culto







Else Lasker- Schüller
, uma grande poetisa lírica, foi também um expoente do movimento expressionista alemão e uma judia publicamente assumida.
Conviveu com Franz Werfel, Franz Marc, Oscar Kokoschka, Georg Trakl e Karl Kraus (entre outros) nos cafés de Berlim, o segundo lar de muitos jovens artistas e intelectuais berlinenses da época, tendo sido distinguida pela sua obra em 1932, com o prestigiado “Kleist Prize”.
Em 1933 foi para a Suíça, fugindo ao nazismo, de que também foi vítima. Fixou-se mais tarde na Palestina, onde viveu na miséria até à morte.
Else conhecia a magia das palavras e criou uma poética profética, conjurando nos seus versos um mundo melhor e mais belo, embelezando o mundo com a magia da sua fantasia, tentando torná-lo luminoso e sereno, como nestas “Baladas Hebraicas”, recriações livres de figuras bíblicas.
Morreu em Jerusalém em 1945 e foi sepultada no Monte das Oliveiras. Não chegou assim, a assistir ao nascimento da nação de Israel.














Ester

Ester é esbelta como a palmeira brava,
Os pés de trigo têm o cheiro dos seus lábios,
E os dias de festa que em Judá se celebram.

De noite, o seu coração repousa sobre um salmo,
Os ídolos escutam nas salas do palácio.

O rei sorri se vai ao seu encontro —
O olhar de Deus está sempre posto em Ester.

Os judeus jovens fazem canções à irmã,
Gravam-na nas colunas da sua antecâmara.


O meu povo

Apodrece o rochedo
De onde provenho
E ao sol entoo os meus cânticos sagrados...
Subitamente, precipito-me do caminho
E águas murmuram em mim
Na distância, só, sobre pedras de lamentação,
Em direcção ao mar.

Jorrei-me para tão longe
Do mosto mal fermentado
Do meu sangue.
E sempre e ainda o eco
Dentro de mim,
Quando, voltados para Oriente,
Os ossos do rochedo apodrecido,
O meu povo,
Lançam um grito terrível para Deus.


Rute

E tu vens procurar-me junto às sebes.
Oiço o soluçar dos teus passos
E os meus olhos são pesadas gotas escuras.

Na minha alma nascem as flores doces
Do teu olhar e ele enche-se
Quando os meus olhos se exilam para o sono.

Na minha terra,
Junto ao poço, está um anjo:
Canta a canção do meu amor,
Canta a canção de Rute.


“Baladas Hebraicas”
Else Lasker-Schüller
Tradução e apresentação de João Barrento
Assírio & Alvim (Colecção Documenta Poética)
2002

Bilingue

Edição facsimilidada que reproduz a edição publicada em 1986 pela Deutsche Schillergesellschaft Marbach a partir do manuscrito original conservado no Deutsches Literaturarchiv.

É claro que recomendo.

segunda-feira, 27 de novembro de 2006

15 desatinónimos de Fernando Pessoa



Luís Graça
acaba de inaugurar o seu blogue com contos sobre Fernando Pessoa.
Convido-vos a uma leitura com diversão, de contos escritos com paixão. A paixão que Luís Graça nutre por Fernando Pessoa aliada ao seu já tão reconhecido sentido de humor.
Em vez de um Pessoa cinzento, a que muitos sempre nos quiseram habituar, Luís Graça (neste caso, Von Grazen) apresenta-nos assim um Pessoa divertido, sarcástico, um Pessoa que se passeia pelo mundo de hoje, em fantasma, nos seus heterónimos "desatinados" que assim fizeram nascer o nome "15 desatinónimos de Fernando Pessoa".
Abram as vossas mentes para ler estes 15 contos. Se os lerem de mente aberta verão que são uma delícia. E que se irão divertir pelas viagens do "Nandinho". Uma lufada de ar fresco e de cor neste mundo tão cinzento que é o nosso.
O blogue fica aqui.

domingo, 26 de novembro de 2006

Morreu Mário Cesariny

A manhã acordou triste. Morreu esta madrugada o grande poeta e pintor Mário Cesariny de Vasconcelos, com 83 anos.
O corpo deverá seguir para a Igreja de Santo Condestável e o funeral realizar-se-á segunda-feira às 14 horas.

















TODOS POR UM

A manhã está tão triste
que os poetas românticos de Lisboa
morreram todos com certeza

Santos
Mártires
e Heróis

Que mau tempo estará a fazer no Porto?
Manhã triste, pela certa.

Oxalá que os poetas românticos do Porto
sejam compreensivos a pontos de deixarem
uma nesgazinha de cemitério florido
que é para os poetas românticos de Lisboa não terem de
recorrer à vala comum.

Mário Cesariny

A "Musa ao Espelho” na Casa Fernando Pessoa








Se a melodia é a suprema invenção do homem
e a poesia uma longa meditação

entre o som e o sentido, a Musa é

o espelho de todas as magias.


A "Musa ao Espelho" apresentará amanhã, segunda-feira, um espectáculo intenso e eclético com leitura de poemas originais.
Os poemas interpretados por José Carlos Tinoco serão acompanhados por Juca Rocha (piano); Ianina Khmelik (violino); Vanessa Pires (violoncelo); Fátima Santos (acordeão).
Os temas compostos para cada um dos poemas acentuam a ambiência do texto, transportando o espectador através de uma viagem imaginária, visitando diferentes espaços físicos e emocionais.
A poesia e a prosa poética que integram este espectáculo, foram propositadamente escritas para a "Musa ao Espelho", à excepção do poema Recusa de António Maria Lisboa, para uma antologia, Pathos (livro+CD+DVD), que em Lisboa terá estreia ao vivo na Casa Fernando Pessoa: amanhã, dia 27 de Novembro pelas 21h30.
Os dois últimos suportes serão o resultado da gravação ao vivo no dia 24 de Julho na Casa da Música.
A Casa Fernando Pessoa, já sabem... fica na Rua Coelho da Rocha, 16, em Lisboa.

Ficha Artística
Elementos do Grupo:
José Carlos Tinoco – Voz
Juca Rocha – Piano
Ianina Khmelik – Violino
Vanessa Pires – Violoncelo
Fátima Santos – Acordeão

Ficha Técnica
Pré – Produção – Carlos Bartilotti
Pré – Produção de temas – José Carlos Tinoco
Produção – A Musa ao Espelho / Quico Serrano
Mistura – Quico Serrano
Masterização (estúdio) – Quico Serrano
Equipa Técnica – Bartilotti Produções
Produção Executiva – Carlos Bartilott

Na estante de culto

"o texto. texto superfície. inerte. superfície que o papel sustenta. material à superfície. e se percorre de gestos minúsculos. e de olhos. num ritmo regular. leitura escrita. ou os grupos de sinais animados. em silêncio. um fluxo. logo uma torrente. se agrupam. se montam. se desfazem em sequências. linhas. frases. em fragmentos. difundindo. alastrando em várias direcções."


















"Corpos radiantes"

E. M. de Melo e Castro

Edição & etc

(1982)
Capa de Carlos Ferreiro

um livro. trangressor. um poeta que interroga o silêncio. e o significado das palavras. e recria as palavras. um livro sobre a fantasmática do verbo. um livro sobre o papel das palavras. escrito com as nossas palavras. recomendo.

sexta-feira, 24 de novembro de 2006

Faz hoje 100 anos que nasceu...






















António Gedeão

Poeta português

Nasceu em 24 de Novembro de 1906


Artigos relacionados:
Biografia
Poemas: Amor sem tréguas ; Dez reis de esperança ; Pedra Filosofal ; Máquina do Mundo ; A um ti que eu inventei ; Calçada de Carriche

António Gedeão

António Gedeão, (Rómulo Vasco da Gama de Carvalho), nasceu em Lisboa em 24 de Novembro de 1906. Criança precoce, aos 5 anos escreveu os seus primeiros poemas e aos 10 decidiu completar "Os Lusíadas" de Camões. A par desta inclinação para as letras, ao entrar para o liceu Gil Vicente tomou contacto com as ciências e foi aí que despertou nele um novo interesse.
Em 1931 licenciou-se em Ciências Físico-Químicas pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e em 1932 concluiu o curso de Ciências Pedagógicas na Faculdade de Letras do Porto, prenunciando assim qual seria a sua actividade principal durante 40 anos: professor e pedagogo.
Exigente e comunicador por excelência, para Rómulo de Carvalho ensinar era uma paixão e uma dedicação. E assim, além da colaboração como co-director da "Gazeta de Física" a partir de 1946, concentrou durante muitos anos os seus esforços no ensino dedicando-se, inclusivé, à elaboração de compêndios escolares, inovadores pelo grafismo e pela forma de abordar matérias tão complexas como a física e a química. Dedicação estendida, a partir de 1952, à difusão científica a um nível mais amplo através da colecção "Ciência Para Gente Nova" e muitos outros títulos, entre os quais "Física para o Povo", cujas edições acompanham os leigos interessados pela ciência até meados da década de 1970.
Apesar da intensa actividade científica, Rómulo de Carvalho nunca esqueceu a arte das palavras e continuou sempre a escrever poesia. Porém, não a considerando de qualidade e pensando que nunca seria útil a ninguém, nunca tentou publicá-la, preferindo destruí-la. Só em 1956, após ter participado num concurso de poesia de que tomou conhecimento no jornal, publicou, aos 50 anos, o primeiro livro de poemas "Movimento Perpétuo" com o pseudónimo António Gedeão. Continuou depois a publicar poesia, aventurando-se anos mais tarde no teatro, no ensaio e na ficção.
Nos seus poemas existe uma simbiose perfeita entre a ciência e a poesia, a vida e o sonho, a lucidez e a esperança. Aí reside a sua originalidade, difícil de catalogar, originada por uma vida em que sempre coexistiram esses dois interesses distintos.
A poesia de Gedeão, tão comunicativa, marca toda uma geração que, reprimida por um regime ditatorial e atormentada por uma guerra cujo fim não se adivinhava, se sentia profundamente tocada pelos valores expressos pelo poeta e assim se atrevia a acreditar que, através do sonho, era possível encontrar o caminho para a liberdade. É deste modo que "Pedra Filosofal", musicada por Manuel Freire, se torna num hino à liberdade e ao sonho. Mais tarde, em 1972, José Nisa compõe doze músicas com base em poemas de Gedeão e produz o álbum "Fala do Homem Nascido".
Nos anos seguintes dedicou-se por inteiro à investigação, publicando numerosos livros, tanto de divulgação científica, como de história da ciência. Gedeão também continuou a sonhar, mas o fim aproximava-se e o desejo de morrer determinou, em 1984, a publicação de "Poemas Póstumos".
Em 1990, já com 83 anos, Rómulo de Carvalho assumiu a direcção do Museu Maynense da Academia das Ciências de Lisboa, sete anos depois de se ter tornado sócio correspondente da Academia de Ciências, função que desempenharia até ao fim dos seus dias.
Quando completou 90 anos de idade, a sua vida foi alvo de uma homenagem a nível nacional. O professor, investigador, pedagogo e historiador da ciência, bem como o poeta, foi reconhecido publicamente por personalidades da política, da ciência, das letras e da música. O grande poeta António Gedeão faleceu em 1997.

