quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Novidades 4Águas


Amo Agora
Casimiro de Brito
Marina Cedro
Editora 4Águas
Dezembro 2009



Acaba de ser editado, pela 4Águas, um novo livro de poesia, bilingue, escrito a 4 mãos pelo poeta português Casimiro de Brito e pela poeta e pianista argentina Marina Cedro.
Amo Agora é um longo poema erótico (em 100 partes) a duas vozes, escrito em simultâneo pelos dois autores – um poema respondendo a outro – ao longo do último ano.

22

Me alejo
silenciosa
cubierta
por tu saliva
espesa
Me pierdo
en las
horas
dónde
comenzaré
a gemir
una vez
más
sobre tí

dentro de



23

Dentro de ti
pampa volátil
tal o vento
que vai e vem
entre o meu corpo
e o teu

Os teus seios
sobrevoam
o meu rosto
o meu sexo

Subitamente
os músculos
explodem
em sucos
e magnólias

Donde nos vem
a febre?
Das nuvens voadoras
ou das furnas
infernais?

Seixo review 10

Acaba de sair, no Canadá, o nº 10 da revista literária on-line Seixo review, editada por Eduardo Bettencourt Pinto.
Compõem o conselho editorial Aida Baptista, Ilda Januário, Ivo Machado, Jorge Arrimar, Luísa Ribeiro, Manuela Marujo, Onésimo Teotónio Almeida, Urbano Bettencourt e Zelimir Brala.
Este número 10 tem textos de Uberto Stabile, Luísa Coelho, Amadeu Baptista, Sónia Bettencourt, Rui Machado, Lauren Mendinueta, Conceição Lima, Vasco Pereira da Costa, Vergílio Alberto Vieira, Ángela Ramos, Margarida Vale de Gato, Subhro Bandopadhyay, Aurelino Costa, Lélia Nunes, Andrea Blanqué, Balbina Rivero, Luísa Celis, Ascêncio de Freitas, Maria Antonieta Preto, Adriana Lisboa, David Oscar Vaz, Jennifer Nyberg, Urbano Bettencourt, Victor Rui Dores, Ilda Januário, Fernando Esteves Pinto e, ainda, uma entrevista a Vamberto Freitas por Oona Patrick.
Exemplar em pdf disponível aqui.

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Princesas Dianas & Anti-Heróis
Luís Pedroso
Edição do autor, 2009







Imaginámos santos, infantes e condestáveis
Capitães de Maio e de Abril
Meninos da lágrima e virgens de gesso
Ditadores de botas e pastorinhos de arremesso
Rainhas santas e ínclitas gerações
E o que temos são grades de mini e travessas de caracóis

Desejámos um país que não se resumisse
a travessias diárias do oceano
Bolas de berlim e guarda-sóis
Relíquias do Rio Jordão ou alegria de garrafão
e o urbanista apenas a distribuir centros comerciais
Portanto desejámos talvez demais

Recortámos o horizonte de um país de poetas
Rainhas depois de mortas e grutas para o Camões
Saudosismos de grandeza e hinos contra
os britões, sonhando com saldos e promoções
A invenção de fátimas, fados e futebóis
E temos o subsídio para uma alcatifa de girassóis
O corvo vai debicando os miolos de São Vicente,
aspirando a migrações
Crocitando os segredos da carbonária,
o corvo é o anti-herói,
farto de medalhinhas e superstições

E de vez em quando desaparecia pólvora dos armazéns
Querias um amor imune ao logro, à missão animal do isco
A perfuração dos anzóis
Mas a verdade é que vives num maravilhoso reino
de Princesas Dianas e anti-heróis
e o que me vale é que elas gostam de ir com eles para a cama
Princesas Dianas e anti-heróis

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Outros Frutos
Luísa Ribeiro
Edição bilingue (português/espanhol)
Tradução para espanhol de Emilio Ballesteros
Ediciones Dauro, 2005






Imenso brilho de plumas
penas inclinadas na água parada
da pia o céu sem traços
acabados de voar

e quando os gatos tiverem ingerido
os últimos pássaros eu volto
a correr e apanharei a tua roupa
sem lágrimas...agora

espera o meu voo ou esconde
a nudez gelada na relva
brava que cresce
no horizonte

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Revista "El Cobaya" homenageia Vicente Aleixandre

O último número da revista literária "El Cobaya", editada em Ávila e dirigida pelo poeta José María Muñoz Quirós, é dedicado à memoria do Prémio Nobel Vicente Aleixandre. Coincidindo com o 25º aniversário do falecimento de Aleixandre, a revista reúne poetas como, entre outros, Gonzalo Santonja, Jaime Siles, Juan Van Halen, António Colinas, Pablo Garcia Baena, José Luis Puerto ou Muñoz Quirós. António Salvado é o poeta português representado na publicação.

