domingo, 28 de fevereiro de 2010

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Dispersão

Poesia Reunida

Nuno Dempster
Edições Sempre-em-Pé, 2009






Não é sem alegria que olho em volta,
mesmo nesta hora longa de inventários
virtualmente unidos num apenas,
atravessando o tempo construído
com paciência, verso a verso,
até exaurir o que parece inexaurível.
A memória é um largo campo
com imagens tão díspares
como o voo dos patos ao cair do sol
e um homem trespassado de estilhaços
na selva da Guiné, sem perceber
porque a vida se lhe ia com o sangue,
talvez selando o peito
com a palavra azar, sem nenhum deus
ou lugar que o remisse, bicho casual
que deveria ter nascido anos depois
para tentar a sorte, o carro, a casa,
a mulher que o esperava com os dois anéis,
a vida degradada e o país podre,
com certeza pequenos sinais usados
em prosa de ficção, evitando-se a mãe
que chorava em silêncio a sua morte,
isto é, o melodrama, precisando:
o excesso de verdade, arquétipo difícil.
E no entanto não é sem alegria
que olho em volta de mim,
por dentro de mim mesmo, e sei
ter visto algo só meu,
as estrelas cadentes do Verão,
aquelas que riscavam certas noites
e que não mais irão voltar.
Não falo das estrelas
que atravessam o céu como antes,
são meteoritos apenas,
mas das noites vividas, horas únicas,
não interessa qual a sensação,
sequer os sentimentos que seguiam
o traço luminoso e breve,
interessa a riqueza vária e vaga
que juntei e descrevo longamente,
ó doce solidão enumerável.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Outras sugestões para os próximos dias


4 de Março (quinta-feira):

LISBOA – Bar Frágil
Frágil Poesia - 4ª edição
Dia 4 de Março, 23H30.
Poesia de José Luís Peixoto.
Rua da Atalaia 126, Bairro Alto, Lisboa






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5 de Março (sexta-feira):

PORTO - Clube Literário do Porto
Música e poesia no tempo de Dante e Monteverdi - 1.º recital do ciclo
Data: Sexta-feira, dia 5 Março
Horas: 22h00
Local: Piano bar
Intervenientes: Isabel Nogueira, soprano Tiago Matias, alaúde, tiorba, vihuela, guitarra romântica e guitarra barroca



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6 de Março (sábado):

LISBOA – Livraria Pó dos Livros
Lançamento do livro “Quando junto às horas se ilumina um rio” de Alice Fergo (Edição Labirinto).
A sessão terá lugar no dia 6 de Março, pelas 16H30, na Livraria Pó dos Livros, Av. Marquês de Tomar, 89, em Lisboa.
A obra será apresentada pelo escritor Victor Oliveira Mateus, autor do posfácio.

PORTO - Clube Literário do Porto
O cheiro da sombra das flores
Data: Sábado, dia 6
Horas: 21h30
Local: Auditório
Intervenientes: Apresentação/teatralização a cargo do TUM (Teatro Universitá-rio do Minho) Adaptação do livro de João Negreiros (vencedor do Prémio Internacional OFF FLIP de Literatura 2009, categoria Poesia e do Prémio Nuno Júdice 2009) - 2.ªEdição

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7 de Março (domingo):

PORTO - Clube Literário do Porto
Leitura e encenação de poemas e textos sobre a Mulher
Data: Domingo, dia 7
Horas: 17h30
Local: Galeria do piso 2
Intervenientes: "A voz das mulheres no silêncio das palavras" será apresentada pelo GATA (Grupo de Activismo e Transformação pela Arte), preocupado essencialmente com as questões de género e do qual fazem parte: Ana Pinto, Andreia Nunes, Ângela Cunha, Deidré Mathee, Filipa Alves e Lucinda Saldanha Assistentes de produção: Ângela Cunha e Pedro Ferreira. A performance terá uma duração aproximada de 20 a 30 minutos. Para além desta intervenção serão lidos e cantados alguns poemas sobre a mulher a cargo dos Amigos do PORTUGAL POÉTICO.

A Cultura das Ilhas Baleares desembarca em Lisboa

O dia 1 de Março é o dia da Comunidade Autónoma das Ilhas Baleares no qual se festeja a aprovação do Estatuto de Autonomia. Coincidindo com esta efeméride a Conselleria de Cultura del Govern de les Illes Balears e o Institut Ramon Llull organizarão um conjunto de eventos em Lisboa para dar a conhecer uma amostra significativa da cultura insular e muito especialmente da sua literatura em catalão, única língua própria deste território geográfico. A empresa Ballaruga, Serveis Culturals e a associação cultural CatalunyApresenta, implantadas em Lisboa, actuam como colaboradores da organização.

Carme Riera, escritora do ano segundo o Govern Balear
Os actos em Lisboa terão início no dia 1 de Março pelas 15h na Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, com a inauguração da exposição de fotografias de Carles Domènec dedicada a Baltasar Porcel e a Carme Riera. A escritora maiorquina participa assim na sua primeira actividade internacional como escritora do ano de 2010, segundo o Governo Balear. A autora de No último azul dará seguidamente uma conferência (15h30) que contará com a presença do seu editor português, o Dr. Carlos Veiga Ferreira, num acto aberto ao público em geral. Pelas 17h será servido um Porto de Honra para celebrar a inauguração da exposição.

7 poetas para um recital único
Serão sete os poetas das Ilhas Baleares que participarão no dia 2 de Março pelas 18h30 num recital poético na Casa Fernando Pessoa. Helena Alvarado (Eivissa), Ponç Pons (Menorca), Miquel Cardell (Mallorca), Antoni Xumet (Mallorca), Manel Marí (Eivissa), Gabriel Sampol (Mallorca) e Clara Fontanet (Mallorca) são os autores convidados tendo como objectivo mostrar a vitalidade da poesia feita em catalão nas Ilhas Baleares num espaço fundamental para a poesia mundial como é a Casa Fernando Pessoa, conseguindo assim unir a cultura mediterrânica e a atlântica.
Os poetas recitarão em catalão porque o público assistente será obsequiado com uma antologia bilingue dos poetas convidados, sendo esta a primeira Antologia organizada em Portugal de poetas das Ilhas pelas tradutoras Ana Sofia Henrique e Anna Cortils.
Estes poetas aproveitarão a estadia na cidade de Lisboa para realizar um encontro com escritores e editores portugueses pelas 10h na cafetaria do Museu Gulbenkian, e ainda pelas 14h na Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, terá lugar um encontro com os alunos sobre a tradução literária e a diversidade linguística da Península Ibérica.

Uma orquestra singular
No dia 4 de Março pelas 18h o Palácio Foz será o palco onde actuará uma formação musical singular: a Orquestra de Joves Intèrprets dels Països Catalans que interpretarão peças dos compositores catalães Morera, Toldrà, Samper, Serra e López sob a direcção de Salvador Brotons e ainda dum autor português.

Com estas jornadas dedicadas às Ilhas Baleares em Lisboa pretende-se potenciar a relação entre a criação cultural mediterrânica com o resto do mundo e contribuir para uma maior visibilidade duma cultura de alta qualidade.

Mais informações:
http://catalunyapresenta.blogspot.com/
http://www.forum-musicae.cat/

Os autores estarão disponíveis para entrevistas durante os dias dos eventos.
Todos os eventos serão gratuitos.

Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa: Alameda da Universidade, Lisboa
Fundação Calouste Gulbenkian: Av. de Berna, 45, Lisboa
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa: Avenida de Berna, 26-C, Lisboa
Casa Fernando Pessoa: Rua Coelho da Rocha, 16, Campo de Ourique, Lisboa
Palácio Foz: Praça dos Restauradores, Lisboa

"Eu, Augusto dos Anjos"

Vai ser lançado, no dia 20 de Abril na cidade natal de Augusto dos Anjos (Sapé-Paraíba), no Brasil, o documentário "Eu, Augusto dos Anjos",realizado pelo cineasta carioca Luiz Fernando Ferraz, com trilha sonora de Marina Andrade.
Este é o segundo documentário sobre Augusto dos Anjos, com poemas dele musicados por Marina Andrade. O primeiro documentário, com o título "Eu, estranho personagem", foi dirigido pelo cineasta Deraldo Goulart, e pode ser visualizado no site da TV Senado e também no Youtube.


O poema deste vídeo "Versos Íntimos", foi escrito em 1901, quando Augusto dos Anjos tinha apenas 17 anos de idade.

Augusto dos Anjos nasceu no estado da Paraíba, no Engenho do Pau D'arco, hoje conhecido como Sapé. Nasceu em 20/04/1884 e faleceu em 12/11/1914.

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Ariel
Sylvia Plath
Tradução de Maria Fernanda Borges
Relógio D’Água, 1996








Ovelhas no nevoeiro

As colinas descem sobre a brancura.
Pessoas ou estrelas
Olham-me tristemente, desaponto-as.

O comboio deixa o traço da sua respiração.
Oh lento
Cavalo cor da ferrugem,

Cascos, guizos de dor —
Toda a manhã a
Manhã tem vindo a escurecer,

Uma flor posta de lado.
Os meus ossos ganham imobilidade. Campos
Distantes suavizam o meu coração.

Ameaçam
Deixar-me entrar para um paraíso
Onde não há estrelas, não há pais, secreta água.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Estação Suspensa
António Ferra
Europress, 2009







8. na brusca mudança de estações

Lá em baixo um cigarro brilha o lume e a fome, quando uma cortina se agita neste princípio do Verão, a almofada ainda quente das palavras nascidas da rouquidão de um gesto lasso. É na intimidade que se morre, antes que o álcool se extinga e não restem mais cigarros sem sabor, só aqueles a que o fim da noite obriga na brusca mudança de estações.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Quintas de Leitura nº 100

As "Quintas de Leitura", no Teatro do Campo Alegre, chegam hoje, 25 de Fevereiro, pelas 22H00, à centésima edição, com fotografia, dança, música e muita poesia.
Será uma festa em 3 actos intitulada "Leica Virgem", concebida por João Gesta.

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


A Alma e o Caos
100 poemas expressionistas

Selecção e tradução de João Barrento
Relógio D'Água, 2001








Fim do mundo

Há um chorar no mundo,
Parece que o bom Deus morreu,
E a plúmbea sombra, que cai fundo,
Pesa como mausoléu.

Vem, vamos esconder-nos mais...
A vida está em todos os corações
Como em caixões.

Ouve! Vamos beijar-nos e esquecer –
Há uma saudade que bate à porta do mundo,
E dela acabaremos por morrer.

Else Lasker-Schüller

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


A Leve Têmpora do Vento
Carlos de Oliveira
Antologia Poética
Quasi, 2001







Só, em meu quarto, escrevo à luz do olvido;
deixai que escreva pela noite dentro:
sou um pouco de dia anoitecido
mas sou convosco a treva florescendo.

Por abismos de mitos e descrenças
venho de longe, nem eu sei de aonde:
sou a alegria humana que se esconde
num bicho de fábulas e crenças.

Deixai que conte pela noite fora
como a vigília é longa e desumana:
doira-me os versos já a luz da aurora,
terra da nova pátria que nos chama.

Nunca o fogo dos fáscios nos cegou
e esta própria tristeza não é minha:
fi-la das lágrimas que Portugal chorou
para fazer maior a luz que se avizinha.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Mais logo, em Braga

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Emparedada

Uit de muur

Joana Serrado
Uitgeverij Passage, 2009






Das portas trancadas

Doem-me as portas trancadas.

As que abanamos e não se conseguem abrir.

Das que se perderam as chaves.

As chaves das portas trancadas que não se conseguem abrir.


Penso nas portas trancadas da tua casa.

As chaves que se escondem e não mais aparecem

...........a porta do teu quarto que range sempre que a abres
................................ou quando se tosse uma réstia de vento.


A madeira sólida do teu quarto

.........................................os raios anelares das árvores
..................................................agora sem vida
........................................................t
rancam o teu quarto

conservando a resina que cola os meus cabelos à tua porta.


As unhas negras.

........................O sangue coagulado.
............................................................A dor.
.......................................................................A cor.

De como a tua porta se tranca trilhando os meus dedos de solidão.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Tributo a Sebastião Alba no Porto

Nos 10 anos da morte de Sebastião Alba e no 70º aniversário do seu nascimento, o Sindicato do Credo – colectivo multidisciplinar de performance artística – vai apresentar, no Labirintho, entre os dias 27 de Fevereiro e 18 de Março, um conjunto de actividades destinadas a homenagear o autor de “Noite dividida”.
A celebração consiste numa exposição de fotografias e manuscritos originais do poeta e na instalação multimédia “Ando do avesso do quotidiano” (da autoria do artista plástico Paulo Moreira). No local vai estar ainda disponível uma venda de livros do autor e será ainda possível, em ocasiões pontuais, assistir a conversas com especialistas na obra de Sebastião Alba.
O ponto alto de “Alba Só” são as performances homóninas, a realizar em quatro datas distintas (10, 11, 17 e 18 de Março). Com uma duração aproximada de 45 minutos, o espectáculo não só evoca alguns dos escritos mais emblemáticos de Sebastião Alba, como faz múltiplas referências às suas circunstâncias de vida, nomeadamente à sua singular e destemida opção pela errância.
Não se trata de um recital de poesia convencional. Aliás, tratando-se de um poeta insubmisso e incondicionalmente livre como Alba, a performance procura transmitir a sua visão do Mundo, assente numa individualidade extrema e numa intensa comunhão com a Natureza.
Além das indispensáveis palavras, extraídas dos seus livros de poesia e dos inseparáveis diários, “Alba Só” será abundante em sons. A música clássica, de Brahms a Mozart, que tanto prezava, não deixará de estar presente, mas, porque a própria mundividência do autor a isso obriga, haverá referências a outros géneros, graças à participação de um contrabaixista e de um disc-jockey.

Sindicato do Credo
Vozes: Paulo Moreira e Pedro Piaf; Contrabaixo: Sérgio Borges; DJ: Nel Colaça
Selecção e pesquisa: Sérgio Almeida
Concepção: Paulo Moreira/Pedro Piaf/Sérgio Almeida

Labirintho: Rua Nossa Senhora de Fátima, nº 334 – Porto

Sugestão da Andante para esta semana


és / ás



és ar /serás fumo

és água /serás terra

és pedra /serás areia


Daniel Abrunheiro



Voz: Cristina Paiva; Música: Savvas Ysatis + Taylor Deupree; Sonoplastia: Fernando Ladeira

Curso de estudos avançados de Literatura

Vai realizar-se um curso livre de estudos avançados de Literatura, dividido em 8 sessões duplas, de Abril a Junho, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, ministrado por António M. Feijó, Clara Rocha, Clara Rowland, José AUugusto Cardoso Bernardes, Manuel Gusmão, Osvaldo Manuel Silvestre, Pere Ferré e Rosa Maria Martelo.
Ler mais, no blogue da revista LER.

Falaescreveacertaganha

Hoje, dia 22, começa na RTP2 um programa com alunos do 2.º Ciclo intitulado “Falaescreveacertaganha”, tendo sempre por base um livro de literatura infanto-juvenil.
O programa irá para o ar às 17H30 com repetição à 20h10, no mesmo canal.

