terça-feira, 29 de abril de 2008

Hoje nasceu...



29 de Abril de 1949

Nuno Júdice

Poeta português


Artigos relacionados:
Biografia
Poemas: Primavera ; Semiologia ; Poesia ; Cidade Universitária
Outros artigos: Prémio Ramos Rosa para Nuno Júdice ; Prémio Municipal de Poesia Nuno Júdice

Nuno Júdice

Nuno Júdice nasceu em Mexilhoeira Grande (Algarve) no dia 29 de Abril de 1949.
Licenciou-se em Filologia Românica, e é professor universitário em Lisboa.
Colaborou nas publicações O Tempo e o Modo e Jornal de Letras. Desempenhou, em Paris, os cargos de conselheiro cultural da embaixada portuguesa e foi delegado do Instituto Camões.
Publicou um livro de divulgação da literatura portuguesa do séc. XX em França: Voyage dans uns siècle de Littératura Portuguaise (1993) reeditado e revisto na edição portuguesa Viagem por um século de literatura (1997).
Organizou a Semana Europeia da Poesia, no âmbito da Lisboa '94 - Capital Europeia da Cultura.
A sua obra está traduzida em Espanha, Itália, Venezuela, Inglaterra e França.
Recebeu os prémios: Pen Clube (1985), D. Dinis da Fundação Casa de Mateus (1990), Associação Portuguesa de Escritores (1994), o Prémio de Poesia Pablo Neruda e o Prémio Nacional de Poesia António Ramos Rosa (Câmara de Faro) (2007).

Obra:
Poesia
A Noção de Poema (1972)
O Pavão Sonoro (1972)
Crítica Doméstica dos Paralelepípedos (1973)
As Inumeráveis Águas (1974)
O Mecanismo Romântico da Fragmentação (1975)
Nos Braços da Exígua Luz (1976)
O Corte na Ênfase (1978)
O Voo de Igitur num Copo de Dados (1981)
A Partilha Dos Mitos (1982)
Lira de Líquen - Prémio de Poesia do Pen Clube (1985)
A Condescendência do Ser (1988)
Enumeração de Sombras (1988)
As Regras da Perspectiva - Prémio D. Dinis (1990)
Uma Sequência de Outubro - Comissariado para a Europália (1991)
Obra Poética 1972-1985 (1991)
Um Canto na Espessura do Tempo (1992)
Meditação sobre Ruínas - Prémio da APE (1995)
O Movimento do Mundo (1996)
Poemas em Voz Alta - com CD de poemas ditos por Natália Luiza (1996)
A Fonte da Vida (1997)
Raptos (1998)
Teoria Geral do Sentimento (1999)
Poesia Reunida 1997-2000 (2001)
Pedro lembrando Inês (2002)
Cartografia de Emoções (2002)
O Estado dos Campos (2003)
Geometria variável (2005)
As coisas mais simples - Prémio Poesia António Ramos Rosa (2006)

Ficção
Última Palavra: «Sim» (1977)
Plâncton (1981)
A Manta Religiosa (1982)
O Tesouro da Rainha de Sabá - Conto Pós-Moderno (1984)
Adágio (1984)
A Roseira de Espinho (1994)
A Mulher Escarlate, Brevíssima (1997)
Vésperas de Sombra (1998)
Por Todos os Séculos (1999)
A Árvore dos Milagres (2000)
A Ideia do Amor e Outros contos (2003)
O anjo da tempestade (2004)

Ensaio
A Era de «Orpheu» (1986)
O Espaço do Conto no Texto Medieval (1991)
O Processo Poético (1992)
Portugal, Língua e Cultura - Comissariado para a Exposição de Sevilha (1992)
Voyage dans un Siècle de Littérature Portugaise (1993)
Viagem por um século de literatura portuguesa (1997)
As Máscaras do Poema (1998)
B.I. do Capuchinho Vermelho (2003)
A viagem das palavras: estudo sobre poesia (2005)
A certidão das histórias (2006)

Teatro
Antero - Vila do Conde (1979)
Flores de Estufa (1993)

Edições críticas e antologias
Novela Despropositada de Frei Simão António de Santa Catarina, o Torto de Belém (1977)
Poesia de Guerra Junqueiro (1981)
Sonetos de Antero de Quental (1992)
Poesia Futurista Portuguesa, Faro 1916-1917 (1993)
Cancioneiro de D. Dinis (1998)
Infortúnios trágicos da Constante Florinda, de Gaspar Pires de Rebelo (2005)

Primavera

Nesta primavera, a chuva tem caído como se fosse
Uma primavera de Londres, húmida e mole,
E não a primavera meridional, amena e doce,
Com nuvens e vento, mas sempre com luz e com sol.
Os gatos não saem de ao pé da janela, detrás
Dos vidros, vendo as gotas escorrerem por fora,
Como se suspirassem pelo fim dessa paz
doméstica, ansiosos por saírem a qualquer hora.
No entanto, as grandes nuvens estendem-se pelo céu;
Por vezes, um trovão interrompe o pensamento.
O cinzento derrama-se como um espesso véu,
Ajudado pelo tédio que empurra este vento.
Assim, de manhã, nem abro a janela:
tão escuro é o dia lá fora como cá dentro;
E só o espírito, por inércia, o tempo revela
Se alguém pergunta onde fica o centro?

Nuno Júdice


Na voz de Luís Gaspar:

Semiologia

Digo: o amor. Há palavras que parecem sólidas,
ao contrário de outras que se desfazem nos dedos.
Solidão. Ou ainda: medo. As palavras, podemos
escolhê-las, metê-las dentro do poema como
se fosse uma caixa. Mas não escondê-las. Elas
ficam no ar, invisíveis, como se não precisassem
dos sons com que as dizemos.

Nuno Júdice


Interpretado pela Andante:

Voz: Cristina Paiva; Música: Sétima Legião; Sonoplastia: Fernando Ladeira

Poesia

O passado servia-me de alimento. A memória dava-me
o fogo de que eu precisava – mesmo que esse fogo ardesse
no lume brando da imaginação. As árvores, os pássaros,
os rios, eram imagens que não passavam da literatura,
como se fossem apenas as árvores do poema, os
pássaros de um canto melancólico, os rios por onde
corre o tempo da filosofia. Agora, ao lembrar-me
de tudo isso, enquanto bebo devagar este copo de
solidão, não reconheço o cenário: como se um vento
tivesse varrido as árvores, um outono tivesse expulso
os pássaros, um inverno tivesse desviado os rios. O
que vejo, neste espaço em que entro pela porta que
me abriste, é mais simples do que tudo isso: tu, com
o rosto apoiado nas mãos, e os olhos que me trazem
todas as certezas do mundo. Guardo comigo, então,
a tua imagem. Vivo cada instante que me deixaste. E
no tempo que nos separa voltam a crescer árvores,
cantam outros pássaros, correm os rios do amor.

