sábado, 31 de julho de 2010

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


O Taberneiro
Miguel Martins
Poesia Incompleta, 2010







IGNIS FATUUS


Vem a lume uma ideia luminosa
um chá de lúcia-lima fumegante
inalação de folhagem capitosa
num bule de feldspato crepitante

Disfarçada de paz fortificante
de miasma benigno, inspirativo
é a estultícia que naquele instante
rebrilha num fogacho transitivo

É o Futuro que pede, apreensivo
um cisma com as crenças abaladas
uma balada ao coração cativo
dos sismos e dos contos-de-fadas

que são suas madrastas desveladas
numa fumigação protelatória
da descoberta das portas encerradas
em chaleiras sem mago, sem memória

do aprisionamento nessa história
em que um afago acendia um fogo
que num segundo alcandorava à glória
uma vitória assegurada ao jogo

Mas na derrogatória a nosso rogo
restolha uma seara, seca a fonte
por se encontrar, apenas, muro e mogo
onde tanto aguardou o horizonte.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Grande Prémio de Poesia APE/CTT 2009 para Fernando Echevarría

Fernando Echevarría ganhou o Grande Prémio de Poesia 2009 instituído pela Associação Portuguesa de Escritores.
O júri foi constituído por Armando Silva Carvalho, Maria João Reynaud e Sérgio Sousa, que decidiu, por unanimidade, atribuir o Grande Prémio de Poesia APE/CTT ao livro “Lugar de Estudo”, de Fernando Echevarría (Ed. Afrontamento).

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Obra I
António Salvado
A Mar Arte, 1997







Intervalo


Sinto na véspera do meu anseio
a chuva que amanhã só choverá.
Chegou Setembro. Na terra
respiram os veios do renovo já.

Agarro uma alvorada desprendida
dos galhos desfolhados do passado.
Chove amanhã. O dia é hoje quase.
Cruzam o céu nuvens de enleios de asa.

A terra se molhará.
Também a esperança ficará molhada.
Eis o renovo. Amanhã choverá...
E as mãos ficarão limpas para tudo
(ou para nada).

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Mais logo, no Porto

Sessão de poesia sobre Fernanda de Castro hoje, dia 29, no Café Progresso, pelas 21H30 com leitura de poemas por Maria de Lourdes dos Anjos, Nuno Meireles e Celeste Pereira e acompanhamento musical pelo Grupo de Cavaquinhos da Associação Recreativa de Mafamude.

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


CORPOLETRADO
Babilak Bah
Veredas e Cenários, 2009







A letra do corpo

O corpo constelação de sílabas
Alfabeto de carne e sangue
Fonemas de ossos,
Distribuídos em símbolos
Metalinguagem da pele
Sob o suor da palavra
Na metáfora dos poros
Parágrafo nos músculos
Morfologia dos cabelos
Hipertexto
Letra falante vírgula nos pés
Aspas no coração sem parêntesis
Um verso metrificado
Semiótica dos ouvidos
De grafismos vesgos
Espinha dorsal do verbo
O corpo dicionário de gestos
Aberto à sonoridade dos olhos.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


a pegada do yeti
Maria Alberta Menéres
Livraria Morais Editora, 1962







9.

Duas pequenas letras
ferrugentas
tímidas
famintas

à porta fechada
((e))
((u))

A mão nocturna rápida
milhafre
dente

e o dia apesar de tudo

terça-feira, 27 de julho de 2010

Videopoema


Videopoema de Manuel de Almeida e Sousa

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


O Jardim das Carícias
Anónimo Árabe (Séc. X)
Tradução de Fernando Ilharco Morgado
Farândola, 1995






A UM AMIGO

Se já dormiste num oásis,
compara o seu perfume
com o odor que sobe dos jardins
antes da aurora.

Se nunca viste uma rosa
abatida pelo sol,
nunca fales do brilho
da sua face.

Se nunca viste lírios
banhados pela lua,
nunca fales da brancura
das suas pernas.

Se trituraste com os teus dentes
grainhas tépidas de uva,
evoca o gosto da sua boca
durante o beijo.

Se à noite no deserto
julgaste ouvir, algumas vezes,
a música das constelações em movimento,
compara a essa harmonia
a música da sua voz.

Se nunca choraste por amor,
não procures conhecer
aquela que me ama.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Longe
Ribeiro Couto
Livros do Brasil, 1961







HAVANA

À sombra dos pátios caiados de sol
Os grandes olhos das moças trigueiras
Têm doçura crioula e fulgor espanhol.

Doçura crioula, doçura antilhana...
Um relento de rum impregnando o mormaço
E requebros de conga agitando as palmeiras.

Em nobres vivendas, nas plantações
De fumo e de cana,
Vozes da África embalam berços, ameigam canções,

Nas noites profundas da ilha
Ressoa o canto da América em todo o espaço.
Mas nas praias as ondas segredam: Castilla...

domingo, 25 de julho de 2010

Novidades Poesia Incompleta


O Taberneiro
Miguel Martins
Poesia Incompleta, 2010









3

Eu sou o TABERNEIRO-da-cintura-para-baixo e cara de cavalo relinchando aos pagodes, mijando nas traseiras de Notre Dame de Damn You, trombando uma defunta num sonho de luz branca. Vinde dizer-me agora que agora é que começa essa novíssima Volta a Portugal de que saireis vencedores-de-vozes-cristalinas-e-piscinas-nos-bolsos-resguardados...– do alto destas pirâmides, responde Napoleão, uma chuva de das Caldas vos contempla; e avoengos, trajando neve e medos, não hesitarão, sequer, no arremesso. E eis que entra um côro de gospel fumegante, ressaca bacanal já pronta para outra, e me embala menino-dos-ditos-saraivada-«tu sabes lá o que é que tás páí a dzer». «É verdade, não sei, eu sou O TABERNEIRO, li Stendhal, Sade, Camilo, Hugo e Zweig sentado numa pipa de mecha ainda acesa, pelo qu'é natural a pouca retenção; desculpem se me cago – almocei a correr e já bebi três litros de sobras clientelares.»

