terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Hoje nasceu...




27 de Fevereiro de 1933

Ruy Belo

Poeta português




Artigos relacionados:
Biografia
Poemas: E tudo era possível ; O valor do vento ; Muriel ; Mas que sei eu ; Um dia não muito longe não muito perto

Ruy Belo

Ruy de Moura Ribeiro Belo nasceu no dia 27 de Fevereiro de 1933 em São João da Ribeira, Rio Maior.
Licenciou-se em Filologia Românica e em Direito, pela Universidade de Lisboa, e doutorou-se em Direito Canónico pela Universidade Gregoriana de Roma, com uma tese intitulada «Ficção Literária e Censura Eclesiástica».
Em 1951 entrou para a Opus Dei, mas saiu em 1961 (ano em que publicou o seu primeiro livro “Aquele Grande Rio Eufrates”) e casou com Maria Teresa Belo, de quem teve três filhos.
Exerceu, ainda que brevemente, um cargo de director adjunto no então ministério da Educação Nacional, mas o seu relacionamento com opositores ao regime da época, a participação na greve académica de 1962 e a sua candidatura a deputado, em 1969, pelas listas da Comissão Eleitoral de Unidade Democrática, levaram a que as suas actividades fossem vigiadas e condicionadas.
Foi durante algum tempo funcionário no departamento editorial da União Gráfica, repartiu-se depois entre um escritório de advocacia, como canonista, e a Universidade de Madrid, onde durante sete anos (1971-1977) foi leitor de Português, cargo preenchido com brilho invulgar, sem no entanto suscitar o mínimo interesse por parte da nossa representação diplomática. Foi também, na sua passagem pela imprensa, director literário da Editorial Aster e chefe de redacção da revista Rumo.
Regressado a Lisboa, Ruy Belo tentou em vão entrar para o corpo docente da Faculdade de Letras de Lisboa: na altura da sua morte ia mais uma vez concorrer a um lugar de assistente mas foi-lhe recusada essa possibilidade, e foi dar aulas na Escola Técnica do Cacém, no ensino nocturno. Faleceu em 1978, vítima de ataque cárdio vascular.
Em 1991 foi condecorado, a título póstumo, com o grau de Grande Oficial da Ordem Militar de Sant'iago da Espada.
Os seus primeiros livros de poesia foram Aquele Grande Rio Eufrates (1961) e O Problema da Habitação (1962). Às colectâneas de ensaios Poesia Nova (1961) e Na Senda da Poesia (1969), seguiram-se obras cuja temática se prendia ao religioso e ao metafísico, sob a forma de interrogações acerca da existência. Como o caso de Boca Bilingue (1966), Homem de Palavras(s) (1969), País Possível (1973, antologia), Transporte no Tempo (1973), A Margem da Alegria (1974), Toda a Terra (1976) e Despeço-me da Terra da Alegria (1977). A sua poesia encontra-se recolhida em Obra Poética de Ruy Belo (volumes 1 e 2).
Apesar do seu curto período de actividade literária, Ruy Belo tornou-se num dos maiores poetas portugueses da segunda metade do século XX, tendo as suas obras sido reeditadas diversas vezes. Destacou-se ainda pela tradução de autores como Antoine de Saint Exupéry, Montesquieu, Jorge Luís Borges, Blaise Cendrars e Federico García Lorca. Prefaciou Pelo Sonho É Que Vamos, de Sebastião da Gama. Colaborou em várias publicações periódicas, nomeadamente em O Tempo e o Modo e Ocidente.
Em 2001, publicou-se Todos os Poemas.
À mulher e aos amigos, durante muitos anos, Ruy Belo foi dizendo que a sua tese para a Universidade Gregoriana de Roma estava escrita em latim. Mas «Ficção Literária e Censura Eclesiástica» é em português e figura nas «Obras completas» publicadas pela Editorial Presença sob a orientação de Joaquim Manuel Magalhães, juntamente com os ensaios de “Na senda da poesia” (1969) e um acervo de poesia inédita.
Muitos destes inéditos encontram-se dispersos por Queluz, onde Ruy Belo residia e onde morreu em Agosto de 1978, e pela Consolação, uma praia da costa de Peniche onde ele tinha um pequeno piso de férias e privou de perto com Fernandes Jorge e Magalhães, seus grandes amigos. Trata-se na maioria, de versos da juventude e apontamentos dos últimos tempos.

E tudo era possível

Na minha juventude antes de ter saído
da casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido

Chegava o mês de maio era tudo florido
o rolo das manhãs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida como se ela houvesse acontecido

E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer

Só sei que tinha o poder duma criança
entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível era só querer

Ruy Belo


Interpretado pela Andante:


Voz: Cristina Paiva; Sonoplastia: Fernando Ladeira

O valor do vento

Está hoje um dia de vento e eu gosto do vento
O vento tem entrado nos meus versos de todas as maneiras e
só entram nos meus versos as coisas de que gosto
O vento das árvores o vento dos cabelos
o vento do inverno o vento do verão
O vento é o melhor veículo que conheço
Só ele traz o perfume das flores só ele traz
a música que jaz à beira mar em agosto
Mas só hoje soube o verdadeiro valor do vento
O vento actualmente vale oitenta escudos
Partiu-se o vidro grande da janela do meu quarto.

Ruy Belo

Muriel

Às vezes se te lembras procurava-te
retinha-te esgotava-te e se te não perdia
era só por haver-te já perdido ao encontrar-te
Nada no fundo tinha que dizer-te
e para ver-te verdadeiramente
e na tua visão me comprazer
indispensável era evitar ter-te
Era tudo tão simples quando te esperava
tão disponível como então eu estava
Mas hoje há os papéis há as voltas a dar
há gente à minha volta há a gravata
Misturei muitas coisas com a tua imagem
Tu és a mesma mas nem imaginas
como mudou aquele que te esperava
Tu sabes como era se soubesses como é
Numa vida tão curta mudei tanto
que é um certo espanto que no espelho de manhã
distraído diviso a cara que me resta
depois de tudo quanto o tempo me levou
Eu tinha uma cidade tinha o nome de madrid
havia as ruas as pessoas o anonimato
os bares os cinemas os museus
um dia vi-te e desde então madrid
se porventura tem ainda para mim sentido
é ser a solidão que te rodeia a ti
Mas o preço que pago por te ter
é ter-te apenas quanto poder ver-te
e ao ver-te saber que vou deixar de ver-te
Sou muito pobre tenho só por mim
no meio destas ruas e do pão e dos jornais
este sol de janeiro e alguns amigos mais
Mesmo agora te vejo e mesmo ao ver-te não te vejo
pois sei que dentro em pouco deixarei de ver-te
Eu aprendi a ver na minha infância
vim a saber mais tarde a importância desse verbo para os gregos
e penso que se bach hoje nascesse
em vez de ter composto aquele prelúdio e fuga em ré maior
que esta mesma tarde num concerto ouvi
teria concebido aqueles sweet hunters
que esta noite vi no cinema rosales
Vejo-te agora vi-te ontem e anteontem
e penso que se nunca a bem dizer te vejo
se fosse além de ver-te sem remédio te perdia
Mas eu dizia que te via aqui e acolá
e quando te não via dependia
do momento marcado para ver-te
Eu chegava primeiro e tinha de esperar-te
e antes de chegares já lá estavas
naquele preciso sítio combinado
onde sempre chegavas sempre tarde
ainda que antes mesmo de chegares lá estivesses
se ausente mais presente pela expectativa
por isso mais te via do que ao ter-te à minha frente
Mas sabia e sei que um dia não virás
que até duvidarei se tu estiveste onde estiveste
ou até se exististe ou se eu mesmo existi
pois na dúvida tenho a única certeza
Terá mesmo existido o sítio onde estivemos?
Aquela hora certa aquele lugar?
À força de o pensar penso que não
Na melhor das hipóteses estou longe
qualquer de nós terá talvez morrido
No fundo quem nos visse àquela hora
à saída do metro de serrano
sensivelmente em frente daquele bar
poderia pensar que éramos reais
pontos materiais de referência
como as árvores ou os candeeiros
Talvez pensasse que naqueles encontros
em que talvez no fundo procurássemos
o encontro profundo com nós mesmos
haveria entre nós um verdadeiro encontro
como o que apenas temos nos encontros
que vemos entre os outros onde só afinal somos felizes
Isso era por exemplo o que me acontecia
quando há anos nas manhãs de roma
entre os pinheiros ainda indecisos
do meu perdido parque de villa borghese
eu via essa mulher e esse homem
que naqueles encontros pontuais
decerto não seriam tão felizes como neles eu
pois a felicidade para nós possível
é sempre a que sonhamos que há nos outros
Até que certo dia não sei bem
ou não passei por lá ou eles não foram
nunca mais foram nunca mais passei por lá
Passamos como tudo sem remédio passa
e um dia decerto mesmo duvidamos
dia não tão distante como nós pensamos
se estivemos ali se madrid existiu
Se portanto chegares tu primeiro porventura
alguma vez daqui a alguns anos
junto de califórnia vinte e um
que não te admires se olhares e não me vires
Estarei longe talvez tenha envelhecido
terei até talvez mesmo morrido
Não te deixes ficar sequer à minha espera
não telefones não marques o número
ele terá mudado a casa será outra
Nada penses ou faças vai-te embora
tu serás nessa altura jovem como agora
tu serás sempre a mesma fresca jovem pura
que alaga de luz todos os olhos
que exibe o sossego dos antigos templos
e que resiste ao tempo como a pedra
que vê passar os dias um por um
que contempla a sucessão da escuridão e luz
e assiste ao assalto pelo sol
daquele poder que pertencia à lua
que transfigura em luxo o próprio lixo
que tão de leve vive que nem dão por ela
as parcas implacáveis para os outros
que embora tudo mude nunca muda
ou se mudar que se não lembre de morrer
ou que enfim morra mas que não me desiluda
Dizia que ao chegar se olhares e não me vires
nada penses ou faças vai-te embora
eu não te faço falta e não tem sentido
esperares por quem talvez tenha morrido
ou nem sequer talvez tenha existido.