Eis os programas que terão por base livros de poesia para crianças da editora Trinta Por Uma Linha:
- Meu Fito, Meu Feito, de Vergílio Alberto Vieira: 26 de Fevereiro
- Poemas para Brincalhar, de João Manuel Ribeiro: 5 de Março
- Tretaletra, de Maria Helena Pires: 18 de Março
- Os cavalos a correr, de Amadeu Baptista: 26 de Março
- Versos Diversos, de Nuno Higino: 13 de Abril

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


El desayuno de Carla Bruni

O pequeno-almoço de Carla Bruni

Rui Costa

Colecção Palabra Ibérica
Tradução para castelhano: Uberto Stabile

Ayuntamiento de Punta Umbría, 2008





A selva é redonda

Os macacos comem bananas porque
era a fruta que tinham mais à mão.
Se tivessem mais à mão morangos, os
macacos comeriam na mesma bananas,
porque os morangos são muito difíceis de
descascar. As bananas são comidas por
macacos porque são os animais com mais
mãos que têm ali à mão. As bananas não
têm mãos mas têm casca, que é uma espécie
de mão à volta da banana. As bananas prefe-
riam ter mãos mas saiu-lhes antes casca.
Ser casca não deve ser fácil, passar a vida
a ser deitado fora. Os árbitros de futebol
têm duas mãos, uma para cada cartão.
Os macacos também arbitram as bananas,
comendo-as. Os macacos não mostram
os cartões às esposas. Preferem seduzi-las
usando a inteligência. Não sei como vim
parar à selva. Talvez tenha corrido demais
atrás da bola.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Prémio de Poesia Manuel Alegre para Daniel Gonçalves

O poeta Daniel Gonçalves venceu o prémio de Poesia Manuel Alegre (atribuído pelo IPL), no valor de 7.500 euros, com a obra “Um coração simples”.
Daniel Gonçalves nasceu na Suíça e reside em Vila do Porto, na ilha de Santa Maria (Açores). É licenciado em Ensino de Português pela Universidade do Minho. Participou nas revistas literárias “Neo” e “Saudade” e editou já várias antologias de poesia como “A respiração dos gestos” Difel (2000), “Um lugar onde supor o silêncio” Labirinto (2004), "Afecto das palavras" Labirinto (2004) e "Dez anos de solidão" Labirinto (2007).
Participou ainda nas antologias, “Isto é Poesia” (Labirinto, 2004), “afectos 1” (Labirinto 2006) e "Os Dias do Amor" (Ministério dos Livros, 2009). Como coordenador reuniu em três volumes uma recolha do património literário de Santa Maria, Açores, intitulado “A memória é uma pedra que arde por dentro”.
Foi galardoado com vários prémios, como o Primeiro Prémio de Poesia do Concurso Internacional de Poesia do Centro Internazionale Amici Scuola (CIAS), promovido pela UNESCO, Itália, em 1993; o Prémio de Revelação de Poesia em 1997, promovido pela Associação Portuguesa de Escritores/Instituto Português do Livro e das Bibliotecas e o Prémio Cesário Verde em 2003.

Novas Teias

A tertúlia "Novas Teias" (com organização do PEN Clube Português) que terá lugar no dia 22 de Fevereiro, pelas 18 horas, na sede do Goethe-Institut, enquadra-se num ciclo quadrimestral intitulado "Novas Teias", dirigido por Catarina Nunes de Almeida.
Este ciclo tem por objectivo apresentar novas tendências, novos projectos, novas obras e novos autores de literatura portuguesa, propondo uma conversa informal, com intervenções variadas em torno dos temas escolhidos.
Esta primeira sessão terá como tema «Novas Revistas de Literatura» e conta com a participação de Maria Quintans, Luís Felício, Manuel Margarido e Ana Salomé.

Outras sugestões para os próximos dias


23 de Fevereiro (terça-feira):

VILA FRANCA DE XIRA - Biblioteca Municipal
No dia 23 de Fevereiro, a Andante apresenta, na Biblioteca Municipal de Vila Franca de Xira, às 12.H00 e às 15H00, para alunos do 2º ciclo, "Anatomias", um espectáculo com textos de Manuel António Pina, António Gedeão, Herman Melville, Jacques Prévert, Antoine de Saint-Exupéry, João Pedro Mésseder e outros.
Integrado no programa de itinerâncias da DGLB.
Mais informações aqui: http://www.andante.com.pt/anatomias.html


PORTO - Clube Literário do Porto
Dia 23 de Fevereiro, no Piano-bar do Clube Literário do Porto, pelas 21h30:
Poesia de Choque
com António Pedro Ribeiro e Luís Carvalho.


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24 de Fevereiro (quarta-feira):

LISBOA – Casa Fernando Pessoa
JAZZ NA POESIA EM LÍNGUA PORTUGUESA
"Poezz" foi editado em 2004 e teve por base a pesquisa e organização de José Duarte e Ricardo António Alves. Os dois autores estarão presentes na Casa Fernando Pessoa, em três sessões, onde se falará de e ouvirá jazz, mas também alguma poesia que constitui parte da mesma edição, o outro tópico destas conversas.
Próxima sessão: 24 Fevereiro 18H30
José Duarte, Ricardo Alves
Ana Hatherly, Filipe Melo
+ (combo jazz do Hot)
Casa Fernando Pessoa: R. Coelho da Rocha, 16 - Lisboa

SINES – Biblioteca Municipal
SINES - Diz-se Poesia Para Acordar!!!
Por Andreia Macedo.
Stand-up Poetry com textos de grandes poetas.
Centro de Artes de Sines - Biblioteca Municipal de Sines
Dia 24 de Fevereiro.
1.ª Sessão: 10h00-10h50;
2.ª Sessão: 11h10-12h00;
3.ª Sessão: 14h00-14h50.
Para 3.º ciclo e ensino secundário.
Mediante marcação.

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26 de Fevereiro (sexta-feira):

OEIRAS - Biblioteca Municipal
No dia 26 de Fevereiro, a Andante apresenta, na Biblioteca Municipal de Oeiras, pelas 21H30, o espectáculo “Amnésia” , um espectáculo sobre os livros e o prazer de ler, sobre a infância e as memórias, com textos de vários autores, encenação e cenografia de Rui Paulo, som e imagem de Fernando Ladeira e interpretação de Cristina Paiva.


PORTO - Clube Literário do Porto
Dia 26 de Fevereiro, no Auditório do Clube Literário do Porto, pelas 23h15:
XaTa - Projecto de Poesia Teatral
Org.: Associação Cultural Tenda de Saias.



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27 de Fevereiro (sábado):

LISBOA – Auditório do Campo Grande
Apresentação do livro "Etéreo" de Gonçalo Lobo Pinheiro, com a chancela da editora Temas Originais, no dia 27 de Fevereiro, pelas 19h, no Auditório sito no Campo Grande, nº 56, em Lisboa.
Obra e autor serão apresentados por Paulo Afonso Ramos.





LISBOA - Livraria Fabula Urbis
Apresentação, por Rui Almeida, do livro de poesia Transporte Sentimental de José do Carmo Francisco (edição C. M. Lisboa), na Livraria Fabula Urbis, no dia 27 de Fevereiro, pelas 19H00.
R. de Augusto Rosa, 27 - Lisboa.





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28 de Fevereiro (domingo):

FARO - Livraria Pátio de Letras
Dia 28 de Fevereiro, pelas 17 horas: poesia e música no Pátio de Letras.
Apresentação, com música ao vivo (viola d'arco e violino), do 2º livro de poesia de Manuel Paulo, Arca da Aliança.
Rua Dr. Cândido Guerreiro, n.º30/26 - Faro.

Correntes d’Escritas 2010

O Correntes d’Escritas 2010 – Encontro de Escritores de Expressão Ibérica, que decorrerá entre 24 e 27 de Fevereiro na Póvoa do Varzim, é o maior encontro de escritores do país e um dos mais importantes no mundo.
Nesta edição do Correntes d’Escritas, que contará com a participação de 66 escritores de 11 países de expressão ibérica, estão previstas 23 apresentações de livros, sessões de poesia e uma Feira do Livro, para além da entrega do Prémio Literário Casino da Póvoa, no valor de 20 mil euros; do Prémio Literário Correntes d’Escritas/Papelaria Locus, para jovens entre os 15 e os 18 anos, no valor de 1.000 euros; e o Prémio Conto Infantil Ilustrado Correntes d’Escritas/Porto Editora, para alunos do 4º ano do Ensino Básico.
Mais informações aqui.

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Luz Indecisa
José Mário Silva
Oceanos, 2009








os gatos de alhambra

Tão nítidos ainda, os olhos
dos gatos que cirandavam,
há tantos anos, nos jardins
fronteiros ao Alhambra.
Gatos livres, gatos imundos,
gatos quase selvagens.
Lembro-me da forma elíptica
como caminhavam rente aos
muros, como se enovelavam
no meio da vegetação ou se
escapuliam debaixo dos
automóveis com matrícula
estrangeira. Aqui e ali,
junto a latas de conserva,
densas aglomerações felinas.
Corpos em magma, ondulações
de pêlo crespo, um furor de
cabeças esfomeadas. E eu,
criança, a ver o espectáculo
da natureza, um brilho talvez
maligno em olhos tão animais.

Agora queria escrever um poema
sobre o palácio mas não consigo.
Estão dentro da minha cabeça
as imagens: mosaicos geométricos,
arcos, fontes, o céu de Granada
dos versos de Lorca e aquele
complexo labirinto de sombras
que deu um novo sentido à ideia
de frescura. Queria escrever sobre
Alhambra mas não consigo. Porque
os gatos que cirandavam nos jardins
fronteiros intrometeram-se. A sua
nitidez desfoca tudo o resto. Nada
resiste à distorção daquele caminhar
elíptico. Afogam-se, palácio e cidade,
no brumoso segundo plano.

História de um eclipse: tantos anos
depois, são os gatos de Alhambra
que vêm, devagar, contra a minha
vontade, acender este poema.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Hoje nasceu...


20 de Fevereiro de 1936

António Salvado

Poeta português





Artigos relacionados:
Biografia
Poemas: [Um cedro (persistente]; [Dentro da noite doidejando fan-]; Anelo
Outros artigos: Outono; Livro póstumo de Ledesma Criado; Recôndito; XII Encontro de Poetas Ibero-americanos; Odes;
Arquivo audio: ”Anelo”

António Salvado

António Salvado nasceu em Castelo Branco no dia 20 de Fevereiro de 1936.
Poeta, ensaísta, crítico, antologiador, tradutor, director de publicações, tem colaboração poética em antologias, revistas e suplementos literários.
Obteve várias distinções de que se destaca a comenda da Ordem de Santiago da Espada atribuída em 2010 pelo conjunto da sua obra poética.
Está traduzido em castelhano, francês, italiano, inglês e japonês. Verteu para português, entre outros, os poetas Cláudio Rodriguez, Ricardo Paseyro, Alfredo Perez Alencart e António Colinas.
Os seus textos em prosa têm sido reunidos sob o título Leituras, com seis volumes editados. Licenciado em Letras tem dividido a sua vida profissional pelo ensino e pela museologia.

Poesia:
A Flor e a Noite, 1955; Recôndito, 1959; Na Margem das Horas, 1960; Narciso, 1961; Difícil Passagem, 1962; Equador Sul, 1963; Anunciação, 1964; Cicatriz, 1965; Jardim do Paço, 1967, Tropos, 1969; Estranha Condição, 1977; Interior à Luz, 1982; Face Atlântica, 1986; Amada vida, 1987; Des Codificações, 1987, Matéria de Inquietação, 1988; Soneto em Lembrança de João Roiz de Castelo Branco, 1989; Utere Felix, 1990; Nausicaa, 1991; O Prodígio, 1992; Dis versos, 1993; O Corpo do Coração, 1994, Estórias na Arte, 1995; Certificado de Presença, 1996, Castalia, 1996; O Gosto de Escrever, 1997; O Extenso Continente, 1998; Rosas de Pesto, 1998; A Plana Luz do Dia, 1998; Os Dias, 2000; Largas Vias, 2000; Quadras (in)populares e Sábios epigramas, 2001; Flor álea, 2001; A dor, 2002; Águas do Sono, 2003; Pausas do Aedo, 2003; A Quinta Raça, 2003; Rochas, 2003; Coisas Marinhas e Terrenas, 2003; Entre Pedras o Verde, 2004; Palavras Perdudas seguidas de oito encómios, 2004; Se na Alma Houver, 2004; Ravinas, 2004; Malva, 2004; Quase Pautas, 2005; Recapitulação, 2005; Modulações, 2005; Os Distantes Acenos, 2006, Afloramentos, 2007; No Fundo da Página, 2008, Essa História, 2008, Odes, 2009, Outono, 2009.

Poesia reunida e reeditada em:
Pequena Antologia, 1986; ANTOlogia, 1985; AntoLOGIA II, 1993; ANtoloGIa II, 1993; Obra I (1955-1975), 1997; Obra II (1975-1995), 1997; Obra III (1995-1999), 1999; Sinais de Deus na minha poesia, 2005; Na Eira da Beira, 2005

Principais antologias organizadas:
Antologia das Mulheres-Poetas Portuguesas, 1961; Anunciação e Natal na Poesia Portuguesa, 1968; A Paixão de Cristo na Poesia Portuguesa, 1969; A Virgem Maria na Poesia Portuguesa, 1970; Antologia da Poesia Feminina Portuguesa, 1972; Orações dos primeiros cristãos, 1972; Oração e Poesia de Natal, 1985; Escritores Nascidos no Distrito de Castelo Branco, 2001.
Um cedro (persistente
aqui ao lado, como duração,
simbólica mentira,
aqui ao lado quase
ao massajar das mãos –
e há pombos, pombas, rolas e pardais,
que se acoitam ordeiros nas ramagens,
por vezes gritam mas não sei porquê)
comigo vai mantendo
uma conversação
de variados tons
sobre a vida e a morte,
as origens e os fins,
e surpresos ficamos no diálogo
cheio de reticências (na ausência
de afirmações cabais, d’indubitáveis
verdades insuspeitas) e alargamos,
enquanto, fascinados, nos unimos,
em mera sílaba pronunciada
a certeza do efémero.

António Salvado

Odes, Caixotim, 2009
Dentro da noite doidejando fan-
tasias.....enredadas.....alongadas
até ao cume da libertação;

cristalizando o vago.....o impreciso:
um rio sem correr a flamejar
nas trevas que o circundam entretanto;

e um corpo.....um corpo quando faz manhã:
fora da aurora a orla cristalina
da quimera que a luz enovelou…

O desengano.....porque o sol fortuito
abriga o despertar febril e mudo
na incerteza de voltar a pôr-se.

António Salvado

Castalia, A Mar Arte, 1996.

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Mapa

manuel a. domingos
Livrododia Editores, 2008






Soneto


tens o vício
de não fumar
não andas envolta
num poético

halo de fumo
não deixas
marcas de bâton
nas beatas

dos cinzeiros
lá de casa
esse teu hábito

anda a custar-
me alguns
versos

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

é tão fácil amar lugares
que não existem

recordar praças .....e pontes .....e travessas
onde nunca morremos por ninguém

quartos na penumbra de estores corridos
sobre a sonolência dos gatos em agosto
onde nunca chegámos atrasados

o tampo de mármore de mesas de café
onde as nossas mãos não se esconderam
por alguém ter entrado antes de nós

é tão fácil lembrar nomes .....e rostos .....e destinos
e colocá-los em nossos ombros .....e festejar com eles
as luminosas horas em que a vida
nos rodeava a cintura como um amante possessivo
e nós repetíamos o nome das cidades
onde nada disso tinha acontecido

é tão fácil assim
dizer adeus

sabendo que deus nem sequer assiste
à despedida

Alice Vieira
(in "Dois Corpos Tombando na Água")

Na voz de Sílvia Costa:

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Rumores para a transparência do silêncio

Daniel Gonçalves
Fotos de Pepe Brix
Labirinto, 2009





é uma viagem que não sabes como deflagrou
um espaço imenso à tua volta
que te incendeia os sentidos

fotografias que estão do outro lado do espelho
e uma música que solta a bombordo da tua alma
o pedaço de silêncio que te faltava

são sobretudo as palavras que te minavam as mãos
se quisesses mostrar o teu coração a alguém

e uma conta infinita de sonhos
cada um deles como uma árvore acabada de florir

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


João Lúcio
Poesias Completas

Organização de António Cândido Franco
Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2002







Tarde de leite e rosas, ouvindo a floresta

Tarde de leite e rosas. Cada aresta,
Tinha um rubi tremente:
Fomos ouvir o canto da floresta,
O seu canto de amor, ao sol poente.