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


últimos trabalhos
Samuel Beckett
Tradução de Miguel Esteves Cardoso
O Independente / Assírio & Alvim, 1996







Que palavra será

loucura —
loucura porque —
porque —
que palavra será —
loucura disto —
tudo isto —
loucura de tudo isto —
dado —
loucura dado tudo isto —
visto —
loucura visto tudo isto —
isto —
que palavra será —
isto isto —
isto isto aqui —
tudo isto isto aqui —
loucura dado tudo isto —
visto —
loucura visto tudo isto isto aqui —
porque —
que palavra será —
ver —
vislumbrar —
parecer vislumbrar —
precisar de parecer vislumbrar —
loucura porque precisar de parecer vislumbrar —
que —
que palavra será —
e onde —
loucura porque precisar de parecer vislumbrar que onde —
onde —
que palavra será —
ali —
ali mesmo —
além ali mesmo —
ao longe —
ao longe além ali mesmo —
a custo —
a custo ao longe além ali mesmo que —
que —
que palavra será —
visto tudo isto —
tudo isto isto —
tudo isto isto aqui —
loucura porque para ver o que —
vislumbrar —
parecer vislumbrar —
precisar de parecer vislumbrar —
a custo ao longe além ali mesmo que —
loucura porque precisar de parecer vislumbrar a custo ao longe além ali mesmo que —
que —
que palavra será —

que palavra será

sábado, 24 de julho de 2010

Outras sugestões para os próximos dias


28 de Julho (quarta-feira):

PORTO - Clube Literário do Porto
Dia 28 de Julho
No Piano bar do Clube Literário do Porto,
Pelas 21h30:
Quartas Mal’Ditas (tertúlia mensal de poesia)
Tema: A poesia luminosa de Eugénio de Andrade
Org.: Anthero Monteiro
Clube Literário do Porto: Rua Nova da Alfândega, nº 22 - Porto


.............................................................


31 de Julho (sábado):

PORTO – Ateneu Comercial
Apresentação do livro de poesia “Foz Sentida” de António MR Martins (edição Temas Originais) no Ateneu Comercial do Porto, Rua Passos Manuel, 44, Porto, no dia 31 de Julho, pelas 16H00.
Obra e autor serão apresentados por Xavier Zarco.



LISBOA – Auditório do Campo Grande
Lançamento do livro de poesia “Suspiro Inflamado” de Jacob Sylla (edição Temas Originais) no Auditório do Campo Grande, 56, em Lisboa, no dia 31 de Julho, pelas 19H00.
Obra e autor serão apresentados por Nuno Calaças.




AMADORA – Biblioteca Municipal
Apresentação do poemário "Palavras com distância" obra póstuma de Ulisses Duarte (edição Edium Editores).
Edição bilingue com os poemas do autor vertidos para castelhano por Julião Bernardes.
A sessão de lançamento da obra terá lugar na Biblioteca Municipal Fernando Piteira Santos, na Amadora, no dia 31 de Julho pelas 16H30.

O que se escreve navegando...

Algumas frases engraçadas, escritas em motores de busca, que direccionaram visitantes para este blogue:

• encomendação de santo antónio a morte ea ferro
• colares pentagrama 1 euro
• plural de ines
• sex shop "Marques de tomar"
• joau lucio poemas
• transito no marques de Pombal 8 de julho de 2010
• chega de bois em castro daire
• chaby gardan cantor
• grupo musical fina estampa viana do castelo 2010
• porosidade eterna
• musica portuguesa chimo da montanha
• receita de cachapa feita no Jornal Hoje

(Tal e qual como estavam escritas)

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Ainda não é o fim nem o princípio do mundo calma é apenas um pouco tarde
Manuel António Pina
A regra do jogo, 1974






A MENSAGEM DO TEU

A mensagem do teu lábio superior
salta bip o parapeito que nos separa
e habita urgentemente nos meus olhos
e repetidamente e urgentemente convoca os meus olhos
para a saudade publicada na tua cara
com slogans de néon interior

Sei que sabes uma palavra indecente
e que tens vergonha dela como se essa palavra fosse
a tua roupa de dentro

Olha sei no que pensas sei o que fazes
sei coisas que tu mesma não sabes
sabes por exemplo que estás noiva? e que o malandrim
afinal de contas é sargento de infantaria?
Mas deixa lá homens é o que há mais
(E os oficiais sabes?)

O morse lábio bip bip noticia:
ATENÇÃO ATENÇÃO ESTOU QUASE SOZINHA
E sei pormenores da tua respiração
concretos, fotografias

sexta-feira, 23 de julho de 2010

V Concurso Literário Francisco Álvares de Nóbrega

Decorre até 31 de Agosto o prazo de entrega de trabalhos candidatos ao V Concurso Literário Francisco Álvares de Nóbrega (“Camões Pequeno”), promovido pela Junta de Freguesia de Machico (Ilha da Madeira) .
O prémio destina-se a obras de poesia escritas em português, de autor nacional ou estrangeiro.
O tema é livre, "tendo como horizonte de inspiração Machico".
O Júri escolherá três trabalhos, aos quais serão atribuídos os valores pecuniários de 1000€, 500€ e 250€, havendo ainda lugar ao prémio para a melhor ilustração original, no montante de 150€.
A entrega dos prémios será feita, em sessão solene, no dia 30 de Novembro deste ano.

Mais pormenores na página da Junta de Freguesia de Machico, onde está disponível o Regulamento (.pdf)

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Maria
José Craveirinha
Editorial Caminho, 1998







Maria era assim

Maria era assim simples no que dizia.
O que ela pensava era também assim.
Tudo à sua volta era mesmo assim.

Enquanto um inconturbável fio de cabelo branco
na bela cabeça enternecia lembranças
e também era simplesmente assim.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Amo agora


Apresentação do livro de poesia erótica Amo agora de Casimiro de Brito e Marina Cedro.
França (Sète - Festival Voix Vives de la Méditerranée): 29 de Julho, 20H00.

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia



Livro dos Cantares / She Keng
Introdução, texto em alfabeto português e caracteres, tradução portuguesa e notas críticas por Joaquim A. Guerra, S. J.
Jesuítas Portugueses de Macau, 1979




CARDOS NA PAREDE
(Dseão yú Tshez)


1. Crescem cardos na parede,
Que ninguém pode tirar.
O que é dito nas alcovas,
Não é fácil relatar.
Quanto havia que dizer,
Dito faria corar.

2. Crescem cardos na parede,
Impossível de arrancar.
O que é dito nas alcovas,
Bem mal se pode contar.
Quem se pusesse a fazê-lo,
Não mais iria acabar.

3. Crescem cardos na parede,
Mui difícil de apanhar.
O que é dito nas alcovas,
Pode-se lá repetir?
A fazê-lo, havia o sangue,
De vergonha, à cara vir.


quarta-feira, 21 de julho de 2010

Os vossos poemas


Caros etéreos,
Como sabem, no último passatempo o mote era a palavra "Memórias" e os primeiros 6 participantes que enviassem os seus poemas receberiam um exemplar do livro “Marcas ou memórias do Vento”, de Maria Paula Raposo.
Assim sendo, os participantes mais rápidos que receberão exemplares deste livro são:

1. Amadeu Baptista
2. Andreia Silva
3. Fernando de Jesus Ferreira
4. João Tomaz Parreira
5. António José Queirós
6. mariam


Eis todos os poemas participantes, pela ordem que chegaram:



SONETO EXPOSTO
(ou uma certa ideia de memória do país)

O desengonçado trânsito cavernícola.
A eterna crise com os dentes afiados.
Um país de paisagens marítimas e vinícolas,
em que uns são filhos e outros enteados.

O recorte da serra na distância.
Os pardais semoventes sobre as praças.
Alguns homens sombrios com a ânsia
de não serem roídos pelas traças.