Sugestão da Andante para esta semana


Breve poema da hora vã

Que poderei cantar-te nesta hora?
O século esgotou sua guitarra
Não há surpresas nas sílabas de Abril
Nem histórias para dizer
Ainda se chovesse ou se caissem rosas
Para dentro do verbo
Acontecer.

Manuel Alegre


Voz: Cristina Paiva; Música: W. A. Mozart; Sonoplastia: Fernando Ladeira

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


A Cabeça de Fernando Pessoa
Luís Filipe Cristóvão
Ardósia, 2009







Travessa de André Valente

1

Há qualquer coisa de muito português
em mim

talvez o fado
talvez o sol

talvez as dívidas ao banco
o crédito mal parado
a fragilidade da bolsa

talvez a selecção
o domingo
o Cristiano Ronaldo

talvez o cheiro a sacristia
a peregrinação até Fátima
a água benta

a aguardente
a água-pé
o vinho a martelo.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Outras sugestões para os próximos dias


29 de Dezembro (terça-feira):

BRAGA – Livraria Capítulos Soltos
Sessão de lançamento do livro “Rumores para a transparência do silêncio” de Daniel Gonçalves (poesia) e Pepe Brix (fotografia), edição Labirinto.
Dia 29 de Dezembro, pelas 18 horas, na Livraria Capítulos Soltos, Rua de Santo André, 63-65, em Braga.
A obra será apresentada pelo escritor e poeta João Ricardo Lopes.


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2 de Janeiro (sábado):

PORTO – Clube Literário do Porto
No dia 2 Janeiro de 2010, no Piano bar do Clube Literário do Porto, pelas 15H30, vai ter lugar uma homenagem ao poeta Castro Reis.
Um grupo de diseurs, a filha do poeta, e alguns amigos irão ler poemas.

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


O Sangue Por um Fio
Sérgio Godinho
Assírio & Alvim, 2009







Os órgãos vitais

Eu tenho que contar com tudo o que há de dentro –
pulmões e suspiros e cérebro e desilusões
intestinos funcionais no sentido lato do termo
risn e fígado à espera do amor breve
bebida a mais muito depressa
consumo mínimo para então conforto máximo.

E todos eles velados pelo irascível
(mas paciente) coração
rei do sopro da vida
e da ventania dos amores
o que julgando que em todos manda
de todos sofre o resultado –
seja aos amores baqueando
seja importando problemas
das outras resoluções do corpo.

Até que uma tarde, manhã, noite
por impulso e por vingança
(aquela que se serve fria)
arrefece e deixa de bater
sem dar tempo aos outros de o chorarem:
eles que em breve estarão
a chorar por conta própria
cada qual para seu lado
renegados e pouco a pouco
sem pavor desaparecidos.

O que foi tido por inesperado e imprevisível
talvez seja apenas a maneira de um todo
se descentrar
fugir à tarefa insanamente por nós mesmos exigida
à nossa pequena parte, já manchada de sangue, sangue
por rectas e curvas da coerência.
O sangue por um fio.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Outono
António Salvado
Ilustrações de Kousei Takenaka
Traduções de A. P. Alencart (espanhol)
e An Oshiro (japonês)
Co-edição Editorial Verbum
e Trilce Ediciones, 2009




Tivesse aqui ao lado um calmo rio
e eu faria fluir nas suas águas
as pétalas da flor que despeguei...

Tuviese junto a mí un río tranquilo
para que en sus aguas yo haga fluir
los pétalos que arranqué de la flor...

sábado, 26 de dezembro de 2009

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Mais Tarde
José Alberto Oliveira
Assírio & Alvim, 2003








Sábado

Esta não seria, Júlia, a música
prometida; o pouco chá que sobrou
está frio. É como se fosse sábado:
longo como sala de espera, leve
como a solidão que te aconchega.