Tu querias sorver os poderosos
Lamentos de saudade e comoção
Que, as raízes, dos fundos tenebrosos,
Mandavam, pelo ramo, pra o clarão.

Opalescera já, o ar. O vento,
Correndo atrás da sombra, murmurou...
Sentiu-se um fechar de asas. Num momento,
A floresta, cantou.

Em cada ramo, um violino havia:
Cada folha vibrava, ágil, sonora,
Par'cendo que escondia uma harmonia,
Nas sombras das ramagens, a Aurora.

Como a floresta, meu amor, eu tento,
Atirar o meu canto pra a altura:
Para a fazer cantar, toca-lhe o vento,
Pra me fazer cantar, no pensamento,
Passa o sopro da tua formosura.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


A Musa ao Espelho
PATHOS
Pequena antologia quase inédita
de poesia contemporânea portuguesa

(livro+cd)
Gailivro, 2007





Cantiga de Amor


Ó rosa dos sete ventos, por sete ventos
rodada,
defende-me
dos ladrões,
dos espantos doidos,
dos ventos,
e de mim. De mim também
e dos meus ventos
chorados.

Ó rosa dos sete espinhos
e no rochedo
cravados,
limpa o mar de todo o sangue, limpa a praia marinheira
das ondas do meu
pecado.

Limpa o coração deserto e a inocência do menino
trespassada pelo vidro da garrafa
arremessada
por veleiro sobre areia
adormecida,
por soltos cabelos
de água.

Ó rosa dos sete espinhos, por sete espinhos
rodada, traz-me o frio do céu limpo,
as nuvens da trovoada,
nos olhos do meu amor
e nas ruínas
abertas
de uma casa destelhada
ó rosa dos sete estrelos, por sete estrelos
rodada,
traz contigo todo o luto
desta música
inventada
no seu boné de marujo
ou no corpo não impresso de uma nota
descuidada.

Ó rosa dos sete estrelos, ó silêncio enevoado,
leva contigo
o Poema, leva contigo
a palavra.
Leva contigo
o Poeta
numa pérola de neve
e pela dor
fustigada
ó rosa clara de morte
ó nome do meu
amado.

Eduarda Chiote

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Livro de Reclamações
António Ferra
Fabula Urbis, 2010








O call center da minha prima

Prima, a tecla um
para assuntos comerciais de pouca monta,
prima, a tecla dois,
para saber das facturas que lhe debitam desencantos,
prima, a tecla três,
mas, prima, devagar, depois
de medir o que pergunta,
se quer saber se a vida é pr’a pagar
ao fim de cada mês,
na miséria que se junta,

prima, a tecla quatro
em desespero, porque não se sabe
com quem fala,
quem está do outro lado além da voz,
escondida numa sala,

prima, o cansaço pousado
numa mesa de cozinha
sobre copo de tinto a meio,
prima, a tecla cinco, que é minha,
onde vem as instruções
para horas de paleio

e para outros assuntos,
daqueles que causam dor,
prima, a tecla seis,
mas com cuidado
para não ser atendida
por qualquer operador

e veja com quem se mete
o náufrago sem jangada,
que neste mundo anónimo
onde «daqui fala fulana»
prima, a tecla sete
numa cabala montada

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

só à noite os gatos são pardos

Acaba de sair um belíssimo livro dedicado aos gatos, com textos inéditos de autores contemporâneos "só à noite os gatos são pardos", com ilustrações de Ricardo Ayres e prefácio de Sara Canelhas, organizado por Jorge Velhote e Patrícia Pereira (edição Cantinho do Tareco - Associação de Protecção Animal).
Participam na obra: A. Dasilva O., Alexandra Malheiro, Amadeu Baptista, Ana Luísa Amaral, António Barbedo, António Ferra, António José Queirós, Aurelino Costa, Bruno Béu, Carlos Lizán, Carlos Poças Falcão, Cristina Carvalho, Diogo Alcoforado, Fernando de Castro Branco, Fernando Echevarría, Francisco Duarte Mangas, Gabriel Mário Dia, Henrique Manuel Bento Fialho, Inês Lourenço, Isabel Cristina Pires, João Manuel Ribeiro, Jorge Velhote, José Álvaro Afonso, José Emílio-Nelson, José Leon Machado, José Miguel Braga, José Viale Moutinho, Luís Filipe Cristóvão, Luísa Ribeiro, Maria do Carmo Serén, Mário Anacleto, Nuno Dempster, Renato Roque, Rosa Alice Branco, Rui Amaral Mendes, Rui Lage, Sara Canelhas, Soledade Santos, Tiago Worth Nicolau, Teresa Tudela, Vergílio Alberto Vieira, Victor Vicente e Vítor Oliveira Jorge.

O GATO VENEZIANO

Ordet que te trago à mesa:
o ronronar do gato veneziano,
apanhado a engolir um piano
de cauda demorada.
Parecia um morto naquele soalho
turístico de Agosto a 40º.

Quando o vi pensei nos cegos,
sempre mortos do lado errado.
E se soubesse tocar piano
tinha espalhado aquele negro todo
pelas teclas brancas do teclado.

Como sou fraco de dedos para tudo
o que não meta mortalhas e rosas,
ataquei duas talhadas de melancia.
É como diz o poeta: há que aproveitar
«bem o tempo antes que
comece o passado
a parecer-te
mais longo que o possível futuro».

E como ela era boa, a melancia,
noite dentro do dia,
fresca, líquida, esplendorosamente clara.
Quanto ao gato, passei-lhe o flash
pelo pêlo
e vim-me embora de gôndola
a pensar nos cegos de Lisboa
que não têm zelo
nos pianos servidos à mesa da palavra.

Henrique Manuel Bento Fialho

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Poemas da Prisão e do Exílio
Nâzim Hikmet
Tradução de Rui Caeiro
&etc, 2000






O espelho encantado

Praga é um espelho encantado
Ao olhar-me nele
Encontro os meus vinte anos
Sou como um salto em frente
Sou como trinta e dois dentes
sem cárie
E o mundo é uma noz
Mas não quero nada para mim
Só a mulher que amo
A tocar os meus dedos com os seus
Que abrem todos os mistérios do mundo

As minhas mãos partem o pão
pouco para mim
Muito para os meus amigos
Nas aldeias da Anatólia
beijo olhos que sofrem de tracoma
E chego algures a terra distante
Para a Revolução mundial
Trazem o meu coração num coxim de veludo
Como se fosse a ordem da bandeira vermelha
Uma fanfarra toca a marcha fúnebre
Sepultamos os nossos mortos junto de um muro
Sob a terra
Somo sementes fecundas
E as nossas canções estão escritas na terra
não em turco, russo ou francês
Mas em cançonês
Lenine está acamado numa floresta com neve
Franze as sobrancelhas
A pensar em alguém
Olha até ao fim das trevas brancas
Vê os dias que hão de vir

Sou como um salto em frente
Sou como trinta e dois dentes
sem cárie

E o mundo é uma noz
Com uma casca de aço
Mas inchada de esperança
Praga é um espelho encantado
Olho-me nele
Mostra-me no leito de morte
A testa alagada em suor
Como se a cera da vela tivesse gotejado
Os braços ao longo do corpo
A tapeçaria verde
E pela janela
Os telhados cobertos de fuligem de uma grande cidade
Esses telhados não são os de Istambul
Os meus olhos estão abertos
Ainda os não vieram fechar
Ainda ninguém sabe
Inclina-te para mim
Olha nas minhas pupilas
Verás nelas uma mulher jovem
Na paragem do eléctrico à espera à chuva
Fecha-me os olhos
E em bicos de pés
Sai do quarto, camarada.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Outras sugestões para os próximos dias

18 de Fevereiro (quinta-feira):

ESTORIL - Espaço Memória dos Exílios
Sessão Noites com Poemas no espaço Memória dos Exílios, no Estoril (antiga estação dos Correios, junto à estação de comboios).
No dia 18 de Fevereiro, pelas 21h30.
Nesta sessão irá realizar-se o lançamento do primeiro livro de poemas de David José Silva, A Terra Fria (edição da Apenas Livros).
Haverá ainda leitura de poemas de Francisco José Lampreia, Estefânia Estevens, João Baptista Coelho, David José Silva, Mário Piçarra, Carlos Peres Feio, David Zink, Edite Gil e Francisco Félix Machado (os Jograis do Atlântico), e Jorge Castro.

......................................................................

20 de Fevereiro (sábado):

PORTO – Clube Literário do Porto
Dia 20 de Fevereiro, no Piano-bar do Clube Literário do Porto, pelas 18h00: Portugal Poético
Tema: José Afonso - Vida e Obra
Org.: Rui Fonseca





SETÚBAL - Câmara Municipal
Apresentação do livro de poesia “Varandas de Luar” de Dalila Moura Baião, (edição Temas Originais), no Salão Nobre da Câmara Municipal de Setúbal, no dia 20 de Fevereiro, pelas 15H00.
Obra e autora serão apresentadas pelo poeta e artista plástico Silvestre Varela Raposo e por Maria Lina Faria, respectivamente.



LISBOA - Auditório do Campo Grande
Apresentação do livro de poesia erótica "Respiração das Coisas" de Luisa Demétrio Raposo (edição Temas Originais) no Auditório do Campo Grande, 56, em Lisboa, no dia 20 de Fevereiro, pelas 16H00.
Obra e autora serão apresentadas pelo poeta António MR Martins.




LISBOA - Auditório do Campo Grande
Lançamento do livro de prosa poética “Entre as margens da memória” de Paulo Afonso Ramos, (edição Temas Originais) no Auditório do Campo Grande, 56, em Lisboa, no dia 20 de Fevereiro, pelas 19H00.
Obra e autor serão apresentados pelo jornalista Mário Nóbrega.

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Os Selos da Lituânia
Amadeu Baptista
&etc, 2009







substituí no coração o meu avô, que era barqueiro,
por este homem que morava no segundo andar
do prédio em frente. à porta, sobre uma coluna de madeira,
tinha uma begónia sempre florida e uma avenca,
e só me permitia entrar sob promessa
de estar calado e de, em caso algum, tocar em nada.
invejava-lhe a caneta azul-escuro montblanc, com aparo
de ouro, quase igual à que alguém me ofereceu
no último aniversário, e a caligrafia taquigráfica
que eu não sabia ler, mas admirava,
pelo negro brilhante a inscrever-se
no papel branco ou lilás que utilizava.
ele escrevia quase incessantemente.
à tarde recebia muita gente que trazia,
em pastas de couro muito velhas, inúmeros
documentos, áscuas de um mistério
absoluto. analisava tudo pormenorizadamente
e, com minúcia, anotava-os, sempre em busca
de um detalhe talvez inesperado e valioso, que o fazia
ir à procura em livros muito grossos
de coisas que ninguém mais entendia,
com os óculos de massa puxados para a testa
e um lápis viarco atrás da orelha. gostava imenso
de contar histórias, o que acontecia
quando estava bem disposto e se sentava
na poltrona forrada de veludo, ou porque os negócios
lhe corriam melhor do que esperara
ou o almoço estivesse para além das suas expectativas.
fazia uns cigarrinhos que fumava e deslumbrava-me
a extrema destreza com que punha
entre os dedos os fios de tabaco e os enrolava
na mortalha, molhando-a com saliva,
num movimento rápido dos lábios e da língua.
depois, ficava horas a desfiar aventuras em cima de aventuras,
que só tarde demais percebi que inventava
e nada tinham a ver com a sua própria história,
embora hoje ainda me espante como divagava
assim sobre tigres e leões sem os ter visto alguma vez
e as suas viagens não passassem
de tristes itinerários entre os guindais e a cantareira.
falava sobre os vulcões da islândia e o mar de riga
com a familiaridade de quem lá tivesse vivido a vida inteira
e o seu olhar adensava-se sobre as coisas
como se nesse momento estivesse de partida.
havia dias em que estava deprimido
e mais para o fim, um dia, reparei
que secretamente observava
um volumoso conjunto de postais
de mulheres nuas que mais tarde
vim a encontrar reproduzidas numa edição
da forbiden erotika e o devem
ter aliviado do desalento de estar um homem velho
e muito fatigado deste mundo
que vale muito pouco para quem, como dizia,
já passou dos setenta e está casado
com uma megera há tantos anos
que só mesmo uma angina de peito faz sentido.
também para o fim, já não tolerava
mais nenhuma presença além da minha
e a de um gato siamês a que estimava
e dava lições de canto ao som de um disco
da callas, sempre o mesmo,
sempre na mesma faixa, durante tempos e tempos
infinitos. no dia em que se foi, jurei para mim mesmo
não mais entrar naquela dependência
e o faria não em sua memória mas em nome
do que me soube e quis ensinar com tanto afecto
e argúcia. é dele que preservo
os selos da lituânia.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Hoje é dia de poesia erótica!

Caros etéreos,
como sabem, para este passatempo, o tema era o erotismo. Este passatempo foi patrocinado pela editora 4Águas, que ofereceu 10 exemplares do livro de poesia erótica "Amo Agora" de Casimiro de Brito e Marina Cedro para os primeiros 10 participantes que enviaram os seus trabalhos.
Assim sendo, os participantes mais rápidos que receberão livros são os seguintes:
Alexandra Malheiro
João Tomaz Parreira
Raquel Lacerda
Fernando de Jesus Ferreira
Jorge Castro
Fernando Aguiar
José M. Silva
António José Queiroz
Adauto Suannes
Antonio Miranda

Eis todos os poemas participantes, pela ordem que chegaram:


Promessa cumprida

Prometi não falar hoje,
das esquinas do teu corpo,
nem do sangue que me foge
e deixa o meu quase morto.

Prometi nem pensar
na curva-contra-curva
desenhada no teu peito
nem no avanço contrafeito
dos dedos pelo teu ventre
até à encosta onde acosta
o teu desejo fremente.

Prometi não te pensar
como o lobo pensa a presa,
desejei não desejar
teu corpo de sobremesa,
ou sobre a mesa,
ou sobre o chão,
ou nas paredes…
da casa…

O teu cheiro
em toda a parte
só tu não…

Alexandra Malheiro
www.alexandramalheiro.no.sapo.pt
*****


Eu quero beijar a tua rosa

Eu quero beijar a tua rosa
Um sinal ao fundo
das tuas costas
que se desenham sob a roupa
Eu quero que recomecemos
do princípio
quando desço pelo declive
que começa nas espáduas
E absorto do mundo ao redor
firme meus dedos
nesse caule dessa rosa
que mexe com teu corpo
e me chama por Amor
como um sinal.