Obra Literária:
Poesia: "Movimento Perpétuo", 1956; "Teatro do Mundo", 1958; "Declaração de Amor", 1959; "Máquina de Fogo", 1961; "Poesias Completas", 1964; "Linhas de Força", 1967; "Soneto", 1980; "Poema para Galileu", 1982; "Poemas Póstumos", 1984; "Poemas dos textos", 1985; "Novos Poemas Póstumos", 1990
Ficção: "A poltrona e outras novelas", 1973
Teatro: "RTX 78/24", 1978; "História Breve da Lua", 1981
Ensaio: "O Sentimento Científico em Bocage", 1965; "Ay Flores, Ay flores do verde pino", 1975
Obra Científica: "Ciência Hermética", 1947; "Embalsamento Egípcio", 1948; "Compêndio de Química para o 3º Ciclo", 1953; "Sr. Tompkins explora o átomo", 1956; "Guias de trabalhos práticos de Química" [3º Ciclo], 1957; "Que é a física?", 1959; "Problemas de Física para o 3º Ciclo do Ensino Liceal", I volume, 1959; "A Física para o Povo", 1968; "Ciências da Natureza",1974; "Aditamento ao guia de trabalhos práticos de Química", 1975; "A Descoberta do Mundo da Física", 1979; "A Experiência Científica", 1979; "A Natureza Corpuscular da Matéria", 1979; "Moléculas, Átomos e Iões", 1979; "A Energia", 1980; "A Estrutura Cristalina", 1980; "As Forças", 1980; "As Reacções Químicas", 1980; "O Peso e a Massa", 1980; "A Composição do Ar", 1982; "A Electricidade Estática", 1982; "A Pressão Atmosférica", 1982; "A Corrente Eléctrica", 1983; "A Electrónica", 1983; "Magnetismo e Electromagnetismo", 1983; "A Energia Radiante", 1985; "A Radioactividade", 1985; "Ondas e Corpúsculos",1985
Investigação histórica: "História da Fundação do Colégio Real dos Nobres de Lisboa [1765 1772]", 1959; "História do gabinete de Física da Universidade de Coimbra [1772 1790] desde a sua fundação em 1772 até ao Jubileu do Prof. Giovani António Dalla Bella", 1978; "Relações entre Portugal e a Rússia no Século XVIII", 1979; "A Actividade Pedagógica da Academia das Ciências da Lisboa nos Séculos XVIII e XIX", 1981; "A Física Experimental em Portugal no Século XVIII", 1982; "A Astronomia em Portugal no Século XVIII", 1985; "História do Ensino em Portugal, desde a fundação da nacionalidade até ao fim do regime de Salazar Caetano", 1986; "O Texto Poético Como Documento Social", 1994.

Amor sem tréguas

É necessário amar,
qualquer coisa ou alguém;
o que interessa é gostar
não importa de quem.

Não importa de quem,
não importa de quê;
o que interessa é amar
mesmo o que não se vê.

Pode ser uma mulher,
uma pedra, uma flor,
uma coisa qualquer,
seja lá o que for.

Pode até nem ser nada
que em ser se concretize,
coisa apenas pensada,
que a sonhar se precise.

Amar por claridade,
sem dever a cumprir;
uma oportunidade
para olhar e sorrir.

Amar como um homem forte
só ele o sabe e pode-o;
amar até à morte,
amar até ao ódio.

Que o ódio, infelizmente,
quando o clima é de horror,
é forma inteligente
de se morrer de amor.

António Gedeão

Dez reis de esperança

Se não fosse esta certeza
que nem sei de onde me vem,
não comia, nem bebia,
nem falava com ninguém.
Acocorava-me a um canto,
no mais escuro que houvesse,
punha os joelhos à boca
e viesse o que viesse.
Não fossem os olhos grandes
do ingénuo adolescente,
a chuva das penas brancas
a cair impertinente,
aquele incógnito rosto,
pintado em tons de aguarela,
que sonha no frio encosto
da vidraça da janela,
não fosse a imensa piedade
dos homens que não cresceram,
que ouviram, viram, ouviram,
viram, e não perceberam,
essas máscaras selectas,
antologia do espanto,
flores sem caule, flutuando
no pranto do desencanto,
se não fosse a fome e a sede
dessa humanidade exangue,

roía as unhas e os dedos
até os fazer em sangue.

António Gedeão

Pedra Filosofal

Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso,
em serenos sobressaltos
como estes pinheiros altos
que em verde e ouro se agitam
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho alacre e sedento
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa dos ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som televisão
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre a mãos de uma criança.

António Gedeão


Na voz de Luís Gaspar:

Máquina do Mundo

O Universo é feito essencialmente de coisa nenhuma.
Intervalos, distâncias, buracos, porosidade etérea.
Espaço vazio, em suma.
O resto, é a matéria.
Daí, que este arrepio,
este chamá-lo e tê-lo, erguê-lo e defrontá-lo,
esta fresta de nada aberta no vazio,
deve ser um intervalo.

António Gedeão


Na voz de Luís Gaspar:






















Do espólio da Biblioteca Nacional

A um ti que eu inventei

Pensar em ti é coisa delicada.
É um diluir de tinta espessa e farta
e o passá-la em finíssima aguada
com um pincel de marta.

Um pesar grãos de nada em mínima balança,
um armar de arames cauteloso e atento,
um proteger a chama contra o vento,
pentear cabelinhos de criança.

Um desembaraçar de linhas de costura,
um correr sobre lã que ninguém saiba e oiça,
um planar de gaivota como um lábio a sorrir.

Penso em ti com tamanha ternura
como se fosses vidro ou película de loiça
que apenas com o pensar te pudesses partir.

António Gedeão


Na voz de Luís Gaspar:

Calçada de Carriche

Luísa sobe,
sobe a calçada,
sobe e não pode
que vai cansada.
Sobe, Luísa,
Luísa sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Saiu de casa
de madrugada;
regressa a casa
é já noite fechada.
Na mão grosseira,
de pele queimada,
leva a lancheira
desengonçada.
Anda Luísa,
Luísa sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Luísa é nova,
desenxovalhada,
tem perna gorda,
bem torneada.
Ferve-lhe o sangue
de afogueada;
saltam-lhe os peitos
na caminhada.
Anda Luísa,
Luísa sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Passam magalas,
rapaziada,
palpam-lhe as coxas,
não dá por nada.
Anda Luísa,
Luísa sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Chegou a casa
não disse nada.
Pegou na filha,
deu-lhe a mamada;
bebeu da sopa
numa golada;
lavou a loiça,
varreu a escada;
deu jeito à casa
desarranjada;
coseu a roupa
já remendada;
despiu-se à pressa,
desinteressada;
caiu na cama
de uma assentada;
chegou o homem,
viu-a deitada;
serviu-se dela,
não deu por nada.
Anda Luísa,
Luísa sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Na manhã débil,
sem alvorada,
salta da cama,
desembestada;
puxa da filha,
dá-lhe a mamada;
veste-se à pressa,
desengonçada;
anda, ciranda,
desaustinada;
range o soalho
a cada passada;
salta para a rua,
corre açodada,
galga o passeio,
desce a calçada,
chega à oficina
à hora marcada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga;
toca a sineta
na hora aprazada,
corre à cantina,
volta à toada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga.
Regressa a casa
é já noite fechada.
Luísa arqueja
pela calçada.
Anda Luísa,
Luísa sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Anda Luísa,
Luísa sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

António Gedeão


Na voz de Luís Gaspar:

quarta-feira, 22 de novembro de 2006

O pequeno enorme gesto da amizade

Pó de piano

na oxidação das horas brancas
solidifica-se o enfiamento dos dias
como linhas que sustentam no ar
os corpos húmidos das coisas que em sonhos tomam poses de voo

movidos pelo egoísmo
os fantasmas cristalizam-se, descendo dos tectos,
sentando-se em cima dos móveis
para que os corpos obtenham o peso consumível das coisas

coberto pelo lençol
o líquido enviusado desaparece
e a nascente dos sonhos com que alimentávamos o passado
toma o sentido correcto das coisas
ao transformar-se na película de pó, no último piano
em que nos deitarmos

Carlos Vaz


Poema inserido na antologia poética "Afectos" (da Editora Labirinto), um pequeno livro de bolso que reúne poemas e fotografias de treze autores contemporâneos, interseccionando ao longo de 28 páginas "diferentes sensibilidades de um diálogo poético, tão mais rico quanto o facto de nos convocar para o acto de amar o pequeno enorme gesto da amizade".