Como esta mosca que resiste
à proclamação do inverno,
banal e absurda, o mal existe
– o que te fez chorar nos filmes
em que era punido, aquela
veia escura que pulsa no coração,
onde estás escondida.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Cantigas da Inocência e da Experiência
William Blake
Tradução de Manuel Portela
Antígona, 2ª edição 2007








O Menino Negro


Minha mãe deu-me à luz no clima austral,
Sou negro, sim, mas oh!, minh' alma é branca.
Branco como anjo é o menino inglês:
Mas eu, qual breu sem luz, de negra tez.

Sentados debaixo de uma árvore
Antes que o calor se fizesse ardente,
Minha mãe pegou-me ao colo, beijou-me
E disse, apontando para oriente:

Olha o sol a nascer: ali Deus mora,
E dá luz e calor a toda a gente,
Aos bichos, aos homens, a toda a flora,
Faz-lhes o dia elegre, a manhã quente.

Somos postos aqui por breve nada,
Pra suster do amor os fortes raios.
Este corpo negro, a cara queimada,
São como nuvem, ou sombra na mata.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Mark Rothko: Number 207- Red Over Dark Blue on Dark Gray, (1961)





















Não sei o que há entre Dvisnsk
e Nova Iorque,

e mesmo que soubesse
proporia que tudo fosse silenciado,

que nada se dissesse,

e só o avassalador silêncio
pudesse dizer quem fui e o que fiz.

As palavras enredam-nos em armadilhas
mortais
e nada há mais mortal
que a vida,

por isso,
as minhas telas
são o silêncio que são,

onde as cores se demoram
para que a exaltação do silêncio
permaneça e se guarde

e só quem as contemple reconheça
o que lá está:

a dor,
o sofrimento,
a vida em estado puro.

Se alguma coisa tenho para dizer,
direi, apenas, que há emoções
desconhecidas no que faço,

e que é pela claridade que confronto
o público
com as telas

que, com elas,
deve gritar e chorar,

porque foi exactamente aos gritos e a chorar
que as pintei,

rangendo os dentes
e insuflando-lhes vida.

Vejam:

alio este vermelho a este azul,

as cores conjugam-se,
mesmo repelindo-se,

e, olhando bem,
não é só o vermelho e o azul o que se vê,
aqui, em frente à tela,
mas tudo o que nos toca o coração,

e se encontra latente na memória

e, pelo confronto,
chega.

O azul, por exemplo:

sente-se que oscila,

sente-se que nos leva para trás,
sente-se que nos arrasta pela nuca

e nos coloca
perante obsessões
que nos envenenam.

E, levando-nos para trás,
os nossos olhos fecham-se,

e entramos num quarto muito escuro,
e, no escuro, reconhecemos
o azul do brilho de uma lâmina,

e os nossos dedos,
azuis,
tocam a lâmina,
e a lâmina,
azul néon e mate,
impele-nos a confrontar a morte,

até que não podemos mais
e, a correr, saímos.

E o vermelho

– é, tão-só, vermelho,

ou atrai-nos para um poço?

O poço é escarlate,

e escarlate sendo, o que se vê?

Uma mulher deitada numa cama,
com um roupão vermelho,

e as unhas pintadas de vermelho,

e a boca vermelha,

e a cabeça caída sobre uma almofada,
também vermelha,

de um vermelho vivo,
tão brilhante,

que sabemos
que há um crime oculto no vermelho
que nós observámos na infância.

Vejamos o conjunto:

o azul está por baixo e, por cima,
o vermelho primário a transformar-se
em lábios,
corais,
crepúsculos,

e um sortilégio avassalador
que nos leva a um monte com um túnel.

Atravessando o túnel
vemos as cidades,
e, por cima das cidades,
o demónio,

e o demónio blasfema,

e lembra-nos a indiferença
com que os nossos pais nos abandonaram,

e é medonha a noite,
e é medonha a sensação de termos sido
abandonados.

No fim, há só silêncio.

Mas o milagre já aconteceu,

já cada um de nós foi confrontado
com o que não queria ver
pela selvajaria da serenidade

e pode, depois disso,
voltar para casa.