Ruy Belo

Mas que sei eu

Mas que sei eu das folhas no outono
ao vento vorazmente arremessadas
quando eu passo pelas madrugadas
tal como passaria qualquer dono?

Eu sei que é vão o vento e lento o sono
e acabam coisas mal principiadas
no ínvio precipício das geadas
que pressinto no meu fundo abandono

Nenhum súbito súbdito lamenta
a dor de assim passar que me atormenta
e me ergue no ar como outra folha

qualquer. Mas eu que sei destas manhãs?
As coisas vêm vão e são tão vãs
como este olhar que ignoro que me olha

Ruy Belo

sábado, 24 de fevereiro de 2007

1º Concurso de Conto e Poesia da CGTP-IN







O Departamento de Cultura e Tempos Livres da CGTP-IN promove a realização de um Concurso de Conto e Poesia destinado a estudantes, trabalhadores e aposentados ou reformados.
A data limite de participação é 27 de Abril próximo.
Os escritores Urbano Tavares Rodrigues e Domingos Lobo, o jornalista José Carlos Vasconcelos e os sindicalistas Paulo Sucena e Fernando Gomes (representante da CGTP-IN) constituem o júri do Concurso.
Informações:
Pelo telefone: 21 323 66 56
Por e-mail: carla.alves@cgtp.pt
No site da CGTP-IN

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Vasco Graça Moura distinguido em França








O poeta e tradutor Vasco Graça Moura foi distinguido no passado dia 19 de Fevereiro com o prémio francês de poesia Max Jacob pela obra «Uma Carta no Inverno», de 1997.
O livro, que acaba de ser lançado em francês pela editora La Différence, com tradução de Joaquim Vital, distinguiu Vasco Graça Moura na área da literatura estrangeira.
Esta editora, que já editou vários autores portugueses, atribuiu este mesmo prémio a Sophia de Mello Breyner Andresen em 2001.
O prémio Max Jacob será entregue a Vasco Graça Moura no próximo dia 8 de Março, em Paris.
Este é o segundo prémio que Vasco Graça Moura recebe no espaço de duas semanas. No passado dia 7 de Fevereiro foi galardoado pela Universidade de Évora com o Prémio Vergílio Ferreira 2007.

Licenciado em Direito pela Universidade de Lisboa, Vasco Graça Moura publicou a primeira obra, «Modo Mudando», em 1963, ao qual se seguiram várias obras de poesia, ensaio e ficção.

Prémio literários recebidos por Vasco Graça Moura:
• Prémio Pessoa, 1995.
• Grande prémio de poesia da Associação Portuguesa de Escritores, 1998.
• Prémio Jacinto do Prado Coelho (ensaio), da Associação Internacional dos Críticos Literários.
• Prémio de ensaio da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto.
• Prémio Gulbenkian de tradução da Academia das Ciências de Lisboa (ex-aequo).
• Grande prémio de tradução do PEN Clube Português, 1996.
• Prémio de Poesia do PEN Clube Português.
• Prémios literários das Câmaras Municipais do Porto e de Lisboa.
• Medalha de ouro do Comune de Firenze.
• Premio Internazionale la Cultura del Mare, San Felice Circeo, 2002.
• Distinção nos 30 anos do 25 de Abril, na área da literatura, Árvore – Cooperativa de Actividades Artísticas, 2004.
• Coroa de ouro do Festival de Struga (Macedónia), 2004.
• Prémio Internazionale Diego Valleri, Monselice, 2004, atribuído à sua tradução das Rimas de Petrarca.
• Grande Prémio de Romance e Novela da APE, 2004.
• Prémio de tradução Paulo Quintela, da Faculdade de Letras de Coimbra, atribuído à sua tradução das Rimas de Petrarca, 2006.

A Editora Bertrand prepara-se para editar brevemente uma antologia com a sua poesia escrita entre 1963 e 1995.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Era um redondo vocábulo


Era um redondo vocábulo
Uma soma agreste
Revelavam-se ondas
Em maninhos dedos
Polpas seus cabelos
Resíduos de lar,
Nos degraus de Laura
A tinta caía
No móvel vazio,
Convocando farpas
Chamando o telefone
Matando baratas
A fúria crescia
Clamando vingança,
Nos degraus de Laura
No quarto das danças
Na rua os meninos
Brincavam e Laura
Na sala de espera
Inda o ar educa

José Afonso



Interpretado pela Andante:


Vozes: Cristina Paiva, Teresa Silva Carvalho e José Afonso; Música: Goran Bregovic e José Afonso; Sonoplastia: Fernando Ladeira.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

Casa da Leitura




A Casa da Leitura é um novo portal de promoção da leitura para os mais novos, que oferece, não apenas a recensão de mais de 500 títulos de literatura para a infância e juventude (onde não falta a Poesia), organizados segundo faixas etárias e temas, com actualização periódica semanal, como desenvolve temas, biografias e bibliografias. Em simultâneo, responde às dúvidas mais comuns sugerindo um conjunto de práticas destinadas às famílias e aos mediadores.
Espreitem aqui.

Relembrar Zeca Afonso






















Cantor, poeta, músico, lírico, militante antifascista e anticolonial. José Afonso nasceu a 2 de Agosto de 1929 em Aveiro.
A sua passagem por Coimbra, como estudante, marcou a sua vida e a da cidade.
A escolha da sua canção “Grândola Vila Morena” para senha do 25 de Abril iria imortalizar o seu nome associado à Revolução dos Cravos.
Zeca é uma das figuras mais relevantes da música portuguesa de todos os tempos. Actuou ao vivo, pela última vez, em 29 de Janeiro de 1983, no Coliseu dos Recreios.

José Afonso morreu no dia 23 de Fevereiro de 1987, com 57 anos, no Hospital de Setúbal, às 3 horas da madrugada, vítima de esclerose lateral amiotrófica, diagnosticada em 1982. O funeral realizou-se no dia seguinte, com mais de 30 mil pessoas, da Escola Secundária de S. Julião para o cemitério da Senhora da Piedade, em Setúbal, onde a urna foi depositada na sepultura 1606 do quadro 19. O funeral demorou duas horas a percorrer 1300 metros. Envolvida por um pano vermelho sem qualquer símbolo, como pedira, a urna foi transportada, entre outros, por Sérgio Godinho, Júlio Pereira, José Mário Branco, Luís Cília, Francisco Fanhais. A Transmédia editou o triplo álbum, o primeiro da história discográfica portuguesa, Agora e Sempre, duas semanas depois da sua morte. O triplo disco é constituído pelos álbuns Como Se Fora Seu Filho (1983) e Galinhas do Mato (1985) e por um alinhamento diferente de Ao Vivo no Coliseu (1983). A 18 de Novembro foi criada a Associação José Afonso com o objectivo de ajudar a realizar as ideias do compositor autor e intérprete, no campo das Artes.

Por ocasião dos 20 anos da morte de José Afonso, muitas iniciativas irão decorrer por todo o país:

Sexta-feira, 23 de Fevereiro:

• Pelas 00h30h, o canal 1 da RTP apresentará o documentário «Zeca Afonso - 20 anos da morte», seguindo-se a exibição do concerto «José Afonso ao vivo no Coliseu», realizado a 29 de Janeiro de 1983.

• Em Lisboa, a Sociedade Portuguesa de Autores irá homenagear José Afonso numa sessão que terá lugar às 18.30h no Auditório Frederico de Freitas, na sede da SPA, em que participarão o seu presidente Manuel Freire e o seu vice-presidente, José Jorge Letria. Participarão ainda José Niza, Francisco Fanhais e Luiz Goes.
A fechar a sessão, o cantor Samuel interpretará algumas das suas canções mais conhecidas.

• No Mercado da Ribeira (Cais do Sodré, em Lisboa) às 21.30h, realizar-se-á um «Tributo a José Afonso» com os Cantadores de Rusga, Jorge Jordan, Mingo Rangel, Rogério Charraz, e o actor Jorge Castro, que lerá poemas.

• Em Odivelas terá lugar o colóquio «Conversa em torno da personalidade e do papel de José Afonso na cultura e sociedade portuguesas», que decorrerá no Auditório da Quinta da Memória e que contará, entre outros, com Miguel Gouveia.
Seguir-se-á a actuação do Grupo Coral Maria Gomes, da Sociedade Musical Odivelense, que interpretará temas de José Afonso.
Também em Odivelas, poderá ser apreciada uma exposição foto-biográfica sobre José Afonso no átrio dos Paços do Concelho. Esta mostra, propriedade da Associação José Afonso, estará patente até 05 de Março.
A exposição procura traçar o percurso de vida e o testemunho solidário de Zeca Afonso.