Nuno Júdice

Cidade Universitária

Era em Setembro nos anfiteatros vazios,
na alameda que subia para onde nos deviamos encontrar,
e não estavas; era um outono que caía sobre
as árvores do estádio, empurrando-lhes
as folhas para cima da mesa da esplanada, onde está vazia a mesa em
que as minhas mãos deviam procurar as tuas; era
a tua ausência em todos os lugares em que eu sabia
que poderias estar à minha espera, e só a sombra
das nuvens me trazia a memória da tua passagem, como
se fosses a ave que parte quando o primeiro sopro
do inverno se anuncia.

Que fazer sem ti, nestes anfiteatros de bancos
vazios, nos corredores melancólicos que levam para
átrios e pátios, nesses relvados onde não vale a pena
sentar-me, perguntar-te se gostas do outono, ou dizer que
os teus olhos é que valem a pena, agora que vejo, neles,
as nuvens que correm para o sul? E tu, sem estares aqui,
dizes-me que não é preciso que eu me lembre de ti; que
estás para chegar, de trás das árvores do estádio, para
limpares de folhas a mesa da esplanada, e pedires-me que
pegue nas tuas mãos, como se o inverno
não estivesse para chegar.

Mas um cansaço antigo prende-me a estes bancos
de anfiteatro; uma indecisão de passos empurra-me por
corredores e salas, em busca de um bar que fechou
há muito; o vento varreu as folhas da mesa
da esplanada, tirando a única justificação para que venhas. Abro,
então, as gavetas do passado. Tiro cartas, fotografias,
poemas, o livro em que me escreveste a frase interrompida
do amor. Como se eu não soubesse que as nuvens encheram
de sombra todas as imagens; que os pássaros levaram
para o sul tudo o que tinhas para me dizer; que
as folhas no chão cobriram o teu corpo, antes que
o inverno tivesse de o fazer.

Nuno Júdice


Na voz de Frederico Hartley:






Poesia e Transcendência no Clube Literário do Porto

6 de Maio
Seminário Poesia e Transcendência - Ruy Belo
Cátedra Poesia e Transcendência - Sophia de Mello Andresen

9:00h
Conferência
Prof. Doutor Manuel Sumares
“Intuição em Poesia e a Metafísica”

Debate 11:00h Mesa Redonda
Prof. Arnaldo Saraiva
“Ruy Belo: Primeiros Poemas”
Fernando Guimarães
“Possibilidades de Leitura”
Diogo Alcoforado
“Circunstancialidade e Transcendência, A propósito de Ruy Belo”

13:00h
Almoço
Universidade Católica

14:30h Conferência
Doutor Manuel António Ribeiro
“O nocturno problema de Deus, na Poesia de Ruy Belo”

Debate 16:30h Mesa Redonda
Prof. Seabra Pereira
“Ruy Belo, uma Poesia a que Deus morreu?”
Prof. João Amadeu
“Entre a pedra e o voo n’ “A Margem da Alegria” de Ruy Belo”
Prof. José Cândido O. Martins
“Ruy Belo e a reflexão metapoética: a função inquiridora da Palavra”
Moderadora
Prof. Doutora Maria João Reynaud
..........
Exposição Coisas do Silêncio
evocativa de Ruy Belo, da autoria de Duarte Belo.

sábado, 26 de abril de 2008

Venham daí esses poemas de escárnio e maldizer!


Depois dos desafios anteriores que mereceram o vosso empenho, aqui fica mais um para que me enviem poemas de vossa autoria. Desta vez, escárnio e maldizer!
Podem enviar-me os vossos poemas até 15 de Junho. Publicá-los-ei todos no dia 23 de Junho (sem qualquer espécie de censura, como habitualmente). No final, também como já vem sendo hábito, seleccionarei um poema que será gravado em audio pelo locutor Luís Gaspar, e será apresentada aqui essa versão em audio. Para além disso, entrará na rubrica "Lugar aos Outros" do audioblogue "Estúdio Raposa" de Luís Gaspar.
Já sabem: não se acanhem. Vistam-se de trovadores e dêem largas à sátira e à crítica!
O e-mail para onde devem enviar os vossos poemas é: porosidade.eterea@gmail.com
Boa inspiração!

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Trova do Vento que Passa

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio — é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Quatro folhas tem o trevo
Liberdade quatro sílabas
Não sabem ler, é verdade
aqueles para quem eu escrevo

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

Manuel Alegre


Manuel Alegre acompanhado por Carlos Paredes:



LJS & Pacman:

terça-feira, 22 de abril de 2008

LER


Hoje, terça-feira, a partir das 21h30, no Belém Bar Café (junto ao Museu da Electricidade, em Lisboa), terá lugar a apresentação da nova revista LER.

Sob a direcção de Francisco José Viegas, a Revista LER passa a ter uma periodicidade mensal.
Neste primeiro número da nova LER, uma entrevista a Lobo Antunes, as ideias de Paulo Teixeira Pinto para a editora Guimarães (e a lista dos 50 escritores mais influentes do século XX), os tops dos livros mais vendidos em Portugal e os rumores sobre o universo editorial.
O blogue da LER fica aqui.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Outras sugestões para os próximos dias


23 de Abril (quarta-feira) Dia Mundial do Livro:


LISBOA - Promoções na Assírio & Alvim

Durante todo o dia, os livros do catálogo da Assírio & Alvim serão vendidos na livraria (Rua Passos Manuel, n.º 67-B) com 50% de desconto (excepto para livros publicados há menos de 18 meses).


PORTO - Apresentação
23 de Abril: Sessão de apresentação do livro "Poética do Instante Filosófico" de Luís Lourenço, no Clube Literário do Porto (Rua Nova da Alfândega nº 22), pelas 21.30h.
A apresentação está a cargo de Helena Padrão; a declamação de poesia será feita por Paulina de Sousa e Miguel Leitão.