Diálogos atlânticos na Casa Fernando Pessoa






Hoje, 22 de Novembro, na Casa Fernando Pessoa, pelas 18h30, "Diálogos atlânticos: poesia portuguesa e brasileira dos últimos 10 anos"

Apresentação a cargo de Luis Maffei e António Carlos Cortez.

Luis Maffei, poeta, lançou o seu livro de estreia, "A", em 2006.
É bacharel em Letras pela UFRJ, a mesma instituição pela qual é mestre em Literatura Portuguesa – tendo defendido a Dissertação de Mestrado Do mundo, de Herberto Helder – e onde também realizou o seu Doutoramento, que se dedica ao todo da poesia herbertiana. Ainda na Faculdade de Letras da UFRJ, leccionou Literatura Portuguesa em 2004 e 2005. É ensaísta literário e tem trabalhos publicados nas revistas Camoniana e Metamorfoses.
É também compositor e músico, tendo lançado, em 2005, o disco Na Mesma Situação de Blake, em parceria com Marcelo Gargaglione.

António Carlos Cortez é licenciado em Estudos Portugueses pela FCSH da Universidade Nova de Lisboa. Publicou três livros de poesia e um livro de crítica e pedagogia literárias: "Ritos de Passagem" (1999), "Um Barco no Rio" (2002), "A Sombra no Limite" (2004), e "Nos Passos da Poesia" (2005). Colabora actualmente no Jornal de Letras, como crítico de poesia, e publicou ensaios sobre literatura em revistas da especialidade: Relâmpago, Colóquio/Letras e Mea Libra.

segunda-feira, 20 de novembro de 2006

Novidades Assírio & Alvim







“A Moeda do Tempo”

Poesia
Gastão Cruz








“Antes que o Rio Seque”
Poesia
António Manuel Pires Cabral



E ainda:
“Poesia do Eu”
Poesia
Fernando Pessoa
Edição de Richard Zenith

sexta-feira, 17 de novembro de 2006

Ainda a propósito de Judith Teixeira






Não percam o programa "Palavras de Ouro" desta semana do audioblog "Estúdio Raposa".
É totalmente dedicado a Judith Teixeira.
Podemos ouvir uma pequena biografia de Judith e também ouvir os poemas dela pela voz inconfundível de Luís Gaspar.
Uma pequena maravilha!...

O "Estúdio Raposa" do Luís Gaspar fica aqui.

National Book Awards




Nathaniel Mackey, escritor, poeta, crítico literário e jornalista, levou para casa no passado dia 15 de Novembro o troféu de Melhor Poesia do National Book Awards pelo livro Splay Anthem (New Directions).
Para além desta obra de Nathaniel Mackey, concorreram na categoria de Poesia, "Averno", de Louise Gluck, "Chromatic", de H.L. Hix, "Angle of Yaw", de Ben Lerner e "Capacity", de James McMichael.
Os finalistas para a edição 2006 do prémio foram escolhidos entre o número recorde de 1.259 obras propostas por editores nas categorias ficção, não-ficção, poesia e literatura juvenil.

Prémio Literário António Paulouro





O escritor e poeta Carlos Vaz, da editora Labirinto, Prémio Nacional de Literatura Vergílio Ferreira (2005), foi agraciado com o Prémio Literário António Paulouro, pela obra Capricho 43. Segundo o autor, "esta é uma história de viagem pelo rio do esquecimento, num estranho e pesado tanque de cimento com uma também estranha tripulação: Goya e os seus Caprichos, Isaac Newton e as suas experiências pensadas, e o estranho homem-que-separa-as-águas com a sua Mãe..."

O prémio de 7000 euros foi atribuído a duas obras de autores em ascensão na literatura portuguesa.

O Prémio Literário António Paulouro (que deve o seu nome ao jornalista fundador do Jornal do Fundão) foi anteriormente atribuído aos escritores Rui Herbon e Ondjaki.

Para quem ainda não o visitou, o blogue de Carlos Vaz fica aqui.

quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Poema à boca fechada

Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.

Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.

Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.

Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais boiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.

Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.

José Saramago

Interpretado pela Andante:

Voz: Cristina Paiva; Música: Eleni Karaindrou; Sonoplastia: Fernando Ladeira

José Saramago

José Saramago nasceu na Azinhaga, concelho da Golegã, em 16 de Novembro de 1922.
Trabalhou como jornalista em vários jornais, entre eles o Diário de Lisboa, de que foi director, tendo também colaborado como crítico literário na Revista "Seara Nova". Pertenceu à primeira Direcção da Associação Portuguesa de Escritores.
Desde 1976 que vive exclusivamente do seu trabalho literário.
Fixou-se definitivamente na ilha de Lanzarote, arquipélago das Canárias. É um dos escritores portugueses mais lidos e traduzidos no estrangeiro. Em 1991 ganhou o Grande Prémio APE, com o romance "O Evangelho Segundo Jesus Cristo", em 1985 foi condecorado como Comendador da Ordem Militar de Santiago de Espada, em Portugal, em 1991 foi condecorado como Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras Francesas, em França, e em 1996 foi-lhe atribuído o Prémio Camões por toda a sua obra.
Em 1998 foi galardoado com o Prémio Nobel da Literatura.
Obras: "Terra do Pecado" (romance, 1947; 2ª ed. 1997), "Os Poemas Possíveis" (poesia, 1966), "Provavelmente Alegria" (1970), "Deste Mundo e do Outro" (1971), "A Bagagem do Viajante" (1973), "As Opiniões que o DL teve" (1974), "O Ano de 1993" (1975), "Os Apontamentos" (1976), "Manual de Pintura e Caligrafia" (1977), "Objecto Quase" (1978), "Poética dos Cinco Sentidos" (1979), "A Noite" (teatro, 1979), "Levantado do Chão" (1980); "Que Farei com este Livro?" (teatro, 1980), "Viagem a Portugal" (1981), "Memorial do Convento" (romance, 1982), "O Ano da Morte de Ricardo Reis" (romance, 1984), "A Jangada de Pedra" (romance, 1986), "A Segunda Vida de Francisco de Assis" (1987), "História do Cerco de Lisboa" (romance, 1989), "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" (romance, 1991), "In Nomine Dei" (teatro, 1993), "Cadernos de Lanzarote" (1994, diário I), "Cadernos de Lanzarote" (1995, diário II), "Ensaio sobre a Cegueira" (1995), "Cadernos de Lanzarote" (1996, diário III), "Cadernos de Lanzarote" (1997, diário IV), "Todos os Nomes" (1997), "Cadernos de Lanzarote" (1998, diário V), "A Caverna" (2000), "A Maior Flor do Mundo" (infantil/juvenil, 2001, com ilustrações de João Caetano), "O Homem Duplicado (ficção, 2002), "Ensaio sobre a Lucidez" (ficção, 2004), "Don Giovanni ou O dissoluto absolvido" (teatro, 2005), "As Intermitências da Morte" (romance, 2005), "As pequenas Memórias" (memórias, 2006).

Hoje nasceu...





16 de Novembro de 1922


José Saramago

Escritor português



Artigos relacionados:
Biografia
Poemas: Poema à boca fechada

quarta-feira, 15 de novembro de 2006

Poesia em Telheiras

Amanhã, 16 de Novembro, "Poesia da Lusofonia" por Elsa Noronha, na sede da ART - Associação de Residentes de Telheiras, das 21h30 às 23h.
O público presente pode trazer poemas para dizer.
A sede da ART fica na Rua Professor Mário Chicó, nº 5, em Telheiras.

terça-feira, 14 de novembro de 2006

Poemas em voz alta

Dobrada à moda do Porto


Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo,
Serviram-me o amor como dobrada fria.
Disse delicadamente ao missionário da cozinha
Que a preferia quente,
Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.

Impacientaram-se comigo.
Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.
Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta,
E vim passear para toda a rua.

Quem sabe o que isto quer dizer?
Eu não sei, e foi comigo...

(Sei muito bem que na infância de toda a gente houve um jardim,
Particular ou público, ou do vizinho.
Sei muito bem que brincarmos era o dono dele.
E que a tristeza é de hoje).

Sei isso muitas vezes,
Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram
Dobrada à moda do Porto fria?
Não é prato que se possa comer frio,
Mas trouxeram-mo frio.
Não me queixei, mas estava frio,
Nunca se pode comer frio, mas veio frio.

Álvaro de Campos


Na voz de Luís Gaspar:

sexta-feira, 10 de novembro de 2006

Na estante de Culto


















Quem conhece... Judith Teixeira?