• Na Figueira da Foz, no Centro de Artes e Espectáculos, os cantores Vitorino, Janita Salomé e Zé Carvalho apresentarão à noite um espectáculo baseado no repertório de José Afonso, interpretando, desde baladas de Coimbra até à música tradicional e de teatro.

• No Entroncamento, no Cine-Teatro S. João, o cantor João Afonso e o pianista João Lucas apresentarão «Um redondo vocábulo».
Durante o espectáculo, o duo percorrerá cronologicamente canções menos conhecidas e mais intimistas de José Afonso.

• Em Guimarães, no Centro Cultural de Vila Flor estão programadas várias iniciativas, nomeadamente uma exposição com materiais inéditos do fundo documental da revista Mundo da Canção. Uma mostra que será inaugurada no dia 23, e que reunirá capas de discos, fotografias de espectáculos e promocionais, cartazes e recortes de imprensa.
À noite, no Grande Auditório deste Centro Cultural, será apresentado o espectáculo «Menino d'Oiro» com dramaturgia e encenação de Gil Filipe.
Neste projecto participarão vários grupos de teatro amador do concelho, além dos músicos Luís Almeida, Dino Freitas, Manuel Abreu e os agrupamentos Nicolinos, Amigos de Guimarães, Tu'obedes, Zecafusão e a Academia de Música Valentim Moreira de Sá.


Sábado, 24 de Fevereiro:

• Em Guimarães, no Pequeno Auditório do Centro Cultural de Vila Flor realizar-se-á pelas 15.30h, um concerto pela Banda Militar do Porto que, além de temas do seu repertório, interpretará temas da autoria de José Afonso.
Pelas 16.30h, no mesmo local, subirá à cena a peça de Hélder Freire «O incorruptível» com interpretação de Gil Filipe e às 17.30h, a vida e a obra de José Afonso serão tema de um debate com Alípio de Freitas, Mário Barradas, José Mário Branco, Hélder Costa e José António Gomes.
À noite, no Grande Auditório do Centro Cultural de Vila Flor, Amélia Muge, José Mário Branco e João Afonso apresentarão «Maio, maduro Maio». Este espectáculo contará ainda com o grupo galego de música tradicional Ardentía e a actriz Manuela de Freitas, que declamará poesia.

• Em Gueifães (Maia), pelas 21.30h, na cripta da Igreja Paroquial, José Afonso será homenageado com a actuação dos cantores José Silva e Francisco Fanhais.


Terça-feira, 27 de Fevereiro:

• Em Faro, no Club Farense, pelas 21.30h, Francisco Fanhais e Afonso Dias protagonizarão uma homenagem a José Afonso.

Vários outros espectáculos estão previstos, nomeadamente durante o próximo mês de Abril, na Casa da Música, no Porto, que organizará de 25 de Abril a 1 de Maio, um ciclo dedicado a José Afonso intitulado «Revolução».
Este ciclo contará com a apresentação do novo trabalho discográfico dos Frei Fado d'El Rei e o grupo portuense de percussão «Drumming» apresentará o seu espectáculo «Steel drumming toca Zeca Afonso».

Actividades da Associação Portuguesa de Poetas





Quinta-feira, 22 de Fevereiro, das 16h00 às 18h00, a Associação Portuguesa de Poetas vai promover um encontro na Livraria-Galeria Municipal Verney (Rua Cândido dos Reis, 90/90A, em Oeiras) sobre a Poesia de Teixeira de Pascoaes.
Urbano Tavares Rodrigues falará sobre a obra do Poeta.
Estará presente o autor da sua escultura no Parque dos Poetas, Francisco Simões.
Será dita Poesia de Teixeira de Pascoaes.

No sábado, 24 de Fevereiro, das 19h00 às 20h30, a Associação realizará mais um Encontro Poético no Palácio Galveias.
O Palácio Galveias fica no Campo Pequeno, em Lisboa.

A Associação Portuguesa de Poetas existe como associação cultural desde 1985 e tem por objectivo difundir a Poesia em língua portuguesa, proporcionar o convívio, o diálogo e a interajuda entre os seus associados e informá-los de toda a actividade poética existente.
A Associação realiza dois Encontros Poéticos mensais: um no Palácio Galveias (com uma palestra sobre o Poeta do Mês) e outro no Restaurante Vá-Vá (dedicado à poesia dos associados). Realiza também palestras culturais na Livraria-Galeria Verney, em Oeiras, edita um Boletim trimestral gratuito e uma Antologia Poética anual com poemas dos associados, organiza Jogos Florais e tem um Grupo de Jograis que, gratuitamente, actua em diversos eventos. Realiza, ainda, anualmente, uma homenagem a Luís de Camões no Mosteiro dos Jerónimos no dia 10 de Junho.
A Associação tem associados em Espanha, Luxemburgo, Alemanha, Angola, Brasil, EUA e Canadá.
Mais informações, aqui.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Poesia no Bar a Barraca




Amanhã, 20 de Fevereiro, haverá Poesia no Bar a Barraca, a partir das 23 horas.
O Bar A Barraca fica no Teatro Cinearte - Largo de Santos, n.º 2, em Lisboa.

Hoje nasceu...





19 de Fevereiro de 1881

Paul Zech

Poeta alemão





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Na estante de culto: ”A Alma e o Caos”

Paul Zech

Paul Robert Zech, um dos vultos do expressionismo alemão, nasceu no dia 19 de Fevereiro de 1881 em Briesen, na Prússia Ocidental e passou a sua juventude em Wuppertal. Estudou em Bona, Heidelberg e Zurique. Trabalhou como mineiro e metalúrgico, por idealismo social, na Alemanha, França e Bélgica. Foi depois editor e colaborador de vários jornais, traduziu vários poetas franceses, ao mesmo tempo em que ia trabalhando na sua própria produção literária.
Foi amigo de Richard Dehmel, Emil Verhaeren, Stefan Zweig, Appollinaire, Georg Heym e Else Lasker-Schüller, entre outros.
Paul Zech viveu muitos anos em Berlim e foi bibliotecário e propagandista. Emigrou para Praga em 1933, depois para Paris e mais tarde para a América do Sul.
Por fim, fixou-se na Argentina e morreu em Buenos Aires, em 1946, com 65 anos.

Rua industrial, de dia

Só paredes. Sem verde nem vidraça,
a rua estende a cintura malhada
das fachadas. Os carris sem zoada.
Brilha o asfalto molhado da praça.

Roça por ti alguém, um frio olhar
penetra-te a medula; passos duros
fazem saltar faíscas de altos muros
e fica a nuvem de um breve respirar.

Não há cela que aperte o pensamento
em gelo como este caminhar
entre muros, que só muros podem olhar.

Vistas tu penitência ou sacro paramento –:
Esmaga-te sempre o pesado sudário
do anátema divino: turno sem horário.

Paul Zech
(1911)
(tradução de João Barrento)

domingo, 18 de fevereiro de 2007

Hoje nasceu...