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24 de Abril (quinta-feira):


LOULÉ - Recital
Dia 24 de Abril às 21h30:
Na Biblioteca Municipal Sophia de Mello Breyner, em Loulé:
Recital Poético-Musical "Palavras Interditas" pelo Grupo Experiment'Arte
Organização de Município de Loulé
No âmbito do Plano Nacional de Leitura; Inserido nas comemorações do 25 de Abril de 1974

TORRES VEDRAS – Leitura de Poesia


24 de Abril - 22 horas:

Sessão de Leitura de Poesia Clássica, festejando a Noite da Liberdade.
Na Livraria LivrodoDia, em Torres Vedras, com leitura de textos poéticos de gregos e latinos. A escolha, da responsabilidade de André Simões, inclui Ovídio, Catulo, Safo, Álcman, Semónides, Íbico e Anacreonte, entre outros.
A dar voz estarão Luís Filipe Cristóvão e Mário Lisboa Duarte.
Mais informações aqui: http://www.diariodeumlivreiro.blogspot.com/


LISBOA – Fernando Pessoa e Walt Whitman
A Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento apresenta esta quinta-feira, 24 de Abril, às 18h30, no Auditório da Fundação (Rua do Sacramento à Lapa, 21), a palestra Fernando Pessoa e Walt Whitman pelo escritor, tradutor e investigador Richard Zenith precedida pela leitura de Saudação a Walt Whitman, de Álvaro de Campos, pelo actor João Grosso.
Sessão integrada no ciclo Asas Sobre a América/WIings Over America.

TONDELA - Espectáculo de Poesia
24 Abril, às 21.30h:
"A ver o mar"
um espectáculo de poesia sobre o mar.
Na Biblioteca Municipal de Tondela.
Pela Andante.
Espectáculo integrado no programa de itinerâncias da DGLB.



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25 de Abril (sexta-feira):

PORTO – Clube Literário do Porto
Dia 25 de Abril, no Piano-bar, pelas 21:30h:
Universos Paralelos
Poemas Escolhidos por António Domingos








SILVES – Bienal de Poesia
De 25 a 27 de Abril:
Na Biblioteca Municipal de Silves
III Bienal de Poesia, Poemart'Arte//Nas Margens da Poesia
Organização de Município de Silves
Integrada nas Comemorações do 25 de Abril, na inauguração da Biblioteca Muncipal de Silves e na homenagem a Urbano Tavares Rodrigues; Participação do grupo Experimentarte

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26 de Abril (sábado):

PORTO – Clube Literário do Porto




Dia 26 de Abril:
Na Cave, às 21:00h:
Jogo Teatral
Projecto: Abril Poesias mil (Planeta Terra)
Alunos do Instituto Piaget (Campus – Vila Nova de Gaia)
Coordenação: Mestre Amara Chagas - AmarArara – Ver(melha)
Intervenção Mestre Amara Chagas


SESIMBRA - Espectáculo de Poesia
26 Abril, às 15.30h:
"Às avessas":
um espectáculo que tenta revelar o prazer que os livros podem proporcionar e como eles nos podem ensinar a ver as coisas sob outra perspectiva.
A poesia, a forma escolhida pela personagem do espectáculo, guia esta viagem onde se encontrarão a natureza, o tempo, as letras, a noite, a banda desenhada, tudo dentro de uma biblioteca
.
Na Biblioteca Municipal de Sesimbra.
Pela Andante.
Espectáculo integrado no programa de itinerâncias da DGLB.

sábado, 19 de abril de 2008

Hoje nasceu...



19 de Abril 1932

E. M. de Melo e Castro

Poeta português


Artigos relacionados:
Biografia
Poemas: Queda no Real ; Cara lh ama ; Poesia Visual
Estante de Culto: ”Corpos Radiantes”

E. M. de Melo e Castro

O poeta, crítico e ensaísta E. M. de Melo e Castro nasceu na Covilhã, no dia 19 de Abril de 1932. Formou-se em Engenharia Têxtil em Bradford (Inglaterra), em 1956. Foi professor de Design Têxtil no IADE (Instituto Superior de Arte, Design e Marketing). É Doutorado em Letras pela Universidade de São Paulo (1998) onde foi professor na área de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa.
Praticante e teórico da Poesia Experimental Portuguesa nos anos 60, introdutor em Portugal da Poesia Concreta (Ideogramas, 1961), é considerado pioneiro na videopoesia (Roda Lume, 1968). Entre 1985 e 1989 desenvolveu na Universidade Aberta de Lisboa um projecto de criação de videopoesia denominado "Signagens". Melo e Castro tem colaboração poética em numerosas revistas internacionais e portuguesas. Está representado em várias antologias em Portugal e no estrangeiro. Tem participado, individual e colectivamente, em numerosas exposições nacionais e estrangeiras, de poesia experimental. Foi galardoado com o Grande Prémio de Poesia Inaset-Inapa, 1990 e Prémio Jacinto do Prado Coelho, da delegação portuguesa da Associação Internacional dos Críticos Literários, 1995.
Autor de uma vasta obra iniciada em 1950, já publicou mais de trinta livros de poesia e dezassete com ensaios críticos e teoria literária. Alguma da sua poesia está traduzida para Espanhol, Francês e Inglês.

Queda no Real

entre o real e o irreal
está a ambiguidade do imaginário

entre o real e o imaginário
está a ambiguidade dupla da invenção

entre o imaginário e o irreal
está a duplicidade ambígua da fantasia

entre o real e a invenção
está a ambiguidade tripla do rigoroso

entre o irreal e a fantasia
está a triplicidade bi-ambígua do sonho

entre o rigoroso e o real
está a quádrupla ambiguidade da ciência

entre o sonho e o irreal
está a quíntupla multi-ambiguidade da alucinação

entre a ciência e a alucinação
está a exponencial simplicidade
da dupla real e irreal

em gravidade zero

E. M. de Melo e Castro

Cara lh ama

amam-no todos
uns porque o têm
bem colocado e erecto
outros porque a foda
sem ele não bate certo

e se o nariz não chega
e os dedos se dispersam
só ele é que é capaz
de entrar todo na toda
discreto e bom rapaz

e os tristes que o não têm
amam-no doutra maneira
distantes e macios
não sabem se se vêm
ou se é só caganeira

E. M. de Melo e Castro

Poesia Visual





















todos os poemas são visuais
porque são para ser lidos
com os olhos que vêem
por fora as letras e os espaços
mas não há nada de novo
em tudo o que está escrito
é só o alfabeto repetido
por ordens diferentes
letras palavras formas
tão ocas como as nozes
recortadas em curvas e lóbulos
do cérebro vegetal: nozes
os olhos é que vêem nas letras
e nas suas combinações
fantásticas referências
vozes sobretudo da ausência
que é a imagem cheia
que a escrita inflama
até ao fogo dos sentidos
e que os escritos reclamam
para se chamarem o que são

ilusões fechadas para
os olhos abertos verem

E. M. de Melo e Castro

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Novidades Assírio & Alvim


ANÓNIMO TRANSPARENTE - Uma interpretação gráfica de Fernando Pessoa
Autor: Hermenegildo Sábat
Apresentação de: José Saramago
Colecção: B.D./Cartoons/Ilustração

Inspirado pelas múltiplas faces e facetas de Fernando Pessoa, o cartoonista uruguaio Hermenegildo Sábat construiu uma série de desenhos do poeta. Ilustrado com passagens do Livro do Desassossego, Anónimo Transparente - Uma interpretação gráfica de Fernando Pessoa é apresentado pelo escritor português premiado com o Nobel da Literatura em 1998, José Saramago.