João Tomaz Parreira
http://poetasalutor.blogspot.com
*****


Via na luz amarelada
do seu corpo
dobrado
dentro do seu peito,
a galope
a respiração ofegante
de quem ama a mais, por ser assim o amor.
Amar a mais,
com as mãos,
os lábios frescos
pedem
só mais um pouco
dessa canção
em que danças.

Raquel Lacerda
http://asinhasdefrango.blogspot.com
*****


Ensina-me o teu corpo
as tuas mãos
o teu peito

Ensina-me o teu sexo

Ensina-me o teu amor
O teu amar
O teu mar

Corpos em fusão
num movimento
perpétuo
Como animais de luz
esgotando-se num prazer
infinito

Ensina-me o silêncio
das coisas inefáveis
do saber atávico

Fernando de Jesus Ferreira
*****


L(e)itania

todo eu me pelo
ao ver cabelo
e ao mordê-lo
mordiscá-lo
afagá-lo
alisar-lhe
os caracóis
e sermos dois
entre vales de lençóis
por tanta míngua
se calhar vingo-a
com a língua
na raiz das coxas
quando puxas
sedas roxas
para trás
porque nos cobre
e descobre
quanto sobre
do prazer
que entre nós há-de ser
o que se quer.

Jorge Castro
http://sete-mares.blogspot.com
*****


E SE O RISO

e se o riso sobe e se o sonho sua
sobre a tela ponho o esboço que faço
de te ver tão bela, de te ter tão nua
que sobre a imagem o teu cheiro ameaço.

e se pronta te dás quando na cama me cercas
e se na pele te velejo numa brisa tão pura
nos instantes que encontro, não deixo que percas
na forma dos mamilos a cor desta loucura.

e se queres que te aprenda quando vês que te vejo
e se exulto arfando à força de te amar
e se de noite te acendo e na penumbra te beijo
é no teu mar de desejo que me quero afogar.

Fernando Aguiar
http://ocontrariodotempo.blogspot.com
*****


Dispo-me

Dispo-me…
no segredo nu
das tuas vestes irresistíveis
no olhar concavo,
do imaculado desfruto.

Navego-te, oceano
turbulento de águas febris,
franqueio o veludo tépido dos poros
a estalar como átomos inebriantes
na voluptuosidade do anelo.
Cópulas intensas evocam lençóis brancos
como sementes, coadas nos corpos
num ledo e fogoso pórtico semiaberto
ás combustões macias dos tecidos
do sinuoso e profundo lago imaginário.

Danças em mim, despojos d’alma,
visto-te com a minha pele, toco-te…
submergem da languidez adormecida
do teu corpo espasmos, orgasmos,
renovados no respiro ofegante da
da ressoada e porosa fonte!…

José M. Silva
http://esquicospoeticos-avlisjota.blogspot.com
*****


Ensina às minhas mãos
o caminho do teu corpo.

Faz com que subam
às pequenas colinas
onde a luz indecisa
se demora pela manhã.

Cegas, descobrirão
o delírio da água
na fonte incendiada.

António José Queiroz
*****


Maria de Jesus

Maria de Jesus
tu és afronta
és negação total da religião
És toda carne
e tão roliça
e tão cheirosa

Tens no prenome
(logo quem)
o Salvador

Laboratório de uma rua inteira
onde aprendemos biologia
anatomia
e tanta coisa
tanta coisa

Até matemática:
um e um dois
nem sempre
às vezes três
depende do sexo
tudo depende do sexo
todos dependem do sexo,
Maria.

És sem vergonha
tão cretina
que eu me revolto
procuro outras marias
menos tremendas
mais recatadas
não tão altruístas
não tão roliças
não tão gostosas

Tão sem graça essas marias!

Que me revolto
e volto a ti
que tens em ti o Salvador
e és a minha salvação
atestado da minha virilidade

Maria de Jesus
tu és um mundo

Adauto Suannes
http://www.circus-do-suannes.com
*****


O COITO DO SÁTIRO

I
Na penumbra de uma lua minguante enxergou
uma casa modesta, coberta de telhas arruinadas
e nenhuma cama decente
para descansar da fadiga caminheira.
Redes no meio de um quarto sem adorno e sem móveis.
Um cenário de sombras.
O sátiro arrojou-a na rede suja
e esforquilhou-se sobre seu corpo trêmulo,
despindo-a com rudeza,
com os pés plantados no assoalho.
Desvestiu-se da camisa e,
uma perna
depois da outra,
desvencilhou-se da calça de brim escuro.
Apareceram, então, entre as pernas,
dois pênis imensos excitados e vibrantes
como duas serpentes libertas.
Dois pênis sobrepostos, olhos de fera, faiscantes.
A lamparina extinguia-se lampejante,
exalando um cheiro de queimado.
Carnes indefesas,
besuntou-a com sucessivas demãos de saliva grossa
e começou a introduzir-se com fúria.
Tamanha a dor e acabou desfalecendo.
Depois ele repetiu o assalto pelo ânus.
Começou a penetrar as cavernas até não mais poder.
Um estrebucho de frêmito até aos estertores
do gozo, relinchando vitorioso.
Acordou as galinhas nos poleiros e os animais nas coxias.
O sangue jorrava dela
enquanto o fauno saía correndo
para o riacho próximo,
arrojando-se nas águas
para apagar as brasas de seu corpo enfermo.

II
O silêncio acometeu os corpos exauridos.
O homem estremecia no sonho saciado
e perturbava a noite com os roncos de bicho extenuado.
A jovem no torpor de um pesadelo e gemidos constantes.
Na tarde do dia seguinte abriu os olhos e viu
as réstias de luz invadindo o quarto hediondo.
O companheiro dormia um sono ruminante.
Saiu engatinhando até a soleira da porta
para ofuscar-se com as luzes invasoras
de uma tarde declinante.
Avistou uma ingazeira portentosa e um pasto ralo
no horizonte difuso.
Encontrou mais adiante um cocho com água da chuva
e meteu a cara até sentir afogamento
quando percebeu que estava nua.
Viu um machado repousando junto à porteira
e agarrou-se a ele com a força que não tinha.
Sentiu o ímpeto de salvar-se
valendo-se daquele instrumento de justiça.
Tentou arrancá-lo das entranhas
da madeira de um tronco caído
mas não foi capaz.
Ainda intacto o saco em que trouxera seus minguados pertences.
O vestido de noiva prostrado sobre o chão poeirento.
Saiu avexada até embrenhar-se na caatinga
em direção desconhecida.
Errando pelos caminhos de tropeços e espinhos.
Arfando e farejando “com sôfregas narinas”
como escreveu o poeta Humberto de Campos.

Antonio Miranda
*****


SURPREENDE-ME

Surpreende-me...
Querer desejo incontido
Lambe-me os seios
desmancha-me a loucura
usa-me as coxas
devasta-me o umbigo
mostra-me tua bravura
abre-me as pernas
põe-nas nos teus ombros
e lentamente faz o que te digo
os meus seios pendentes
nas tuas mãos fechadas
Encostada de costas quentes suadas
ao teu peito inchado
em leque as pernas dolentes
abertas
o ventre inclinado
ambos de pé colados
despertas
formando lentos gestos de ternura
as sombras brandas
tombadas no soalho leito
Corpos excitados
Em morna loucura
Estranho feito
Que em tempo perdura

Ana Bárbara de Santo António
http://anabsantoantonio.blogspot.com
*****


Sexo…

Fome carnal…

Olhar… atracção, desejo…
beijo… sabor, cheiro…
toque… envolvimento, excitação…

Pele macia, sedosa…
cabelo solto…
mimos, carícias…

Lábios, orelhas, pescoço…
seios, nádegas…
pénis, vagina…

Curvas e contra-curvas de sensualidade…
carne… mais desejo…
erotismo…

Chupões, dentadas…
penetração…
sexo…

Posições dinâmicas… movimento…
devagar, depressa… ritmos vários…
voltas e mais voltas…

Dois corpos fundidos num só…
arrepio…
prazer… orgasmo…

Larva de vulcão…
fonte… cascata…
rio e seus afluentes…

Sexo…
alimento da paixão…

Saul Neves de Jesus
www.ualg.pt/~snjesus/fotopintura
*****


Poema de amor para chatear o Camões

num dia cinzento
uma amiga colorida
apareceu-me num sonho cor-de-rosa

mas ainda estávamos muito verdes
e nada estava preto no branco
foi na verdade por uma unha negra que não nos demos bem
(entalei-lhe um dedo ao fechar a porta do salão)

nada disso impediu que continuássemos juntos
sempre pela noite dando com a língua nos dentes
depois de ela me dar uma mãozinha
e de eu lhe dar um braço a torcer

descalça a minha bota e depois penduradas as suas
encostava-me a roupa ao pêlo
e eu levava as minhas mãos muito a peito

metíamos os pés pelas mãos em noites de maior excentricidade

punha-me sempre a pau
ela prometia-me mundos e fundos

quando partiu ficou como um negrão na minha vida
eu fiquei na sua como um ponto negro

a verdade é que
estou-me nas tintas

Bruno Santos
http://aranhicaselefantes.blogspot.com
*****


dentro do teu corpo
há um barco que te puxa

as mãos que são as tuas asas
a boca que é a tua rosa aberta
à procura do fogo

dentro do teu corpo
há um barco que te navega

as palavras que não dizes
o silêncio com que tropeças
na solidão

dentro do teu corpo
há um barco que te rodeia

o sangue que te respira
o amor que desenhas
com um suspiro

Daniel Gonçalves
http://afectosepalavras.blogspot.com
*****


segue-me a linha do corpo

segue-me a linha do corpo
no arrepio que provoca a brisa do teus lábios
inunda-me o ventre com o ondular dos teus cabelos
e serena repousa o ósculo
no pico extasiado do falo
que te desperta
a fome
de carne doce

engole-me
seduz-me na vertigem da tua língua

os meus sentidos emergem
na graciosidade gesticular
das tuas pernas
que, estremecendo,

procuram a foz de um rio feito de pétalas
e plumas da alvorada.

José Alexandre Ramos
http://quefarei.blogspot.com
*****


Na Gruta de Helena

Uma deusa de longos cabelos prateados
foi derrubada no esplendor da alba,
gemeu como ave ferida de desejo
enquanto caída, cheia ainda de paixão.
Eu ia no corcel em que era espetada.

O corpo estremecia no mármore fresco
o olhar fixo no tronco do fogo da paixão,
os lábios húmidos sugando o sexo dos astros
uma roseira, erguendo-se agarrada às vozes.
Eu bebi o interior transparente das anémonas.

Como Heitor no carro doce da vitória
todos os cânticos no gume feérico da pele,
enquanto no elmo a cabeça ainda sadia
e o tronco indomado ainda garboso.

João Rasteiro
www.nocentrodoarco.blogspot.com
*****


A tua boca me encanta
Seu rosto definido
Beleza tanta
Deixa-me tímido

Falar com você
Tocar em suas curvaturas
Enche-me de prazer
Faz pensar em consequências futuras

O amor floresceu
Seu sorriso me enlouqueceu
O umbigo apareceu
Desceu

Aquele vestido vermelho...

Marcelo Torca
www.marcelotorca.com
*****


pele

a pele
é um rio
sendo que um rio
é tudo
ou nada.
estio
fartura
sede
fome.

sangue
e sémen
escorrem
vibram.

poro a poro.
a boca,
cálice,
degusta
o sagrado sabor da vida.

Conceição Paulino
http://acordavida.blogs.sapo.pt
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O PAPEL SORRI

silenciosamente,
de forma quase inaudível
o lápis sussurra palavras ao papel.
e o papel sorri.

letra após letra,
o lápis acaricia
a alva folha,
que de felicidade sorri.

do lápis,
as ideias brotam
sobre o papel
e ambos fazem nascer
a poesia.

lápis e papel
trocam afagos com letras.
dão abraços com palavras.
são sentimentos
através das ideias
e em conjunto constroem o poema
até à palavra FIM.

...o lápis cansado
deita-se em merecido descanso...
...enquanto, de alma preenchida
o papel sorri.

Eduardo Roseira
http://ecosdomeupatio.blogspot.com
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Entre Corpos

Traço entre traços de pele e suor
Um enlace de amplexos fugitivos,
Suave miragem de prazer e dor
Perdida entre movimentos furtivos.

Um demónio devaneia entre os vivos,
Estendendo as mãos em lascivo fulgor,
Como um deserto fogo de olhos esquivos
Fugindo da voz de um fogo maior.

Corpos sobre almas de êxtase e loucura,
Pecado e luz no leito da vontade
Que canta em gritos a eterna loucura

De um perfeito sacrilégio, de um mundo
Liberto em vozes de audaz liberdade
No cântico de um altar mais profundo.

Carla Ribeiro
http://valedassombras.blogspot.com
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anseio pelo momento de escrevermos poesia
ou palavras de vida
nos beijos de nossos corpos entrelaçados.

beber as gotas do amor,
ser mar.

Vicente Ferreira da Silva
http://inatingivel.wordpress.com
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ATRASOS…

Sempre olhavas o relógio
E as horas marcadas
Para estar em casa

Quando começava
A despir-me
Olhavas-me cobiçoso
E tocavas-me
Onde sabias

As horas ficavam para trás
(Mas nunca te atrasavas
Em casa)

Atrasavas-te só em mim
No reboliço
Em que deixávamos
Metade de nós….

Paula Raposo
http://romasdapaula.blogspot.com
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MOMENTO DA LUZ 3

E ainda por entre os cortinados de vento
Te contemplo. Os teus gestos. O jarro.
A água embebedando-se na luz do teu corpo
Onde a claridade é morena.

Os teus fémures lembram pórticos antigos.
O silêncio ruge-me entre os dentes
Que lavo, enquanto te vejo, aproximando-te,
No espelho.

Os teus braços enleiam-me. As minhas
Vértebras estremecem. O mundo recebe-nos
Com o relincho dos frutos.

Luís Costa
http://oarcoealira.blogspot.com
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Luandino apalpa-a com dedos lassos,
Frouxos.
Toca-a como se num receio.

Parece que ele afaga a testa de um velho:
O côncavo da mão a recusar o bico do seu seio.

E ela o que quer é sexo.
Sexo, sem denguices nem rodeios.

Encosta-se nele.
Sente-o todo no vestido fresco.

Mater desejosa, roça-se.
Beija-lhe cada mamilo.
Morde-o.

Virgem arrependida, Luandino…

Ela a ganhar vantagem.
Ela a lamber-lhe o sexo.
Ela a chupá-lo.

Luandino e ela
Ela e Luandino…

Maria de Fátima
*****


Nos teus lábios
Uma gota de água
Desperta a sede

Nos teus seios
Uma gota de água
Treme e escorre
No teu umbigo

Uma gota de água
Inunda o olhar
No teu corpo

Uma gota de água
Perde-se feliz

J. Caldas
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O ESPANTO DEITADO

Primeiro foi uma sensação a veludo nas mãos, a carne à flor da pele
era macia de um modo tão suave a pedir só mansidão e elas
as mãos, transcorriam bêbedas com todos os seus 10 dedos nas polpas sensíveis e
eu lá ao fundo, no final da sensação, navegava com toda a preguiça esboçada do mundo
por aquele mar de novidades que o teu corpo me emprestava
no silêncio ofegante da noite.

Estavas ali deitada, absorta no teu sonho inteiro de ser
escultura para as minhas mãos, e eu sentia-te a crescer nas ondas da respiração e
de um lado e do outro, ambos éramos mais próximos
como se houvesse uma indeterminada luz pelo meio,
que tínhamos de possuir exactamente ao mesmo tempo.