Judith Teixeira nasceu em Viseu em 1880. Começou a escrever na adolescência "versos ingénuos, que guardava", (segundo palavras suas) e apareceu no "Jornal da Tarde" com composições em prosa que assinava com pseudónimo.
Do seu nome verdadeiro, só haveria notícia em 1922, quando escreveu a maior parte dos poemas que haveriam de ser incluídos nos seus livros "Decadência" e "Castelo de Sombras", publicando também poemas na revista "Contemporânea".
O livro "Decadência" saiu em Fevereiro de 1923. Em Março do mesmo ano, o Governo Civil de Lisboa apreendeu este livro de Judith, assim como as "Canções" de António Botto e "Sodoma Divinizada" de Raúl Leal, depois da polémica instalada após a publicação destes livros, apelidados de "imorais", que levaram uns quantos estudantes católicos sedentos de mão pesada, a queixar-se contra a "literatura dissolvente" que "corroía a moral e os costumes". Os livros foram queimados e Judith apelidada de "desavergonhada". Fernando Pessoa tomou posição em defesa dos amigos Botto e Leal. De Judith, não mais se falou na altura. Em Junho do mesmo ano, Judith publicou "Castelo de Sombras", constituído por 24 poemas datados de sexta-feira de paixão de 1921 a Abril de 1923. E em Dezembro do mesmo ano, resolveu editar novamente "Decadência". Durante o ano de 1925, Judith escreveu a maior parte dos poemas que iria publicar no livro "Nua", em 1926. Entretanto, editou e dirigiu a revista "Europa". O livro "Nua" foi anunciado pelo poema "A cor dos sons", publicado na revista "Contemporânea", n.º11. Em Junho, já com o livro à venda, sairia no jornal "Revolução Nacional", (jornal de propaganda da ditadura onde se insultavam os directores de quase todos os outros jornais), um texto onde era referido o livro "Nua" de Judith, como "uma das vergonhas sexuais e literárias" e apelidados os seus poemas de "versalhadas ignóbeis". Marcelo Caetano escreveria ainda, no jornal "Ordem Nova" (de que era fundador e redactor), que tinham aparecido nas livrarias uns livros obscenos, apelidando Judith de desavergonhada, e onde se vangloriava pela cremação dos livros dela, de Leal e de Botto, a que chamava de “papelada imunda, que empestava a cidade”. Judith Teixeira, depois de enxovalhada publicamente, ridicularizada, apelidada de lésbica e caricaturada em revistas, defendeu-se e contra-atacou na conferência "De Mim", cujo texto se apressou a editar. Sete meses depois, publicou "Satânia", enfrentando tudo e todos.
Depois desta data, Judith assinou raras colaborações. Em 1928 publicou o "Poemeto das Sombras" na revista "Terras de Portugal" e depois disto, não se ouviria dela nem mais uma palavra. Depois de totalmente esmagada pela moral vigente, viu-se em 1927 sentenciada de "morte artística" pela mão de José Régio, que diria: "Todos os livros de Judith Teixeira não valem uma canção escolhida de António Botto". Depois disto, sabe-se que terá saído do país e que se terá calado para sempre uma voz tão incisivamente dedicada à agitação.
Judith morreu em 1959. Mais tarde, em 1977, António Manuel Couto Viana ressuscitava o nome de Judith Teixeira ao dedicar-lhe uma memória no volume "Coração Arquivista" onde se interrogava porque teriam sido as poesias de Judith votadas ao silêncio e à ignorância das mesmas. Judith Teixeira é ainda hoje praticamente desconhecida e continua a não estar representada em qualquer antologia. Fala-se ainda hoje da polémica da "literatura de sodoma" de Botto, Leal e Pessoa, e omite-se aquela que viu igualmente um livro seu em labaredas e que foi o mais perseguido e enxovalhado dos poetas modernistas. Uma excepção para a Editora "&etc", que, em 1996 resolveu editar os poemas de Judith Teixeira, (com pesquisa, organização e bibliografia elaborada por Maria Jorge e Luís Manuel Gaspar), com o objectivo de reparar a injustiça de tal silêncio a que esta poetisa vanguardista dos anos 20 foi votada todos estes anos.
Foi também com agrado que descobri recentemente, um blogue totalmente dedicado a Judith Teixeira, aqui.



















“Poemas”
Judith Teixeira
Edição & etc
(1996)
Capa de Luís Manuel Gaspar

Recomendo. E deixo-vos com um poema deste livro:

A mulher do vestido encarnado

Ameigam teu corpo airoso
requebros sensuais,
e o teu perfil
felino e vicioso
diz-nos pecados brutais?
– Paixões preversas
onde o crime é gozo!

Carne que a horas se contrata,
e onde a tísica já fez guarida;
– vendida por suja prata
em tanta noite perdida…

Ó farrapo de luxúria
que acendes quentes desejos
até à fúria,
na febre de longos beijos!…

Perderam-se tantas, tantas
mocidades
nos teus olhares diabólicos,
que nem tu já sabes quantas!

E ninguém te perguntou
ainda, mulher perdida
que desgraçado amor foi esse
que te arrastou
a essa vida, negra vida!

E às vezes,
cuspindo sangue
em noites de guitarrada,
a tua boca tão mordida,
cantando, à desgarrada,
fala do amor crueldade
– um amor todo ruína,
uma amor todo saudade!

Ó farrapo de luxúria
que acendes quentes desejos
até à fúria,
na febre de longos beijos!

Outubro
1922

quinta-feira, 9 de novembro de 2006

Encontros Literários Portugueses em Nantes









Fernando Pessoa, as novas vozes da literatura portuguesa e o futuro da edição em Portugal vão estar em debate nos "Encontros Literários Portugueses", uma iniciativa que decorrerá a partir de sexta-feira em Nantes, sul de França, nos dias 10, 11 e 12 de Novembro.

No programa incluem-se várias sessões literárias, como é o caso de Rostos de Fernando Pessoa, com Jacques Bonnaffé, Patrick Quillier, Maria Antónia Câmara Manuel, Antonio Tabucchi, Eduardo Lourenço e Antoine Bonnet; A edição portuguesa e o futuro do livro em Portugal, com Bernard Martin, Carlos da Veiga Ferreira, Sandra Silva e Maria do Rosário Pedreira; As novas vozes da literatura portuguesa, com José Luís Peixoto, Filipa Melo e Pedro Rosa Mendes; e A poesia portuguesa contemporânea, com Nuno Júdice, António Osório, Maria do Rosário Pedreira e José Mário Silva.

Durante o evento prevêem-se também degustações de vinhos portugueses, projecção de filmes, um concerto de fado por Bévinda e leituras de textos e recitais em português. Destaque ainda para a conferência A invenção do mundo pelos navegadores portugueses, com Michel Chandeigne, Ilda Mendes dos Santos, Eduardo Lourenço e Jean-Luc Van Den Heede.

Mais um Prémio para Ramos Rosa



António Ramos Rosa foi distinguido com o Prémio de Poesia Luís Miguel Nava 2006, referente à poesia publicada em 2005, pelo livro "Génese seguido de Constelações", editado pela Roma Editora.

O prémio, no valor de cinco mil euros, foi atribuído por unanimidade, por um júri constituído por quatro elementos da direcção da Fundação Luís Miguel Nava (Carlos Mendes de Sousa, Fernando Pinto do Amaral, Gastão Cruz e Paulo Teixeira) e um elemento convidado (o poeta Manuel António Pina, vencedor deste prémio em 2003).
O Prémio Luís Miguel Nava foi instituído em 1997, por vontade expressa em testamento do poeta que lhe dá o nome, e já foi atribuído aos poetas Sophia de Mello Breyner Andresen, Fernando Echevarría, António Franco Alexandre, Armando Silva Carvalho, Manuel Gusmão, Fernando Guimarães e Luís Quintais.

Fernando Pinto do Amaral na Livraria da Praça





O poeta e ensaísta Fernando Pinto do Amaral vai estar amanhã, 10 de Novembro, pelas 21:30h, na Livraria da Praça, para uma noite de poesia e de livros.

Fernando Pinto do Amaral – é poeta, ensaísta e professor na Faculdade de Letras de Lisboa. Autor de uma vasta obra literária, colabora em diversas revistas e jornais como a Ler, A Phala, Colóquio/Letras e o jornal Público. Traduziu As Flores do Mal, de Baudelaire, que lhe valeu o Prémio do Pen Club e o Prémio da Associação Portuguesa de Tradutores, e Poemas Saturnianos de Verlaine. Traduziu ainda toda a poesia do argentino Jorge Luis Borges.
Entre a sua obra, contam-se Acédia (1990, Poesia), A Escada de Jacob (1993, Poesia), Às Cegas (1997, Poesia), O Mosaico Fluido — Modernidade e Pós-Modernidade na Poesia Portuguesa Mais Recente (1991, Prémio de Ensaio Pen Club), Na Órbita de Saturno (1992, Ensaio) e Poesia Reunida (2000). Recentemente editou o livro de poemas Pena Suspensa (2004) e o conjunto de contos Área de Serviço e Outras Histórias de Amor (2006).

A Livraria da Praça fica em Viseu, na R. Cónego Martins, nº 13 (ao Museu Almeida Moreira) e também com entrada pelas escadinhas Chão do Mestre (à Rua do Comércio).
Está aberta todos os dias das 11h às 23h e domingos das 15h às 19h.
Encerra às segundas e feriados.
E o blogue, fica aqui.

Na estante de culto





Florbela Espanca como poeta é inigualável, divergindo com grande nitidez dos modelos que prevaleciam no período em que mais escreveu. Através da representação de excessivos estados de alma só atingíveis por raros artistas, a sua obra reflecte a insatisfação, a ânsia de absoluto e de amor impossível, registando emoções e sensações numa escrita intensa e rica que é caso único na literatura portuguesa dos últimos séculos: o âmbito da paixão humana é, afinal, o cerne da sua poética.