JÁ CÁ NÃO ESTÁ QUEM FALOU
Autor: Alexandre O’Neill
Edição de: Maria Antónia Oliveira e Fernando Cabral Martins
Colecção: Obras Completas de Alexandre O’Neill

Reúnem-se neste volume prosas dispersas de Alexandre O’Neill. O título foi encontrado no espólio do escritor, numa nota manuscrita datável de 1981: «JÁ CÁ NÃO ESTÁ QUEM FALOU / (título para um livro póstumo)».
A seriação guia-se pelo critério cronológico, à excepção das recensões a livros. De cada texto, no caso de ocorrerem várias publicações, é escolhida a última, menos no caso dos textos «O Clube dos Talentosos» e «Histórias Quadradinhas», dos quais foi escolhida a primeira versão, por ser notavelmente mais extensa.
São uniformizados os critérios ortográficos, como a utilização de itálicos em palavras estrangeiras, e corrigidas as gralhas, recorrendo às publicações existentes ou a dactiloscritos deixados pelo autor.

Palavreando em Odivelas

Vai realizar-se amanhã, 18 de Abril, mais uma tertúlia "Palavreando", pelas 22 horas, na Casa do Largo, Centro de Exposições de Odivelas.
Um local onde os tertulianos poetas, escritores, amantes da poesia, anónimos ou conhecidos conversam, ouvem e lêem poesia.

Novidades Campo das Letras



CRISTAL DA PELE

Poemas por dentro das mãos
José Manuel Carreira Marques

Poemas de José Manuel Carreira Marques com desenhos inéditos do escultor Jorge Vieira.

domingo, 13 de abril de 2008

Outras sugestões para os próximos dias


15 de Abril (terça-feira):


LISBOA – Apresentação
No dia 15 de Abril, terá lugar na Fnac do Chiado, pelas 17h a sessão de apresentação do livro “Gaveta de Papéis” de José Luís Peixoto (Editado pela Quasi), livro vencedor do Prémio de Poesia Daniel Faria 2008.
Durante o mês de Abril, José Luís Peixoto fará ainda outras apresentações nos dias:
17 - Teatro do Campo Alegre;
18 - Cine-teatro da Lousã;
22 - Escola Secundária de Lousada;
21 e 23 - Matosinhos


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16 de Abril (terça-feira):


LISBOA - "Espiritualidades"
Leituras Sagradas: Com Armando Silva Carvalho, José Alberto Oliveira, Manuel Afonso Costa, Mário Avelar, Luísa Freire, Adília Lopes, Manuela Parreira da Silva e Luís Falcão, entre outros.
Dia 16 de Abril pelas 18:30 horas na Livraria Assírio & Alvim (Rua Passos Manuel, 67 B, Lisboa).


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17 de Abril (quinta-feira):

PORTIMÃO – Lançamento e recital
Dia 17 de Abril, pelas 21h30, na Biblioteca Municipal Manuel Teixeira Gomes:
Lançamento do livro de Maria do Vale Cartaxo "O DIA NÃO"
Apresenta a obra José Alberto Quaresma
Recital poético musical “Palavras interditas”, por Experiment´Arte


COVILHÃ – Café Literário
Dia 17 de Abril , no Teatro-Cine da Covilhã - 21.30h:
Café Literário com a presença da poetisa Rita Taborda Duarte e do escritor Mário de Carvalho. Apresentação a cargo do escritor Manuel da Silva Ramos. O Grupo de Jograis "U...Tópico" lerá pequenos excertos do livro infantil "A verdadeira história de Alice" e "Poética Breve" de Rita Taborda. Em relação a Mário de Carvalho serão lidos pequenos excertos do seu mais recente livro "A Sala Magenta". No final da sessão os autores dialogarão com os presentes sobre a sua vida e obra.

Durante o mês de Abril, O Grupo de Jograis "U...Tópico" fará ainda outros recitais nos dias:
18 de Abril - Universidade Intergeracional de Benfica - 16h:
Poesia de Cesário Verde
23 de Abril - FNAC Alfragide (Centro Comercial Alegro) - 21h:
Participação do Grupo de Jograis "U...Tópico" sobre o tema "A Prosa e o Livro".
25 de Abril - Paços do Concelho da Assembleia Municipal de Alcochete - 20.30h:
Sessão Solene em comemoração do 25 de Abril que o Grupo de Jograis "U...Tópico" encerrará com "Poesia de Intervenção de todos os tempos".


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19 de Abril (sábado):


COIMBRA – Revista BigOde
Dia 19, em Coimbra, na Galeria Bar Santa Clara (R. António Augusto Gonçalves, 67), pelas 22.30h, terá lugar mais uma apresentação da Revista BigOde nº4, com Leitura de poemas e textos da Big Ode por: Henrique Fialho, Mário Calado Pedro, Arturo Accio, Fernando Dinis, Mª João Lopes Fernandes, Rui Carlos Souto, Rute Mota, Rodrigo Miragaia, Alexandre Nave, Sara Monteiro, José Carreiro, Hilda Paz e Tiago Gomes.