O redil organizado como um caos.
Uns quantos menos bons e outros muito maus.
Uma planície, uma cidade, um chaparral.

E em volta disto o mar, sempre indiferente
do que queira ou não queira a sua gente.
E fica no soneto exposto Portugal.


Amadeu Baptista

***


Passado

O passado é passado
E já passou…
O amor era uma rosa
Que caiu
E murchou…
O passado
Que passou
Nos entretantos
E nas entrelinhas
Foi passado
Entre prantos
E mágoas minhas!
E se o passado é passado
Atrás não volta mais
Por isso o olhar é para a frente
Para encarar coisas reais…


Andreia Silva
http://segredos_escondidos.blogs.sapo.pt

***


No segredo do degredo
a voz ecoa nos interstícios da fonte
onde tudo se esconde
o mar perece
e o amor esquece


Fernando de Jesus Ferreira

***


EXPERIMENTO VER-ME COM OS OLHOS

Experimento ver-me com os olhos
de minha mãe, ela pode amamentar-me
pode medir-me e ver que não cresceu
o meu corpo, pode censurar
meus olhos mineiros
que procuram poesia
e dizer - filho, os teus olhos
estão mais magros -
Tento ver-me com os olhos
de minha mãe, podem chorar
com as minhas lágrimas
Mas eu não me alcanço
como ela faz todos os dias.


João Tomaz Parreira
http://www.poetasalutor.blogspot.com

***


Praia da Memória

Regresso ao lugar onde o tempo adormeceu,
ao enigma de um mar parado, quase triste.
Lá longe avisto um obelisco que resiste
como símbolo de uma ideia que venceu.

É Inverno mas o sol queima. Nada existe
que faça escurecer o dia como breu.
Vem-me à ideia a história antiga de Orfeu
e a saudade que em mim ficou quando partiste.

Na música que ouviste não pressenti
os incertos andamentos da sinfonia
que pouco a pouco te deixaram perturbada.

Mas nessa tarde em que, enfim, te conheci
julguei que o tempo finalmente acordaria
para que o sol brilhasse em plena madrugada.


António José Queirós

***


Memórias d'Outono

Naquela geometria de paredes desamparadas
Restam heróicos alguns empilhados de pedra
Ainda exalam misturas de cheiros e palavras
Memórias simples de sabores e saberes feitas
Encavalitados nos joelhos do pai ou do avô
Que quedos pediam estórias de lobisomens
De medos e de bruxas que nuas dançavam ao luar
Do arrepio na lembrança dos sons da noite lá fora
No canto ouvia-se em surdina o canto da tia-avó
Entre aromas de mosto e castanhas assadas no lume
E malgas que a mãe enchia de perfumado doce abóbora
Do leite de cabra e das carquejas acabadas de trazer
Pequenas e orgulhosas as mãos arranhadas nos silvados
Comiam de manhã amoras frescas e bagos de romã
São belos os Equinócios mas jamais serão os mesmos...


mariam
http://www.mariasentidos.blogspot.com

***


Memória serena

Ali, naquele sofá de couro,
está uma memória sentada.
Não é fantasma, é memória,
doce e serena como a luz do luar,
como o rio que desliza mansamente para o mar.
A mão, já enrugada,
pousa no braço do sofá de couro,
lá onde está marcada a mão real,
tantas vezes pousada.
Doce é o sorriso, profundo o olhar.
Na gola do casaco imaginado,
um alfinete de ouro com o nome gravado.
Ali, na memória sentada no sofá de couro.


Regina Gouveia
http://www.docaosaocosmos.blogspot.com

***


Otium

Vejo essa mesa glabra de processos;
quinquilharias aí estão. Nonadas.
Vêm-me à memória todos meus sucessos.
Tão poucos ante as teses derrotadas.

Lá na parede, alguém com quem pareço
remotamente. Não fossem os cabelos,
negros e bastos, de que já careço,
e o retratado faz questão de tê-los.

Dormem na estante livros de Direito.
Pó do desuso vai-se acumulando.
O leigo julga tudo eu sei de cor.

Cabeça altiva, sem mágoas no peito,
o meu sossego fui recuperando.
Bacharelices? Never, never more.


Adauto Suannes
http://www.circus-do-suannes.com

***


a infância que não foi a tua

mundo de aventuras
de leituras desenfreadas
em luta contra o tédio
das doenças de cama
na segunda infância,
essa em que a imaginação
se torna o vulcão de toda
a solidão. não foram amigos
teus os cavaleiros da távola
ou da triste figura (catorze
anos mearam a mudança
das feições, como hoje, tantas
vezes a boca, de gôndola, se arqueia
no teu rosto de lua cheia).
nada disso foi teu,
tiro aos pássaros,
saqueamentos a árvores de fruto
mergulhos suicidas de rochas
ou de chaminés de barcos
destroçados, o medo e o amor
sempre te impediram os altos voos
de Ícaro. não és melhor
nem pior pessoa por falta
dessas memórias e não choras
pela infância que não foi a tua.


Fernando Machado Silva
http://donnemoimachance.blogspot.com

***


GOSTO TANTO...

Gosto tanto de ser partilha...
Memórias de tempos
Som...tacto...
E ouvir o sorrir d'alma
No teu som ...no teu tacto...
De uma vida
De um caminhar
De um sorrir
De um amar...
Som...tacto...
E ouvir o teu tacto silêncio...
De um querer
De um dizer
De um almejar
De um amar...
Som...tacto...
E sentir o teu amor...no meu som...
No unir
No conseguir
No alcançar
No amar...
Som...tacto...
E ouvir o sorrir d'alma
No teu som...sorriso do teu tacto...
Memórias de tempos
De facto!

José Luís OUTONO
http://pretexto-classico.blogspot.com

***


Na calma do rio…
Observo a calma ondulação do rio…
…enquanto tenho como céu frondosas árvores.

Sentada e quieta…
…aqui neste pequeno penedo,
lembro-me de amores passados…
e de bem-quereres presentes.

De ti…
…recordo aqueles momentos felizes,
vividos com a intensidade…
…de um raio de Sol ao meio-dia!

Anabela Braga

***


MEMÓRIAS

Memórias são retalhos de ilusão
A chama de um passado inda presente;
Saudade a inundar a nossa mente
Mergulhos que se fazem, de emoção;

São mágoas, são amor, recordação
São lágrimas por quem ficou ausente;
Vitórias conquistadas e que a gente
Conserva com carinho, com paixão;

É encurtar na mente essa distância
Que vai do homem velho à sua infância
É condensar a vida num segundo.

Olhar a feitos de quem já se foi...
E ver que a todo o tempo se constrói
Querendo, com amor, um melhor mundo.


Joaquim Sustelo

***


todas as noites restituo ao silêncio as rosas do teu corpo:
nenhuma estrela acende esta casa tão alta
onde escondemos palavras envergonhadas
em lençóis de solidão.
saímos vulneráveis e nus
para os ombros da luz com o choro das aves nocturnas
a revelar as mãos retalhadas da sua imobilidade.
envelhecemos, quase sempre, na perturbação comum dos pássaros
quando as memórias do pólen os confunde.
à porta - no estilhaço da claridade
a voz cai, estranhamente nítida
quando o corpo se dobra à origem da palavra
e nos perguntam: porque morrem as rosas?