"Poesia Completa"
Florbela Espanca
Bertrand Editora
7ª Edição, 2005

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

A Música em Pessoa
















Lançado pela primeira vez em 1985 (em edição vinil), data comemorativa dos 50 anos da morte de Fernando Pessoa, "A Música em Pessoa", editado pela Som Livre, é um exemplo do casamento perfeito entre a poesia portuguesa e a canção brasileira.
São 15 poemas, musicados por alguns dos principais compositores brasileiros: António Carlos Jobim, Edu Lobo, Milton Nascimento, Dory Caymmi, entre outros.
Esta nova edição, em formato digital, remisturada e remasterizada, contém uma versão inédita de Tom Jobim de "Autopsicografia", cantada pelo próprio Jobim.
Tom Jobim interpreta ainda "O Rio da Minha Aldeia" e "Cavaleiro Monge", Nana Caymmi canta "Segue o teu destino", Ritchie revela um aspecto britânico de Pessoa em "Meantime", Eugénia Melo e Castro interpreta "Emissário de um rei desconhecido" e Vânia Bastos dá a sua voz a "Quem bate à minha porta", entre tantas outras especiais interpretações.
Destaque ainda para Marília Pêra declamando "O menino da sua mãe" e o talento de Jô Soares, que incorpora Álvaro de Campos, em "Cruzou por mim, veio ter comigo numa rua da baixa...".
A intenção da produção deste trabalho foi incluir os quatro heterónimos mais famosos do poeta: Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Bernardo Soares, para além de poemas assinados por Fernando Pessoa — ele mesmo.

terça-feira, 7 de novembro de 2006

Pessoa para os mais novos








Ainda amanhã, será também lançado o livro “O Meu Primeiro Pessoa” de Manuela Júdice, ilustrado por Pedro Proença.
"O Meu Primeiro Pessoa" reúne um conjunto de poemas ilustrados e textos simples sobre os momentos fundamentais da vida de Fernando Pessoa.
A obra, que tem a chancela da editora Dom Quixote, vai ser lançada amanhã, pelas 13h30, na Bulhosa do Campo Grande, com a presença da autora, do ilustrador do livro, Pedro Proença, e um grupo de crianças da Escola do Bairro de São Miguel.
A originalidade deste livro está na junção de poemas, textos explicativos sobre o autor e ilustrações.
Já existem alguns livros com selecções da poesia de Fernando Pessoa para crianças e outros que abordam a vida do poeta, mas este reúne ambos, acrescentando-lhe as ilustrações.

Prometeu e Fausto em Goethe e Pessoa





Também amanhã, 8 de Novembro, das 11h às 23h, em diferentes espaços da Casa Fernando Pessoa, decorrerá a Segunda Jornada Luso-Alemã, subordinada ao tema "Prometeu e Fausto em Goethe e Pessoa - Cartografias dialogantes".
O programa é o seguinte:
11h00-11h30: Pequeno almoço e palavras de boas-vindas a palestrantes, moderadores, performers e público (Nuno Félix da Costa, Anabela Mendes e um elemento em representação da Casa Fernando Pessoa).
11h45–12h30: Holger Brohm (Professor Universitário, Universidade de Humboldt, Berlim) DAS PROMETHEISCHE DRAMA DER KULTUR – FORTGESETZTE VERSUCHE, EINEN MYTHOS ZU ERZÄHLEN (O drama prometaico da cultura – tentativas continuadas de contar o mito). A comunicação de Holger Brohm será apresentada em alemão e terá o apoio em interpretação de Marta Fidalgo.
12h45–13h30: António Bracinha Vieira (Psiquiatra, Prof. jubilado de Antropologia) FAUSTO E PROMETEU.
13h30–14h00: Luís Moura do Carmo e Nuno Lucas — ACÇÃO PERFORMATIVA. A sessão da manhã decorrerá no 3.º Andar da CFP e será moderada por Eugénia Vasques.
15h00–15h30: Ana Fernandes (Professora Universitária, UC, Viseu) LUST OU LA DEMOISELLE DE CRISTAL – UM FRAGMENTO DE FAUSTO.
15h45–16h15: Paula Mendes Coelho (Professora Universitária, UA, Lisboa) AS ENTRANHAS DE PROMETEU: REPRESENTAÇÕES DE UM MITO IMAGINÁRIO FINISECULAR.
16h30–17h00: Luís Moura do Carmo e Nuno Lucas — ACÇÃO PERFORMATIVA. A sessão da tarde decorrerá no Auditório da CFP e será moderada por Teresa André.
17h45-18h15: Gilda Nunes Barata (Licenciada em Direito, UCP, Mestre em Literatura Comparada, FLUL) FAUSTO-PESSOA E ALDA MERINI: O RISO DA LOUCURA NO PRANTO DO PENSAMENTO.
18h30-19h00: Raquel Nobre-Guerra (Licenciada em Filosofia, UCP, Mestranda em Estética e Filosofia da Arte, FLUL) DA CONDIÇÃO FÁUSTICA EM PESSOA E BERNARDO SOARES: INFLEXÕES BIPOLARES SÍNCRONAS.
19h15-19h45: Pedro Vistas (Licenciado em Filosofia, FCH-UCP) DE PROMETEU AO TEMPLUM: RUMOS DE UMA ONTODISSEIA EM FERNANDO PESSOA.
21h15-21h45: Nuno Félix da Costa (Professor Universitário, FML) O «PROMETEU REAGRILHOADO» NA OBRA DE FERNANDO PESSOA.
21h45-22h15: Anabela Mendes (Professora Universitária, FLUL) OTIM, O PACIENTE ENTUSIASTA - PROMETEU DERIVADO EM GOETHE, PESSOA E MÜLLER.
22h15-23h00: Luís Moura do Carmo e Nuno Lucas — ACÇÃO PERFORMATIVA. A sessão da noite decorrerá no espaço da Recepção da CFP e será moderada por Jorge Fazenda Lourenço.
A entrada é livre.

Sinal Breve










É já amanhã, 8 de Novembro, o lançamento do livro de Poesia “Sinal Breve” de Ana Viana.
Editora Vozes, 4º título da Colecção Pasárgada.
O lançamento será às 18.30h, na Casa Fernando Pessoa (Rua Coelho da Rocha, 16 – Lisboa), com a participação do pianista Fernando Severo Altube.
Os livros da Colecção Pasárgada são de tiragem limitada, numerados e autenticados pela autora.

Pode ler-se aqui uma entrevista a Ana Viana, publicada no jornal Primeiro de Janeiro.

Todos os Mares: Festival de Poesia










A Casa Fernando Pessoa, em colaboração com o Instituto Cervantes, organiza o Festival “Todos os Mares, Todos los Mares”, Festival Ibero-Americano de Poesia, que decorrerá de 8 a 10 de Novembro nestas duas instituições, com várias sessões, onde estarão presentes 4 poetas – 2 poetas portugueses e 2 poetas de língua castelhana – para lerem os seus poemas e falarem da sua poesia.
O Festival nasce com a vocação de intensificar o diálogo poético entre as línguas da península, que viajaram por todos os mares.
Programa:
8 de Novembro
18.30 – Sessão no Instituto Cervantes
Luís Quintais, Ana Luísa Amaral, Luis Alberto de Cuenca, Andrés Sánchez Robayna
9 de Novembro
18.30 – Sessão no Instituto Cervantes
Maria do Rosário Pedreira, Manuel António Pina, Eugenio Montejo, Luis Muñoz
21.30 – Sessão na Casa Fernando Pessoa
Nuno Júdice, Gastão Cruz, María Victoria Atencia, Pere Rovira
10 de Novembro
18.30 – Sessão no Instituto Cervantes
António Osório, Rosa Alice Branco, Eloy Sánchez Rosillo, Darío Jaramillo Agudelo
12 de Novembro
19.30 - Concerto: Tordo canta Nobel
Fernando Tordo, Josep Mas "Kitflus", Raimon Ferrer, David Gomez, Pablo Sastre, María Lara, Xavi Garcia, Irina Marzo
(Informações e Bilhetes: Teatro S. Luiz)
A entrada é livre. Excepto para o concerto que dia 12 assinala o fim do Festival.

Na estante de culto




«O novo estilo “expressionista”, que a si próprio se não chamava ainda assim, irrompe deste modo na Berlim de 1910, com a força e a luminosidade de uma visão cósmica e metafísica, recusando o preciosismo e os clichés simbolistas-decadentes, o subjectivismo morno do neo-romantismo, a atomização superficial dos impressionismos e, evidentemente, tudo o que soasse a mera descrição ou a resquícios de Naturalismo. Agora, “não se via, intuia-se, não se fotografava, tinham-se visões”, escreve Kasimir Edschmid num conhecido manifesto de 1918. Causalidade, positivismo, psicologia, cedem o lugar à forma essencial que rejeita o jogo das aparências, ao espírito (Geist) que tudo informa, à palavra que, com o um dardo, “penetra no interior do objecto e é animizada por ele, cristalinizando-se na própria imagem da coisa”. Cai o acessório, substancializa-se a expressão, e a arte e a literatura encaminham-se progressivamente para uma dupla via, que os anos seguintes verão desenvolver-se em paralelo: a da assimilação do sentido ético e existencial ao próprio plano estético, o que corroborará as leituras do Expressionismo como um ideário (Gesinnung) e uma visão do mundo; e a da abstracção, que se estende do “Simultaneísmo” dos poetas do grotesco ao experimentalismo proto-concretista do círculo da revista Der Sturm (A Tempestade) e que poderia legitimar, num sentido muito sui generis, as leituras do Expressionismo como um estilo (que ele, na sua globalidade, não foi). Dos muitos poetas desta primeira fase berlinense, a maior parte deu expressão visionária ao universo preferencial, por atracção ou repúdio, dos primeiros anos do Expressionismo alemão: o mundo urbano, a cidade mitificada e transfigurada.» Da Introdução.


A Alma e o Caos
100 poemas expressionistas


Selecção, tradução, introdução e notas de João Barrento
Editora Relógio D'Água, 2001



Fim do mundo

Há um chorar no mundo,
Parece que o bom Deus morreu,
E a plúmbea sombra, que cai fundo,
Pesa como mausoléu.

Vem, vamos esconder-nos mais...
A vida está em todos os corações
Como em caixões.