De novo vem a nós
o silêncio:

estamos em casa
e as cores, de tão amenas,
são já frenéticas,

e os nossos dedos rasgam-nos
a carne,
e supliciamos o corpo,

e percebemos que há pouco sentido
na vida que levamos.

Tem cor a nossa vida?

E a resposta chega-nos,
certeira e inequívoca,
enquanto nos lembramos
dos gritos e do choro
que, em frente ao quadro,
produzimos,

e da força que há na nossa natureza,

e dos milagres possíveis
que em cada coisa há.

Coube-nos viver num tempo de assassinos,
mas é a claridade que almejamos,

não a que veio ao quadro convocar-nos,
mas a que, pelo poder da pintura,
se instala em nós,
a modular a noite
e a apaziguar-nos.

É essa claridade que procuro,
– e o silêncio.

O silêncio das cores e o seu apelo
irrevogável,

de que nada há a temer,
mesmo que atemorize.

A vida é isso mesmo:

o medo à nossa frente,
imóvel como a esfinge,

e nós sempre a enfrentá-lo,

transparentes,
aflitos,
condenados,

mas prontos para ver

as cores do infinito.


Amadeu Baptista

Boas Festas

(de preferência, de poesia)

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Ciclo de Criação Imperfeita
Seomara da Veiga Ferreira
Editora Labirinto, 2008








Síntese

Todo o mistério paga o preço da verdade
e nos limites cegos da ansiedade
geme a nossa raiva incontida
(na fluídica canção da noite morta
o Futuro escuta à minha porta
indiferente à dor e à própria vida).

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Mais logo, em Torres Vedras

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Retábulo das Matérias
(1956-2001)
Pedro Tamen
Gótica, 2001







Mil vezes homem, mil vezes grito,
mil vezes hora em que, mil vezes,
tudo foi, de novo e para sempre, nascido e consumado.

Nós ouvimos o murmúrio da terra:
naquele dia, a esperança do seu ventre,
a solidão difícil das profundas,
o raro espaço que se oculta sob as rochas,
os restos que um cataclismo nos deixou
– viram de frente a Face,
voltaram-se surpresos, quando de súbito
um novo líquido os tocou e percorreu
e trouxe à luz da terra; quando, anunciado,
se perfez um lento marulhar, santa fecundação.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Ciclo Manuel António Pina na Guarda

Durante vários dias, em Janeiro, vai ter lugar na Guarda um ciclo dedicado à obra de Manuel António Pina, numa iniciativa da Câmara Municipal da Guarda, do TMG e do CEI.
Haverá exposições, seminários, teatro e poesia do autor em diversos espaços da Guarda entre 16 e 22 de Janeiro.
Mais informações aqui.

Novidades POPSul


Pai sem Natal

Dinis H. G. Nunes
Editora 4Águas (chancela POPSul)








Ilha de Faro


No giz da memória estás tu:
a correr pela praia contra o vento
em contra-relógio
no contratempo dum fim-de-semana alternado

E o pai a contemplar a voragem do tempo feliz
a esvair-se pelos dedos em grãos de areia de quartzo triste

Hoje volto vezes sem conta a assomar a praia
e a ver o sol a afogar-se no horizonte
e só no delírio duma miragem de saudade
vejo-te de novo a correr contra o vento
na alegria dos teus cinco anos de idade

Hoje é o pai náufrago
numa correria louca contra o tempo perdido
a querer-te alcançar a todo o custo
e queda-se na solidão dos loucos
ajoelhado no meio de tantos grãos de areia

Livro póstumo de Ledesma Criado

Foi apresentado, no passado dia 21, em Salamanca, o livro póstumo do poeta José Ledesma Criado Creo en el mar y en sus orillas - Creio no mar e nas suas margens, poemário organizado por Alfredo Perez Alencart, com versão bilingue para português do poeta António Salvado.
A apresentação foi feita pelo poeta António Gamoneda.

Ledesma Criado (1926-2005), que durante toda a sua vida criativa esteve muito ligado à Figueira da Foz, foi fundador da célebre revista Álamo. Recebeu vários prémios e foi uma das figuras referenciais da poesia castelhano-leonesa do século passado.
Em 2010 será ser lançada a 1ª edição do “Prémio Internacional de Poesia José Ledesma”, instituído pela Caja Duero e por outras instituições.