Luísa Henriques
http://maresdeespanto.blogspot.com


***


És a palavra fechada num silêncio de ouro,
a redescoberta egoísta de uma saudade sem fim,
dos tesouros perdidos de uma memória pequena,
muito pequena, para a guardar.
O teu silêncio assumido penetra todos os espaços,
que eram os teus,
os das palavras loucas,
que falam só para elas,
numa recordação intacta.


Raquel Lacerda
www.asinhasdefrango.blogspot.com

***


A memória do nome

......................................Como se fosse assim pensar
......................................ser dono de uma árvore
......................................e não ser dono de nada.
......................................Álvaro Alves de Faria

Esmaga em prensas de laje os golfos do nome
dir-se-ia um nome de larva ou sílaba azeitada
e o corpo está enrijado como Jesus a prumo
ser imponderável revestido de folhas brancas,

sob o arco da língua retesada a crosta surda
esta boca imunda em torrente aberta esta tribo
e o fogo nas mãos como soldas no centro do ar
o ritmo asfixiante do verbo o hálito sangrento,

toda a cegueira da sombra das liras espiando
toda a rasura das raízes do lugar das fábulas
ó bem amado nome diluído na refracção do eco.


João Rasteiro
http://www.nocentrodoarco.blogspot.com

***


Fintava tudo o que lhe aparecia:

Fintava tudo o que lhe aparecia:
as dunas, os astros, os versos…
todas as manhãs pintava o sol;
ora de branco, ora de preto,
erguia-se cedo, ouvia os búzios,
e cumprimentava as gaivotas.
Seguia alinhado a uma luz suave
desvanecendo-se no imenso vácuo.
As sombras, inacessíveis protagonizam
bailados castrantes com vestes negras,
que cegam o imergir da luz.
Vidas inocentes do real mundo
esse, em que se morre ao nascer,
recreiam-se na areia por entre as rochas
aguardando a visita dos crustáceos.


José M. Silva
http://esquicospoeticos-avlisjota.blogspot.com

***


Fala-me

Fala-me do fumo
Fala-me do sono e dos sonhos
e da ausência.

Fala-me do Mundo

Enquanto sonho
Enquanto tento sonhar
Fala-me de ti
de nós...

Sonhemos juntos.

Caminhemos pelo traço de fumo
Enchamos o peito de céu
e a alma de nuvens
até que deixem de chover os olhos.

.........................................abraça-me a paixão.


Diogo Jacinto
http://www.gritos-moont.blogspot.com

***

as mãos hesitam sobre a cidade


uma vida inteira

....................dentro de um livro:

bilhetes de comboio,
o primeiro beijo,
joelhos esfolados
um verão inteiro,
a pele que teima
em envelhecer,
os amigos, os pais,
os avós e o confronto
com a inevitabilidade
das coisas,

......a nudez
de um corpo
..............noutro

e dezenas de fotografias
onde já não me reconheço,
sem qualquer réstia de memória
ou lembrança:

a tua voz nas entrelinhas
........e o pó contínuo
de não estares
.........................aqui.


João Coelho

***


Memórias

No tempo se dilui,
Tudo aquilo que a mudança,
E o progresso transforma -
A matéria,
A realidade,
Até mesmo o sonho,
Nada permanece inalterável.

À medida que o tempo passa,
Soma-se a nós,
A consciência do efémero.

Contudo, algo não se dissolve,
Passe inexorável o tempo,
Por ti,
Por mim,
Ou de permeio, por nós.

Tudo aquilo que somos,
Que a ele não alienamos,
Aquilo que ninguém nos confisca,
Enquanto assim o não queremos.

A razão,
A consciência,
O género,
Que Deus nos ofereceu por inteiro,
Que é nosso único património

Desde que não nos consintamos viver,
Amarrados à ideia de fim,
Ao tempo,
Nós não nos entregamos,
Nem sequer a alguém em pleno,
Com autenticidade.

A memória do somatório que fomos,
Os sentimentos,
As paixões,
As convicções,
As esperanças,
A nossa luta,
O acto em potência daquilo que queremos,

A vida que em nós festejamos,
Não a reneguemos por um segundo,
Tesouro não partilhado,
Pertença apenas nossa,
É tudo aquilo,
Que o passado em nós já escreveu.

Mergulhados no quotidiano,
Às vezes quase submersos,
Nadando pelo mar da vida,
Até que os nossos braços se cansem,
Vestindo a alma com o único corpo que temos,
E que assumimos por inteiro.

Saibamos abrigarmo-nos das tempestades,
Mesmo por entre as brechas do coração,
Escavadas pelos ventos do infortúnio.
Olhemos o Mundo, sem receio
Transformando as lágrimas num sorriso,
Somaremos vitórias contra o destino

Até que o abraço de um anjo,
De forma meiga e suave nos leve,
Desta breve passagem terrena,
Quem sabe se assim não chegaremos,
A viver num outro tempo sem memória,
Sem a ideia de princípio, nem termo,
Numa forma para nós ainda desconhecida?

Estranha alegoria…


Beatriz Barroso

***


À SOMBRA DA FIGUEIRA

À sombra da figueira,
Ouvi histórias e contei histórias.
Olhei o tempo e brinquei no tempo.
Ri, chorei, cantei e amei;
E gostei… a sério que gostei.
Ali, fui amigo e fiz tantos amigos,
Dos que perduram em minha vida.
Tornei-me aprendiz mas também sabedor,
E partilhei…
Partilhei muitas experiências e vivi imensas emoções,
E gostei… a sério que gostei;
À sombra da figueira,
Daquela figueira que agora me oferece doces lembranças.


Luis da Mota Filipe

***


A quietude que de pronto cobre o passado
reduz-nos constantemente a existência
ao provisório fio do presente, distanciando-nos
de nós próprios, porque somos o quem em um tempo
vivemos e por isso vivemos de sombras.
Não entendemos bem o motivo de nos mantermos de pé,
apesar do peso da memória no presente.
Os sentimentos, a sabedoria, tudo o que construímos
desvanece-se quando alcançado, sem rumor,
deixando-nos sós no instante preciso
em que a existência se poisa no tempo e no mundo
sendo nós possuidores, apenas, da memória vaga
do que fizemos e a aflitiva liberdade de escolher
entre diferentes formas de chegar ao silêncio.