Ouve! Vamos beijar-nos e esquecer –
Há uma saudade que bate à porta do mundo,
E dela acabaremos por morrer.

Else Lasker-Schüller
(1905)

segunda-feira, 6 de novembro de 2006

Live act / poetry session











Amanhã, 7 de Novembro, às 23 horas, poesia no Bar A Barraca.

"Como é diferente o riso em Portugal" pela Oficina de Teatro de Almada.
Dois actores (Pedro Bernardino e Fernando Rebelo) começam seminus um espectáculo sobre poesia erótica.
Tudo dentro do maior respeito, garantem-nos!
Já sabem, o Bar "A Barraca" fica no Largo de Santos, 2 (em Lisboa).
E o blogue, aqui: http://bar-a-barraca.blogspot.com

Pátria

Por um país de pedra e vento duro
Por um país de luz perfeita e clara
Pelo negro da terra e pelo branco do muro

Pelos rostos de silêncio e de paciência
Que a miséria longamente desenhou
Rente aos ossos com toda a exactidão
Dum longo relatório irrecusável

E pelos rostos iguais ao sol e ao vento

E pela limpidez das tão amadas
Palavras sempre ditas com paixão
Pela cor e pelo peso das palavras
Pelo concreto silêncio limpo das palavras
Donde se erguem as coisas nomeadas
Pela nudez das palavras deslumbradas

— Pedra rio vento casa
Pranto dia canto alento
Espaço raiz e água
Ó minha pátria e meu centro

Me dói a lua me soluça o mar
E o exílio se inscreve em pleno tempo.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Quando

Quando o meu corpo apodrecer e eu for morta
Continuará o jardim, o céu e o mar,
E como hoje igualmente hão-de bailar
As quatro estações à minha porta.

Outros em Abril passarão no pomar
Em que eu tantas vezes passei,
Haverá longos poentes sobre o mar,
Outros amarão as coisas que eu amei.

Será o mesmo brilho a mesma festa,
Será o mesmo jardim à minha porta,
E os cabelos doirados da floresta,
Como se eu não estivesse morta.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Meio-dia

Meio-dia. Um canto da praia sem ninguém.
O sol no alto, fundo, enorme, aberto,
Tornou o céu de todo o deus deserto.
A luz cai implacável como um castigo.
Não há fantasmas nem almas,
E o mar imenso solitário e antigo,
Parece bater palmas.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Sophia de Mello Breyner e Andresen

Sophia de Mello Breyner e Andresen nasceu no dia 6 de Novembro de 1919, no Porto.
Aos 3 anos teve o primeiro contacto com a poesia, quando uma criada lhe recitou “A Nau Catrineta”, que aprenderia de cor. Mesmo antes de aprender a ler, o avô ensinou-a a recitar Camões e Antero de Quental. A sua infância e adolescência passaram-se entre o Porto e Lisboa, onde frequentou o curso de Filologia Clássica.
Aos doze anos escreveu os primeiros poemas. Entre os 16 e os 23 teve uma fase excepcionalmente fértil na sua produção poética.
Em 1944 publicou o primeiro livro, "Poesia", uma edição de autor de 300 exemplares, paga pelo pai, que sairia em Coimbra por diligência de um amigo: Fernando Vale. Em 1975 seria reeditado pela Ática. Este livro, uma escolha que integrava alguns poemas escritos com 14 anos foi o início de um fulgurante percurso poético. E não só: Sophia publicaria também ficção, literatura para crianças e traduziu, nomeadamente, Dante e Shakespeare.
Sophia de Mello Breyner foi um caso ímpar na poesia portuguesa, não só pela difusa sedução dos temas ou pelos rigores de expressão, mas sobretudo por uma rara exigência de essencialidade. A voz de Sophia erguia-se com uma pureza inusitada, completamente isenta de biografismo, de expressão retórica, de teatralidade, de pitoresco e de toda aquela imediatez interjectiva, tão frequente na poesia feminina.
A obra de Sophia de Mello Breyner é dominada por um tom poético, feito da interiorização do mundo exterior pela subjectividade lírica, da redundância de certos temas, da imaginação criadora, da transfiguração do real, dum ritmo, de acentos e sonoridades muito característicos, e sobretudo da linguagem mágica própria do canto de Orfeu, mito que domina a sua obra.
Há poucos itinerários poéticos em língua portuguesa tão impregnados de positividade original como o de Sophia.
Nas últimas obras de Sophia, a presença de Pessoa surgiu também com uma insistência enigmática, como se Sophia sentisse a necessidade de integrar a sua sombra imersa ou a plenitude inversa que ela instalou na consciência poética contemporânea no seu mundo. É no Livro Sexto que Sophia esboça o primeiro retrato diálogo com Pessoa, sem que a sua escrita deva a sua música e a sua forma ao invocado "deus de quatro rostos". Mas o grande aprofundamento surge com Dual, que em si podia ser já uma homenagem ao "dividido", e é em Dual que Pessoa como Ricardo Reis é assumido e comungado pela visão de Sophia. Jamais se revisitou, por dentro, a aventura sem fim de Fernando Pessoa, poesia e vida confundidas, como no admirável poema Cíclades.
Foi a experiência da angústia política e social de Portugal, e do mundo ocidental do pós guerra, que a levaram a procurar uma linguagem directa e despojada para exprimir uma gama de múltiplos temas do quotidiano, no rasto da estética neo-realista.
Sophia rejeitava a fatalidade, a submissão aos desastres, e acreditava na força combativa da verdade que deve pertencer à "íntima estrutura do poema".
Defendia também a intervenção da poesia, do poeta e do artista, na "formação de uma consciência comum", desde que se mantivesse a procura de "rigor, de verdade e de consciência".
Tendo sido também deputada pelo partido Socialista à Assembleia Constituinte, a sua actividade político partidária não foi longa, mas ao longo da sua vida sempre foi uma lutadora empenhada pelas causas da liberdade e justiça. Antes do 25 de Abril pertenceu mesmo à Comissão Nacional de Apoio aos Presos Políticos.
Faleceu em 2 de Julho de 2004.
As obras de Sophia de Mello Breyner Andresen encontram-se traduzidas nos seguintes países: Argentina, Brasil, Dinamarca, Espanha (Castelhano e Catalão), França, Hong-Kong, Itália, Noruega, Reino Unido, Rússia, Sérvia e Tailândia.


Obras e prémios:
Poesia, 1944 ; 1975
Dia do Mar (Poesia), 1947 ; 1974
Coral, 1950 ; 2003
No tempo dividido, 1954 ; 2003
O Rapaz de Bronze (literatura infantil), 1956 ; 1996
A Fada Oriana (literatura infantil), 1958 ; 2002
A Menina do Mar (literatura infantil), 1958 ; 2002
Cidade Nova (ensaio sobre Cecília Meireles), 1958
Mar novo, 1958 ; 2003
Noite de Natal (literatura infantil), 1960 ; 2002
Poesia e Realidade, 1960
O Cristo cigano ou a lenda do Cristo cachorro, 1961 ; 2003
Contos Exemplares (Contos), 1962 ; 2002
Livro Sexto (Poesia), 1962 ; 2003 (distinguido com o Grande Prémio de Poesia da Sociedade Portuguesa de Escritores, em 1964)
O Cavaleiro da Dinamarca (literatura infantil), 1964 ; 2001
Os três reis do Oriente, 1965 ; 1980
Geografia, 1967 ; 2004
A Floresta (literatura infantil), 1968 ; 2003
Antologia (Poesia), 1968 ; 1985 (esta 5ª edição de 1985 foi prefaciada por Eduardo Lourenço)
Grades, 1970
11 Poemas, 1971
Dual, 1972 ; 2004
O Nu na Antiguidade Clássica, 1975 (integrado em "O Nu e a Arte"); 1992
O Nome das Coisas (Poesia), 1977 ; 2004 (distinguido com o prémio Teixeira de Pascoaes)
O Tesouro (literatura infantil), 1978
Quatre poetes portugais: Camões, Cesário Verde, Mário de Sá-Carneiro, Fernando Pessoa, selecção, tradução e apresentação de Sophia de Mello Breyner Andresen (Antologia Poética), 1979
A Casa do Mar (Contos), 1980
Poemas escolhidos, 1981
Navegações (Poesia), 1983 ; 2004 (distinguido com o Prémio da Crítica do Centro Português da Associação de Críticos Literários em 1983, pelo conjunto da sua obra)
Histórias da Terra e do Mar (Contos), 1984 ; 2002
Árvore (Poesia infantil), 1985 ; 2002
Ilhas, 1989 ; 2004 (distinguido com os Prémios D. Dinis, da Fundação Casa de Mateus e Grande Prémio de Poesia Inasset/INAPA (1990))
Obra Poética I, 1990 ; 2001 (reuniu toda a sua obra em três volumes, "Obra Poética", e foi distinguida com o Grande Prémio de Poesia Pen Clube)
Primeiro Livro de Poesia (Infanto-juvenil), 1991 ; 2003
Obra poética III, 1991 ; 2001
Obra Poética II, 1991
Em 1992 foi distinguida com o Grande Prémio Calouste Gulbenkian de Literatura para Crianças (pelo conjunto da sua obra)
Musa, 1994 ; 2004
Recebeu em 1994 o Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores.
Signo, escolha de poemas, 1994 (um livro/disco com poemas lidos por Luís Miguel Sintra)
Em 1995 foi agraciada com a Placa de Honra do Prémio Petrarca, em Itália
Em 1996 foi homenageada no Carrefour des Littératures, na IV Primavera Portuguesa de Bordéus e da Aquitânia
Era uma vez uma Praia Atlântica, 1997
O Búzio de Cós e outros poemas (Poesia), 1997 ; 2004 (distinguido com o Prémio da Fundação Luís Miguel Nava em 1998)
Em 1999 foi agraciada com o Prémio Camões (pelo conjunto da sua obra)
O Bojador, 2000
Em 2000 foi agraciada com o Prémio Rosalía de Castro, do Pen Club Galego
O colar (Teatro), 2001 ; 2005
Em 2001 foi agraciada com o Prémio Max Jacob Étranger
Orpheu e Eurydice, 2001
Mar (Poesia), 2001 ; 2004
O anjo de Timor (Infanto-juvenil), 2003
Em 2003 foi agraciada com o Prémio Rainha Sofia de Poesia Iberoamericana

Hoje nasceu...