Segundo Antonio Gamoneda, num texto que será brevemente divulgado na imprensa espanhola, este livro póstumo de Ledesma Criado é uma comovedora declaração de amor à Figueira da Foz.

Prémio Nacional de Poesia Natércia Freire 2009

Foi entregue, no passado dia 11 de Dezembro, ao poeta António Cabrita, no Cineteatro de Benavente, o Prémio Nacional de Poesia Natércia Freire 2009 pelo original “Bar La Fontaine”, um dos 147 originais concorrentes ao prémio instituído pela Biblioteca Municipal de Benavente, no valor de 5 mil euros.
António Cabrita nasceu em 1959. É crítico de cinema e crítico literário, editor das Edições Íman, director da revista Construções Portuárias e autor de vários contos e argumentos para cinema.
Parte considerável da sua obra poética está reunida em Arte Negra, Fenda (2000).

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


E no Fim era a Poesia
Myriam Jubilot de Carvalho
Nova Vega, 2007








Abri os pulsos a golpes de
machado —
junto à boca do inferno.

É inverno, meu amor.

E os círculos das
ondas em
seu esgar sal-
gado
lembram, amargos,
algum transverso ombro
materno
("Medeia,
porquê a ira pesada
na alma que te cai?").

Hoje tomei um lírio nos dentes. Lancei-me
da janela. Afinal,
há laranjas
amarelas

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


À Descoberta das Causas
No Sortilégio dos Efeitos
Manuel Madeira
Editora Labirinto, 2009







Biomorfismos


É dentro do círculo que as formas se formam
e depois se agitam em triângulos e linhas
polvilhadas de pontos até ao infinito,
mas é no interior da esfera que tudo se processa
porque ela abarca o espaço e o tempo
que arrastam consigo os objectos e os seres
criados criadores do próprio pensamento
que cria o alimento de que se alimenta
e está no centro de toda a criação.

Vibramos ao contacto das formas e dos seres,
mergulhamos no seio das coisas indizíveis,
sentimos no âmago o pulsar incontido
dentro de limites quase ilimitados
de forças ocultas no anonimato
a que damos nomes como mitocôndrias
ou quarks instáveis a simples partículas
que estão no princípio e no fim de tudo que existe
incluindo sem reservas as próprias emoções
indefesas saltando sem medo nem pára-quedas.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Prémio de Poesia Luís Miguel Nava para A. M. Pires Cabral

O Prémio de Poesia Luís Miguel Nava 2009 para livros de poesia, publicados em 2007 e 2008, no valor de cinco mil euros, foi atribuído ao livro As Têmporas da Cinza, de A. M. Pires Cabral, publicado pelas Edições Cotovia.

Outras sugestões para os próximos dias


22 de Dezembro (terça-feira):

SANTO TIRSO – Biblioteca Municipal
Sessão de lançamento do livro “Rumores para a transparência do silêncio” de Daniel Gonçalves (poesia) e Pepe Brix (fotografia), edição Labirinto.
Dia 22 de Dezembro, pelas 19 horas, na Biblioteca Municipal de Santo Tirso, Rua de Gross-Umstadt, Quinta de Geão.
A obra será apresentada pelo professor António Oliveira.

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23 de Dezembro (quarta-feira):

PORTO - Clube Literário do Porto
Dia 23 de Dezembro:
Piano bar, 21h30
Quartas Mal’Ditas
Org.: Anthero Monteiro

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Poemas
Judith Teixeira
&etc, 1996








A mulher do vestido encarnado

Ameigam teu corpo airoso
requebros sensuais,
e o teu perfil
felino e vicioso
diz-nos pecados brutais?
– Paixões preversas
onde o crime é gozo!

Carne que a horas se contrata,
e onde a tísica já fez guarida;
– vendida por suja prata
em tanta noite perdida…

Ó farrapo de luxúria
que acendes quentes desejos
até à fúria,
na febre de longos beijos!…

Perderam-se tantas, tantas
mocidades
nos teus olhares diabólicos,
que nem tu já sabes quantas!

E ninguém te perguntou
ainda, mulher perdida
que desgraçado amor foi esse
que te arrastou
a essa vida, negra vida!