Rui Tinoco

***


Alegres memórias

Ainda ontem era criança
E via o teu rosto de adulto
Ainda ontem era criança
E via os teus anos a passar
O teu corpo a curvar
O teu olhar a brilhar.
Ainda ontem era criança
Ouvia os telefonemas
A anunciar a tua visita
E meus olhos alegres
Se enchiam de felicidade
Ainda ontem era criança
Já ai me preocupava
Quando a minha casa chegavas
Com cheiro de café
Ainda hoje sou criança
E há pouco senti vontade
De me lembrar do quanto criança fui
De pensar em ti elegante
A ires passear para a feira
Ainda ontem te vi vivo
E hoje em ti vivo penso
Porque vivo permanecerás para sempre…


Guadalupe Paraíba

***


Memórias estão aqui


......................................Recordando-te:
......................................“Em que lugares, em que salões”
......................................Rafael Sanchez

Em que tempo e com quem estão
Minhas promessas de amor,
Meus sonhos, a glória, meus dias
E vestes, o meu vôo de condor?...

No passado, na memória,
No tempo bem vivido ontem?
Estão numa outra eternidade
Que resguarda todas as vidas.

Estão na recordação de todos
Que juntos contribuíram
Fazendo os momentos lindos
E por lembranças reuniram.

Guardados da minha vida
Estão aqui em meu corpo
Atos e fatos, a realidade vivida
Nas gavetas da memória.

Nossas vidas, de momentos
E momentos reunidos,
Estão escritas no livro infinito
Que resguarda os tempos idos.

E nos será lido no acerto dos dias.


Célia Lamounier de Araújo
http://www.celialamounier.net

***


Para onde me levam os penedos da memória?

Para onde me levam os penedos da memória?
Sentado neles por tempos, que me trazem…
Estas histórias que desenrolo, irrompem da verdade
Ou trazem jardins labirínticos de encanto?
Não sei se o que recordo
É o que a memória quer
Ou as portas que a felicidade, essa mula, trancou.
Estamos presos a vidas que não vivemos,
Recordamos o sono em que tivemos despertos
E o amor que nunca caiu de raiz no nosso corpo?
Para onde me levas
Veredas sangrentas de carne
Ou escarpas luminosas encantatórias?
Para onde, para onde…


Carlos Teixeira Luis
http://verderude.blogspot.com

***


A CASA DE MEU AVÔ

No almanxar em frente da casa
os figos tomam o sabor do sol

voltejam abelhas rutilantes
os relógios pararam ao meio-dia
bebo a água da cisterna
como quem bebe a chuva
os olhos do meu avô têm a cor do futuro
quando lança à terra
uma mão-cheia de trigo

seguro entre os dedos
um favo de mel
enquanto a infância me desliza na memória


Leonilda Cavaco Alfarrobinha

***


MELANCÓLICA

Em dias como este, o tempo fica estagnado,
estrangulado, suspenso,
à espreita.
Dele próprio, de mim...não sei...
Não gosto de dias como este,
porque fico melancólica e
incapaz de pensar,
de ver o lado cómico da vida,
de rir alto.
Eu que até gosto de rir alto,
de rir até às lágrimas.
Sinto-me mais livre,
mais leve,
irresponsável mesmo.
Mas há memórias,
há vozes do passado
que não esqueço,
em que o meu riso feliz
se volta a fechar.
Tudo desaparece e eu própria
me sinto desaparecida.


Marta Vinhais
http://www.amartaeeu.blogspot.com

***


Fecho os olhos e mergulho no passado
As flores que enchem os caminhos
Brotaram de sementes esquecidas
Que o vento um dia guardou

Fecho os olhos e sinto a aragem
A que nos acariciou e não nos esqueceu
E sabe todas as histórias
Que a memória se recusa a revelar

Deixo-me arrastar no turbilhão do vento
E na música das folhas na leveza dos aromas
Descubro as palavras mágicas
Que revelam onde o passado se esconde.


João Caldas
http://olhareserrantes.blogspot.com

***


Finalmente, o poema que foi escolhido para ser gravado em audio pelo locutor/diseur Luís Gaspar:


SONETO EXPOSTO
(ou uma certa ideia de memória do país)

O desengonçado trânsito cavernícola.
A eterna crise com os dentes afiados.
Um país de paisagens marítimas e vinícolas,
em que uns são filhos e outros enteados.

O recorte da serra na distância.
Os pardais semoventes sobre as praças.
Alguns homens sombrios com a ânsia
de não serem roídos pelas traças.

O redil organizado como um caos.
Uns quantos menos bons e outros muito maus.
Uma planície, uma cidade, um chaparral.

E em volta disto o mar, sempre indiferente
do que queira ou não queira a sua gente.
E fica no soneto exposto Portugal.


Amadeu Baptista





Obrigada a todos pela participação. Obrigada ao Luís Gaspar.
E... até ao próximo passatempo.

....................
Relembro que este "espaço aberto" é um espaço de tertúlia e não de alguma espécie de competição. Para isso existem os concursos literários, com júris e prémios monetários.
A vossa participação nestes passatempos deve ser sempre na óptica da partilha, da sã convivência, para divulgarem o que escrevem. Por isso vos agradeço a forma como têm participado nestes passatempos.
Os participantes que recebem livros, são apenas os que foram mais rápidos a enviar as colaborações.

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Íbis Amarelo sobre Fundo Negro
José Kozer
Tradução: Claudio Daniel, Luiz Roberto Guedes, Virna Teixeira
Travessa dos Editores, 2006







AMOR PARA UMA JOVEM ASPIRANTE A POETA

Em Fontainebleau vida minha
tomaremos uns canecos de cerveja
sob um guarda-sol (Cinzano) uma tacinha
de curaçau, menina, e beliscaremos
uns petiscos (passe-me o caroço
da azeitona). Depois
ao trabalho firme, que se intitule o poema
"Fuzilamentos de um cavaleiro cor siena"
onde haja uma dama e seu amor que morra
nas guerras napoleônicas. Para
um dia de trabalho é suficiente: subamos
em Fontainebleau até o aposento, ponhamo-nos
a esboçar arvorezinhas nuas no início
da primavera despedidas
sob o pálio dos amantes de Teruel Verona
e com suma grandiloqüência (Vigny) "J'aime
la majesté des souffrances humaines
". Esta
referência culta nos basta para continuarmos
amanhã: no momento
as persianas para que haja sombra (assim
como em um bom poema é requisito indispensável
o frescor da penumbra) e toque
a sineta para que a criada traga
uma taça, atenção
menina que o poeta a teu lado é uma
eminência, coloque
no flamante carmesim de tua face
um beijo
e relaxa, marcha
mais de uma légua a infantaria por onde quer e
Napoleón épouse Marie-Louise, executados
como cachos num abraço.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Performances na Fábrica Braço de Prata

(clicar para ampliar)

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Movimento Marítimo
Eduardo Paz Barroso
Edição do Autor, 2008








POEMA DE AEROPORTO

Dou por ti a voar
no teatro de papel em serpentina;
o festival continua,
outros actos
nos pacatos pactos que fazes
com o destino travesti;
disfarce incapaz
para o diagnóstico de ter sido.

Jejum: a certeza pequena
dessa voz estar aí,
apesar de tudo, apesar de ti,
sobrevoando Cáceres
como quem não quer a coisa
(a hospedeira deu-me papel).