6 de Novembro de 1919

Sophia de Mello Breyner Andresen

Poetisa portuguesa



Artigos relacionados:
Biografia
Poemas: Meio-dia ; Quando ; Pátria ; Ausência ; 25 de Abril ; Esta gente ;

domingo, 5 de novembro de 2006

Na estante de culto







"Poemas da Prisão e do Exílio"

de Nâzim Hikmet


Aproveitando a deixa da livraria "Da Mariquihas", que durante esta quinzena tem este belo livro em promoção, aqui fica mais um apontamento de um livro da &etc que não nos deixa indiferentes.
Nâzim Hikmet era um grande poeta e um homem lendário. Por maior sofrimento que tivesse tido na sua vida, nunca se deixou vencer, passando para a sua poesia um enorme entusiasmo e uma enorme esperança. Nâzim Hikmet conseguiu, graças ao seu génio, alcançar admiração por parte de quem o escutou e leu, pela sua coragem, solidariedade e humanidade.
O poeta turco Nâzim Hikmet nasceu em 1902 na Salónica (na altura, parte do Reino Osmânico) e morreu em Junho de 1963. Passou praticamente toda a sua vida na prisão ou no exílio e a sua poesia é lida em todo o mundo.


O espelho encantado

Praga é um espelho encantado
Ao olhar-me nele
Encontro os meus vinte anos
Sou como um salto em frente
Sou como trinta e dois dentes
sem cárie
E o mundo é uma noz
Mas não quero nada para mim
Só a mulher que amo
A tocar os meus dedos com os seus
Que abrem todos os mistérios do mundo

As minhas mãos partem o pão
pouco para mim
Muito para os meus amigos
Nas aldeias da Anatólia
beijo olhos que sofrem de tracoma
E chego algures a terra distante
Para a Revolução mundial
Trazem o meu coração num coxim de veludo
Como se fosse a ordem da bandeira vermelha
Uma fanfarra toca a marcha fúnebre
Sepultamos os nossos mortos junto de um muro
Sob a terra
Somo sementes fecundas
E as nossas canções estão escritas na terra
não em turco, russo ou francês
Mas em cançonês
Lenine está acamado numa floresta com neve
Franze as sobrancelhas
A pensar em alguém
Olha até ao fim das trevas brancas
Vê os dias que hão de vir

Sou como um salto em frente
Sou como trinta e dois dentes
sem cárie

E o mundo é uma noz
Com uma casca de aço
Mas inchada de esperança
Praga é um espelho encantado
Olho-me nele
Mostra-me no leito de morte
A testa alagada em suor
Como se a cera da vela tivesse gotejado
Os braços ao longo do corpo
A tapeçaria verde
E pela janela
Os telhados cobertos de fuligem de uma grande cidade
Esses telhados não são os de Istambul
Os meus olhos estão abertos
Ainda os não vieram fechar
Ainda ninguém sabe
Inclina-te para mim
Olha nas minhas pupilas
Verás nelas uma mulher jovem
Na paragem do eléctrico à espera à chuva
Fecha-me os olhos
E em bicos de pés
Sai do quarto, camarada.

Nâzim Hikmet
(Tradução de Rui Caeiro)

Edição & etc
(2000)

Capa de Carlos Ferreiro

Estante de Culto




4Águas:
"Ainda aqui este lugar", Pedro Afonso, 2008
"Amo Agora", Casimiro de Brito e Marina Cedro, 2009
"Os Animais da Cabeça", Rui Dias Simão, 2008
"Os Nossos Dias seguido de Os Lugares Antigos", Miguel Godinho, 2009
"Sortilégio de Silêncio", Santiago Aguaded Landero, 2009

7Letras:
"Os Acasos Persistentes", Cláudio Neves, 2009

ADFA:
"Trinta facadas de raiva", António Calvinho, 1999

Afrontamento:
"Duplo Esplendor", Gonçalo Salvado, 2008
"Máquina de Relâmpagos", Jorge Velhote, 2005

Almargem:
"Ensaio Entre Portas", Fernando Esteves Pinto, 1997

Almedina:
"Poezz - Jazz na Poesia em Língua Portuguesa", Vários autores, 2004

Âncora:
"Antologia da Poesia Húngara", Vários autores, 2002

Antígona:
"Cantigas da Inocência e da Experiência", William Blake, 2007

Apenas Livros:
"Chão de Papel", Maria Estela Guedes, 2009
"Marcas ou Memórias do Vento", Maria Paula Raposo, 2009

Arbusto:
"As Mulheres Bonitas Não Viajam de Autocarro", João Villalobos, 2007

Ardósia:
"A Cabeça de Fernando Pessoa", Luís Filipe Cristóvão, 2009
"A Recusa", Prisca Agustoni, 2009
"Páginas Despidas", Ozias Filho, 2005

Artefacto:
"Minimal Existencial", Paulo Tavares, 2010

Asa:
"Pequena Antologia da Poesia Palestiniana Contemporânea", Vários autores, 2004

Asociación Cultural Crecida:
"Para nada", Violeta C. Rangel, 1999

Assírio & Alvim:
"A Faca não Corta o Fogo - súmula & inédita", Herberto Helder, 2008
"Anjos Caídos", José Agostinho Baptista, 2003
"As Flores do Mal", Baudelaire, 1992
"Assinar a Pele — Antologia de Poesia Contemporânea Sobre Gatos", Vários autores, 2001
"Baladas Hebraicas", Else Lasker-Schüller, 2002
"Degredo no Sul", Al Berto, 2007
"Herbário", Jorge de Sousa Braga, 2009
"Mais Tarde", José Alberto Oliveira, 2003
"O Cardo e a Rosa - Poesia do Barroco Alemão", Vários autores, 2002
"O Cavaleiro de Bronze e outros poemas", Aleksandr Púchkin, 1999
"O Poeta Nu - Poesia Reunida", Jorge de Sousa Braga, 2007
"O Sangue Por um Fio", Sérgio Godinho, 2009
"Os Cinquenta Poemas do Amor Furtivo e outros poemas eróticos da Índia antiga", Vários autores, 2004
"O Tempo de Perfil", Luísa Freire, 2009
"Outono Transfigurado — Ciclos e Poemas em Prosa", Georg Trakl, 1992
"Poemas de Amor do Antigo Egipto", Vários autores, 1998
"Poemas de Mário Cesariny, ditos por Mário Cesariny", 2007
"Poesia", Rabindranath Tagore, 2004
"Poesia do Eu" Fernando Pessoa, 2006
"Poesias Completas" Alexandre O'Neill, 2000
"Previsão de Tempo para Utopia e Arredores", Charles Simic, 2002
"Quinze Poetas Aztecas", Vários autores, 2006
"Rosa do Mundo - 2001 Poemas para o Futuro", Vários autores, 2001
"Todos os Poemas", Ruy Belo, 2009
"Um Mundo Estranho", Oliverio Macías Álvarez, 2003
"Um Raio de Sol", Helder Moura Pereira, 2000

Ática:
"Manifesto Anti-Dantas", José de Almada-Negreiros, 2000
"Vinte Poetas Contemporâneos", David Mourão-Ferreira, 1980

Bertrand:
"Poesia Completa", Florbela Espanca, 2005

Biblioteca Prestígio:
"O Sal da Língua precedido de Trinta Poemas", Eugénio de Andrade, 2001

Caixotim:
"ODES", António Salvado, 2009

Calendário:
"Zoo Musical", Amadeu Baptista, 2010

Caminho:
"Dois Corpos Tombando na Água", Alice Vieira, 2007
"Migrações do fogo", Manuel Gusmão, 2004
"Obra Poética I", Sophia de Mello Breyner Andresen, 2001
"O Que Dói Às Aves", Alice Vieira, 2009
"Os Poemas Possíveis", José Saramago, 1999

Campo das Letras:
"Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa - Eugénio de Andrade", Vários autores, 1999
"Antologia Poética", Nicolás Guillén, 2002
"T a Bernardim", Teresa Tudela, 2006

Cangrejo Pistolero:
"INDIGESTA", Siracusa Bravo Guerrero, 2009

Cantinho do Tareco:
"só à noite os gatos são pardos", vários autores, 2009

Canto Escuro:
"O Discurso do Método", Nuno Rebocho, 2008

Cavalo de Ferro:
"A Voz Secreta das Mulheres Afegãs — O Suicídio e o Canto", Vários autores, 2005
"O Vagabundo do Dharma", Han-Shan, 2003

Centro Bibliográfico:
"A Estrada e a Voz", Orlando da Costa, 1951

C. Estudios Ibéricos y Americanos de Salamanca:
"La abeja en el muro", Jesús Enrique León, 2009

C. M. Sintra:
"Doze Cantos do Mundo", Amadeu Baptista, 2009
"Odes de Mitilene", Orlando Neves, 1990

Colibri:
"Até amanhã", António Murteira, 2010
"A Voz Fagueira de Oan Tímor", Fernando Sylvan, 1993
"Electri-cidade", Vítor Oliveira Jorge, 2009