MOURA - Recital de Poesia
Dia 19 de Abril, a Andante apresenta "Às escuras, o amor", pelas 21h30, na Feira do Livro de Moura.
A Associação Artística Andante corre o país de lés a lés desde 1999 com espectáculos, recitais, ateliês, leituras em voz alta... procurando sempre novos públicos para a poesia e para a prosa e especialmente para o teatro, através dos princípios da curiosidade e do prazer.
Os espectáculos não são recitais no seu sentido mais convencional. Partem de um conjunto de formas possíveis (e às vezes impossíveis) de ler um texto.
As imagens são construídas dentro de cada pessoa a partir da sonoridade que as palavras têm (porque para além de um sentido, também possuem a sua sonoridade) e da sonoplastia que a Andante lhes impõe para lhes dar uma nova "versão".
“Às escuras, o amor” (que é também o título de um poema de David Mourão Ferreira), tem poemas de vários autores (maioritariamente portugueses) sobre o Amor.

sábado, 12 de abril de 2008

Anónimo Transparente


No âmbito das comemorações dos 120 anos de Fernando Pessoa, a Assírio & Alvim vai lançar o livro Anónimo Transparente – Uma Interpretação gráfica de Fernando Pessoa com a inauguração de uma exposição de aguarelas da autoria do cartoonista uruguaio Hermenegildo Sábat.
Hoje, 12 de Abril, das 17.00h às 21.00h, na Sede da ABBC – Sociedade de Advogados (Largo de São Carlos, 1-7 [em frente ao Teatro São Carlos, no Chiado]).

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Daniel Gonçalves vencedor do Prémio LABJOVEM

Daniel Gonçalves ganhou o Prémio LABJOVEM - Jovens Criadores dos Açores, na área de Literatura com “Poemas do tempo claro das coisas (sussurrados de novo)”, tendo-lhe sido atribuída uma bolsa de estudo nos EUA.

Daniel Gonçalves nasceu na Suíça e reside em Vila do Porto, na ilha de Santa Maria. É licenciado em Ensino de Português pela Universidade do Minho, exercendo actualmente as funções de professor na EB 2,3/S Bento Rodrigues. Participou nas revistas literárias “Neo” e “Saudade” e editou já várias antologias de poesia como “A respiração dos gestos” Difel (2000), “Um lugar onde supor o silêncio” Labirinto (2004), "Afecto das palavras" Labirinto (2004) e "Dez anos de solidão" Labirinto (2007).
Participou ainda nos livros antológicos, “Isto é Poesia” (Labirinto, 2004) e “afectos 1” (Labirinto 2006). Como coordenador reuniu em três volumes uma recolha do património literário de Santa Maria, Açores, intitulado “A memória é uma pedra que arde por dentro”.
Foi galardoado com vários prémios, como o Primeiro Prémio de Poesia do Concurso Internacional de Poesia do Centro Internazionale Amici Scuola (CIAS), promovido pela UNESCO, Itália, em 1993; o Prémio de Revelação de Poesia em 1997, promovido pela Associação Portuguesa de Escritores/Instituto Português do Livro e das Bibliotecas e o Prémio Cesário Verde em 2003.

Aqui ficam dois Poemas do tempo claro das coisas:

deriva:
mamífero solto
na sombra cega
da água

linhas infindáveis
na mágoa do sul

os sentidos
imperceptíveis
do sal
do olhar

.........

pela bonina
menina
solar fina

as passadas
pesadas
da alma

saíram pela janela
para ser mais
bela
a calma

Começa hoje

10 de Abril a 10 de Maio, de segunda a sábado
nas livrarias Assírio & Alvim (das 10h às 13h e das 14h às 19h)
e Aillaud e Lello (das 10h às 19h).

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Leonilda Cavaco Alfarrobinha

Não percam, hoje 9 de Abril, na SIC Mulher, pelas 18H50, o programa “O Mundo das Mulheres” (cujo tema de hoje será A Rota do Oriente), onde estará presente a poetisa Leonilda Cavaco Alfarrobinha que falará do Japão (a sua especialidade) e do seu livro de Haiku “O Respirar das Flores” (edição Pássaro de Fogo).

Em “O Respirar das Flores” vemos desfilar múltiplos aspectos das culturas portuguesa e japonesa, ao longo das quatro estações do ano. É, portanto, um livro luso-japonês (palavras da autora), de poesia haiku (poesia tradicional japonesa). Este livro de Leonilda Alfarrobinha conta também com pinturas de Takae Nitahara (artista japonesa que reside no nosso país), juntando numa só obra a arte poética e a arte pictórica.
Este conjunto de 61 haiku recebeu uma menção honrosa no Concurso Nacional de Poesia – Prémio Cesário Verde, atribuído pela Câmara Municipal de Oeiras, em 2005.
O haiku define-se como uma forma poética que, quanto à forma, tem três versos curtos e, quanto ao conteúdo, expressa uma percepção da natureza. Constitui uma forma de poesia breve, depurada, simples e fluente.

Aqui ficam dois haiku deste livro:

no frio do inverno
as camélias florescem
coração à espera

lua cor de mel -
a noite entra no meu quarto
sem pedir licença

Quem não tiver um televisor por perto, pode assistir pela internet, aqui:
http://www.sintonizate.net/tvonline/canal/SicMulher.html

O Discurso do Método

Depois de, no passado mês de Fevereiro, Nuno Rebocho (que vive actualmente em Cabo Verde) ter vindo a Portugal apresentar no Centro Cultural da Malaposta e no Clube Literário do Porto o seu último livro de poesia “O Discurso do Método” será agora a vez de o mesmo livro ser apresentado em Cabo Verde.
A sessão será amanhã, 10 de Abril, na Cidade da Praia (no auditório do CCP), pelas 18.30 horas.
António Silva Roque apresentará o livro, Tó Alves fará uma intervenção musical e Nuno Rebocho dirá poemas.
Este livro de Nuno Rebocho é uma recolha de poemas que foram sendo publicados na revista de poesia “Plágio” e que agora surgem compilados em livro. Foi editado pela Editora Canto Escuro e o posfácio é do poeta Jorge Velhote.

“Tu procuras a sementeira que alguém rasgou pois esse é o sinal
de que chegarão as asas das aves quando o sol mourejar.
Então os estampidos traduzem os homens cujas bocas se abeiram dos regatos
para tomar em mãos o sangue da carnificina e então serás
o que há-de vir no percurso dos silêncios, o mesmo percurso das tectrizes
e das borboletas que, porque voam, navegam entre as papoilas
e as estevas. E então dirás que a liberdade também se esquece
como o furor aquece a linfa. E então estarás teso
como o eucalipto que já secou a fonte.”

in “O Discurso do Método”

Na estante de culto





“E no Fim Era a Poesia”

Myriam Jubilot de Carvalho
Nova Vega Editora
2007

Myriam Jubilot de Carvalho é um dos grandes nomes da poesia portuguesa contemporânea.
Sobre o seu anterior livro “Cinco x Cinco 25 Poemas”, afirmou F. A. Pamplona que estamos perante Grande Poesia: rigorosa na sua elaboração, e acima de tudo, dadivosa de deleite estético ao leitor.
Neste "E no Fim Era a Poesia" Myriam Jubliot de Carvalho faz-nos navegar em ondas revoltas de belíssimos e fortes poemas de amor (e desamor). Ao viajarmos pelas páginas deste livro, sentimos a brisa do mar, o cheiro dos pinhais, os beijos e as dores dos amantes. Numa escrita límpida, viva, rigorosa e apaixonante.