18 de Fevereiro de 1896

Andre Breton

Poeta francês


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André Breton

André Breton, considerado pai e fundador do movimento surrealista francês, nasceu em Tinchebray, Orne, no dia 18 de Fevereiro de 1896.
Por exigência da família, estudou medicina e prestou serviço durante a Primeira Guerra Mundial, nos centros de psiquiatria do exército, onde entrou em contacto com a obra de Freud e se interessou pelo mundo do inconsciente. Em 1919 ligou-se ao movimento dadaísta e já sob a influência de Rimbaud, Apollinaire e Mallarmé, publicou o livro de poemas "Mont de piété", cuja violência verbal antecipava obras posteriores. A "alucinada" abordagem de Breton com a poesia surgiu como uma reacção contra as acomodadas convenções literárias de Paris nos anos 20. Mais tarde, abandonou o dadaísmo para experimentar novas formas de expressão e, em colaboração com Philippe Soupault e Louis Aragon, fundou a revista Littérature, (de cujo programa constava a revisão de certos valores estabelecidos, a procura das causas da criação poética, o valor do destino humano do poeta) que acolheu nas páginas o primeiro texto surrealista, (onde testava a escrita automática) "Les champs magnétiques" (1920), escrito por Breton e Soupault.
Em 1924, auxiliado por outros dadaístas dissidentes, escreveu o "Manifeste du surréalisme", reunindo à sua volta, entre outros, Eluard, Aragon, Péret, Picasso, Soupault, Artaud, Narville, e Cicon; e tendo como órgão próprio a revista La Révolution Surrealiste. O Manifesto do Surrealismo surgiu como crítica dos valores estéticos e éticos tradicionais, em que Breton proclamava a primazia dos componentes oníricos sobre os racionais e, como meio de verbalizar a subjectividade psíquica, defendia a escrita automática, a liberdade formal e a exploração literária do inconsciente, onde o autor podia expressar o que lhe vinha à mente sem pensar no seu significado. Com este Manifesto, Breton e os seus colegas pretendiam transformar o caos e a desordem em formas de expressão. O seu objectivo poético consistia no "puro automatismo psíquico", como foi evidenciado pela obra "Pour un art revolutionnaire independent", que escreveu em 1938 em co-autoria com Leon Trotsky. Do ponto de vista de Breton, arte e política eram indissociáveis.
Este manifesto resultou numa transformação radical na arte e na cultura francesa da época. Breton aplicou essas concepções a livros de poemas como "Clair de terre" (1923, título neologista a partir da expressão francesa clair de lune), e a narrativas como "Nadja" (1928) inspirada na sua primeira mulher, assim como a textos teóricos, entre os quais o célebre "Les Pas perdus" (1924).
Em 1937 publicou o conto "L'Amour fou", verdadeira síntese da sua obra.
Perante a crise ideológica de 1929, que ameaçava dividir o movimento, André Breton, publicou o "2º Manifeste du Surréalisme", onde precisou a sua posição e a do grupo, procurando fundamentá-la filosoficamente, e dizendo-se contra qualquer pressão exterior de carácter político, rompendo depois com o Partido Comunista, mas mantendo-se sempre marxista. As críticas acerbas a Autaurd, Delteil, Gérard, Soupault, e outros, levaram os mesmos à publicação de um violento panfleto contra Breton que, entretanto, continuou o seu trabalho fundando a nova revista Le Surréalisme au Service de la Révolution, pondo-a ao serviço das agitações políticas e sociais e publicando o panfleto Position politique du Surréalisme.
Fugindo à Segunda Guerra Mundial, com Jacqueline Lamba – sua segunda mulher e musa – Breton exilou-se nos Estados Unidos. Jacqueline e André, nessa fuga, foram hóspedes de artistas como Gordon Onslow Ford e Picasso. Graças ao trotskista Victor Serge, puderam fugir de França ocupada, através da Martinica e Santo Domingo, onde estiveram na casa de Eugenio Granell. Com o apoio de Peggy Guggenheim, viajaram acompanhados de Serge, Goldberg, o antropólogo Levy Strauss e Wifredo Lam até Nova Iorque, local onde Jacqueline obteve reconhecimento público na pintura.
Depois da segunda guerra mundial, Breton regressou a França e ainda líder do surrealismo, cuja evolução se reflectiu em muitos trabalhos seus, dedicou-se aos seus jovens discípulos.
Em 1965 reuniu as suas principais obras teóricas em "Manifestes du surréalisme", imprescindível para a compreensão do movimento.
André Breton, preocupado principalmente com a eliminação das barreiras existentes entre o sonho e a realidade, a razão e a loucura, tornou-se o principal mentor do movimento surrealista e o mais valioso do seu incessante trabalho é que contribuiu para fazer do surrealismo o encontro do aspecto temporal do mundo com os valores eternos: o amor, a liberdade e a poesia.
"Tudo nos leva a acreditar que existe um certo estado da mente em que vida e morte, o real e o imaginário, passado e futuro, o comunicável e o incomunicável, altura e profundidade não são mais percebidos como contraditórios" André Breton, Segundo Manifesto do Surrealismo (1929).
André Breton faleceu em Paris, em 1966.

Obras:
"Mont de piété" (1919) Poesia
"Clair de Terre" (1923) Poesia
"Les Pas Perdus" (1924)
"Nadja" (1928)
"Ralentir Travaux" (1930)
"L'Union Libre" (1931)
"Le Revolver à Cheveux Blancs" (1932)
"Les Vases Communicantes" (1932) Poesia
"Point du Jour" (1934)
"L'Amour Fou" (1937)
"Pour un art revolutionnaire independent" (1938)
"Arcane 17" (1945)
"Poèmes" (1948) Poesia
"La Clé des Champs" (1953)
"À Dieu ne Plaise" (1954)
Estar vestido de branco deste homem é evidente que nunca voltará a ser
encontrado
Depois o choque duma lança contra um elmo aqui o músico fez maravilhas
É toda a razão que se vai quando podia soar a hora sem que tu estejas
presente

Nas sombras do cenário permite-se ao povo contemplar os grandes festins
Comer em cena é sempre do agrado geral
De dentro da empada rematada a faisões
Anões metade pretos metade arco-íris levantam a tampa
E soltam-se ajaezados de guizos e de risos
Brilho contrastado de vestígios de tiros das côdeas sobrastes
Plano sequência do baile dos Ardentes flash back desfocado do episódio que
vem logo a seguir ao do cervo
Uma homem talvez ágil demais desce do alto das torres de Notre Dame
A rodopiar numa corda
Seu pêndulo de archotes clarão insólito à luz do dia
A sarça dos cinco selvagens quatro deles cativos um do outro o sol de plumas
O duque d’Orléans segura o facho a mão a mão fatal
Às oito horas da noite tempos depois a mão
Não esquece a brincar com a luva
A mão a luva uma vez duas vezes três vezes
A um canto com o palácio mais branco em fundo as belas feições ambíguas de
Pedro de Luna a cavalo
Personificando o segundo luminar
Acabar sobre o brasão da rainha em lágrimas
A mágoa Nada mais me é nada nada me é mais nada
Sim sem ti
O sol

André Breton
(tradução de Ernesto Sampaio)
Um homem e uma mulher absolutamente brancos
Lá no fundo do guarda-sol vejo as prostitutas maravilhosas
Com trajes um pouco antiquados do lado da lanterna cor dos bosques
Levam a passear consigo um grande pedaço de papel estampado
Esse papel que não se pode ver sem que o coração se
nos aperte nos andares altos de uma casa em demolição
Ou uma concha de mármore branco caída no caminho
Ou um colar dessas argolas que se confundem atrás delas nos espelhos
O grande instinto da combustão conquista as ruas
onde elas caminham Direitas como flores queimadas
Com os olhos na distância levantando um vento de pedra
Enquanto imóveis se abismam no centro da voragem
Nada se iguala para mim ao sentido do seu pensamento desligado
A frescura do regato onde os sapatinhos delas
banham a sombra dos seus bicos A realidade daqueles molhos de feno cortado onde desaparecem
Vejo os seus seios que abrem uma nesga de sol na noite profunda
E que se abaixam e se elevam a um ritmo
que é a única exacta medida da vida
Vejo os seus seios que são estrelas sobre as ondas
Seios onde chove para sempre o invisível leite azul

André Breton
(tradução de António Ramos Rosa)

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

Novidades Campo das Letras





A Campo das Letras prepara-se para editar em Abril deste ano, "As Uvas e o Vento" de Pablo Neruda, com tradução de Albano Martins.

Neste livro, Pablo Neruda, canta o futuro do mundo novo surgido da II Guerra Mundial, que cura as suas feridas e reconstrói sociedades, pintando com sensibilidade e sonoridade painéis sobre homens, cidades e paisagens da Europa e da Ásia.


Tendes que ouvir-me

Errante, fui cantando
entre as uvas
da Europa
e sob o vento,
sob o vento da Ásia.

O melhor das vidas
e da vida,
a doçura terrestre,
a paz pura,
fui recolhendo, errante,
recolhendo.

Com meu canto
ergui na boca
o melhor duma terra
e de outra terra:
a liberdade do vento,
a paz entre as uvas.

Pareciam os homens
inimigos,
mas a mesma noite
os cobria
e só uma claridade
os despertava:
a claridade do mundo.

Entrei nas casas quando
comiam à mesa,
vinham das fábricas,
riam ou choravam.
Eram todos iguais.

Todos tinham olhos
para a luz, procuravam
os caminhos.
Todos tinham boca,
entoavam cantos
à primavera.
Todos.

Por isso
procurei entre as uvas
e o vento
o melhor dos homens.
Agora tendes que ouvir-me.


Pablo Neruda (1904-1973) é pseudónimo do poeta chileno Ricardo Eliézer Neftali Reyes.
Foi escritor, poeta, diplomata e político. Fundador do Partido Comunista do Chile.
Autor de poesia de inspiração social e revolucionária, foi considerado o Walt Whitman da América Latina, viu as suas obras traduzidas em inúmeros países.
Galardoado com o Prémio Nobel da Literatura, em 1971.
Publicado pela Campo das Letras: "Os Versos do Capitão" (1996), "Canto Geral" (1998), "Cem Sonetos de Amor" (2004), "Cadernos de Temuco" (2004).
"Neruda", de Volodia Teitelboim (Biografia, Set. 2004)

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Apresentação de Livro de Poesia no Instituto Franco-Português





Amanhã, 15 de Fevereiro, às 18h30, na Mediateca do IFP, Manuel Madeira estará no Instituto Franco-Português, por ocasião da apresentação do seu livro "Pertubations" (ed. Oeil étranger).
A apresentação estará a cargo de Fernando Martinho (prof. e crítico de poesia).
Haverá também lugar a leituras pela actriz Maria do Céu Guerra.

O livro de Manuel Madeira reúne perto de uma centena de poemas, nos quais ele exprime as suas reflexões críticas.
Manuel Madeira nasceu em Estremoz e vive em França. Uma parte considerável da sua vida tem sido dedicada ao cinema e à escrita sobre ele. Este é o seu primeiro livro de poesia e no prelo tem já um livro de ficção.
Foi actor em "Meus Amigos", de António da Cunha Telles, 1974, e "Encuentro en el Abismo", de Tonino Ricci, 1978 e realizou, entre outros, "Crónica de Emigrados" (1979) em França.
«"La photo déchirée" ou l'archéologie de la mémoire», «Syndicats, immigration et cinéma», «Filmographie sur l'immigration portugaise», são alguns dos seus escritos.