Tudo ilusão.
E, no entanto não era. Eu estava ali, tu também, éramos dois corpos
com as portas abertas a tudo. A aragem das mãos esvoaçando sobre
a tua pele de veludo, era o que sobrava do silêncio de chumbo
que os nossos corpos mortais no fundo faziam. Havia entre nós
um nó inteiramente aceso por dentro, onde as línguas mais aprumadas
já não soltam palavras.

E os gestos criavam outros mundos, onde só nós cabíamos,
onde só nós éramos quase perfeitos
à espera de o sermos.

José Alberto Mar
http://ecvcaminhando.blogspot.com
*****


Verão

Atravessamos o calor
pelos lugares felizes,
corpos cúmplices do sol,
mergulhamos nos sorrisos
sem portas, sem paredes,
os dedos lentamente
adivinham os desejos

Constança Lucas
http://constancalucas.blogspot.com
*****


FALO E FALAS

É uma tentativa; a máquina está ungida, não pode ser um fardo.
Põe-se e tira quando a tomo e recomeça quando acabo.

Um mecanismo de vaivém, um puro dualismo, uma dinâmica entre o corpo e
O mais além.

Outra situação, terceira, terceiro sexo ainda sem resolução…

Será perfeito! Sexo, máquina, engenho, experienciando o tamanho do órgão
Que está prenho.

Fala. Na boca o falo me fala, sendo o dizer tão perfeito que o falo me cala.
Quem o não tem é uma máquina a vapor, onde o dizer serve a industria do
Termo-ventildor.

Amélia Vieira
*****















Quero beijar tua boca
morder tua nuca
invadir-te o ventre
penetrar teu nicho
te amar
como bicho

Renato Mattos Motta
http://remamo.blogspot.com
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os cabelos desenrolados
para fora
como se de fora
fosse a ordem doce
agora
teclado
de madeixas
mas deixas
desenrolar
o cabelo
longo
sobre o meu peito
sem cabelos
além dos teus
olhos
escuros e maduros
olhando
olhando
a olhar para os meus
olhos
de despedida
de desejo
de regresso
de sucesso
mãos
mãos
muitas e muitas mais
tantas mãos a tocar
em ti
em mim
assim
braços
cabelos
joelhos e
cotovelos
dobraduras
dobras de pele
sobras de pele
na falta de saliva
na boca a secar
secando
em tudo
o que sobra
de terra
de água
de fogo
e de ar
a secura dos elementos
alimentos visuais
para invisuais
os cegos
que não olham
como nós nos olhamos
que não sabem olhar nos olhos
que não querem ver
que não nos querem ver
porque nós
tu mais eu
nós
damos nós de órgãos
de membros
de beijos
nós tu mais eu
nós nós
afastados
estamos perto
de estar juntos
ansiosos
por estar juntos
sedentos
de estar dentro
de nós
dentro de mim mais dentro de ti
em tudo
em nós
falta de ti
em mim
e tu
de cabelos bravos
bravos
como flores com picos
espinhos de flores
coroas de amor
que alguns não vêem
que alguns não têm
mas que tu mais eu
mas que nós tu e eu
temos
sabemos e somos
o mar
um mar
amar
um qualquer mar.

Luís Lima
http://luislima.tk
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VEM, UM GRITO

VEM,
grito
Não sei se é sonho
Ou se estou mesmo
a gritar...

Sinto a tuas mãos
em todos os recantos
do meu corpo

Descem,
sobem,
frenéticas,
provocadoras,
sedutoras.

Cedo,
dispo-me.
Fico nua
e o teu olhar
encanta-me.

Não me tocas e
endoideço.

Quero-te.
VEM
Mas não sei
se me escutas.
Continuas
a olhar-me.
Incapaz de te ler,
de saber
o que queres,
tapo-me.
Fico
envergonhada.
Baixo a cabeça
e sinto a tua boca
na minha nuca.
Acordei
com o desejo
que não soube ler
no teu olhar

Marta Vinhais
http://www.amartaeeu.blogspot.com
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Jenuflexão

Lobato era batido, cruel e desalmado.
Uma fera para as moças esperançosas.
Dava-lhes com palavras doces, não danosas
e algum farfalho, até meter, afoito, o nabo.

Miquelina era - assim corria no Lugar -
virgem, uma planta, pura como as santas.
Até surgir o Lobato, manhoso, que às tantas
face a recusa tanta, cede e acena c’o altar.

Aceita ela por fim a virgindade perdida.
Mas na hora marcada, por cruel ferrete
Miquelina sustém da porra a corrida...

- Quero uma coisa fina, de lembrete
que de fodas apressadas estou varrida.
Ajoelha, pois, que morro por um minete.

Eusébio Tomé
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Saudades, essas, morrerão terrivelmente sozinhas

a porta entreaberta
dá azo aos arrepios
que já me conhecem o mapa do corpo
e sabem exactamente onde cair
peço-te que a encostes,
fica mais quente assim
e sorrio,
aquele sorriso de malícia
que tantas outras vezes
me valeu um beijo sem fôlego
arrastas a pele para mim
roçando o cabelo nos meus poros desprevenidos
um braço sobe
tocas-me o rosto
como se apreciasses a escultura mais nobre
de contornos singelos,
a medo
um beijo no pé,
uma costura que rasga;
um aperto no sangue e na voz:
somos a noite,
em esplendores raros,
em denúncias ao céu
sinto-te
enquanto te passeias na praia que é o meu dorso
areia fina,
alva:
língua que morde
chegas-te a mim,
olhos fechados para melhor bebermos o amor
desprende-se o pecado do tecto
cortei-lhe o fio
quebra-se no chão,
em lençóis, paredes, mãos, costas
tenho os pés frios
e o coração a ferver
encaixa-te
fazemos do escuro aliado de murmúrios de um prazer partilhado
e faço-me demorar em ti
qual doença,
qual tempestade que não quer ir embora
não vamos mesmo embora, nunca
falar-te dos teus lábios
que inspiram a poesia
amar com as mãos
assim.

Soraia Martins
*****


Belisama

Chaminé antiga. Casais de
pombos, grasnar de gaivotas.
E o Rio azul e doce dos sonhos de
loucamente. E o Rio da boca espantada
das máscaras sem eternamente.
O Rio triste, simplesmente triste,
nem sonhos, nem alegrias, teatro
enfadonho dos velhos dias.

Eu tenho um rio a correr desde os primórdios
do tempo, um rio de ouro em pó e vento, veneno,
e firmamento, um rio de nadas de praias onde
mergulhas e nadas e foges das minhas saias.
Por nadas te deixas prender, por nadas me fazes
sofrer. Por nadas me anoiteces, me escarneces,
me enfureces! E eu sempre a amanhecer.
És o meu rio fundo e negro, de esquecer.

As águas brancas dos rios são raras como
o coral. Mas o comboio da estação, depois
do tempo das velocidades, deita-se para o lado
e morre de ferrugem e estagnação. Meu rio
fundo e negro, a macerar, de esquecer.
Meto-o na frigideira e vou à praça para
o vender. Amanhã faço anos, e não sei mais
que fazer

Myriam Jubilot de Carvalho
*****


Nua de Corpo e de Espírito

É neste aconchego de nós,
Bafejados pela sorte,
Que nos mantemos despertos e etéreos de sentidos,

É nesta concupiscência sadia,
Que fixa em mim o desejo de entrega,
E a vontade de dar uma voluptuosa mordida,
Nesse único corpo,
O teu,
Que eu me consinto agir tal como se fora uma cobra atenta,
Que de forma sub-reptícia vai ondulante pelo terreno,
Em busca daquilo que lhe possa trazer algum alimento.

É apenas nesse teu corpo,
Meu espaço sideral,
Que eu aprendo a ouvir e a escutar os segredos,
Que entre mil suspiros e ais nos vamos revelando,
Enquanto recebemos o alento de nosso próprio desempenho.

Só nos teus rios,
Eu me consinto mergulhar por completo,
E cedo à tentação de querer experimentar os únicos caminhos
Que me provocam um tesão enorme no espírito e no corpo,

Refiro-me a teus doces gostos,
Aqueles a quem dou satisfação,
Somente a ti,
Meu generoso e viril companheiro,
Eu pretendo entregar,
Estas cálidas tentações de um tempo de desabafo e de partilha.
É a arte de Amar,
Que nos torna sublimes e nos obriga a estar vivos,
Por isso te venho confessar,
Que é neste aconchego de nós,
Que dia após dia,

Tenho poisado nua e sôfrega sobre ti,
E minhas asas sobre o teu firmamento,
Como se fora uma ave de rapina que esvoaça pelo alto dos céus de garras encolhidas,
A fim de poder respirar a atmosfera por completo,

Solto-me,
Desta ânsia de infinito que nos leva a querer morder de desejo o nosso outro,
A fim de poder apaziguar,
Esta fome de sentido que nos prende reciprocamente
E que nos tem ajudado a emoldurar a vida.

Beatriz Barroso
*****


Escarificas o restolho cansado
que me cobre a pele
revolves a carne superficial
onde a dor se aloja confundindo
os impulsos impenetráveis
da morte

Os sulcos que rasgas
na superfície instável (ainda
vegetação primitiva) impedem
o regresso da conversa concupiscência

Escarificas o restolho
preparando o corpo para o ódio
discreto da amplexa plenitude
deriva obtusa do sexo
inquieto.

Vítor Gil Cardeira
http://quintacativa.blogs.sapo.pt
*****


Psicanálise

E se algum dia um psicanalista
me acusar de egocentrismo
e disser que finjo ser poeta
para fugir à realidade
e que cada verso
é uma tentativa absurda
de superar um desejo recalcado
direi que sim!

Direi que sim
porque quis escrever estes versos
enquanto não fazia outras coisas.

Depois desenharei ao psicanalista, uma mulher
redonda, uma mulher prenhe e redonda
tão redonda como a terra
mas talvez menos achatada no pólo sul
e com um fosso Índico onde nadam os peixes
dentro da vagina para rebentarem cabeças de alfinete
ou girinos à espreita de uma oportunidade
cirúrgica para dilacerar a sua fonte.

Desenharei sim!
Uma mulher prenhe e redonda
com dois relevos a norte donde nascem
rios de leite para matar a minha sede.

Desenharei sim!
E concluirei que não sou egocêntrico
mas um geocêntrico disfarçado de charuto
sentado à secretária de um consultório de psicanálise.

José Miguel de Oliveira
http://deliriospoeticos.blogspot.com
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TABU

Quisera eu ser fogosa,

desvairada de amor,

gueixa de noites e dias de prazer,
gritando em suspiros, toda a minha loucura.
Deixar-me possuir por corpos que me quisessem,
e abandonar-me sem pudor, na luxúria das paixões.
Mas não!
Recuso passar para lá da barricada,
sou sentinela de mim mesma,
anjo assexuado em corpo de mulher pagã.
Carrego um fardo de pecados originais,
e mortais também.
Deus e o Diabo me fizeram assim.
Tenho o condão de me sentir virgem,
e assim permanecer,
até que a minha alma
gire um dia,
nalgum girassol
perdido no campo.

Helena Figueiredo
http://noreinodacriatividade.blogspot.com
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Outra Margem de mim
E é nesta dormência demente
Que me assola o corpo inteiro,
Que estremeço e enlouqueço
Sentindo falta do teu toque
No espaço vazio
Deixado na minha pele.

Despojada assim do meu pensar
Vagueando à deriva
Nesta vasta imensidão
Ensandeço, atordoada
Ansiando avidamente
Pelo calor do teu olhar
Pousado suavemente em mim.

Grito em silêncio o teu nome
E tudo que escuto
É o eco emudecido
Desta demente dormência
Que me deixa adormecida,
Morando perpetuadamente
Neste êxtase sonhado,
Aguardando o teu corpo no meu
Extinguindo este defeito
De ter feito de ti
A nascente que me suporta
E me transporta
À outra margem de mim.

Maria Escritos
http://escritosepoesia.blogspot.com
*****


palavra a palavra
construo o poema

do fundo dos teus olhos parto
beijo a beijo caminho
e os meus lábios são pés
que te pisam

loucas as mãos
prendem-se a tudo quanto geme
da tua boca saem sons cifrados
que no meu corpo encontram eco

com raiva te esmago

é já cansado que chego aos teus lábios
e as línguas prendem-se
como mãos que se apertam
matando uma na outra a sede
que neles nasceu
e neles há-de morrer

ah!
como é louca esta miragem
de te percorrer"

António Cravo
http://www.fotolog.com/acravo98
*****


Incapaz

O teu coração chora
esse amor insatisfeito
que no teu peito mora
e, em agonia, implora
um regresso ao leito,
à paixão que outrora
era um sonho perfeito
e que, agora desfeito,
te deixa nesse jeito
de abandono feito.

Na cama por fazer
um sonho acorrenta
o teu corpo a arder,
a carícia que te tenta
na tua mão que desliza
e na entrada mobiliza,
em suaves movimentos,
finos lábios suculentos,
em satisfação necessária,
tristemente solitária.

O teu olhar delirante,
em busca fremente
daquele corpo ausente,
encontra, agonizante,
a almofada vazia
que a teu lado jaz
e a dor lancinante
o prazer anestesia
e, a ti, deixa-te incapaz.

Rui António Almeida
*****


Em suores, fluidos vários, me ensopei
Deixando que teu corpo ao meu colasses
Chamando por teus lábios que beijei
Sem deixar que tu primeiro os meus beijasses.

Da terra nesse momento nos tirámos
E sem pés deixei-me sair de mim
Mas antes fosse eterno o que alcançámos
Quando, sem te ver, de mim saí.

E quando contra mim tu te apertaste
E o som dos teus lábios abafei
O prazer que em mim tu despertaste
Garanto, não o sentirá ninguém.

Rafael Nascimento
*****


Por mim subiste com o olhar
De mulher e fêmea entesada
Não vale a pena pois corar
Por ter a crica... molhada

E quando o pudor te assaltar,
Quando a vergonha vier…
É bom que saibas pensar;

Que o corpo deve ser para gozar
Até a juventude se perder
Porque quando a velhice chegar
Já ninguém te quer foder.

Manuel F. C. Almeida
http://www.sagher.blogspot.com
*****


Sonata ao luar

Ao luar
no mar
nós dois
agora
e depois...

E depois
corpos molhados
teu corpo nu
contra o meu
e eu
agora
quero-te aqui
só nós dois
nos amando
e depois...

E depois
dou-te meu corpo
nu e excitado
molhado de mar
e de prazer molhado
e tu entras em mim
louco e desenfreado
e depois...

E depois
o mar borbulha
e sente
e estremece
com o orgasmo
de nós dois!

Ana Paula Lavado
*****


Sinais de ti

Acordei contigo em mim
Menino lindo de olhos tristes
O cheiro
As mãos
A voz
O sexo entumescido
O beijo
A parte
O todo
A ausência
Acordei contigo em mim
Em mim
Sobre mim
Dentro de mim
Tão perto da minha urgência de ti
Apesar do oceano
E do resto.

Graça Andrade
*****


Geme bem alto teu querer
Mexe teu ventre contra o meu com paixão
Vira de um lado e acaricia minhas nádegas
Depois do outro meu tosão de oiro te entrego
Pega fogo com tua língua em meu sedento corpo
Segura tua ânsia somente mais um pouco
Morde meus mamilos negros erectos
Grita bem alto quanto me desejas
Beija meus olhos, minha alma
Ama como sempre quiseste amar
E por fim derrama tua seiva, teu leite, teu mel
Todo teu amor em mim penetra.