Em Genéve representam
a melancolia de Hamlet,
pequeno purgatório da infanta,
mil vezes protegida do seu dizer porquê...
Não fora assim a despedida do romance enevoado,
miragem desfibrada,
retorno, lápis, banheira,
(três litros para o caminho),
comboios que apitam não partem
deste lado madrepérola.

O vidro de uma bilheteira
da estação de caminho de ferro de Zurique
reflecte agora
a expressão vaga daquele que não partiu...
O pó cai-lhe da cara,
borrada no retrovisor.
E no entanto a fome,
a infanta a emagrecer
e o lápis a riscar
a banheira do naufrágio...

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Antologia Poética
Gunnar Ekelöf
Tradução de Ana Hatherly e Vasco Graça Moura
Quetzal Editores, 1992






A LINGUAGEM DOS PÁSSAROS

Esta é a linguagem dos pássaros
vem cá, não venhas cá
vai lá, não vás lá
aviso, lá vem alguém
alguém voando, aviso
Este é o meu lugar, não o teu
meu teu meu teu. Canto para o ninho
para que seja ouvido no ovo em ti
para que seja ouvido no ovo
para que seja ouvido
um rosário de regras sem palavras,
mas leva-nos ao Egipto e mais além
e de volta novamente. Não percebes
a não-verbalidade? Às vezes percebes
e disparas e matas, ou então deixas

domingo, 18 de julho de 2010

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Gravador de Chamadas
Paulo Pais
Campo das Letras, 1997







FIGURAS DE APEGO

I

De anjo tens bem se vê os caracóis
que os anjos não se penteiam já se sabe

assim também o corpo ainda belamente em desacerto
ficará perfeito e pronto como tudo o que cresce maduro

e tens nos olhos a confiança do pássaro-lua
que em círculos se afasta tem de ser
filha de pássaro transparente toda nua
de asa a extremo de asa



II

Às vezes um anjo dorme lá em casa
rítualiza a sua figurinha quente de inocência
com o à vontade da sua condição - sabe ao que vem

é um anjo que fala mais do que ouve
e mais do que ele compreende (os anjos hoje vão à escola)
enquanto solta pela casa finos lampejos de luz de oiro

deita-se com ele nas dobras de vapor celeste
agarra-o nas asas de pássaro-lua
ri-se do seu riso de paz dos céus
afasta restos de nuvens adormece sem dar por isso

de manhã deixa-lhe em bicos de asas
um beijo de acolhimento
e ele fica a olhar no sítio em que dormiu
um rio azul de poalha brilhante



III

Os anjos preocupam-se com a desordem do mundo
pressentem os fungos nos ossos dos que se deitam com frio
a densidade salina das lágrimas
o volume do medo das bestas na hora do abate

por vezes definem com astúcia a tensão do sangue
seguram a mão na pressão exacta controlam a voz com
aptidão exemplar

pai, gosto muito de ti
e a infância escorre pelo rosto da memória
entretidos os homens com os recados da inocência

sábado, 17 de julho de 2010

Outras sugestões para os próximos dias


21 de Julho (quarta-feira):

LISBOA – Casa Fernando Pessoa
Leituras por Maria Bethânia
Fernando Pessoa, Álvaro de Campos, Alberto Caeiro, Castro Alves, Sophia de Mello Breyner,Vinicius de Moraes, João Guimarães Rosa, Amália Rodrigues, poetas africanos, Manuel Bandeira, Padre António Vieira, Clarice Lispector, Mário de Andrade entre outros. Leitura intercalada com canções quase à capella.
Dia 21 de Julho, às 17H30, na Casa Fernando Pessoa. Entrada livre no limite dos lugares disponíveis.

PORTO - Clube Literário do Porto
Dia 21 de Julho, no Piano bar do Clube Literário do Porto, pelas 22H00:
Couves Frescas Backstage
Performance e leitura de textos
Org.: xassbit
Clube Literário do Porto:
Rua Nova da Alfândega, nº 22 - Porto



PORTO - Bar Livraria Labirintho
Homenatge a Catalunya
Pelos seus poetas contemporâneos
Dia 21 de Julho, pelas 21H30, no Labirintho, em mais uma “NOITE DE POEMIA”, onde serão lidos poemas de autores catalães como Salvador Espriu, Juan-Eduardo Cirlot, Joan Brossa, Miquel Martí i Pol, Manuel Vásquez Montalbán, Joan Margarit, Narcís Comadira, Pere Gimferrer, Daniel Martínez i Tem e Pau Fleta.
Apresentação: Celeste Pereira
Leituras: Celeste Pereira, José Carlos Tinoco e Daniel Guerra
Labirintho: Rua N. Sra. de Fátima, n.º 334 – Porto

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22 de Julho (quinta-feira):

OLHÃO - Biblioteca Municipal
Apresentação do livro de poesia Polishop de Tiago Nené (Colecção Palabra Ibérica, 2010).
Dia 22 de Julho, pelas 18 hora, na Biblioteca Municipal de Olhão.
Apresentação por Maria Luisa Francisco.



PORTO - Clube Literário do Porto
Dia 22 de Julho, no Auditório do Clube Literário do Porto, palas 21H30:
Lançamento do livro “Canas ao Vento e Cantigas do Mal Amado”, de Agostinho Gomes.
Apresentação a cargo de Agostinho Bento Gomes (filho do poeta).
Clube Literário do Porto:
Rua Nova da Alfândega, nº 22 - Porto.


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24 de Julho (sábado):

PORTO - Ateneu Comercial

Lançamento do livro de poesia “Ao Povo do Mundo” de Fernando Morais (edição Temas Originais) no Ateneu Comercial do Porto, Rua Passos Manuel, 44, Porto, dia 24 de Julho, pelas 16H30.
Obra e autor serão apresentados pelo poeta Anthero Monteiro.

Mais logo, em Guimarães

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


É nosso o Solo Sagrado da Terra
Alda Espírito Santo
Ulmeiro, 1978







AVÓ MARIANA


Avó Mariana, lavadeira
dos brancos lá da Fazenda
chegou um dia de terras distantes
com seu pedaço de pano na cintura e ficou.
Ficou a Avó Mariana
lavando, lavando, lá na roça
pitando seu jessu
à porta da sanzala
lembrando a viagem dos seus campos de sisal.

num dia sinistro
p'ra ilha distante
onde a faina de trabalho
apagou a lembrança
dos bois, nos óbitos
lá no Cubal distante.

Avó Mariana chegou
e sentou-se à porta da sanzala
e pitou seu jessu
lavando, lavando
numa barreira de silêncio.

- Os anos escoaram
lá na terra calcinante.

- «Avó Mariana, Avó Mariana
é a hora de partir.
Vai rever teus campos extensos
de plantações sem fim».

- «Onde é terra di gente?
Velha vem, não volta mais...
Cheguei de muito longe,
anos e mais anos aqui no terreiro...
Velha tonta, já não tem terra
Vou ficar aqui, minino tonto».