O Instituto Franco-Português fica na Avenida Luís Bívar, 91, em Lisboa.
E o site fica aqui.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Sugestão da Andante para esta semana

Matéria solar

Havia
uma palavra
no escuro.
Minúscula. Ignorada.

Martelava no escuro.
Martelava
no chão da água.

Do fundo do tempo,
martelava.
Contra o muro.
Uma palavra.
No escuro.
Que me chamava.



Eugénio de Andrade



Interpretado pela Andante:


Voz: Cristina Paiva; Música: Hector Zazou; Sonoplastia: Fernando Ladeira.


Aqui fica a agenda dos próximos espectáculos da Andante:


8 Março de 2007
"Elas" - Espectáculo de Poesia para o Dia Internacional da Mulher
Fórum Cultural de Alcochete, às 21H45

Mais informações sobre a Andante, aqui.

domingo, 11 de fevereiro de 2007

Hoje nasceu...




11 de de Fevereiro de 1869

Else Lasker-Schüller

Poetisa alemã





Artigos relacionados:
Biografia
Poemas: Ester; O meu povo; Rute; Uma canção”; Fim do mundo; Paul Zech; Saul; Jacob; Despedida
Na estante de culto: ”Baladas Hebraicas”; ”A Alma e o Caos”

Else Lasker-Schüller

Else Lasker-Schüller nasceu em Elberfeld no dia 11 de Fevereiro de 1869. Poetisa, escritora e artista plástica, Else era judia, sobrinha de um rabino. E narrou, no seu volume de prosa "Konzert" de 1932, uma infância em que não soube distinguir as fronteiras entre a fantasia e a realidade. Em 1894 casou com um médico de Berlim, o Dr. Bertold Lasker, de quem se separou passados alguns anos, insatisfeita com a vida burguesa. As suas primeiras poesias apareceram em 1899, na revista Die Gesellschaft (A Sociedade), fazendo a sua estreia num círculo literário de Berlim. Entre 1901 e 1911 esteve casada com Herwarth Waldeen (pseudónimo de Georg Lewin), tendo acompanhado o início da sua carreira literária e a fundação da famosa revista expressionista Der Sturm. O seu primeiro livro de poesia "Styx", foi publicado em 1902.
No período expressionista, e depois de se divorciar de Georg Lewin, entrou em contacto com a nova geração de poetas, convivendo com Franz Werfel, Franz Marc, Oscar Kokoschka, Georg Trakl e Karl Kraus (entre outros) nos cafés de Berlim, o segundo lar de muitos jovens artistas e intelectuais berlinenses da época. Foi nesses cafés que Else escreveu muitos dos seus poemas expressionistas, publicados com o título "Meine Wunder" (Minha Maravilha). Em 1913 publicou "Hebraische Balladen" (Baladas Hebraicas), uma colecção de poemas inspirados nas figuras da Bíblia.
Em 1925 cortou relações com os seus editores e depois disso poucas publicações suas apareceram. Os últimos anos de Else foram trágicos, sobretudo depois da morte do filho Paul, em 1927, vítima de tuberculose. Recebeu o Prémio Kleist para Literatura em 1932. Em 1933 foi para a Suíça, fugindo ao nazismo, de que também foi vítima. Fixou-se mais tarde na Palestina, onde viveu na maior miséria até à morte.
A sua última publicação em vida, é de 1943, com o livro de poemas "Mein Blaues Klavier" (O meu Piano Azul).
Else conhecia a magia das palavras e conjurava nos seus versos um mundo melhor e mais belo, embelezando o mundo com a magia da sua fantasia, tentando torná-lo luminoso e sereno.
"É em nós que devemos procurar o céu. Ele floresce de preferência no Homem. E quem o encontrou, devia cultivar o céu das suas flores", escreveu num dos seus livros "Mein Herz" (O meu Coração).
Else Lasker-Schüller morreu em Jerusalém em 1945 e foi sepultada no Monte das Oliveiras.

Ester

Ester é esbelta como a palmeira brava,
Os pés de trigo têm o cheiro dos seus lábios,
E os dias de festa que em Judá se celebram.

De noite, o seu coração repousa sobre um salmo,
Os ídolos escutam nas salas do palácio.

O rei sorri se vai ao seu encontro —
O olhar de Deus está sempre posto em Ester.

Os judeus jovens fazem canções à irmã,
Gravam-na nas colunas da sua antecâmara.

Else Lasker-Schüller

(Baladas Hebraicas)

(tradução de João Barrento)

O meu povo

Apodrece o rochedo
De onde provenho
E ao sol entoo os meus cânticos sagrados...
Subitamente, precipito-me do caminho
E águas murmuram em mim
Na distância, só, sobre pedras de lamentação,
Em direcção ao mar.

Jorrei-me para tão longe
Do mosto mal fermentado
Do meu sangue.
E sempre e ainda o eco
Dentro de mim,
Quando, voltados para Oriente,
Os ossos do rochedo apodrecido,
O meu povo,
Lançam um grito terrível para Deus.

Else Lasker-Schüller

(Baladas Hebraicas)
(tradução de João Barrento)

Rute

E tu vens procurar-me junto às sebes.
Oiço o soluçar dos teus passos
E os meus olhos são pesadas gotas escuras.

Na minha alma nascem as flores doces
Do teu olhar e ele enche-se
Quando os meus olhos se exilam para o sono.

Na minha terra,
Junto ao poço, está um anjo:
Canta a canção do meu amor,
Canta a canção de Rute.

Else Lasker-Schüller

(Baladas Hebraicas)
(tradução de João Barrento)

Uma canção

Por detrás dos meus olhos há águas
Tenho de as chorar todas.

Tenho sempre um desejo de me elevar voando,
E de partir com as aves migratórias.

Respirar cores com os ventos
Nos grandes ares.

Oh, como estou triste...
O rosto da lua bem o sabe.

Por isso, à minha volta há muita devoção aveludada
E madrugada a aproximar-se.

Quando as minhas asas se quebraram
Contra o teu coração de pedra,

Caíram os melros, como rosas de luto,
Dos altos arbustos azuis.

Todo o chilreio reprimido
Quer jubilar de novo

E eu tenho um desejo de me elevar voando,
E de partir com as aves migratórias.

(1917)
Else Lasker-Schüller
(tradução de João Barrento)

Fim do mundo

Há um chorar no mundo,
Parece que o bom Deus morreu,
E a plúmbea sombra, que cai fundo,
Pesa como mausoléu.

Vem, vamos esconder-nos mais...
A vida está em todos os corações
Como em caixões.

Ouve! Vamos beijar-nos e esquecer –
Há uma saudade que bate à porta do mundo,
E dela acabaremos por morrer.

(1905)
Else Lasker-Schüller
(tradução de João Barrento)

Paul Zech

O seu avô era aquele camponês amaldiçoado
Dos contos de fadas de Grimm.

O neto é poeta.
Paul Zech escreve os seus versos a machado.

Podemos agarrá-los,
Tão duros são.

O seu verso torna-se destino
E povo murmurante.

Deixa que o fumo lhe penetre o coração;
Homem em sombria prece.

Mas os seus olhos de cristal olham
Vezes sem conta para a manhã do mundo.

Else Lasker-Schüller
(tradução de João Barrento)

Saul

Ao Cavaleiro Azul Franz Marc,
príncipe de Caná

O grande rei está de olhos postos em Judá.
Um camelo de pedra sustenta-lhe o telhado e há
Gatos, tímidos, esgueirando-se entre colunas rachadas.

A noite desce à cova, as tochas não se acenderam,
Os grandes olhos redondos de Saul minguaram.
Sobe o tom das carpideiras, em pranto lavadas.

Mas já a cidade pelos Cananitas foi cercada.
– Ele vence a morte, primeiro soldado a forçar a entrada –
E há cinco vezes cem mil homens de clavas levantadas.

Else Lasker-Schüller

(Baladas Hebraicas)
(tradução de João Barrento)

Jacob

Jacob era o búfalo do seu rebanho.
Quando os seus cascos batiam no chão,
Toda a terra chispava, abrindo lanho.

Berrando deixou os irmãos malhados.
Correu para a selva, para junto dos rios,
E aí o sangue das feridas foi estancando.

Em febre, caiu prostrado diante do céu,
Cansado daquela dor nos artelhos,
E do seu rosto de boi o sorriso nasceu.

Else Lasker-Schüller

(Baladas Hebraicas)
(tradução de João Barrento)

Despedida

Mas tu nunca vinhas com a noite –
E eu sentada com casaco de estrelas.

Quando batiam à porta
Era o meu próprio coração.

Agora pendurado em todas as ombreiras,
Também na tua porta;

Entre touros rosa de fogo a extinguir-se
No castanho da grinalda.

Tingi-te o céu cor de amora
Com o sangue do meu coração.

Mas tu nunca vinhas com a noite
E eu de pé com sapatos dourados.

Else Lasker-Schüller
(tradução de João Barrento)

sábado, 10 de fevereiro de 2007

5.ª Feira do Livro em fim de edição na Gare do Oriente

A 5.ª Feira do livro em fim de edição abriu as portas no dia 8 de Fevereiro e prolonga-se até ao dia 8 de Março. À semelhança de edições anteriores, estarão disponíveis centenas de títulos de diversas editoras com descontos imperdíveis.
A Feira, organizada pela Caminho Divulgação, estará aberta ao público diariamente, das 9 às 23 Horas.
Aproveitem esta oportunidade para comprar livros de poesia!