E às vezes,
cuspindo sangue
em noites de guitarrada,
a tua boca tão mordida,
cantando, à desgarrada,
fala do amor crueldade
– um amor todo ruína,
uma amor todo saudade!

Ó farrapo de luxúria
que acendes quentes desejos
até à fúria,
na febre de longos beijos!

Outubro
1922

sábado, 19 de dezembro de 2009

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


O Preço das Casas
Joaquim Cardoso Dias
Gótica, 2002








Tudo desde sempre

mas quando ali não estás a paisagem vaga
pelo som dos rebanhos dirias que dormindo talvez assim
os peixes buscando comida e eu não sou capaz
de guardar esse segredo mais uma noite a cada instante
serás sempre mais uma ausência com vontade de
mentir à distância de um grito pareces tão perto de mim
e como salvar deste incêndio aquela nossa fotografia
olhando as árvores sou capaz de recordar
as tuas mãos esquecidas sobre o poema
ao sentido da casa neste sentimento
imóvel silêncio embrulhado em papel de chocolate
um copo de água se houver estrelas atravessando
as paredes do quarto choro baixinho rio choro e tu
tu tens que te lembrar

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Pena Ventosa

Acaba de sair, no Porto, uma nova revista de poesia, a pena ventosa.
O n.º 1 tem colaboração de poetas portugueses nascidos nos anos 50 do século XX. Todos os poemas são inéditos. Colaboram os seguintes poetas:
• Amadeu Baptista (1953)
• Ana Luísa Amaral (1956)
• António Cabrita (1959)
• António Cândido Franco (1956)
• António José Queiroz (1954)
• Henrique Monteiro (1953)
• Isabel Cristina Pires (1953)
• Jorge Velhote (1954)
• Laureano Silveira (1957-2008)
• Luís Adriano Carlos (1959)
• Rosa Alice Branco (1950)

São editores da revista António José Queiroz e Henrique Monteiro.
O design e as ilustrações são do pintor Júlio Cunha. A execução gráfica é de Manuel Carneiro.
A sede da revista é na Rua da Conceição, n.º 25, Porto.

A pena ventosa tem uma tiragem de apenas 100 exemplares e não terá distribuição comercial. Será, seguramente, uma raridade bibliográfica.

Poesia nos Jerónimos

Voz: Luís Machado
Piano: Inês Rodrigues Correia

19 de Dezembro: Poemas de Natal
9 de Janeiro: Ary dos Santos

Sessões: Sábados às 17H00

Uma iniciativa de Luís Machado, no Museu Nacional de Arqueologia (Praça do Império - Mosteiro dos Jerónimos), Lisboa

Mais logo, em Madrid

Fernando Aguiar
EN LOS OJOS DE LA POÉTICA
Inauguracão de exposição, apresentação do livro Fernando Aguiar - Poesia Visual e performance de Fernando Aguiar e Ángel Marco.
18 de Dezembro, 20Hoo.
No Centro de Arte Moderna de Madrid.

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Um Raio de Sol
Helder Moura Pereira
Assírio & Alvim, 2000








Onde está afinal o jardim
das palmeiras? Luz, disseste
que me guiavas, vê lá
o que fizeste. Acabei a beber
ponche numa festa, se não me dissesses
não acreditava: a morte
tem aí um lugar importante.
Enquanto não chega
pois levemos as tochas acesas
à porta do laranjal. Cerimónia
para te matar mas não podia
ser. Antes tu já me mataras
que outro ninguém não podia.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Aida Monteón vence Prémio Palavra Ibérica

A poetisa mexicana Aida Monteón é a vencedora do Prémio Internacional Palavra Ibérica de 2010, em Espanha, sucedendo assim a Rafael Camarasa e Santiago Aguaded Landero, vencedores, respectivamente, em 2008 e 2009.
A obra, Decantación, será lançada em Março do próximo ano. A tradução estará, à semelhança dos anos anteriores, a cargo de Tiago Nené.
Do Prémio Internacional Palavra Ibérica de 2010, em Portugal, ainda não há notícias...