O fogo condutor
são os teus olhos —
ó meu colar de estrelas

.............


Abri os pulsos a golpes de
machado —
junto à boca do inferno.

É inverno, meu amor.

E os círculos das
ondas em
seu esgar sal-
gado
lembram, amargos,
algum transverso ombro
materno
("Medeia,
porquê a ira pesada
na alma que te cai?").

Hoje tomei um lírio nos dentes. Lancei-me
da janela. Afinal,
há laranjas
amarelas

.............


Vai vesga e lenta a molenga da noite
estreitando o abraço brando da morte,
açoitando os ossos e entranhas da alma.

Não sei gruta nem lura onde me acoite
nem cafurna de hospício onde pernoite.
Desmoronou-se o antigo forte.

Vai morno e lento o solstício da morte

.............


Myriam Jubilot de Carvalho nasceu em Tavira em 1944 e é licenciada em Filologia Românica. Tem publicado conto, poesia, estudos e teatro para crianças e está também representada em várias colectâneas e antologias como Anuário de Poesia (1987), Conto (1992), Literatura Actual de Almada (1998), Subsídios para a História da Poesia no Algarve, séc. XI ao séc. XX (2000), Poetânea (2003), Dicionário Internacional de Arte y de Literatura Contemporanea (2007).
Foi prémio do concurso nacional de conto da Câmara Municipal de S. Pedro do Sul, em 1992.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Hoje nasceu...



8 de Abril de 1920

Egito Gonçalves

Poeta português





Artigos relacionados:
Biografia
Poemas: Muda-se o tema, onde o mar começa... ; Origem dos sonhos Esquecidos

Egito Gonçalves

José Egito de Oliveira Gonçalves nasceu em Matosinhos no dia 8 de Abril de 1920 e foi poeta, editor e tradutor.
Iniciou a sua actividade literária nos anos de 1950 com a publicação de Poemas Para os Companheiros da Ilha. Teve como actividade profissional a administração de uma editora e a sua intensa actividade de divulgação cultural e literária concretizou-se na fundação e/ou direcção de diversas revistas literárias, como A Serpente, Árvore, Notícias do Bloqueio, Plano e Limiar (onde foi director da colecção de poesia "Os olhos e a memória").
Egito Gonçalves participou em vários movimentos anti-fascistas, no plano cultural e na acção política. Pertenceu ao M.U.D. e às Comissões Nacional e Executiva do III Congresso de Aveiro, e desenvolveu actividades de animação cultural no Porto, tendo pertencido à direcção do Teatro Experimental do Porto, do Cineclube do Porto, da Cooperativa Árvore e da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto. Integrou também a Sociedade Portuguesa de Escritores (Delegação Norte), a Associação Portuguesa de Escritores, a Sociedade Portuguesa de Autores e o PEN Clube Português. Internacionalmente, pertenceu ao "Congresso para a Liberdade da Cultura" (França) e à "Comunitá Europea degli Scrittori" (Itália). Foi membro da "Hispanic Society of America" (Nova Iorque) e correspondente do "Centre International d'Études Poétiques" (Bélgica). Dedicou-se também à tradução de poesia e foi autor de uma Antologia da Poesia Espanhola do Após-Guerra (1962) e de recolhas de poetas como Pier Paolo Pasolini, Nicola Vaptzarov, Attila Józef, Yannis Ritsos, Roberto Juarroz, Eeva Liisa-Männer, Guillevic, Derek Walcott, etc.
Foi-lhe atribuído o Prémio de Tradução Calouste Gulbenkian, da Academia das Ciências de Lisboa - 1977, com a sua selecção de Poemas da Resistência Chilena e, em 1985, o Prémio Internacional Nicola Vaptzarov, da União de Escritores Búlgaros. Obteve ainda o Prémio de Poesia do Pen Clube - 1995 e o Grande Prémio de Poesia da APE com o seu livro E No Entanto Move-se (1995), obra que ganhou também o Prémio Complementar Eça de Queirós da Câmara Municipal de Lisboa. Em 1994 foi condecorado pelo Presidente da República com o Grau de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique. Foi também condecorado com a Ordem de Cirilo e Metódio (1ª classe) do Estado Búlgaro, a medalha "Pro Cultura Hungarica" do Governo Húngaro, a Medalha de Bronze da "Renaissance International des Arts et des Lettres" de Paris e a Medalha de Mérito Dourado, concedida pelo Município de Matosinhos.
Egito Gonçalves faleceu no Porto, no dia 29 de Janeiro de 2001.
A sua obra encontra-se traduzida em francês, polaco, búlgaro, inglês, turco, romeno, catalão e castelhano.