Victor Reis
http://ideotario.blogspot.com
*****


Tentação

Quente
...Canela espalhada sobre a pele
Chocolate
...O que te levo na ponta do meu dedo até à tua boca
Cores de sangue
...O que visto para me despires sem cerimónia
Calor
...O que fazes em mim
Língua
...Trabalhar o teu corpo com a minha língua
Cheiro
...Que sai da tua pele sempre que gemes
Suor
...Doce, quando o recolhes beijando-me
Gritos
... O que me fazes conter junto do teu ouvido quando me excitas sem piedade
Gelo
... Provocas-me desenhando uma palavra nas minhas costas
Palavras
... As pedes que escreva para regar o teu desejo
Parede
... Onde me encurralas deixando-me à tua mercê
Arrepio
...Sempre que te mordisco a orelha
Mordidela
... Marcas os meus lábios com os teus dentes e língua
Beijos
... Belos, Eternos, Iguarias, Jogos, Ofuscantes, Sensuais
Água
... Deixamo-la escorrer por nós, agarrados
Sentidos
... Toque, som, escutar, ver, saborear... todos alertas
Unir
... O que fazemos porque queremos, porque a tentação ordena
Tentação
... Porque só somos tentados por aquilo que desejamos

Isa Silva
http://oladocultodamarciana.blogspot.com
*****


Abriste os olhos
E eu já te olhava à muito
Desejava-te de corpo e alma
Encostei-me….
Deslizei em ti
Segurei-te
Apertei-te
O calor do teu corpo
O calor do meu corpo
Ouvir-te murmurar
Ouvir-te gemer
Hmmm…
Rocei o meu peito no teu
Rocei o meu peito nos teus lábios
Na tua língua
Quero-te
Tenho-te
Venho-me

Carla Campos
*****


DESPERTAR PARA A VIDA

O corpo emerge de um torpor antigo
Sinto as vísceras, os ossos, os músculos
O coração derramando sangue no meu corpo
Os pés, as pernas, o ventre, os seios, as mãos

Redescubro o toque

Os braços alongam-se em movimentos esquecidos
O corpo liberto, recria-se em gestos que são meus
A tensão não existe: só o meu corpo em sintonia comigo

E danço e navego ao sabor de mim própria
E brinco à cabra-cega
E brinco ao gato e ao rato

Redescubro os sons

... tum-tum, fztt fztt...
Felinos rodeiam-me
Sinto-lhes os passos
Atenta às respirações
Aos murmúrios do silêncio

Redescubro os cheiros

A perfeição não existe
mas, na explosão de um orgasmo,
o Amor recria o Universo.

Manuela Almeida
http://luarabril-limiar.blogspot.com
*****


Plátano

o meu plátano. amor. cheira a hortelã...

vem agora. à na casa das pétalas.
onde a papaia. está madura
toma-a. da minha boca
deixa pôr no teu umbigo...

sente, amor
o toque macio dos meus dedos
nas tuas coxas
nas tuas virilhas
no teu sexo erecto

sente, amor
os meus lábios
nos teus lábios
e o sabor a papaia...

senta-me em cima do teu ventre
toma o teu sexo
crava-te em mim...

o tempo escoa-se
some. no ar
segura-me as ancas
a cintura
percorre-me.

(já não sei
onde acabo eu
onde começas tu)

envoltos num só cheiro
um no outro
no silêncio da floresta
restolhamos...
e o nosso amor é um sol
flutuante
com sabor
a sémen e a papaia...

Margarida Almeida
*****


Em ti me eternizo

Os meus olhos pousam em ti
e todos os meus sentidos te olham
num delirar mútuo de atenção...
vejo o teu corpo e deleito-me na tua alvura...
cheiro o teu cheiro e aspiro a tranquilidade da tua paz....
ouço o teu respirar lento,
como um lamento que não lamento…
as minhas mãos tocam os teus cabelos
e envolvem-se neles...
acerco-me de ti e te toco...
te sinto global e ali inteira frente a mim...
beijo a tua boca e tudo se torna como num festim
de doces carícias e sabor a sal...
estou inteiro no teu corpo inteiro
e me sinto nele como sinto o teu corpo em mim...
é apenas um abraço,
um enlace de braços que apertam sem apertar,
sentindo apenas o teu respirar...
minhas mãos percorrem a tua pele acetinada linda...
fecho os olhos procurando apenas sentir…
e sinto o desejo crescer em mim
e o teu arfar sobe de tom...
como é bom...
a minha boca se cola na tua boca
e a minha língua se funde dentro dela
como se da tua se tratasse...
é apenas mais um enlace...
sinto o teu peito quente junto ao meu
e beijo teus mamilos num acto de procura da loucura...
loucura que me invade lentamente,
premente ali presente
ou então como se tudo mais estivesse ausente...
meus braços te envolvem
e se descobrem momento a momento
como se fosse a primeira vez que no teu corpo se movem…
sinto o cálido odor do teu corpo quente de amor,
oferecendo-se como numa espécie de orgia sem pudor...
minhas mãos tacteiam centímetro a centímetro toda a tua pele,
todos os recantos de teus encantos
e se encontram, de repente,
sobre o teu ventre quente,
dolente...
afago tuas coxas e as tuas ancas
e as aperto contra mim…
procuro o teu sexo e o acaricio...
beijo-te completamente num único beijo
e me torno desejo do teu próprio desejo…
te envolvo num abraço mais e te penetro…
és tu que me possuis...
não te tenho, és tu que me tens...
movimentos doces se entrelaçam
como se não fossemos dois mas um só...
os nossos corpos se fundem
num arfar profundo de prazer e loucura...
já não sei o que sou,
apenas em ti estou...
eu sou tu
e tu és eu numa fusão de ser e estar...
na verdade és tu que me possuis
pois eu não te tenho,
és tu que me tens
pois em ti eu me dou...
e em ti eu me eternizo…

Joaquim Nogueira
http://lobices-4.blogspot.com
*****


Deixei...

É franco o meu corpo.
Tem franqueza nos braços que se tentam abrir,
nas pernas que tremem para acompanhar os braços
nos olhos que tentam não olhar mas olham.
Deixei-o ter-me...

É fundo o meu copo.
Profundo nos mares que se tentam diluir
nos rios que dançam nos seios de mares salgados
nos mamilos que se escondem mas incham
Deixei-me ter-te.

É manso o meu topo.
Mansidão do ventre que se tenta fundir
nas ancas que ondulam para diminuir espaços
nos joelhos sôfregos que se afastam
Deixei-nos ser-te.

Joana Well
http://missjoanaswell.blogspot.com
*****


achando-me sou tua

é no roçar dos teus lábios nos meus
que o meu corpo geme
no levantar de asas em murmúrio

a chama que se inflama
no caminho longo dos teus dedos
ruboriza a minha pele branqueada de silêncio

envolvo-te neste calor
e nasce um rio que aflora entre as coxas
guardadas pelas tuas mãos imensas

faço-te o trajecto do peito
com a língua ansiosa
reconhecendo o leito onde me abrigo

partem-se os minutos
rendendo a vida num momento

fluem-se os corpos num só

declino-me sobre a tua voz
e entrego-te os meus seios
encontrando o sentido do teu olhar

recolho-te no mais íntimo de mim
e achando-me sou tua

agora
jamais se encantam os sonhos
enquanto fores rio e eu o mar que te acolhe

Vanda Paz
http://www.nectardaspalavras.blogspot.com
*****


Os meus desejos

Fim de tarde cinzenta, terminou mais um dia…

Sentei-me junto à janela naquele que me transporta
Todos os dias de volta ao meu ninho,

Recostei e deixei-me embalar de mansinho,
Aos poucos os olhos se fecharam, dando
Lugar a pensamentos, sonhos, lembranças,
As mesmas com que tu me banqueteavas
Em cada amanhecer ou em nosso ninho
Em cada adormecer….

Deixei levar-me, senti tua mão deslizando
Por entre as pernas, nuas sedosas de um
Branco quase celestial, aos poucos teus
Dedos tocaram suavemente meu sexo
As faces foram ruborizando, surgindo
Um tom de romã…
Coxas, ancas, seios, quase que gritavam
De prazer o mesmo que sucumbia
De rompante em cada toque na nossa alcova,

Enlouquecida de desejo cobrias meu corpo
Fazendo de ti meu eterno macho,
Meu sexo já quente e húmido embriagava
Nossos sentidos, teus dedos passeavam
Deslizando a cada orgasmo meu…

Bebeste cada fluido, cada gota de meu sentido

No meio de nossas bocas sedentas
Senti o fulgor do teu sexo dentro do meu,

Derrubei fronteiras, gemi baixinho
Senti o teu corpo junto ao meu
Bem de mansinho, entre espasmos
Humedecidos de nossos cheiros
Gozo supremo o cheiro do teu sexo,

O nosso sexo misturado non silêncios
De cada alvorada, onde tu beijavas
Cada cereja de meu peito….licores

O andamento do comboio fazia-se
Sentir, atordoada pelos seus solavancos
O meu corpo se ouriçava… na tua procura
O silêncio fez-se sentir…abri os olhos
Na estação tinha que sair….

Ana Bárbara
http://myspace.com/apbarbara
*****


Membro a pino

É sol aquecedor,
Teu corpo de vale húmido e fértil
Entre montes de Vénus
Criador.

Calor e cio
despertam nossos corpos.
A boca é polvo que suga
lenta, de cada poro sedenta,
cada membro, cada fenda.
A nossa língua, lenta
e vagarosa,
percorre o corpo saborosa,
num despertar carnívoro de sensações.
Abro as tuas coxas lisas e sedosas
Nas tuas entranhas viciosas
eu penetro
despertando em nós duplas explosões,
deixo dentro de ti
o meu próprio arquétipo.

João Norte
*****


essas tuas pernas
são quentes
e o frio
envelhece os ossos
beija as crianças
aconchega-as
não digas nada
vem

José Manuel Marinho
*****


Teus seios astros
Que não alcanço
Teu ventre mar
Onde balanço
Meu desejo

Teus beijos castos
Do meu engano
No teu arfar
Onde me canso
Num ensejo

De percorrer
Teu quente sopro
Entrar em ti
…ser o teu corpo…

Na tua pele
Colher o mel
Do teu prazer

Alucinar!

Descer à fonte
E beber do teu sabor
E em minha boca colher
Toda alma do teu mar!

Meu amor
Meu astro rei
Onde meu sémen deixei
Apenas num sonho
Numa cama

De onde sei

Teus seios astros
Que não alcanço
Teu ventre mar
Onde balanço
E não alcanço… e não alcanço…

Poiso, morro, descanso…
Sobre teus beijos castos
Meus sonhos gastos
… no teu olhar…

Jorge du val
http://www.poetik4ever.blogspot.com
*****


Olhas os meus olhos

Os teus descem à minha boca
que sorri e penetras-me
com a doçura da alma e a
força de um guerreiro.

No silêncio da sala
a música entoa ao som
do coração e, lentamente,
como um pestanejar, o calor
dos nossos corpos aproximam-se
como cavalos a galope numa pradaria.

Tuas mãos, minhas mãos,
percorrem nossos corpos
que se desnudam em cada dedo que toca
nossas peles sedentas de magia.

Olho-te. Olhas-me.
E neste olhar está toda a febre
do sentir a ânsia de cada beijo
língua a língua escorrendo o mel da fantasia.

Na boca do meu corpo relembro
o teu beijar.

Orgasmos… mil deleites que
quero recordar na tua língua
que me percorre sem cessar.

A exaltação dos nossos corpos
como música - The Master –
frenesim do desejo - Divine –
que se ignora na paixão da pele
que comunga o mesmo sentir.

Olhas-me. Olho-te.

E nesse olhar de amor
desnudo
selvagem
ardente
que sente
com a mente
o desejo
de penetrar
possuir
com o tesão
do nosso sentir.

Olho-te. Olhas-me.

No desejo saciado
de nossos corpos
em leito descansados…

Olhas-me. Olho-te.
E sorrimos…

Menina Marota
http://meninamarota.blogspot.com
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Obscenidade(s)

de púrpura elegância me vesti
ondulando os passos de salto alto
pela insistência do teu olhar sôfrego
- formosa e insegura? -
afoita!
tiritei sílabas de vermelho bâton e de rubra paixão
no meu peito um rubor latejava
fendia gelos e convencia magos
de escarlates intenções e silêncios abafados
ruboresceste numa palidez resignada do limbo
em que me sonhaste

Maria Irene Proença Ermida
http://umaetrintaesete.blogspot.com
*****


Manuscrito do pecado particular

Afogueio um cigarro num lume desinibido,
Vês o meu contemplar atónito
Ao benfeitorizar que te insinuas perto do meu encalço.
Sabes que gosto de ser provocado
Tudo para mim é desafio,
E mesmo tu, circunstancial,
Acidental e explícita
Percebes que não tens costumes de beijada mão.

Seduzes-me sentando-te no meu colo,
Simulando tocares harmónicos de boca
Que não se alcançam,
Pois quer eu, ora tu
Arredamo-nos para deixar o destino num adiado suspenso
…Embora se saiba o sequente a agir.

Eis que te desnudas desarmada, como tua derradeira artimanha.
Ofereces teu mamilo, como iguaria dos omnipotentes.
Descalças as tuas sandálias modernas,
O teu cabelo passa de preso para liberto e longo,
O teu olho verde pisca como uma divindade humana,
A pedir por melhor…
Rendo-me aos teus encantos e sortilégios ilusionistas,
Consegues ministrar a explosão do abrasamento que vive dentro das minhas veias.
As minhas tendências estão vocacionadas em ti, pecadora dos meus prazeres.

Apago o cigarro em água de um copo, longínquo ao que já se passa.
Os preliminares têm inicio, orais gozos… Sorridentes exclamações de meiguice,
Mordo os teus lábios em gesto de malandragem… Massajas meu hirto pescoço…
Relaxo-me e tremo de retesados empreendimentos, Que gostas, oh graciosa…

Quando me hipnotizas e fica esse eco oco
Que me desmobila o físico de tão cálido que não fala ineficácias.
Quando me cinges a ti, entrelaçamos nossos filamentos de cabelo
E tudo tremelica, quando me banhas esse doce leite-creme
No declive das minhas costas.
O pardacento endoidece...
Quando me amornas, remanescendo em meus braços.
Quando a bailar me afrontas, consumo os teus trechos
De uma forma salivante...
Porém o teu sussurrar irrompe a mudez,
Se te deixas por ápices comigo numa cama
De lençóis enxovalhados, com o nosso odor a clímax,
Confundido com a aura que vem da frincha entreaberta.

Quando te abordo pela inteira oportunidade,
Perdes a compreensão da área marcada
...Tudo é reciprocidade…

Nada alegas, pois tuas as mãos já conversam por elas competentes,
Dedilhando o percorrer do meu tórax,
Como quem sabe de cor os compassos de uma viola.
Deixas-me violar-te de forma autorizada,
Gemes com um colorido pudico, ao sofreres de forma feliz
O meu símbolo másculo penetrar-te,
Como a excelência de um batel que pinta sortes
Em afluências azuis.

O teu umbigo quase que suplica por carícias.
Os nossos linguados cortejam-se
E palestram colóquios deliciosos
De quem sabe querer.
As tuas curvas que femininas são aclamadas pela tua Eva maior.
As tatuagens dos teus graciosos pés, pequenos de Princesa,
Que me excitam de forma suprema.