Avó Mariana, pitando seu jessu
na soleira do seu beco escuro,
conta Avó Velhinha
teu fado inglório.
Viver, vegetar
à sombra dum terreiro
tu mesmo Avó minha
não contarás a tua história.

Avó Mariana, velhinha minha,
pitando seu jessu
na soleira da sanzala
nada dirás do teu destino...
Porque cruzaste mares, avó velhinha,
e te quedaste sozinha.

_______
Jessu: Cachimbo de barro

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Em cidade estranha

seguido de
Retratos de Mulheres
Daniel Francoy
Artefacto, 2010







Garota do escritório

Primeiro interessou-me o seu ar espiritual,
as suas ideias, a sua percepção do mundo.
Depois notei o perfume, doce e delicado,
as marcas de batom nos copos descartáveis,
os seios que eram como pêras maduras.
E foi num debate – ela sentada, eu de pé –
sobre a existência ou não existência de Deus
– ela citando o Evangelho, eu Mersault –
que o telefone tocou e para atendê-lo
ela revelou a espantosa delícia
que eram as suas coxas grossas e rijas.
Estremeci e concluí que Deus ou a alma
são coisas distantes e sem propósito.
Quero fodê-la, penso e afirmo
com toda a vulgaridade que permite a poesia.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

A caligrafia de Matilde Rosa Araújo

A Planeta Tangerina apresenta alguns exemplos de poemas de vários autores, que Matilde Rosa Araújo transcrevia para as suas alunas do Magistério Primário. No blogue desta editora de álbuns ilustrados refere-se que "parece que na ESE de Lisboa há uma caixa velhinha de cartão onde estão guardadas estas fichas."
O texto acima reproduzido é de Adolfo Casais Monteiro, do seu livro Poemas do Tempo Incerto, de 1934.

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


O alfabeto dos astros
Ricardo Gil Soeiro
Edium Editores, 2010








Na outra margem da morte
trocaremos de alma por alguns instantes
e escreveremos glosas intermináveis sobre
a rosa sem porquê.
Não fosse este diário,
um diário redigido na superfície dissonante
desta segunda pele que escondo ciosamente
no nosso armário de super-heróis,
dir-se-ia que não existimos.

Foi hoje que subiste ao sonho mais alto
que havia para amar, querida imagem?
Estou orgulhoso de ti.
Que sei eu?
Que sempre fui fim perpétuo por cumprir
em cujas veias rasgadas pelo vento
dlúem as lágrimas vermelhas do rio.
Unicamente eu, infelizmente eu.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Novo livro de Rui Pedro Gonçalves

O poeta Rui Pedro Gonçalves acaba de anunciar, já para esta semana, o seu próximo livro, editado pela Língua Morta, cujo título será Nitratos do Chile.
O anúncio foi feito no blogue O Melhor Amigo, do qual é um dos colaboradores e onde tem vindo a publicar poemas.
Este será o terceiro livro de Rui Pedro Gonçalves (n. 1973). Antes, o Autor havia publicado Noites na Granja (edição de Autor, 2006) e Diques (Teatro de Vila Real, 2007), tendo também textos publicados na revista Telhados de Vidro.

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Um pássaro na ponta da língua
Sofia Crespo
Mariposa azual, 1999







31


se não e com o céu
é a cor do olhar
e não sendo mar também
é azul que quero
e o vento vem aí de tanto
sem saber de onde
senão que é o céu
e também comotamo
e vou assim vai de mim
mão de quem corre de mim
de ti é que não é
mas é de não assobiar
e mar e mar cucariar
uma canção
do meu papagaio

terça-feira, 13 de julho de 2010

Novidades Artefacto


Em cidade estranha

seguido de
Retratos de Mulheres
Daniel Francoy
Artefacto, Junho 2010

Daniel Francoy é um poeta brasileiro de Ribeirão Preto (SP) que escreve há alguns anos na blogoesfera e se estreia agora junto do público português com esta edição.


Meninos em Férias

As pipas que plainam livres e serenas.
Montá-las exige a perícia de Dédalo
e mantâ-las no ar a audácia de Ícaro.
Mas os meninos ignoram os deuses
e pouco importa que as ruas da cidade
sejam o labirinto onde vive o minotauro.
O que os meninos desejam é o céu
e se uma pipa adeja sem dono
uma multidão de crianças a persegue
ainda que ela se misture ao sol:
pouco importa a queda de Ícaro
se a infância é o mais duradouro mito.

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Mulheres do Sahel
Angèle Bassolé-Ouédraogo
Tradução de Joana Marques de Almeida
Europress, 2007







E tocamos quase a loucura
Ao procurar a resposta
Como compreender
Que nos tenhamos transformado
Nos nossos próprios inimigos?
Do céu dos sóis tropicais
Os bodes expiatórios
Desapareceram todos

segunda-feira, 12 de julho de 2010

I Fórum de Intercâmbio Cultural entre Lisboa e Porto Alegre

(clicar para ampliar)

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Nada se sabe das Profundezas
Sandra Costa (poemas) / Paulo Gaspar Ferreira (fotografias)
in-libris, 2003





#3

talvez esta seja a textura dos dias
que se aproximam das profundezas:
a agitação sob a luz nada revela
e criam-se estratificações nebulosas
junto ao olhar como se a inquietude
- a água - fosse o único ritual
capaz de criar o mundo.

domingo, 11 de julho de 2010

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


cabeças
Pedro Marqués de Armas
Tradução de Jorge Melícias
Cosmorama, 2007








Se o céu
pelo seu olho tenaz
te fita
esconde os teus
sob a pedra pomes
e cava
como a toupeira
um buraco.

Pelo
subsolo da mente sim
chega-se longe
outros tronos de lenha
onde a máquina falha

Mas refundir essa falha
já não resulta
saindo da caverna
para o sol

Se o céu
pelo seu olho tenaz
te fita

sábado, 10 de julho de 2010

Para breve...

Ameaçado Vivendo (segundo volume da Obra Poética)
José Emílio-Nelson
Edições Afrontamento
Na capa, composição inédita de António Quadros Ferreira

Outras sugestões para os próximos dias


12 de Julho (segunda-feira):

TORRES VEDRAS – Livraria Livrododia
No dia 12 de Julho, a Livraria Livrododia celebra o 5º aniversário. Nesta comemoração terá lugar, pelas 18 horas, o lançamento da revista Sítio nº6 (direcção de Luís Filipe Cristóvão e selecção de textos de manuel a. domingos). Autores: E. Ethelbert Miller, bruno béu, Rui Almeida, Rute Mota, Susana Miguel, Jorge Vaz Nande, Rui Manuel Amaral, Sandra g.d., Paulo Rodrigues Ferreira, Paulo Kellerman, Henrique Manuel Bento Fialho e João Camilo.
Livraria Livrododia: Praça Machado Santos, nº 1 a 4 R/c - Torres Vedras.