Fernando Pessoa no Salão do Livro de Casablanca








Portugal participa no Salão Internacional da Edição e do Livro de Casablanca (de 9 a 18 de Fevereiro) com um pavilhão que propõe uma viagem ao mundo de Fernando Pessoa, com uma exposição de fotografias sobre a vida e obra do poeta e um espaço multimédia com interpretações recentes dos seus textos feitas por jovens criadores.
Francisco José Viegas, actual presidente da Casa Fernando Pessoa, também vai estar presente no evento, dando, na próxima quinta-feira, uma conferência intitulada «Vida e obras de Fernando Pessoa».
O 13.º Salão Internacional da Edição e do Livro de Casablanca conta com a participação de 59 países, na sua maioria africanos. O convidado de honra é a Bélgica.

Mack the knife




Mack the knife, aqui interpretado por Louis Armstrong.
A letra é de Berthold Brecht (a música de Kurt Weill) e foi escrita em 1928 para a «Ópera dos Três Vinténs».


Oh the shark has pretty teeth, dear
And he shows them pearly white
Just a jack knife has MacHeath, dear
And he keeps it out of sight

When the shark bites with his teeth, dear
Scarlet billows start to spread
Fancy gloves though wears MacHeath, dear
So there's not a trace of red

On the sidewalk, Sunday morning
Lies a body oozing life
Someone's sneaking round the corner
Is the someone Mack the knife?

From a tug boat by the river
A cement bag's dropping down
The cement's just for the weight, dear
Bet you Mack is back in town

Louie Miller disappeared, dear
After drawing out his cash
And MacHeath spends like a sailor
Did our boy do something rash?

Sukey Tawdry, Jenny Diver
Polly Peachum, Lucy Brown
Oh the line forms on the right, dear
Now that Mack is back in town

Hoje nasceu...




10 de Fevereiro de 1898

Bertolt Brecht

Escritor alemão






Artigos relacionados:
Biografia
Poemas: A propósito da notícia da doença de um poderoso estadista; Perguntas de um operário letrado; Das Cidades; O vosso tanque, General, é um carro forte...”
Arquivo audio: ” Mack the knife”

Bertolt Brecht

Bertolt Brecht nasceu na Baviera no dia 10 de Fevereiro de 1898. Foi um dos nomes mais influentes do teatro do século XX, não só pela criação de uma obra excepcional, mas também pelas inovações que introduziu no teatro e na poesia. Escritor e director de teatro alemão, a partir de 1929 começou a elaborar a sua teoria do "teatro épico" que pretendia opor-se ao "teatro dramático", que na sua opinião conduzia o espectador a uma ilusão da realidade e lhe retirava a percepção crítica. Em 1933, com a ascensão do nazismo, exilou-se em França, na Dinamarca, na Finlândia e nos Estados Unidos, onde permaneceu seis anos. Acusado de actividades anti-americanas, foi forçado a voltar para a Alemanha, fixando-se em Berlim oriental, onde criou a sua própria companhia, o Berliner Ensemble.

A poesia de Brecht, menos conhecida do que as suas peças, mas não menos importante, está representada sobretudo por Die Hauspostille (1927; O livro de devoção caseira) da sua fase iconoclástica, e pelas Svendborger Gedichte (1939; Poesias de Svendborg). O mais famoso poema da sua primeira fase é o autobiográfico "Vom armen B.B." ("Do pobre B.B."). Brecht como poeta era anti-sentimental, de tom didáctico e dificilmente traduzível. Toda a vasta obra poética de Brecht poderia, na verdade, ser considerada como um longo poema didáctico.

Bertolt Brecht faleceu em 1956 com um enfarte de miocárdio.

A propósito da notícia da doença de um poderoso estadista

Se este homem insubstituível franze o sobrolho
Dois reinos periclitam
Se este homem insubstituível morre
O mundo inteiro se aflige como a mãe sem leite para o filho
Se este homem insbubstituível ressuscitasse ao oitavo dia
Não acharia em todo o império uma vaga de porteiro.

Bertold Brecht

(tradução de Arnaldo Saraiva)


(Este poema é um dos «poemas de exílio» que Brecht pensava publicar em livro, e de que só sairam os "Poemas de Svendborg". Alguns desses poemas, entre os quais este, constavam de um caderno dactilografado que Brecth fez fotocopiar e distribuir por alguns amigos em 1944.)

Perguntas de um operário letrado

Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis.
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilónia, tantas vezes destruída,
Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas
da Lima dourada moravam seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde
Foram os seus pedreiros? A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio
Só tinha palácios
Para seus habitantes? Até a legendária Atlântida
Na noite em que o mar a engoliu
Viu afogados gritar por seus escravos.

O jovem Alexandre conquistou as Índias.
Sozinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando sua armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a Guerra dos Sete Anos.
Quem mais a ganhou?

Em cada página uma vitória.
Quem cozinhava os festins?

Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?

Tantos histórias.
Quantas perguntas.

Bertold Brecht

(tradução de Arnaldo Saraiva)

Das Cidades

Por debaixo esgotos sobre o solo
Nada e por cima o fumo
Ali vivemos nós sem gozo nem consolo.
Depressa passámos nelas. E, devagar, também elas seguem o nosso rumo.

Bertold Brecht

(tradução de Arnaldo Saraiva)
O vosso tanque, General, é um carro forte
Derruba uma floresta esmaga cem
Homens,
Mas tem um defeito
— Precisa de um motorista.
O vosso bombardeiro, general
É poderoso:
Voa mais depressa que a tempestade
E transporta mais carga que um elefante
Mas tem um defeito
— Precisa de um piloto.
O homem, meu general, é muito útil:
Sabe voar, e sabe matar
Mas tem um defeito:
— Sabe pensar

Bertold Brecht

Na voz de Luís Gaspar:

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

Na estante de culto











"A Idade das Trovas"
de Inocêncio Pinga-Amor (Luís Graça)
Edição: Universitária Poesia (1998)
Capa: João Pitta Groz

Luís Graça escreve de tudo: contos, poesia, romances, teatro, crítica de banda desenhada, argumentos para banda desenhada, artigos para jornais desportivos...
E o humor é o seu território de eleição, mas ao espírito cáustico gosta de juntar uma pitada de romantismo. Neste livrinho "A Idade das Trovas" editado pela Universitária Poesia em 1998, Luís Graça dá largas ao seu génio romântico.


Brisas de fim-de-tarde em Dó Maior

Se os teus olhos
perenes de paz
reflectirem a lua
como lagos

Banhando a tua dor
em pântanos de fogo
que trituram as entranhas
em volúpias

Não confundas a ternura
com meiguice
não iludas um quadro
em desespero

Tu já não queres viver
como quem sonha
tu já não queres sonhar
por não saberes

Essa subtil margem
das saudades
que vai da meiguice
às tuas lágrimas



Se quiseres eu cubro a tua alma de açúcar

Se quiseres
eu cubro a tua alma
de açúcar

E se tiveres ainda
falta
de glucose

Deixa-me dar-te
ao fim do dia
um olhar doce



"A ligeireza, a graça, o bom humor, fazem com que estas Trovas de Luís Graça pertençam à idade do riso, uma idade que ainda está muito longe de ser assumida pela alma portuguesa.
A quase totalidade da expressão poética produzida em língua portuguesa, possui ainda algum escrúpulo perante a postura do poeta-humorista: ou é assaltada por um confessionalismo amargo, ou entrega-se à sátira mordaz e ressentida. Há ainda a outra poesia, aquela que se faz valer de uma herança de pendor clássico ou classicizante, que irrompe da verdade do sujeito poético.
Este livro de Luís Graça situa-se entre estes dois pólos: nem amargo, nem ressentido, nem clássico — apenas feliz e igual a si mesmo"
José Fernandes Tavares

Obras de Luís Graça:
“A Idade das Trovas” (Universitária Editora, 1998), sob o pseudónimo de Inocêncio Pinga Amor (poesia); “Meia Dúzia de Maldades” (Inatel), teatro; “O homem que casou com uma estrela porno e outros contos perversos” (Editora Polvo, 2003, contos); “De Boas Erecções está o Inferno Cheio” (Editora Polvo, 2004, poesia erótica); “Neura 2004” (Editora Oficina do Livro, 2004, romance); “Fado, Futebol e Farpas” (Edição de autor, 2006, romance).

Também participou em obras colectivas como: “100 Anos Federico Garcia Lorca, homenagem dos poetas portugueses” (Universitária Editora); “Antologia da Poesia Erótica” (Universitária Editora); Antologia DN Jovem (Editorial Notícias); participações nos “Florilégios de Natal” (Universitária Editora), Cadernos de poesia “Viola Delta” (Edições MIC), “SOL XXI” (Edições SOL XXI), fólios de poesia “Petrinia” (Liga dos Amigos de Alpedrinha); "A jeito de homenagem a Eugénio de Andrade", das Fólio Edições e 1º de Janeiro (2003); “Neruda, Cem anos Depois” (Universitária Editora, 2004).

Hoje nasceu...