Mais logo, em Lisboa

A Associação Caboverdeana de Lisboa vai homenagear o poeta Mário Fonseca (recentemente falecido) no dia 17 de Dezembro, pelas 18H30 horas, na Rua Duque de Palmela, nº 2, 8º andar, com o seguinte programa:
• Testemunhos sobre a vida de Mário Fonseca por Maria Margarida Mascarenhas e José Eduardo Cunha;
• Abordagens da obra literária de Mário Fonseca por Elsa Rodrigues dos Santos e José Luís Hopffer Almada;
• Projecção de um vídeo de Mito Elias sobre Mário Fonseca;
• Recital baseado na obra poética de Mário Fonseca.
• Mini-Feira do Livro Cabo-verdiano.

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


A Voz Fagueira
de Oan Tímor
Fernando Sylvan
Edições Colibri, 1993







Passagem do testemunho


Há quinhentos anos que gritamos
contra a violência das grilhetas e do chicote
nos nossos corpos e almas dos nossos avós.

Há quinhentos anos que gritamos
porque foi só isso que nos ensinaram
nas nossas vidas dos nossos avós.

Mas na contra-fraternidade da violência
aprendemos a gritar liberdade construção independência
para as nossas vidas dos nossos netos.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Mais logo, em Lisboa

Alunos de Portalegre gravam poemas de Régio

(clicar para ampliar)

Notícia do jornal "O Distrito de Portalegre" de 10 de Dezembro de 2009, da autoria de Renata Quintino (8º B), incluída na página da responsabilidade da Escola Secundária Mouzinho da Silveira.

Cortesia de Rui Almeida.

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


O Sal da Língua
precedido de
Trinta Poemas

Eugénio de Andrade
Biblioteca Prestígio, 2001






Metamorfoses da casa


Ergue-se aérea pedra a pedra
a casa que só tenho no poema.

A casa dorme, sonha no vento
a delícia súbita de ser mastro.

Como estremece um torso delicado,
assim a casa, assim um barco.

Uma gaivota passa e outra e outra,
a casa não resiste: também voa.

Ah, um dia a casa será bosque,
à sua sombra encontrarei a fonte
onde um rumor de água é só silêncio.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


DIÓSPIRO
Poesia Reunida 1977-2007
Daniel Maia-Pinto Rodrigues
Edições Quasi, 2007







Enquadradinhos métodos de trabalho

Ultimamente têm-me maçado
com enjoativos trechos de lamúria.

Eles são cinco mil mulheres mal tratadas
não sei quantas raparigas mal amanhadas
sete mil e quinhentas gaivotas assassinadas
um sem número de situações assaz desesperadas.

Eu tenho os meus próprios problemas:
ia à missa das doze, adiantar os estudos,
levar o cão à rua, assim não dá, não dá.

Desisto deste vilancete. É uma pena
eu não ter método de trabalho na escrita.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


escrito em osso
Claudio Daniel
Cosmorama Edições, 2008








Canção da árvore de mil folhas

o que exprime
essa esgrima silenciosa
ou pugilato de sombras?
simulacro de suave tigre de água e leo dragão de vento
flama de branca acácia e de salmão-pequeno
que combate no limiar entre a pele e a alma.
o que irradia
esse lento balé de plumas
esse desfile de facas e leques?
dança que traduz em passos de pantera
a canção da árvore de mil folhas
que não sabe da língua
mas do coração

1991

domingo, 13 de dezembro de 2009

cràse - revista de literatura emergente

Foi publicada recentemente, uma nova revista literária, a revista cràse.
É uma revista de experimentação literária, que pretende ser quadrimestral, e que, neste número zero, se dedicou única e exclusivamente à poesia.
A direcção é de Luís Felício, Nuno Brito e Rober Diaz, e o projecto gráfico de Ana Lúcia Nobre.
Colaboram neste número: Gonçalo Castelo Branco, Maria Képhri, Rober Diaz, Luís Felício, Nuno Brito, Suzana Guimarães, João Borges, Inês Félix e António Pedro Ribeiro.
À venda na Livraria Trama, em Lisboa, e na Poetria, no Porto.
Mais informações, aqui.