Sexismos lamacentos, pornografias bonitas,
Obscenidades algemadas,
Adereços das nossas sádicas fantasias,
Insânias de mãos dadas numa união de dois instrumentos carnais.
As tuas pernas de veludo a roçar na nossa adrenalina,
De quem confecciona afecto
No dia mais longo de dois forasteiros.
Um exame interdito
Mas por isso mais cobiçado.

Um lugar nosso, que nunca ninguém viu ou tocou,
Pois o aconchego é exponencial, e difícil de plagiar.
E as marcas rupestres destes instantes …
Estão imoralmente registadas, para jamais escaparem.
…És o código de barras dos meus apetites secretos.

Diogo Costa Leal
http://www.verticeredondo.wordpress.com
*****


CLUBE PRIVADO

POR BAIXO DO TEU VESTIDO
VIVE O MEU RACIOCÍNIO
TENTO ADIVINHAR A COR
DA TUA ROUPA INTERIOR
E PENETRAR NOS TEUS DOMÍNIOS

DONA ÉS DO MEU PRAZER
DA ENTREGA DA ILUSÃO
MANDAS TU NO MEU QUERER
MANDO EU NO TEU TESÃO

E VOU DESCOBRINDO EM TI
OS MEDOS QUE EU PRÓPRIO TENHO
AS FANTASIAS E OS SONHOS
QUE QUEREMOS ENCONTRAR

O SEXO É TÃO IMPORTANTE
COMO É A AMIZADE
E EU TENHO SEMPRE SAUDADE
DA NOITE DE ONTEM À NOITE

EU VOU LONGE, EU VIAJO
EU SAIO DAQUI PRA FORA
EU QUERO LEVAR-TE COMIGO
PARA UM LUGAR DISCRETO
UMA CASA NO MEIO DO MATO
UM JARDIM, UM CÃO QUIETO

EM NOME DA NOSSA PAIXÃO
TUDO NOS É PERMITIDO
POR BAIXO DO TEU VESTIDO
EXISTE UM MUNDO SECRETO
E OUTROS POR INVENTAR

EXISTE UM CLUBE PRIVADO
ONDE SÓ EU POSSO ENTRAR...

FERNANDO GIRÃO
http://www.myspace.com/brazilatribute
*****


O GATO E A LUA

Gato que chamas a lua
como se fosse uma dama.
Desejas que seja tua
porque te ateou a chama.

Ignoras as leis morais,
mas não aquilo que sentes!
Considera-las banais,
segues só as indecentes.

Nem sempre te vejo assim.
Não sei bem o que te deu...
Mas olha bem para mim
para contemplares o céu.

Tu ficas tão baralhado
ao colher o meu reflexo!
Como queres ser amado
se nada dizes com nexo?!

Os teus olhos em delírio
suspensos na minha teia,
minha luz o teu colírio
que teu pêlo incendeia.

Achar-te-ia com siso
se trepasses esse poste...
Dar-te-ia um sorriso.
Não duvides, há quem goste!

Para te dizer que sim,
primeiro faz um desenho.
Só te direi se me vim,
depois do teu desempenho.

Quando for tempo ouvirás
o meu canto de sereia.
Esconde-te bem atrás
e espreita de volta e meia.

Assim que ouvires a voz,
vais perceber que me rendo.
Não me desates os nós,
porque é a ti que me prendo.

Minha mão é preciosa
como flor na primavera.
Deixa-me silenciosa
e fica quieto à espera.

Palavras de sedução,
essas que tu me dizes.
Mas nelas há negação,
vejo bem pelos matizes.

Num dilema me deixaste.
Vejo-te a ti num conflito.
Sei que nunca me amaste
por mais que mo tenhas dito.

Lua cheia sou eu hoje,
logo serei minguante.
Segue meu conselho. Foge!
Não mais serei tua amante.

Se voltar em lua nova,
passarei logo a crescente.
Será essa a minha prova
para ver quem é que mente.

Teresa Marques
*****


Gosto

Gosto
Da tua boca beijar com ardor
Gosto
Despir as minhas roupas,
Sob o céu cheio de estrelas,
Gosto
Entregar-me assim a ti nua,
Gosto
De no teu corpo me perder,
E tu no meu sorveres
Os néctares que dele emanam,
E ébrio de mim,
Jazendo comigo na erva orvalhada,
Os dois soltando suspiros e gemidos sem fim
Semelhante a um vulcão a rebentar!
Lançando para a luz do luar,
As nossas lavas de amor,
Acabado de saciar!

Susana Custódio
*****


AMO AGORA

neste momento o meu corpo é teu
se me sentires a entregar
ao papel a pele

fazendo versos simples
para neles ler

meus movimentos de língua vindo

indo e vindo
variando e rodando
rodeando nu e nu me dando

no O dum oh! de espanto
fundo entretanto

Onde subo na Onda e deslizo

liso, duro, teso,
como um mastro à vela
só de vê-la

à minha espera
cheia de desejo e tesão

querida boa e bela inspiração
Assim

AGORA AMO

fazes do meu desejo as mamas
agora mesmo, sem mas
nem meio mas

deixando louco de desejo
meu peito todo teu

e eu, e eu, eu…

derreto-me toda por ti
querendo-te todo
inteiro assim

Assim dentro
de Mim

túrgido e cheio de gozo.!.

no nosso zoo privado
meu leão vem
possuir

eu tua gata o espero
posta de gatas

agora vem, obedece!
Mim

Francisco Coimbra
http://www.sobresites.com/poesia/forum/viewtopic.php?p=36394#36394
*****


O PRAZER TRAZENDO ARTE E MAGIA

Navegando num oceano ondulado
Que é o teu corpo lindo desnudado
Em que por destino eu fico ao leme
Como o aventureiro que nunca teme

Tripulando a mais bela embarcação
Através da mais agitada navegação
Sempre se vai atracar num bom cais
Onde se é recebido com uns ais...!!!

Ancorando na doca da sensualidade
À minha espera toda a hospitalidade
Que por ti é prestada ao navegante

Naquela parada mais estimulante...
Com carícias e na maior cortesia
Vem o prazer trazendo arte e magia

Zé Albano
*****


MEIAS PRETAS

Assim te espero, decente e lady
assim te quero, assim te beijo
Mas quero mais
quero tesão
quero beijo louco
quero beber no labirinto das tuas pernas
quero-te nu, exposto, devasso e louco
corpo de fogo molhado,
dou-te a minha nudez...e os perigos da minha pele quente.

MEIAS PRETAS
Assim me olhas
beija-me depois, lambe-me a língua,
afoga-me na tua ternura
alimenta-me do teu vicio
mergulha as tuas mãos cegas de desejo
na nudez que te ofereço
e
deixa-me andar perdida no teu gozo...

Amália Lopes
*****


Damo-nos à madrugada

Dispo-me de tudo e da razão
mesmo no fingir subtil
a que me obrigas,
latejam todos os gestos
nos sorrisos ruidosos do corpo,
quando os meus seios roçam o teu peito.

De alma fico nua...
no aperto dos teus abraços
e no prazer crescente e ignóbil,
quando, a tua boca me foge,
em sussurros vernáculos
salivando nos lóbulos,
os beijos quentes que nos damos.

Inquietante corrente, galgando todas as margens,
no perfeito movimento do teu corpo
eroticamente sobre o meu,
descobrindo as fontes
lambidas no perfume de vénus,
enquanto...
a pele pálida da madrugada
vagarosamente se muta crisálida!

Ausenda Hilário
http://tempoagreste.blogspot.com
*****


[Sorrindo docemente, o amor]

Sorrindo docemente o amor
Dentro da cabeça,
Entre outras coisas,
Borda
Rosas pequenas
E botões de
Rosa
Que deslizam e
Se fundem
Com anelos
De sua trança.
Até que me descalço
E o despenteio
Sem sensatez.

José Emílio-Nelson
*****


Amo-te, meu amor!

Escuta amor
O nosso silêncio…
Primeiro, um beijo…
Terno, molhado, doce
A saciar o desejo!
Depois, em carinhos,
Outro e outro e tantos…
O abraço apertado
Carícias, miminhos!
As mãos, loucas,
Sublime bailado.
Tocam os corpos…
Enquanto os dedos
Descobrem segredos
Na tua pele de seda.
Estranha dança….
A boca, sequiosa,
Mordisca as orelhas
E regressa aos lábios
Que se reúnem
E quase se mordem.
Depois… os seios,
Duros, rijos, macios…
Nascem gemidos…
Afunda-se o prazer
A língua, como louca
Toca-os ao de leve,
E, suga-os forte…
Envolve-se o sexo
Em aromas de amor
Apertam, fundem-se
No êxtase da paixão
E em profunda explosão
Extenuados caímos
Cada um lado a lado
Enquanto no olhar…
Nasce como paraíso
O mais sereno sorriso.
Terna, louca de paixão
Só dizes… Obrigada
Amo-te, meu amor!

Raul José Afonso Duarte
*****


Sexo

Vamos foder
Abre teu corpo
Tua mente
A novas dimensões
Tudo o que pensas
Ser errado não é
Tens que começar a acreditar
Tu tens o direito de fazer
Tudo o que os outros fazem
Tu tens o direito de
Sozinho vencer o teu
Próprio medo
Que ninguém mude
A tua maneira de pensar.
Que ninguém controle
O teu mundo
Prometo dar-te harmonia
Só te peço uma coisa
Traz-me de novo a luz
Portanto vamos foder

Paulo Pacheco
*****


E no princípio houve o fim

E depois houve o silêncio.
Juntaram as mãos ao céu em prece,
prece calma e com uma pequena pitada de raiva.
Ela não lhe telefonou, ele engoliu o orgulho e resolveu esquecer.

Ela pensou que nunca mais encontraria alguém semelhante...
Ela era demasiado racional e ele demasiado emocional.
Resolveu que era demasiado cedo para se dar ao amor.
Ela pensou, noites e noites em claro a pensar.

Se te disser algo... é porque sou tua. Não olhes para trás se não te falar...
E a meio de um beijo de despedida disse-lhe gentilmente:
Ela ficou em silêncio e disse que tinha que se afastar...

Ele disse-lhe que amava cada poro da sua alma.
Ele olhou-a nos olhos e amou-a de facto.
Houve silêncio e mãos a tocarem-se gentilmente...
Encontraram-se no banco de jardim do primeiro minuto deles...

A alma ainda estava em lume brando.
Ainda sentia as mãos dele no seu corpo...
Um banho... era tudo o que precisava neste momento.
Embrulhada numa toalha ela fechou a porta.

Beijo... suave a soar a tímbalos e trompetes...
"Sim..."
Ela:
Arrepio...
A mão dele a escorregar pelas costas dela....
"Amanhã, onde tudo começou..."

Chegou os seus lábios ao seu ouvido, e disse:
Pegou nela, envolvendo-a... Sentindo-a... Saboreando a sua pele.
Ele sem pensar demasiado vestiu-se... exalando o cheiro dela nele....
Passou-lhe a mão pelo rosto e disse-lhe: "Está na hora".
Levantou-se... foi buscar uma toalha e voltou para perto dele
Ela sentiu-se observada...
Era tão bela, mas de uma beleza tão calma.

A pouca luz do nascer da manhã deixavam ver o rosto dela
Ele ergueu-se um pouco para ver melhor o rosto dela
Nunca pensaram sentirem-se assim, era apenas algo efémero.
Repetiram até os corpos caírem em exaustão... e o sono veio.
Foi o real êxtase.
O música ainda continuava a repetir-se...
Quando ele explodiu nela e ela nele...
Clamar e implorar um nada de enorme e tão demasiadamente intenso.

Ritmo e loucura...
Sentir-se mais e mais dentro um do outro.
Ritmo e loucura...
Os corpos a deslizar um no outro.
Sofreguidão...
A música ditava o compasso...

E rebolavam, na inédita dança do desejo de pele.
Ele entrava demoradamente nela...
Ele vibrou e fê-la gemer...
Ela saboreou cada milímetro do seu corpo...
Lançaram-se nos braços um do outro numa cama real e de paixão.

Arrancaram as roupas...
Ela puxou-o para ela... Sentiram o corpo e o calor que emanavam...
Caíram os copos... o vinho... caiu toda a formalidade imediatamente...
A sede era maior...

Olharam um para o outro por cima de um gole...
Ela serviu dois copos de vinho tinto,
Ele sentou-se e seguiu com o olhar as formas do seu corpo.
Ela convidou-o a sentar... e com o olhar a sentir...

Entraram em casa.
Ele pegou na mão dela e disse: "Podemos ir."
Ela timidamente perguntou: "Queres beber um copo de vinho comigo?"
E todos os momentos tinham que lhe pertencer.

Ela sentiu que era um momento
Parou de chorar.
O seu cheiro, era o cheiro de terra.... de vida... de fogo.
O olhar dele tão envolvente.
O abraço era tão forte e apaixonante...

Ele abraçou-a.
Compulsivamente.
E chorava...
Mas não conseguia parar de chorar
Ela olhou para ele surpreendida,
Ele passou os dedos levemente pelo seu rosto.

Não conseguiu conter dentro de si a paixão e compaixão que tinha por ela.
Ficou em silêncio, acompanhando a sua dor.
Ele sentou-se.
Ela acenou afirmativamente com a cabeça.

E perguntou se podia sentar-se.
Ele aproximou-se vagarosamente... como que por medo...
Ele sentia o magnetismo das emoções a puxa-lo.
"Quem era ela?"
Não conseguia desviar o olhar ao caminhar.

Pessoas passavam junto dela e nem a viam...
Lancinante, cortante... sanguinária.
Ela sentada num banco, tentava gritar ao mundo a sua dor.
Ele ia a fazer a sua corrida de final de dia viu-a.

E revivia todos os momentos da sua vida.
Ela soube que ia morrer...

Ludmila Queirós
www.janela-suspensa.blogspot.com
*****


SE DEIXE PERMITIR

Quero-te fêmea solta no meu pasto
e passo a passo poder me liberar,
nos mistérios e contornos do seu ser
e assim poder confessar que estou
muito a fim de em ti cavalgar.

Quero-te estrela cadente no meu céu,
vê-la cair em êxtase no meu chão,
quero ser a terra a lhe acolher
e juntos descobrirmos um novo viver.

Quero que proves do fruto proibido
e sintas como é gostoso o seu líquido,
quero que me liberes da prisão
e em liberdade contigo viver noutra dimensão.

Deixa o mundo real não nos proibir,
preciso por demais me permitir,
amar e ser amado sem fingir...
e com você em nenhum momento vou mentir,
e por que não?
Se deixe permitir...

Alvaro Luiz Carvalho da Cunha
*****


ANESTESIA

Caí na tentação
Perdemos a lucidez
Submeti-me ao pecado
Ao desejo insano
Consumido, devasso
Sentis-te aquela vontade
Tarada maluca trémula
Que me invade e te devora
Tu quebras-te as regras
Caluniando-me pelo corpo
Saciaste-me de prazer
Sem pensar no erro
Continuei encantada
A anatomia do teu corpo
Queria desvendá-la até ao fim
Aqueles toques sublimes
O teu paladar, o teu aroma
Cada vez mais me seduzia
Eu queria libertar-me
Perdi o controlo total
Deixei-me levar uma vez mais
Revivi os nossos momentos
O amor cego e enaltecido
Aquele calor enorme
Que quase nos fazia desmaiar…

Raquel Pereira
http://www.aspalavrasinterditas.wordpress.com
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AMOR

Deitados sobre uma rosa aberta
Iluminados pelo vagalumear da lua
Dois corpos se limitam
A serem vibrações e gritos
Alvoroço que se metamorfoseará
Na mais pura seda.
Agora, repousará o mundo
nos idílicos braços do silêncio.