9 de Fevereiro de 1884
Josep Carner
Poeta catalão



Artigos relacionados:
Biografia
Manuscritos
Poemas: Canto de Tristeza

Josep Carner

Josep Carner nasceu em 9 de Fevereiro de 1884, em Barcelona. Desde cedo revelou o seu génio e a sua precocidade: começou a colaborar aos doze anos em diversas publicações literárias, aos dezoito licenciou-se em Direito e aos vinte em Filosofia e Letras. Em 1907 já tinha publicados quatro livros de poesia, entre os quais “Els fruits saborosos”, o seu primeiro grande êxito. Em 1911 entrou para a Secção Filológica do Instituto de Estudos Catalães, onde colaborou com Pompeu Fabra.
Carner era um profissional da cultura: escrevia diariamente um sem número de artigos, notas, poemas... E ainda traduzia autores como Shakespeare, Molière, Dickens, George Elliot, Mark Twain, La Fontaine, Daniel Defoe, Lewis Carroll, Francesc d'Assís... Também escreveu teatro, como “El giravolt de maig” (1928), “El Ben Cofat i l'Altre” (1951) e “Cop de vent” (1966).
Durante a Guerra Civil Espanhola, Carner foi um dos poucos diplomatas que se manteve fiel à República, tendo sido obrigado a um exílio em 1939 (primeiro no México, e, a partir de 1945, em Bruxelas, onde foi professor universitário).
Em 1941 publicou o longo poema “Nabi” e em 1957 “Poesia”, onde juntou, reveu e organizou a sua obra poética. Estes dois livros, publicados no exílio, foram os que levaram Carner a ser considerado um dos mais importantes poetas catalães, apelidado de “Príncipe dos poetas”.
Foi membro do Conselho Executivo da Sociedade Europeia de Cultura e foi doutorado honoris causa pela Universidade d'Aix-Marseille.
Assinou em 1952 um documento endereçado à UNESCO contra a repressão na Catalunha e em 1955, um documento endereçado à Comissão dos Direitos Humanos da ONU, denunciando a repressão franquista contra a cultura catalã. Em 1959, aquando da morte de Carles Riba, Josep Carner substituiu-o como presidente do Centro Catalão do PEN Club no exílio.
Carner regressou à Catalunha pouco antes de morrer, em Junho de 1970, em Bruxelas.

Toda a sua obra — os livros de poesia, a prosa, o jornalismo, o teatro, as traduções — a sua actividade cultural e intelectual e, ainda, a sua intervenção cívica, ao longo de mais de meio século, permitem-nos a referência a Josep Carner como um dos maiores nomes literários do século XX, não só da cultura catalã, mas do Mundo.














Capa de "Nabi", publicado por Josep Carner em 1941.




















Manuscrito do poema "Glosa", de Josep Carner.



Agradeço ao Joaquim Cascais, que teve a gentileza de me enviar estas duas imagens.

Canto de Tristeza

É verdade que nos deixas num sítio de tristeza,
Tu que nos deste a vida!
Erma negrura.
Coração nosso, quieto; coração nosso, dorme.

Oh, quão difícil de conhecer, de ganhar,
Tu que nos deste a vida!
É vão todo o juízo.
Coração nosso, quieto; coração nosso, dorme.

Não mais poderei estar junto de Ti,
Tu que nos deste a vida!
Tudo é tão breve!
Coração nosso, quieto; coração nosso, dorme.

Os dons e a felicidade de Ti vêm,
Tu que nos deste a vida;
de Ti o que eu anseio: as flores mais luzentes,
mesmo que ao florescer aumentem a minha dor.

Josep Carner

(tradução de José Bento)

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Novidades da Quasi





A editora Quasi Edições vai publicar nos próximos dias o livro «Descrição da mentira», do poeta espanhol Antonio Gamoneda, com tradução de Vasco Gato.
Esta é a terceira obra de Gamoneda a ser editada em Portugal, depois de «O Livro do Frio», editado pela Assírio & Alvim, e «Ardem as Perdas», editado pela Quasi.

Este livro de Poesia foi escrito por Gamoneda entre 1975 e 1976, na sequência da morte do general Francisco Franco, e marca, segundo a crítica, a fase de amadurecimento na escrita do autor.

Antonio Gamoneda, de 75 anos, natural de Oviedo e uma das vozes mais singulares da poesia castelhana, vive em Leon onde dirige há muitos anos a Fundação Sierra-Pambley criada em 1887.
Recebeu em 2006, o Prémio Cervantes (o Nobel das letras de língua castelhana), concedido pelo Ministério da Cultura em reconhecimento do conjunto da obra de um escritor.
Recebeu ao longo da sua vida vários outros galardões, incluindo o Prémio Nacional de Poesia (1988), o Prémio Castela e Leão das Letras e o Prémio Rainha Sofia de Poesia ibero-americana (2006).

Tertúlia Poética da Associação Portuguesa de Poetas



Realiza-se este sábado, 10 de Fevereiro, das 15h30 às 18h30, mais uma Tertúlia Poética organizada pela Associação Portuguesa de Poetas no Restaurante “Vá Vá” (Av. Estados Unidos da América, 100 C - Lisboa).

"Festa" de Encerramento da Livraria da Praça









Como já aqui noticiei, a Livraria da Praça (em Viseu) vai fechar no final do mês.
E para liquidar o stock, a livraria vai abrir as portas no próximo sábado 10 de Fevereiro, pelas 17 horas, para uma "Festa" de Encerramento, onde será possível adquirir livros e outros artigos da livraria com descontos, e com a inauguração de uma exposição de pintura de Geraldine Lemos.

A Livraria da Praça fica na R. Cónego Martins, nº 13 (ao Museu Almeida Moreira) e também com entrada pelas escadinhas Chão do Mestre (à Rua do Comércio), em Viseu.
E o blogue fica aqui.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Novidades da Labririnto

A Editora Labirinto prepara-se para lançar um novo "livrinho de Afectos", desta vez com o tema A MULHER, e também uma antologia poética com poemas dedicados a Fiama Hasse Pais Brandão. Em ambos os casos estarão presentes com poesias inéditas os melhores e maiores poetas portugueses.
Esperamos atentos por mais informações sobre estas futuras edições.

"A Génese do Amor", de Ana Luísa Amaral vencedor do Prémio Literário Casino da Póvoa - Correntes D'Escritas 2007





Ana Luísa Amaral é a vencedora do Prémio Literário Casino da Póvoa, atribuído no âmbito do encontro literário Correntes d’Escritas - Encontro de Escritores de Expressão Ibérica, com a obra " A Génese do Amor" editada pela Campo das Letras. O galardão foi atribuído a Ana Luísa Amaral por unanimidade de um júri constituído pelos escritores Ana Paula Tavares, Patrícia Reis, Luís Adriano Carlos, Pedro Eiras e Rosa Martelo.

Este ano, a poesia era a categoria a concurso (nos anos pares é a prosa), incidindo sobre obras em primeira edição, publicadas em Portugal entre Junho de 2004 e de 2006, por autores de língua portuguesa ou espanhola.

Nas três primeiras edições o prémio foi de dez mil euros. Este ano o prémio é de vinte mil euros.
Este é o único prémio em Portugal que se destina simultaneamente a escritores portugueses e espanhóis, e dos espaços onde o português, o espanhol, castelhano ou outro idioma hispânico são línguas oficiais.

Entre as cerca de 130 obras a concurso, os 10 finalistas foram:

"A Génese do Amor", de Ana Luísa Amaral;
"O Tempo que nos Cabe", de António Mega Ferreira;
"Sol a Sol", de Armando Silva Carvalho;
"A Dolorosa Raiz do Micondó", de Conceição Lima;
"Movimentos no Escuro", de José Miguel Silva;
"A Estrada Branca", de José Tolentino de Mendonça;
"Duelo", de Luís Quintais;
"Migrações do Fogo", de Manuel Gusmão;
"Geometria Variável", de Nuno Júdice;
"Rostos da Índia e Alguns Sonhos", de Urbano Tavares Rodrigues.

Ana Luísa Amaral nasceu em Lisboa, em 1956.
Ensina Literatura Inglesa no Departamento de Estudos Anglo-Americanos da Faculdade de Letras do Porto e é doutorada em Literatura Norte-Americana com uma tese sobre Emily Dickinson. Autora de vários livros de poesia e dois livros infantis, está representada em diversas antologias portuguesas e estrangeiras e foi traduzida para várias línguas, como castelhano, inglês, francês, alemão, holandês, russo, búlgaro e croata.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Apresentação de Livro sobre Bocage no Café Nicola







Será lançado no Café Nicola, em Lisboa, no próximo dia 13, o livro «Bocage – A Vida Apaixonada de um Genial Libertino», de Luís Rosa.
Um romance histórico, editado sob a chancela da Editorial Presença.

Depois de «O Claustro do Silêncio», distinguido com o Prémio Vergílio Ferreira, «O Terramoto de Lisboa» e «O Amor Infinito de Pedro e Inês», Luis Rosa apresenta-nos agora um romance sobre Manuel Maria Barbosa du Bocage, um homem tumultuado, onde coabitam o sublime e o prosaico, um espírito minado por inquietações vorazes que só na poesia e no amor se apazigua. Um génio irremediavelmente embriagado com a sensualidade, o amor e a vida.

Luis Rosa nasceu em Alcobaça. É formado em Filosofia e já editou ficção, poesia e teatro.