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14 de Julho (quarta-feira):

BARCELOS – Feira do Livro
Lançamento da Antologia “Os 7 Pecados Capitais” no dia 14 de Julho, na Feira do Livro de Barcelos, pelas 21h30.
Esta Antologia é uma iniciativa do portal BlogTok.com onde estão representados autores de Portugal, Brasil, E.U.A., França, China/Tailândia e Angola.
Mais informações aqui: http://www.7pecados.blogtok.com

PORTO - Bar Livraria Labirintho
Dia 14, às 21h30, no Labirintho Bar, mais uma “Noite de Poemia”, com o livro “Bordar a Vida”, de Celeste Pereira, com a chancela EDITA-ME.
Danyel Guerra fará as apresentações do livro e da autora.
As leituras estarão a cargo de José Carlos Tinoco, de Ruth Ministro, e da própria Celeste Pereira.
A sessão terá acompanhamento musical pelo pianista Pedro Lopes.
No final, a autora estará disponível para autógrafos.
Labirintho: Rua N. Sra. de Fátima, n.º 334 – Porto

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15 de Julho (quinta-feira):

OLHÃO – Biblioteca Municipal
Dia 15 de Julho, pelas 18H00, vai ter lugar na Biblioteca Municipal de Olhão a apresentação do livro de poesia “Área Afectada” de Fernando Esteves Pinto.
Apresentação: Miguel Godinho
Leituras de poemas: Ana Manjua


LISBOA – Casa Fernando Pessoa
Os poetas brasileiros Geraldo Carneiro e Salgado Maranhão vão apresentar o manifesto OS DESMANDAMENTOS numa conversa informal que terá lugar na Casa Fernando Pessoa, dia 15 de Julho, às 18h30.
Geraldo Carneiro e Salgado Maranhão escreveram o manifesto OS DESMANDAMENTOS "contra a banalização da poesia, defendendo o ressurgimento da poesia como prioridade literária, sem demagogia".
Na Casa Fernando Pessoa os poetas irão ler o manifesto e levantarão muitas questões polémicas válidas no Brasil e em Portugal. Uma conversa à volta da poesia onde não faltarão referências a poetas portugueses, como Luiz de Camões ou Fernando Pessoa.
Casa Fernando Pessoa: R. Coelho da Rocha, 16 – Lisboa.

PORTO – Clube Literário do Porto
Dia 15 de Julho, no Clube Literário do Porto:
22H00: Poesia de Choque (tertúlia mensal de poesia).
A. Pedro Ribeiro e Luís Carvalho.
Participação da banda Bella Damião.
Clube Literário do Porto: Rua Nova da Alfândega, nº 22 – Porto.

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16 de Julho (sexta-feira):

CASCAIS - Biblioteca Municipal
No dia 16 de Julho, pelas 21H30, terá lugar mais uma sessão Noites Com Poemas: Os Poetas da Apenas e Alguns Amigos.
Esta 55.ª sessão terá o seguinte alinhamento:
• Apresentação do livro "Apenas Alguns Poemas de Cordel", de Jorge Castro (edição Apenas Livros);
• Concerto de acordeão por João Ricardo Ferreira Bernardino;
• Grupo Dança Yôga (coreografia de um poema): António José Fróis Rafael Ferreira e Maria Manuela Marques Soares;
• Jograis do Canto Sénior das Caldas da Rainha: António Eduardo Silva Moreira, António Júlio Santos Pereira, Berta Santos Pinto Moniz Barreto, José Martinho Rodrigues Correia, Maria Manuela Jesus Monteiro, Maria Manuela T. A. Veríssimo Afonso, Maria Natália Leonardo Nunes, Maria Salomé Nascimento Alferes, Mário Alberto Veríssimo Afonso e Mário Bernardo Reis Capinha;
• Comunidade de Leitores das Caldas da Rainha: Palmira da Silva Marques Ferreira Gaspar e Carlos Alberto Ferreira Gaspar;
• Recital de poesia por: Carlos Peres Feio, David José Silva, Estefânia Estevens, Francisco José Lampreia, João Baptista Coelho, Edite Gil, Francisco Félix Machado, Maria Francília Pinheiro.
Na Biblioteca Municipal de Cascais - S. Domingos de Rana.


FAFE - Biblioteca Municipal
Apresentação do livro Poesia Soviética Russa – Século XIX e XX, com selecção, organização e tradução de José Sampaio Marinho (editora Labirinto), no dia 16 de Julho pelas 21H30, na Biblioteca Municipal de Fafe.
A obra será apresentada pelo jornalista José Milhazes, autor do prefácio.



LISBOA - Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul
Apresentação do segundo livro de poesia das Edições Artefacto: Em cidade estranha, de Daniel Francoy, no dia 16 de Julho, pelas 21H00, na Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul.
A apresentação contará com a presença de José Mário Silva e de Nuno Dempster, acompanhados por José Boavida (leitura de poemas) e por José Carlos Pontes (piano).
Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul: A. D. Carlos I, 61 - 1º, Lisboa (Santos).


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17 de Julho (sábado):

PORTO – Clube Literário do Porto
Dia 17 de Julho, no Clube Literário do Porto:
18h00: Portugal Poético (tertúlia mensal de poesia).
Tema livre
Org.: Rui Fonseca
Clube Literário do Porto: Rua Nova da Alfândega, nº 22 – Porto.


LISBOA – Bar A Barraca
Lançamento do livro “O Taberneiro” de Miguel Martins (Edição Poesia Incompleta) no dia 17 de Julho, pelas 18H30, no Bar d’A Barraca (Largo de Santos, Lisboa).
Apresentação pelo poeta Rui Caeiro.






CAMINHA – Botica das Carlotas
No dia 17 de Julho, vai ter lugar em Caminha, pelas 21H45, a apresentação dos livros “Pin – uma explicação de Ternura” de Luísa Azevedo e “Escolhas” de Pedro Branco (edições Edita-Me).
O evento ocorrerá na Botica das Carlotas, Rua Benemérito Joaquim Rosas, nº 90 e haverá leitura de textos dos livros e a participação musical do músico/autor Pedro Branco.

BRAGA - Livraria Centésima Página
Sessão de Autógrafos e Apresentação do livro “Ao Pé das Palavras”, de Helder Ramos (edição Papiro Editora) no dia 17 de Julho, pelas 17H00 na Livraria Centésima Página.
Livraria 100ª Página: Casa Rolão Av. Central, 118/120 - Braga




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18 de Julho (domingo):

PORTO – Clube Literário do Porto
Dia 18 de Julho, no Piano bar do Clube Literário do Porto, pelas 17h00: Musicalidade Poética 3 e Lançamento do livro de poesia “As sombras”, de José M. Silva.
Convidados: Marília Miranda, voz e guitarra; Trindas, baixo; Paulo Pelotas, bateria; Luís Novo, guitarra (da banda Croquis)
Diseuses: Manuela Leitão e Maria Emília Pinheiro.
Org.: José M. Silva
Clube Literário do Porto: Rua Nova da Alfândega, nº 22 – Porto.