Obra:
Poemas para os Companheiros da Ilha, 1950
Um Homem na Neblina, 1950
A Evasão Possível, 1952
O Vagabundo Decepado, 1957
Um Tradutor Fora de Pasternak, 1959
A Viagem com o Teu Rosto, 1959
Memória de Setembro, 1960
Diário Obsessivo, 1962
Poesia Espanhola do Após-Guerra, 1962
Os Arquivos do Silêncio, 1963
Autobiografia Prematura, 1967
O Fósforo na Palha, 1970
O Amor Desagua em Delta, 1971
Poesia 70, 1971
10 Poemas para Che Guevara, 1972
Poesia 71, 1972
Contos Soviéticos, 1973
Destruição: Dois Pontos, 1973
Luz Vegetal, 1975
As Zonas Quentes do Inverno, 1977
Poemas de Resistência Chilena, 1977
As Cinzas de Gramsci, 1978
A Nordeste de Junho, 1979
Poemas do Último Século Antes do Homem, 1979
Palácio de Inverno, 1980
Poemas do Combate Palestiniano, 1980
Poemas Políticos: 1952-1979, 1980
Poemas, 1980; 1984
Os Pássaros Mudam no Outono, 1981
Quatro Poetas Revolucionários Búlgaros, 1982
Falo da Vertigem, 1983
Notícias do Bloqueio: Algumas Traduções, 1983
Não Sou Eu Que Grito, 1986
As Margens do Murmúrio, 1987
Orfeu 4, 1988
Um Mundo Claro, Um Dia Escuro: Oito Poetas Holandeses, 1988
Dedikatória, 1989
A Voz Melodiosa, 1990
Todos Mentem, 1990
O Pêndulo Afectivo: Antologia Poética, 1991
Poetas Húngaros, 1991
Três Poetas Húngaros: Lajos Kassák, János Pilinszky, Sándor Kányádi, 1991
Obabakoak: Um Lugar Chamado Obaba, 1992
A Mãe, 1994
Horas Más, 1994
Quinze Poetas Catalães, 1994
E No Entanto Move-se, 1995
Uma Rã Que Salta: Homenagem a Bashô, 1995
O Rio Leça, 1995
Com Cisnes sob o Fogo do Canhão, 1998
O Mapa do Tesouro, 1998
Muda-se o tema, onde o mar começa.
A aventura é o mar ou essa forma
que se forma depois, que vai viver
na memória dos dias? De uma ilha lembro
onde o mar me levou e do conhecimento
várias portas me abriu. O oceano
começava antes, acabava depois, ali
só prosseguia, embalando-me em noites
de velame abatido, de fáceis ananases,
de alta mastreação tocada de saudade
lucilante como a esteira do luar.
Mais tarde soube que estava sem trabalho
pois não havia Índias nem de infantas
o prémio de um sorriso. Mas combates
havia para outros, torpedos e canhões
longe não andavam. Daquela guerra
eu só fingia ser. Ancorado veleiro
eu pensaria a ilha, verde como o slogan,
nela não enjoava como, sobre o mar,
me acontecia nos navios da Insulana.
Marinheiro, eu não era. O mundo antigo
vivia-se nos livros, reproduções offset
multiplicavam os atlas, alguns poetas
banhariam na Grécia os seus poemas. Eu,
estava ali, parado no tempo, onde
o mar começava e acabava, esperando
que na praça da Matriz o relógio do sono
badalasse o regresso. A minha casa
estava a oriente, ali acabaria
para mim o mar, e só quando da praia
o visse, a imaginação poderia segredar-me
que os meus pés começava e da viagem
seria excluído. Um rosto sem segredos
que as marés negras adoecem, e me acena
quando o avião desce e os motores destroçam
um mar de nuvens que se desfaz e recomeça.

Egito Gonçalves
Origem dos sonhos Esquecidos

Tudo vai bem, amor! Aqui estamos longe!
Aqui malogra-se a abordagem dos terrores,
ninguém descarna o sonho ou a esperança,
não há fantasmas de espingarda ao ombro,
ninguém agoniza chicoteado pelas sombras...
Aqui não há ditadores nem guilhotinam os oráculos,
ninguém encobre estrelas com areia,
não cortam com navalhas os seios das mulheres,
nem se incendeiam ghetos com corpos de crianças:
é tudo útil, simples, como um campo de trigo
- a Esfinge é um animal de pedra muito gasta.
Os poetas podem passear nas ruas; a paz
não é uma aranha sobre a terra árida.
O sono não se povoa de estátuas de ameaça,
o amor não de faz de coração crispado:
o leito do amor é a simples terra nua.

Egito Gonçalves

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Os vossos poemas

O último desafio que vos lancei foi para que me enviassem os vossos poemas dedicados a outros poetas.
Conforme prometido, aqui estão todos os que me chegaram até hoje e, no final, o poema que foi escolhido para ser gravado em áudio pelo locutor Luís Gaspar.
Obrigada pela participação e... até ao próximo “espaço aberto”!



A Fernando Pessoa

a noite embala a tua dor,
mestre dos sonhos e do pensamento
cujos versos não trazem esperança

são antes lembrança de melancolia
divagação de todo o momento

saudades de uma infância perdida
impressões imaginárias de melodia
só tuas... senhor do Quinto Império.

as ondas passadas levam o amor
desconhecido para o olvido e o mistério
e cada palavra tua é a memória
de que o Poeta anseia Glória.

em tua alma o cepticismo
a loucura e o eufemismo
arrependimento e desejo de união

sofre. pois serás recordado,
por quem vive amargurado
preso nas garras desta transcendente
..................................solidão.

António João Mito


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Mensagem a um poeta vindouro...

Tu que também sentes como eu
Procurando nas palavras o descanso
Que vês o fogo a arder no céu
Entristecendo as ondas do mar manso

Tu que choras em teus versos
E pensas que a vida nada oferece
E vês o amor do gestos dispersos,
Cada linha te esconde, o que merece.

Não anseies maldade ou guerra
Ou a exaltação da tua glória...
Sente o calor húmido da terra
Sê herói sem paz nem vitória...

Junta-te ao ecoar das águas
E canta sem seres ouvido...
Ergue alto a voz e as mágoas
Que todos encerram no olvido.

E mais tarde, talvez...
Esculpas teu mórbido corpo
Ao lado dos que não vês...
Mas te inspiram, estando morto.

António João Mito


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Sou tal qual um vagabundo,
Feito de mundo,
Dono de nada.

Visto a pele de poeta,
Mas a alma trago desnuda,
Pois a alma não se veste,
A alma é essência pura.

Mordisco estes versos,
Saídos desta fome de pensar,
que me convida a agir.

A ti, amigo poeta,
Eu quero ir.

Quero levar-te um sorriso da alma,
Que te ajude a secar a lágrima,
Que no teu rosto teima em sobreviver.

Quero abraçar-te com emoção,
Para te ajudar a superar a tristeza,
Que teus olhos te dão,
Porque se deixam perturbar,
Pela iniquidade,
Pela injustiça,
Pela pobreza.

Só se é pobre de espírito, bem sei,
Mas há milhares a penar,
Sem pão,
E muitos a ostentar a opulência,
E a fazerem guerra por ambição,
Na pura conquista de mais riqueza.

Sei, que teu lamento,
É semelhante ao meu, companheiro,
É ele que nos incentiva,
nos dá o sustento,
Que nos ajuda a combater com a palavra,
A ganhar coragem,
E a gritar a verdade com firmeza.

O néscio, o inepto, o cobarde, o timorato,
Não ousam viver assim,
Apenas se consentem vegetar.

Mas venho para te dizer, amigo,
Que quero contigo repartir este grito
De revolta nossa,
E escutar no teu peito,
o eco deste sentimento,
que transformei para ti em poema.

Beatriz Barroso


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Daqui,
deste recanto em que estou,
desta esquina do que sou,
neste espaço em que me dou,
neste lugar no qual às vezes sufoco,
neste terreno em que desbravo meu ser,
no qual caio e padeço de dor,
no qual me levanto e me obrigo a crescer,
fazendo o culto de minha auto-estima,
invento-me dia a dia,
como pessoa humana.