Conservatório de Viseu:
"Divina Música", vários autores, 2010

Cosmorama:
"A Carvão", Fernando de Castro Branco, 2009
"Escrito em osso", Claudio Daniel, 2008
"Sobre as Imagens", Amadeu Baptista, 2008
"Terra e Sangue", Miriam Reyes, 2008

Cotovia:
"A poesia andando: treze poetas no Brasil", Vários autores, 2008
"As aves que aqui gorjeiam - a poesia do romantismo ao simbolismo", Vários autores, 2005
"Bagagem", Adélia Prado, 2002
"Poesia Grega de Álcman a Teócrito", Vários autores, 2006
"Reflexões sobre o Sr. Pessoa", John Wain, 1993

Dauro:
"Outros Frutos", Luísa Ribeiro, 2005

Difel:
"Arquitectura do Silêncio", Ruy Ventura, 2000

Diferença:
"Nas Margens do Sar", Rosalía de Castro, 1999

Direcção Geral dos Assuntos Culturais - S.R.E.C.:
"Visões de Bruma", Américo Teixeira Moreira, 1987

D. Quixote:
"A Biblioteca Particular de Fernando Pessoa - Vol. I", Jerónimo Pizarro, Patricio Ferrari e Antonio Cardiello, 2010
"A Luz da Madrugada", Fernando Pinto do Amaral, 2007
"António Ramos Rosa — Antologia Poética", 2001
"João Rui de Sousa — Obra Poética 1960-2000", 2002
"Natália Correia — Antologia Poética", 2002

Ecopy:
"A Urgência das Palavras", Alexandra Malheiro, 2008

Edições do Tâmega:
"Labirinto Incendiado", Xosé Lois García, 1989

Editores Associados:
"(Des)codificações", António Salvado, 1988

Eloisa Cartonera:
"Traveseando", Ricardo Zelarayán, 2005

Escola de Mar:
"Sinfonia em Dor menor", Armando Taborda, 2007

&etc:
"César a César", Adília Lopes, 2003
"Corpos radiantes", E.M. de Melo e Castro, 1982
"ESCALPE", Amadeu Baptista, 2009
"Londres", Nuno Dempster, 2010
"Mar Largo", Vítor Nogueira, 2009
"Marthiya de Abdel Hamid", Alberto Pimenta, 2005
"Não me morras", Eduarda Chiote, 2004
"Os selos da Lituânia", Amadeu Baptista, 2009
"Poemas", Judith Teixeira, 1996
"Poemas da Prisão e do Exílio", Nâzim Hikmet, 2000

Europress:
"Estação Suspensa", António Ferra, 2009
"Olhar o Silêncio", António Ferra, 2005

Evoramons:
"Revedere", Mihai Eminescu, 2005

Fabula Urbis:
"Livro de Reclamações", António Ferra, 2010

Fundação Alentejo-Terra Mãe:
"Os Sulitários", Paulo Barriga e João Vilhena, 2006

Fundação Eugénio de Andrade:
"Poesia", Eugénio de Andrade, 2005

Gailivro:
"A Musa ao Espelho - PATHOS", Vários autores, 2006

Gatafunho:
"Ciência para meninos em poemas pequeninos", Regina Gouveia, 2009

Global:
"Os Melhores Poemas - Manuel Bandeira", 1984

Gótica:
"O Preço das Casas" Joaquim Cardoso Dias, 2002
"Retábulo das Matérias (1956-2001)" Pedro Tamen, 2001

Guimarães:
"SO2" Luna Levi, 1980

Imprensa Nacional-Casa da Moeda:
"João Lúcio - Poesias Completas", 2002
"Livro do Desasocego (volume XII da Edição Crítica de Fernando Pessoa)", Ivo Castro, 2010
"Os Silos do Silêncio", Eduíno de Jesus, 2005

Incomunidade:
"Geisers", Maria Estela Guedes, 2009

Instituto Cultural de Macau:
"Poesia escolhida de Ai Qing", 1987

Intensidez:
"Máquinas de Trovar - poética e tecnologia", E.M. de Melo e Castro, 2009

José Olimpo:
"Poemas Reunidos 1934-1953", Dylan Thomas, 2003

Junta de Andalucía:
"Ayer Vendrá - Poemas Escogidos (1935-1984)", Luis Rosales, 2010

Labirinto:
"À Descoberta das Causas No Sortilégio dos Efeitos", Manuel Madeira, 2009
"Amantes da Neblina", Maria do Sameiro Barroso, 2007
"As Vindimas da Noite", Maria do Sameiro Barroso, 2008
"Ciclo de Criação Imperfeita", Seomara da Veiga Ferreira, 2008
"Rumores para a transparência do silêncio", Daniel Gonçalves e Pepe Brix, 2009

Litexa:
"Vou-me embora de mim", Joaquim Pessoa, 2002

Livraria Amato Lusitano:
"Recôndito", António Salvado, 1972

Livrododia:
"Lábio Cortado", Rui Almeida, 2009
"Mapa", manuel a. domingos, 2008
"Quarto com Ilhas", Manuel Moya, 2008
"Só Mais Uma Vez", Uberto Stabile, 2007

Livros de Horas:
"Sombras de Reis Mendigos", Vergílio Alberto Vieira, 2009

MIC:
"Viola Delta nº XLVII", vários autores, 2010

Magna:
"Versos Nus", Tiago Nené, 2007

Ministério dos Livros:
"Os dias do Amor - Um poema para cada dia do ano", 2009

Nova Aguilar:
"Fernando Pessoa - Obra poética", 1969

Nova Vega:
"E No Fim Era a Poesia", Myriam Jubliot de Carvalho, 2007

O cão que lê:
"Espelho Íntimo", Torquato da Luz, 2010

Oceanos:
"Luz Indecisa", José Mário Silva, 2009

O Mirante:
"Poemas Ausentes", Pedro da Silveira, 1999

Palabra Ibérica (Ayuntamiento de Punta Umbría):
"Agência do medo", Santiago Aguaded Landero, 2009
"El sitio Justo", Rafael Camarasa, 2008
"O pequeno-almoço de Carla Bruni", Rui Costa, 2008
"Polishop", Tiago Nené, 2010

Palimage:
"A Geografia do Tempo", Graça Magalhães, 2009

Passage:
"Emparedada", Joana Serrado, 2009

Polvo:
"De Boas Erecções está o Inferno Cheio", Luís Graça, 2004

POPSul:
"AvRYl", Dinis H. G. Nunes, 2010
"Este Pão Que Nos Come!", Raul Veríssimo, 2010
"Pai sem Natal", Dinis H. G. Nunes, 2009

Porto Editora:
"Poemas Portugueses - Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI", Vários autores, 2009

Presença:
"Viagem de Inverno", Helder Macedo, 1994
"Obra Poética 1948-1988", David Mourão-Ferreira, 1988

Quasi:
"A Leve Têmpora do Vento", Carlos de Oliveira, 2001
"Dez Cartas para Al Berto. Dez Cartas de Al Berto", 2007
"Dióspiro - Poesia Reunida 1977-2007", Daniel Maia-Pinto Rodrigues, 2007
"Omertà", Vasco Gato, 2007
"Para Morrer", José Rui Teixeira, 2004
"Revólver", Rui Lage, 2006
"Três Poemas de Amor seguidos de Livro Quarto", Albano Martins, 2004

Relógio D'Água:
"A Alma e o Caos — 100 poemas expressionistas", Vários autores, 2001
"Antologia Poética — Juan Ramón Jimenez", 1992
"Ariel", Sylvia Plath, 1996
"Caras Baratas", Adília Lopes, 2004
"Folhas de Erva", Walt Whitman, 2002
"Outro Tempo", W. H. Auden, 2003
"SUD-EXPRESS - poesia francesa de hoje", Vários autores, 1993
"Vida Oculta", Pedro Mexia, 2004

Saúde em Português:
"Destino de bai - Antologia de poesia inédita caboverdiana", Vários autores, 2008

Sempre-em-Pé:
"Dispersão - Poesia Reunida", Nuno Dempster, 2009
"Instrumentos de Sopro", Ruy Ventura, 2010
"Teorias da Ordem", José María Cumbreño, 2009

Sombra do Amor:
"As Limitações do Amor São Infinitas", Rui Costa, 2009

S.P.E.C. Embaixada do Brasil:
"Poesia Concreta", Vários autores, 1962

Temas Originais:
"Área Afectada", Fernando Esteves Pinto, 2010
"Metamorfoses do corpo", Eduardo Montepuez, 2010
"Na Via do Mestre", Casimiro de Brito, 2010

Teorema:
"Antologia Poética", Gabriela Mistral, 2002

Trinta Por Uma Linha:
"Verso a Verso", Vários autores, 2009

Universitária:
"A Idade das Trovas", Inocêncio Pinga-Amor (Luís Graça), 2002

Verbum/Trilce:
"Medida del Mundo", Reynaldo Valinho Alvarez, 2009
"Outono", António Salvado, 2009

Edições de autor:
"15 Desatinónimos para Fernando Pessoa", Luís Graça, 2007
"A Festa das Letras", António Simões, 1995
"As Casas Pressentidas", Luís Serrano, 1999
"Bandeiras & Fogo", Rui Diniz, 2007
"ciclo do mar", José Oliveira, 1984
"de amor ardem os bosques", Maria Azenha, 2010
"De Boas Erecções está o Inferno Cheio - King Kong Size", Luís Graça/Dick Hard, 2007
"entre passos sobrevivem eras", José Álvaro Afonso, 20067
"Princesas Diana & Anti-Heróis", Luís Pedroso, 2009
"Um Ritmo Perdido", Ana Hatherly, 1958