Inteiro Silêncio






A Editorial Caminho convida os seus leitores para a sessão de lançamento do livro de Poesia “Inteiro Silêncio”, de Cristina de Mello.
Amanhã, 6 de Fevereiro, pelas 18.30 horas, no Ateneu Comercial do Porto (Rua Passos Manuel 44 - Porto).
O livro será apresentado por José António Gomes.

Cristina de Mello nasceu em Londrina, Paraná (sul do Brasil) em 1953. Reside em Portugal desde 1978. É Docente na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, desde 1987. As suas áreas de interesse científico repartem-se pela Literatura Portuguesa Contemporânea, Teoria da Literatura e Didáctica da Literatura. É licenciada em Português-Francês pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1977), mestre em Literaturas Românicas Modernas e Contemporâneas pela Universidade do Porto (1986) e doutorada em Literatura Portuguesa pela Universidade de Coimbra (1996). Publicou Metade Silêncio (poesia), pela Editora Minerva, Coimbra, 1992, e O Ensino da Literatura e a Problemática dos Géneros Literários, Almedina, 1998. Foi presidente da SPDLL — Sociedade Portuguesa de Didáctica das Línguas e Literaturas. Tem artigos incluídos em várias publicações da especialidade em Portugal, Brasil e Espanha. Foi colaboradora da revista Colóquio/Letras. Integrou o conselho de redacção da revista Discursos, editada pela Universidade Aberta. Coorganizou o programa radiofónico semanal O Som e o Sentido, em 1980-1981, para a Radiodifusão Portuguesa — canal 1, dedicado às literaturas de língua portuguesa e galega.

Sugestão da Andante para esta semana

Poema pouco original do medo

O medo vai ter tudo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis
Vai ter olhos onde ninguém os veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no tecto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos

O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
óptimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projectos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com certeza a deles

Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados

Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)

O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos
sim
a ratos

Alexandre O'Neill



Interpretado pela Andante:


Voz: Cristina Paiva; Sonoplastia: Fernando Ladeira.


Aqui fica a agenda dos próximos espectáculos da Andante:


8 Março de 2007
"Elas" - Espectáculo de Poesia para o Dia Internacional da Mulher
Fórum Cultural de Alcochete, às 21H45

Mais informações sobre a Andante, aqui.

sábado, 3 de fevereiro de 2007

Na estante de culto




Outono Transfigurado

Ciclos e Poemas em Prosa
Georg Trakl
Edição bilingue
Tradução e prefácio de João Barrento
Editora Assírio & Alvim
N.º 13 da Colecção Documenta Poética
Ano de Edição: 1992

Na capa: Poema manuscrito por Georg Trakl sobre envelope



A poesia de Georg Trakl, como a de grande parte dos expressionistas, é marcada por uma profunda angústia, melancolia e desespero humano. No caso específico de Trakl, ressalta a obsessão pela temática da Morte. Trakl mantinha ainda um diálogo constante com o simbolismo francês, em especial Rimbaud e Baudelaire, simbolismo este elevado a um grau superior de ascese da linguagem.

Esta selecção de textos inclui quase todos os ciclos de poemas e poemas em prosa de Georg Trakl. São, na sua maioria, poemas nunca traduzidos em Portugal, cujas traduções aqui trazidas pela mão de João Barrento, seguem as versões originais estabelecidas pela edição crítica de Walter Killy e Hans Szklenar (Salzburgo 1969).


Ocidente
(4.ª versão)
Em honra de Else Lasker-Schüller


1.
Lua, como se saísse coisa morta
De azul caverna,
E das flores em botão muitas caem
Sobre o atalho rochoso.
Argêntea, chora coisa doente
Junto ao largo da tarde,
Em negro barco
Amantes se passaram.

Ou são os passos de Élis
Que soam pelo bosque,
O de jacintos,
Perdendo-se de novo sobre carvalhos.
Oh, a imagem do rapaz
Moldada por lágrimas de cristal,
Sombras nocturnas.
Relâmpagos rasgados iluminam-lhe as fontes,
As sempre frescas,
Quando na colina verdejante
Ressoa a trovoada primaveril.

2.
Que silêncio, o das verdes florestas
Da nossa terra,
Da vaga cristalina
Morrendo contra um muro em ruínas,
E nós chorámos durante o sono;
Deambulam com passos hesitantes
Ao longo de espinhosa sebe
Cantores no verão da tarde,
Na paz sagrada
Do reflexo distante de vinhedos;
Sombras agora no fresco seio
Da noite, águias carpindo.
Que silêncio o do raio lunar fechando
As marcas purpúreas da melancolia.

3.
Vós, grandes cidades
petreamente construídas
na planície!
Mudamente,
fronte ensombrada,
o sem-pátria segue o vento,
as árvores nuas na colina.
Vós, rios do longínquo entardecer!
Vermelho crepuscular aterrador
cria portentosos terrores
em nuvens de tempestade.
Vós, povos moribundos!
Pálida onda
desfazendo-se nas praias da noite,
estrelas cadentes.


Ainda, um exemplo da beleza brutal da poesia de Trakl, neste poema em prosa:



Noite de Inverno

Caiu neve. Depois da meia-noite, ébrio de vinho purpúreo, deixas o espaço sombrio dos homens, a chama vermelha do seu lume. Oh, a escuridão!
Geada negra. A terra está dura, o ar tem um sabor amargo. As tuas estrelas juntam-se e formam sinais malignos.
Com passos empedernidos caminhas ao longo da linha férrea, de olhos redondos, como um soldado que ataca uma trincheira negra. Avante!
Neve amarga e lua!
Um lobo vermelho a ser estrangulado por um anjo. As tuas pernas tilintam, a andar, como gelo azul, e um sorriso cheio de tristeza e arrogância empederniu-te o rosto, e a fronte empalidece com a volúpia da geada;
ou inclina-se em silêncio sobre o sono de um guarda que se deixou cair na sua cabana de madeira.
Geada e fumo. Uma camisa branca de estrelas queima os ombros que a vestem e os abutres de Deus dilaceram o teu coração de metal.
Oh, a colina de pedra! O silêncio derrete, e esquecido jaz na neve argêntea o frio corpo.
Negro é o sono. O ouvido segue longamente os atalhos das estrelas no gelo.
Ao despertar tocavam os sinos na aldeia. Da porta do levante nascia, argênteo, o dia rosado.

Hoje nasceu...




3 de Fevereiro de 1887

Georg Trakl

Poeta austríaco






Artigos relacionados:
Biografia
Poemas: Ocidente; Rondee; Melancolia; No Outono; Lamento
Na estante de culto: ”Outono Transfigurado”

Georg Trakl

Georg Trakl, um dos vultos do expressionismo, nasceu em Salzburgo, Áustria, no dia 3 de Fevereiro de 1887, onde passou a infância.
Seguiu a carreira de Farmácia, depois de ter feito um estágio de três anos em Viena. Mais tarde, ingressou nos serviços farmacêuticos do exército. Entre 1912 e 1914 viveu a maior parte do tempo em Innsbruck.
Após a batalha de Grodek, em 1914, na Galícia, foi entregue com outros feridos graves do exército num celeiro, ao cuidado de um tenente quase sem remédios, que pouco podia fazer. Do lado de fora, os desertores eram enforcados e dentro do celeiro, depois de um dos feridos se ter suicidado com um tiro, na sua presença, Georg Trakl tentou também suicidar-se. Foi internado no hospital de Cracóvia, onde veio a falecer em Novembro do mesmo ano, com 27 anos, alegadamente depois de ter ingerido uma fortíssima dose de cocaína.
Na verdade, a sua vida limitou-se apenas a duas coisas: à droga e à poesia. A sua poesia, de declínios e ocasos, de desintegração e ruínas, de decomposição e morte, era uma poesia dolorosamente imbuída da doença do mundo em seu redor, descrente de qualquer cura e nostálgica de um tempo inconcebivelmente remoto.
Trakl considerava-se apenas semi-nascido. Teve uma vida conturbada e profundamente amargurada. Os seus primeiros contactos poéticos foram com Rimbaud, Baudelaire (através da tradução de K.L. Ammer) e Dostoievski.
Georg Trakl era reconhecido por pessoas como os filósofos Wittgenstein, (que apesar de o admirar, dizia não o compreender), e Heidegger, que tentou decifrar a sua "ambígua ambiguidade".
Tornou-se, através dos poemas escritos, sobretudo nos seus dois últimos anos, num dos maiores expressionistas e num poeta de excepção que, estabelecendo o nexo entre a loucura de Hölderlin e o desespero de Paul Celan, tem sido um poeta de culto para um sem-número de leitores devotos.
Obras (Poesia): "Poemas",1913; "Sebastião no Sono", 1915.

Ocidente

(4.ª versão)
Em honra de Else Lasker-Schüller


1.
Lua, como se saísse coisa morta
De azul caverna,
E das flores em botão muitas caem
Sobre o atalho rochoso.
Argêntea, chora coisa doente
Junto ao largo da tarde,
Em negro barco
Amantes se passaram.

Ou são os passos de Élis
Que soam pelo bosque,
O de jacintos,
Perdendo-se de novo sobre carvalhos.
Oh, a imagem do rapaz
Moldada por lágrimas de cristal,
Sombras nocturnas.
Relâmpagos rasgados iluminam-lhe as fontes,
As sempre frescas,
Quando na colina verdejante
Ressoa a trovoada primaveril.
(...)

Georg Trakl
(tradução de João Barrento)