Giovanni Guidi
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PEQUENA CANTIGA DE AMIGO

Amigo amigo
amigo breve
escasso

Amigo apenas
do tamanho
de um abraço

Sou a mulher
de luz limpa
e terna

Sou a mulher
que deseja
no amor
ser eterna.

Joe Outeiro
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arde

entre a escolha bruta
da vontade

deixa entrar
os dedos

pedacinhos barulhentos
da incerta intenção.

dentro de mim
a suspeita
de querer

dentro de ti a língua
ninfa deslizante quente

ruidosa da palavra desejo
penetra na alma
deste profundo ensejo.

João C. Santos
http://jcssantos.blogspot.com
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CARNE

Lábios. O tom da tua pele provoca-me. O teu cheiro incentiva-me. A tua voz doce excita-me.
O teu olhar faz-me desejar o teu toque, o teu carinho. Vontade de esmagar a minha língua contra a tua, vontade de morder a tua boca, os teus lábios.
Quando me abraças e percorres as mãos pelo meu corpo, algo dentro de mim arde e então a excitação domina-me. Quero tocar as tuas pernas, a barriga, o peito, a boca, tudo. Quero percorrer o teu corpo...
Os nossos corpos pressionam-se mutuamente e a excitação cresce. Quero beber a tua saliva e trincar a tua carne.
Quero-te apertar com força. Domino a vontade de te rasgar a roupa e fazer amor contigo.
As tuas provocações físicas provocam alterações no meu espírito.
Fico louco com carne...a tua carne. Quero saborear o teu suor... obcessão, loucura..
Fecho os olhos e penetro num mundo de puro prazer... prazer é tudo o que sinto. Adoro o sabor da tua pele.
Somos elevados para uma dimensão em que nada existe, apenas nós e o prazer, o prazer e nós.
Tudo o que sinto, tudo o que cheiro, tudo o que quero, tudo o que vejo é carne..a tua.

Jorge de Barros
http://brutalmentedocil.blogspot.com
*****


Tenho um pensamento; e não tenho coisa alguma, que não seja ouvir, esquecer; e ainda essa tua musica! Eu sei lá onde começa a eternidade! São as palavras que limitam; não os teus braços… O teu corpo…
O grito caiu-te nas mãos? Também nas minhas, como gotas de água. Tenho um pensamento; mas és tu que me guias, que tens os olhos tristes e os lábios doces; e é daí a poesia pura, mas basta a natureza e o instinto dos homens para, que isto e o mais, se acrescente à definição de poesia.
Tenho um pensamento; e é assim uma despedida; mas a musica não deixa que vá; e mais forte ainda é a esperança dos homens. Se eu partir, como poderei ver a esperança dos homens, assim sentida, na perspectiva física, na dúvida que há com a morte e com a fé?
Tenho um pensamento e não tenho, porque sou um pássaro que voa; um momento que escapa. Morremos quando todos os momentos voam do nosso corpo para a paixão e regressam ao momento original, em que não será falsa a pronúncia do amor.
Tenho um pensamento e não tenho; este absurdo, mata-me! Falam-me da guerra e do rapaz nu com uma flor, que afinal não era.

A menina do terceiro andar, que anda na catequese, disse que era um pénis…
Era o milagre do pénis!
Que trazes nesse regaço?
São flores senhor…
Flores!? Mas que espanto esse,
que vejo no teu corpo!

A menina do terceiro, era afinal, e este era o assunto, um menino com pénis, localizado naquele ponto.
Tenho um pensamento e não tenho; e isso me diverte e repugna.

São pénis, senhor…

E toda esta afirmação, com reticencias para o milagre da vida, que é esta saliência. Nasceu disto esta nação; e afinal é o cu, a aparência da portuguesa condição.
Tenho um pensamento, uma folha de trinta e cinco linhas e uma corda...

Amanhã a vida anda à roda!

José Fernando Lobo
*****


Só, aqui,
lendo o que dizes, sem ti,
...eu vejo as letras que trinco, e saboreio o mel,
e engulo-te todo como se te pudesse respirar
..como se pudesse guardar-te nas veias..
pra viajares por mim 1 vida inteira...
... só meu..
Lambo-te,
Beijo-te,
Mordo-te,
Sinto-te...dentro e fora
duro e doce
lento,
bruto,
macio,
Cheiro-te,
e gosto...
de ti
e desse aroma acre
de cio..
apetece-me tomar-te de assalto
e foder-te
até à morte,
até ficarmos colados
e rotos
a ganir de dor
...e gratos,
de ficarmos
fartos
um do outro.

Teresa Cunha
*****


1.
"i fall to pieces
each time i see you again"[1]
(hank cochran / harlan howard)

se eu amasse o corpo de uma mulher
mais do que a mim mesmo,
jamais pertenceria a poema algum
porque de silêncio é feito o
ímpeto dos corpos

se os poemas quebrassem e rebentassem
e abrissem clareiras entre os pensamentos,
destruindo-os e criando-os
e tornando a rebentar,
talvez o meu olhar fosse de uma
sibila ardendo

[ou queimando dos olhos]

se a poesia fosse toda dos homens
e das mulheres
e das vozes discordantes
que enchem a calçada das minhas cidades,
talvez as palavras respirassem vida
e dos cálamos
saíssem veias
e artérias de fogo
e deuses trespassados de som

mas a poesia é isso
palavra ígnea
ou não-palavra
palavra antes da palavra,
quando ainda aspiramos ao dom
de poder morrer de amor.

Jorge Vicente
[1] Excerto da canção “i fall to pieces”, cantada por patsy cline.
http://jorgevicente.blogspot.com

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ESQUECER PRAGA

Abraço musculado
peito largo
nádegas firmes
com rastos das marcas com que te amo
rígido
o sexo,
turgido
suculento
interminável,
num rasgar profundo
até à alma
geme(a)
loucura frenesim
permanece dentro de mim
sem fim
o grito com que me lembras
que eu e tu somos um
em fluidos misturados
carne
pele
aromas saboreados.

O teu olhar no meu, na curva do meu joelho, nos seios que quase te cabem nas mãos...
Lembras-te?

Luna Cheia
http://estanoitehaluar.blogspot.com
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FLORESTAL, INTENSO

Se os olhos se fecham
Ao mesmo tempo
Que os lábios se apartem:
Ao máximo;

Se esse movimento coincide
Com o escurecer dos troncos,
E a floresta engrossa - e se abre:
Ao máximo;

E se a floresta parte
A toda a velocidade para cima -
E ao mesmo tempo se desdobra,
Se vira em todas as direcções,
Ao máximo;

E se a rotação das pernas
Atinge os êmbolos eléctricos,
Os motores das violas nos músculos,
Fazendo ondular o ruído dos lençóis:
Ao máximo;

E se então um fio negro se atravessa,
E liga, faz contacto no fundo para além do fundo,
Cola mais o que já parece estar colado,
Ao máximo;

E se um grito pode ainda evocar
Esta explosão, este assassínio,
Esta insistência, essa violência
Máxima;

Estraçalhar com fúria todo o escrito
Todo o dito, todo o ansiado,
Numa agonia prolongada
Ao máximo.

Quase coincidência.
Quase perfeito
Ajustamento,
Que volta sempre em onda,
Numa nova tentativa,
Arrastando energia, a cor negra
Em atrito e furor;

Se os troncos entram suados
Pela floresta dentro, e a sua humidade
Estraçalha, rompe ao máximo,
Espalhando seios em todos os sentidos,
E se ouve
A coincidência do grito,
A intenção das gargantas

Viradas para cima,
A direcção das luzes voltaicas
Saindo em rompante.
Para quando, diz-me
verso seguinte,
Esse quase-tudo
Levado ao máximo,

Esse apaziguamento
Dos corpos derrotados pela luz,
pela sua própria corrente,
E essas gotas de sauna
Pingando lentamente
Na floresta negra
toda
tombada.

Vítor Oliveira Jorge
http://trans-ferir.blogspot.com
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Sonho de Amor

Passei contigo nesta noite,
Uma noite de loucura!
Tu ao meu lado,
Pura e faminta de amor...
Meu Deus!
Há quanto tempo
Não nos tínhamos amado
E não te dava tanta ternura...
Com quanto apego,
Com quanto ardor
Sussurrei ao teu ouvido
Muitas palavras...
Melodiosas, ociosas
E outras amorosas!
Cobri-te de carícias
De uma maneira desmedida...
Sinto ainda os beijos teus
E meus...
Nas minhas mãos
Os teus lindos seios,
O teu calor...
Como estavas louca, ofegante, perdida!
Sem peias, vergonha ou pudor,
Vibrante, solta. ardente!...
Mas ao acordar,
Ilusão...pura mentira!
Não passou tudo de um sonho,
Somente!

Manuel
www.poemar.blogs.sapo.pt
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história-poema

Sara Jane é o teu nome,
abandonas a infância alquebrada
e deixas os brinquedos no seu sono
branco,
passeias na memória como se fosse
a primeira vez.
Por sobre a terra caminhas de silêncio
em silêncio
escutando a voz dos pássaros.

Nos teus pés enrodilha-se a serpente
em nós azulados ascende no silêncio
demorado: desatas o laço:
e os nós distendem-se,
os teus olhos são dois focos de luz
iridescente: sonhas com o fogo
os astros o sol a lua,
abandonas-te no silêncio maduro
do instante
foges de ti sonhas:
escondes os braços dentro do corpo.

nunes
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…de…Lírios

Entregamo-nos
um rasto despido deixamos
como estrelas cadentes
as silhuetas brilharam
viandamos por linhas nuas
foste a Lua na minha Terra
uma semente no meu jardim
regada com amor perfeito
bailamos numa noite de chamas
desenhamos o fogo
com carícias de prazer
Vénus e Marte inflamaram
unimos as mãos
livres numa vasta planície
os peitos ressoaram como vulcões
enraizamo-nos num só
o rubor dos teus lábios
cintilou aos meus olhos
deslizei no teu ventre
conduzido pelo desejo
senti o calor da tua pele
leve, doce e macia
um aroma delicado e natural
convidou-me para o teu vale
o pulsar síncrono de vontades
aproximou as montanhas da alma
entre carícias ofegantes
e gestos penetrantes
viajei pelas tuas formas lúbricas
cascatas onde me purifiquei
renasço neste baptismo
com a Primavera ao meu lado
deslumbrados fomos
pelos laços criados
entrelaçados em silêncio
reluzimos o amanhecer

Pedro Pedra
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Esta noite, quando te deitares

Esta noite, quando te deitares
Deixa a janela aberta,
Para que o vento norte me transporte
E me faça entrar.

Esta noite, quando te deitares
Põe uma gota de perfume no umbigo,
E deixa que o sono te embale,
E diz baixinho o meu nome.

Esta noite, quando te deitares,
Deixa que o lençol revele as tuas coxas,
Pousa a mão no teu seio, sem receio
Enche a atmosfera de ti.

Esta noite, quando te deitares,
Se sentires que te desejo.
Que em teus lábios deposito um beijo
E que me deito mesmo a teu lado

Não penses, guia-te só pelo que sentes,
Prende-me a língua entre os dentes,
Afaga-me os cabelos com os dedos
Constrói comigo novos segredos,

Entrelaça-te em mim,
E pertinho do fim acorda,
Deixa-me enamorado.
Porque o desejo morre,
Quando é saciado.

E tu és fonte eterna,
Doce magia a crescer,
E teu olhar é sede,
E o teu corpo é bom de beber.

Namoro é caça, é jogo,
Não tenhas pena de mim.
Sofro pelo que não tenho,
Morria se chegasse ao fim!

Alexandre
http://in-fidelidades.blogspot.com
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Sic Vis Eros

Tentação de me perder…
Moralistas que nos corrompem o desejo
Reafirma-se o animal que dorme, eros...
Íntimos sonhos qual tormentos,

Doce sensação, que me angustia o paladar…
Paixões desinibidas que me enfraquecem,
Qual repto de intenções descontroladas
Alimenta-me a demência de uma inocência.

Qual chuva do fim de tarde, que nos invade com o seu odor…
Ardente sensação de regozijo que me invade
Essência vigorosa que me alimenta e repudia a razão,
O prazer que sinto veemente cresce.

Estridentes, arrepios que me aparam os sentidos…
Gemidos que se formam,
Qual predador que sua presa ronda…
Emana a paixão de saciar a tua púbis

Voluptuosa sensação que abraço com o olhar
Corpo desnudado, qual orquídea a desabrochar
Quente a descoberta do íntimo
Suave a brisa que me toca,

Tremem-se-lhe as pernas, torneadas….
Húmida, sequiosa de sabor,
Engolfo o meu ser dentro da sua boca,
O prazer uma e outra vez, possuo-te nesse instante somos um.

Leonardo Springer
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Vulnerabilidade

De olhos vendados,
Vulnerável,
Não por força alheia e bruta,
Mas por sua vontade
Fechados,
Ela se prostra
Sobre a mesa que às vezes é cama,
Onde ele a almoça quando ela o chama...
Sem palavras (quem realmente
Delas precisa?), ela prende-se, sem correntes,
Às mãos rudes que a possuirão
E ao corpo estranho que a cobrirá
De peso e de prazer.
Sem palavras, sempre sem palavras,
A lânguida morosidade da escuridão
Cairá
Sobre a tarde proibida em jorros de luz vespertina a amadurecer
Na língua do amante que ela nunca verá...

Valter Ego
http://amendual.blogspot.com
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DINÂMICA DOS FLUIDOS

Não vês nos meus olhos desejo,
o desejo?, nos lábios a sede
de um beijo e nos braços
a fome de abraços, não vês, tu
não vês?; não vês que nas veias
o sangue incendeia?

Semeio o delírio
com os dedos urgentes:
mordisco-te os seios, os seios
inchados; sugamo-nos
as línguas de fogo,
vorazes; sublevo-te a púbis
e a boca do corpo, num ritmo
agudo, sem véus de pudor.
O frémito cresce; respiras mais
fundo; o vigor entumece.

Rebelem-se os ventos ou tremam
as casas, vogamos na crista
das ôndulas vivas num mar
de calor, os olhos nos olhos,
as mãos desgrenhadas, as bocas
ao rubro, soltamos gemidos
e brados e uivos, os poros
perdidos, fundentes, em brasa.

Celebramos os corpos
assim desvairados
no ápice da febre,
do ardor, da explosão das águas
frementes, do fogo maduro,
com o sol tatuado na pele da paixão.

Domingos da Mota
http://fogmaduro.blogspot.com
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Podem ouvir aqui o programa do Estúdio Raposa em que o locutor Luís Gaspar gravou em audio alguns dos poemas participantes neste passatempo.

Terminando, deixo um obrigada a todos pela entusiasta participação, obrigada ao Luís Gaspar... e, até ao próximo passatempo.

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Relembro que este "espaço aberto" é um espaço de tertúlia e não de alguma espécie de competição. Para isso existem os concursos literários, com júris e prémios monetários.
A vossa participação nestes passatempos deve ser sempre na óptica da partilha, da sã convivência, para divulgarem o que escrevem. Por isso vos agradeço a forma como têm participado nestes passatempos.
Os participantes que recebem livros, são apenas os que foram mais rápidos a enviar as colaborações.