Daqui,
deste paralelo,
deste fuso horário,
deste meridiano,
que nos separa,
venho dizer-te,
amigo poeta,
que te abraço com o coração,
que te entrego uma mão amiga,
porque me indicas o caminho,
que me ajuda a sobreviver ao infortúnio,
que me faz vencer as minhas intempéries,
a desafiar o próprio destino,
aprendizagem que fiz contigo,
inventando-me como tu, poeta,
enquanto arauto de minha alegria.

Beatriz Barroso


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Eu sou réplica,
Tu, ousadia,
Tu és poeta,
Eu, tua musa preferida.

Tu usas a palavra,
Eu ofereço-te o mote,
Eu faço a apologia da vida,
Para que tu escrevas poesia.

Tu és o poeta que se busca,
Eu busco o ser,
Sou a tua melhor amiga.

Meu nome?
Se tu o quiseres saber,
— É Alegria!

Beatriz Barroso


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“De poeta para poeta”

Ai que saudade,
Me invadiu agora,
Ai que tormenta me faz este silêncio!
Há quanto tempo,
Não me abraçam tuas palavras,
Há quanto tempo não se cruzam nossos planos,
Há quanto tempo não chamam pelos meus, teus olhos,
Faz tempo que não leio a tua alma e tu a minha.
Por onde vais tu poeta amigo,
Companheiro meu deste fado imenso,
A que chamamos de nossa vida?
Repletos estamos de sonhos,
Vazios estamos de mundo,
Inóspita esta paisagem humana,
Sem a tua presença, aqui, viva.
Daqui,
Deste lugar eu te saúdo,
Levo-te muito de saudade,
Para que me tragas de ti a verdade,
E a esperança de ter amanhã,
a tua companhia.

Beatriz Barroso


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Rimbaud

Escrever-te-ei esse poema prisioneiro do teu corpo
onde os olhos são a medida das coisas
e o pensamento o espaço em que finges insuficiência.

Por ti pensarei todas as palavras que os teus lábios recusaram.
Por ti anularei essa distância progressiva
onde sempre te afastas na direcção inversa do tempo.

Por ti lerei certamente a imperturbabilidade da tua escrita
quando escutando os teus dedos
são todos os poemas.

Fernando Esteves Pinto



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Ao Poeta do Amor e da Luta,
António Melenas

já não sou eu
que aqui estou

faltas cá tu
falta-me
um bocadinho
de mim
já não sou eu
que cá estou

continuarei
sim continuarei
a escrever-te
cada vez
mais baixinho
e em tom lento

que a vida
se é caminho
só mesmo
exaltada fica
quando lutamos
com o amor
que revelaste

já não sou eu
que estou
por aqui
faltas cá tu
por inteiro

Joaquim Alves



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A minha pátria

Por um pouco mais de sonho,
azul como esta tinta que uso;
por um pouco mais de vida,
darei todo o oiro que não tenho,

aquela imensa força de luta,
o meu coração e vontade.
Por um pouco mais de azul,
Lisboa pode servir de troca;

porque a minha pátria não é
a língua portuguesa.
A minha pátria não é aqui,

onde moro ou trabalho.
A minha pátria (querem saber?)
é tudo em que acredito.

Joaquim Alves



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E agora, o poema vencedor deste passatempo, gravado em áudio pelo locutor Luís Gaspar:


Se na mais profunda solidão se ouvem passos
Se na mais profunda escuridão se pressentem gestos
Se na mais profunda emoção se libertam sonhos
É porque há poetas que pairam espreitam vivem

Nos bosques nas sombras nas cidades adormecidas
Nas madrugadas mais frescas nas noites mais estreladas
Há poetas que inventam canções e melodias
As vozes que soletram canções que as árvores ondulam

Nas cidades das multidões enfurecidas
Por entre pernas esgares gritos e um imenso desespero
São poetas que com um olhar do tamanho do mundo
Procuram um sentido no emaranhado das palavras gritadas pelas ruas

São sempre os poetas os que estão nas paragens de todos os destinos
Os que estão para além de todas as correntes de todas as tempestades
São o elo invisível com o que está longe e é mistério
E esconde todos os segredos que lenta e subtilmente as palavras revelam.

J. Caldas



Mais uma vez, obrigada a todos pela participação e obrigada ao Luís Gaspar que gentilmente acedeu em gravar este poema.

domingo, 6 de abril de 2008

Outras sugestões para os próximos dias

8 de Abril (terça-feira):

PORTO – Poesia em contra-mão
Palavras em contra-mão...
Rui Oliveira e convidados
8 de Abril, Terça 23h00 - Café-Concerto
Poesia em contra mão pretende pôr as palavras em rota de colisão com as diferentes áreas de expressão. Uma espécie de laboratório onde se pode experimentar música, teatro, pintura, performance, dança, mas onde a palavra tem sempre um papel importante.
Contagiarte - Espaço de Sensibilização, Formação e Dinâmica Culturais
Rua Alvares Cabral, 372 (Porto) (próximo Praça da República / junto à Sede do Salgueiros)

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10 de Abril (quinta-feira):

PENAFIEL – Apresentação

No dia 10 de Abril, terá lugar no Auditório da Biblioteca Municipal de Penafiel, pelas 21h30 a sessão de apresentação do livro “Gaveta de Papéis” de José Luís Peixoto (Editado pela Quasi), livro vencedor do Prémio de Poesia Daniel Faria 2008.
Durante o mês de Abril, José Luís Peixoto fará ainda outras apresentações nos dias:
11 - Fnac St.ª Catarina (18h30);
12 - Feira do Livro de Braga;
13 - Teatro São Luiz;
15 - Fnac do Chiado (17h);
17 - Teatro do Campo Alegre;
18 - Cine-teatro da Lousã;
22 - Escola Secundária de Lousada;
21 e 23 - Matosinhos

LISBOA – Sessão de Leitura de Poesia
Dia 10 de Abril, Sessão de Leitura de Poesia do livro “A Palavra Passe” de António Ferra.
Na Livraria Círculo das Letras (Rua Augusto Gil, 15 B), pelas 19 horas.
Leitura de poemas por ANTÓNIO FERRA, FERNANDO TORDO e JORGE LINO





LISBOA - Poesia na Fábrica Braço de Prata
No dia 10 de Abril, no Espaço Graffiti da Fábrica Braço de Prata (cave), pelas 22h, haverá um espectáculo de performance e poesia.
A Fábrica Braço de Prata fica na Rua da Fábrica do Material de Guerra, nº1 (Poço do Bispo), em Lisboa.