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Sinfonia em Dor menor
Armando Taborda
Ilustrações de Carlos Alexandre
Escola de Mar, 2007







Já o disse e repito mil vezes
gosto da noite e seus sons esparsos

um carro que passa na avenida
e se afasta
é um ruído que se perde no silêncio

a camioneta do lixo engole os desperdícios das casas e grotescamente arrota
acorda os moradores que tomam calmantes
e se agitam na cama
indignados contra o Presidente da Câmara

por pouco tempo

outro carro que passa na avenida
e se afasta
traz o sono interrompido
de volta.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Outras sugestões para os próximos dias


14 de Dezembro (segunda-feira):

LISBOA - Casa Fernando Pessoa
Joan Margarit, uma das grandes figuras da poesia catalã contemporânea, lança o seu primeiro livro em Portugal a 14 de Dezembro, pelas 18.30h, na Casa Fernando Pessoa.
Na sessão participará também o escritor Fernando Pinto do Amaral.
Casa da Misericórdia tem chancela da editora OVNI e tradução de Rita Custódio e Àlex Tarradellas, e recebeu, entre outros, o Prémio Nacional de Poesia em 2008, galardão conferido anualmente pelo Ministério de Cultura de Espanha à obra de poesia que mais se destaca em qualquer uma das línguas oficiais do país.

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15 de Dezembro (terça-feira):

LISBOA – Fundação Medeiros e Almeida
A Porto Editora apresenta no próximo dia 15 de Dezembro, pelas 19H00, na Fundação Medeiros e Almeida, em Lisboa, a antologia de poesia portuguesa Poemas Portugueses - Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI, organizada por Jorge Reis-Sá e Rui Lage. Ao prefaciador Vasco Graça Moura caberá a apresentação do livro.
Colaboraram na construção da obra mais de trinta especialistas nos autores em questão ou nos períodos e movimentos a que é lícita a sua associação. Nomes como Eduardo Pitta, Arnaldo Saraiva, Guiseppe Tavani, Nuno Júdice, Fernando J. B. Martinho, Fernando Guimarães ou o próprio Vasco Graça Moura assinam os verbetes que introduzem os poetas constantes na antologia.

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16 de Dezembro (quarta-feira):

PORTO - Espaço Vivacidade
Lançamento do Livro de poesia para crianças “Ciência para meninos em poemas pequeninos” de Regina Gouveia, no dia 16 de Dezembro pelas 18h na Vivacidade - Espaço Criativo no Porto, numa acção de solidariedade para com as crianças da Guiné-Bissau. A sessão tem entrada livre.
A autora Regina Gouveia e o ilustrador Nuno Gouveia darão uma sessão de autógrafos.


LISBOA - Ler Devagar da LX Factory
No dia 16 de Dezembro, pelas 21H30, vai ter lugar na Ler Devagar o lançamento do livro de poesia "Poemas Polaroid" de José Dias, (edição Corpos Editora).
Apresentação: Filipe Melo e Mafalda Costa.
Actuação: Desidério Lázaro (saxofone tenor) e António Quintino (contrabaixo).

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17 de Dezembro (quinta-feira):

PORTO - Clube Literário do Porto
A. Pedro Ribeiro e Luís Carvalho apresentam mais uma sessão de POESIA DE CHOQUE na próxima quinta, 17, pelas 21,30 h no Clube Literário do Porto. A sessão conta com a presença do guitarrista Carlos Andrade.
Mais uma noite para a poesia rebelde e maldita.
As sessões de POESIA DE CHOQUE têm lugar nas terceiras quintas de cada mês.



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19 de Dezembro (sábado):


PORTO - Ateneu Comercial
Apresentação do livro de Alexandra Malheiro "Luz Vertical", ilustrado por Miguel Ministro, no dia 19 de Dezembro, pelas 17H00, no Ateneu Comercial do Porto (Rua Passos de Manuel, 44).
Com a participação de Pedro Lopes (ao piano) e da diseur Olga Oliveira.

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20 de Dezembro (domingo):

LISBOA - Palácio da Ajuda
No dia 20 de Dezembro, a Andante apresenta o espectáculo de poesia "Às escuras, o amor" no Palácio da Ajuda, às 15H00.
Integrado no programa de itinerâncias da DGLB.






PORTO - Livraria Gato Vadio
Leitura de poemas de Sebastião Alba.
Por Nuno Meireles e Júlio do Carmo Gomes.
Domingo, dia 20 de Dezembro, 18 horas.
Na Livraria Gato Vadio:
Rua do Rosário, 281 – Porto.